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Foi fundado em 1545 pelo canonista Dr. Rui Lopes de Carvalho... Era destinado pelo fundador a 12 clérigos pobres, que viessem estudar teologia ou cânones à Universidade.Principiou a construção do edifício em 1543 ao cabo da Rua da Sofia, entrando os primeiros estudantes em 1545, depois de confirmada a instituição por breve apostólico de 1 de Agosto deste ano. Fez-se a 29 de Junho de 1548 a sua inauguração solene, que ficou comemorada numa inscrição, aberta na base de um belo busto do patrono S. Pedro, que é guardado pela Faculdade de Letras.
Em 1572 sofreu o Colégio profunda remodelação, sendo então transferido para o novo edifício, que D. Sebastião lhe doara junto do paço real, onde se havia instalado a Universidade, passando a ser fundamentalmente um Colégio para doutores ou licenciados, que ali estagiavam a preparar-se para o professorado, etc.
Colégio Pontifício e Real de S. Pedro
Construiu-se-lhe um edifício próprio, que limita por Leste o pátio universitário, desde a porta principal de ingresso, atualmente chamada «porta-férrea», até topar na Rua da Trindade. Ficou a entrada para o Colégio ao lado da «porta-férrea», adicionando-se-lhe depois ali o majestoso portal das cariátides, que, há menos de setenta anos, foi mudado para a fachada ocidental do edifício; mas o sítio, onde primitivamente estivera este ostentoso portal, uma simples porta de serviço. O edifício abandonado pelo Colégio na Rua da Sofia foi aproveitado para a instalação do... Colégio de S. Pedro dos Franciscanos Calçados.
... A biblioteca do Colégio de S. Pedro era importante. Tinha abundância de livros clássicos; nela se encontravam não só bons livros de cada uma das ciências professadas nas Faculdades universitárias, mas também de cultura geral, de história, de literatura, de humanidades – cerca de 8.000 volumes, entre os quais espécies bibliográficas preciosas e alguns manuscritos.
... Extinto o Colégio de S. Pedro por decreto de 16 de Julho de 1834, foi o seu edifício entregue à Universidade... o decreto de 10 de Maio de 1855 ordena ... O edifício do extinto Colégio de S. Pedro... fica ... para a acomodação da Comitiva das Pessoas Reais, quando ali forem pousar ou residir.
... Criada de novo na Universidade de Coimbra uma Faculdade de Letras, na reforma universitária de 1911... foi-lhe para este efeito designado o andar nobre.
Vasconcelos, A. 1987. Escritos Vários Relativos à Universidade de Coimbra. Reedição preparada por Manuel Augusto Rodrigues. Volume I e II. Coimbra, Arquivo da Universidade de Coimbra, pg.198-206, do Vol. I
Fundou-o el-Rei D. João III em 1543 para os «Eremitas calçados de Santo Agostinho, sendo concluído, e por este monarca dotado, em 1548.
Incorporou-o na Universidade a carta-régia de 12 de Outubro de 1549.
Tinha o seu edifício na Rua da Sofia, a Ocidente do Colégio do Carmo, separados um do outro por uma viela, que depois se suprimiu.
Colégio de N. Senhora da Graça
Foi muito favorecido por el-Rei com grandes privilégios. Eram apontados os seus colegiais como argumentadores subtis; o seu espirito combativo tornava-os por conflituosos e pouco simpáticos.
... É de todos os edifícios universitários aquele que melhor se conserva ainda hoje, quase intacta, a sua fachada, com as primitivas janelas, que iluminavam os escritórios de cada colegial, e ao lado de cada uma o postigo da alcova, onde dormia.
Em parte deste edifício esteve instalado, com consentimento dos religiosos, um hospital, no tempo da guerra miguelista.
Abandonado em 1834, logo a 10 de Janeiro de 1835 a Câmara de Coimbra representou ao Parlamento, pedindo o edifício para quartel. Foi concedido em 1836 com este destino, tomando dele posse a Câmara a 15 de Dezembro do mesmo ano. Nele se instalou o quartel militar.
Em 1857, o Comissariado dos Estudos requisitou da Câmara uma casa, para onde se mudasse a escola de ensino mútuo. Respondeu aquela que só tinha duas casas em condições, a do Colégio da Graça e a da torre de Almedina. Foi preferida a da Graça, devendo-se mudar para outra o quartel militar. Quando porém a Câmara mandou proceder às obras necessárias para a instalação da escola, opôs-se o oficial comandante do destacamento ali aquartelado. Deu isto lugar a vivas querelas jornalísticas.
Aloja-se atualmente (em 1938-1941) ali o quartel da Administração militar.
Interior da Igreja do Colégio de N. Senhora da Graça
Na igreja o culto esteve de princípio a cargo da Ordem terceira de Santo Agostinho; hoje é mantido pela Irmandade do Senhor dos Passos.
Vasconcelos, A. 1987. Escritos Vários Relativos à Universidade de Coimbra. Reedição preparada por Manuel Augusto Rodrigues. Volume I e II. Coimbra, Arquivo da Universidade de Coimbra, pg. 196-197, do Vol. I
Um alerta às Autoridades de Coimbra e não só!
Construído em 1600, o claustro da Igreja do Carmo recebeu, na segunda metade do século XVIII, como decoração da galeria inferior, um revestimento de azulejos de composição figurativa, constituído, atualmente por vinte painéis recortados na parte superior, ilustrando vários episódios da vida do profeta Elias.
Elias fala à multidão
Ligados uns aos outros por pilastras imitando cantaria, coroadas por vasos floridos, os painéis tem vinte e quatro azulejos de altura (na parte mais alta). A parte inferior é constituída por fiadas de azulejos de pintura esponjada, em tons de manganês, azul e amarelo, simulando um silhar de pedra marmoreada.
As cenas da vida de Elias, seguem-se cronologicamente, como uma banda desenhada, sendo a leitura feito no sentido oposto ao dos ponteiros do relógio. As composições são todas em monocromia, azul em fundo branco, delimitadas por possantes enquadramentos de linguagem rococó, de inspiração vegetalista, em tons de manganés, cujas formas onduladas, associadas ao jogo de pinceladas em tonalidades mais escuras ou mais claras, formam um conjunto vigoroso, como se um sopro de vento dinamizasse todos os ornatos, constituindo um revestimento azulejar de forte impacto visual.
Na parte superior de cada um dos painéis, ao centro, uma legenda em latim identifica a cena representada.
São azulejos de fabrico coimbrão, bem distintos dos azulejos produzidos em Lisboa, pelo tratamento «expressionista», não só das figuras, mas também dos motivos ornamentais que constituem osa seus enquadramentos, robustamente desenhados.
Elias e o rei Acab na vinha de Nabot
Considerado o fundador da Ordem do Carmo, não é surpreendente que o profeta Elias tenha sido escolhido como tema para decorar as paredes da galeria inferior do claustro. É, no entanto, de sublinhar que a riqueza do programa iconográfico torna este conjunto um dos mais interessantes e completos ciclos de vida de Elias aplicado como revestimento mural em Portugal.
Para a sua realização, o pintor, certamente respondendo às instruções do encomendador, baseou-se num dos livros mais relevantes da literatura carmelita: o «Speculum Carmelitanum Sive Historiae Eliani Ordinis».
... O esquecimento em que caiu o conjunto azulejar do claustro revela quanto o passar do tempo, a mudança de mentalidades, de ideais, de contextos políticos, religiosos ou sociais, têm consequências para a «sobrevivência» de um património. É urgente uma intervenção de fundo neste claustro, no intuito de preservar o revestimento de azulejos (de produção coimbrã sobre a qual ainda se sabe muito pouco) que, apesar das vicissitudes sofridas, permanece no local de origem, ilustrando uma história cujo significado tem particular expressão como programa decorativo de um espaço carmelita.
Correia, A.P.R. Um ciclo do profeta Elias no claustro do Colégio de Nossa Senhora do Carmo. Contributo para o estudo iconográfico. In: Monumentos. Revista Semestral de Edifícios e Monumentos. N.º 25, Setembro de 2006. Lisboa, Direção-Geral dos Edifícios e Monumentos Nacionais, pg. 108-121
Teve o seu início em 1540, sendo fundado pelo Bispo do Porto... que a princípio o destinou a clérigos da sua diocese que viessem estudar na Universidade. Foi depois destinado aos religiosos «Carmelitas calçados».
Dotado por D. João III, não veio entretanto o edifício a ser concluído, senão em 1597.
Colégio de N. Senhora do Carmo
... Está o edifício situado na Rua da Sofia, acha-se muito modificado, e externamente só dele se vê a fachada da igreja. Internamente porém conserva-se o belo claustro e a magnifica igreja, na qual se mantem o culto.
Claustro do Colégio de N. Senhora do Carmo
Abandonados o edifício colegial e a respetiva igreja em 1834, logo os vizinhos, que eram paroquianos da freguesia de Santa Justa, fizeram uma representação ao Governo a pedir a igreja colegial do Carmo, para nela se exercer o culto... Não chegou a efetivar-se este projeto de devoção particular.
... O Definitório da Venerável Ordem Terceira Franciscana da Penitência, e a Assembleia geral da mesma, pediram em 1837 a referida igreja para sua sede. Obtiveram permissão para desde logo nela se instalar a Ordem, e já em Junho desse ano ali se reunia o Definitório. Mas a concessão foi legalizada somente pela carta de lei de 15 de Setembro de 1841, sendo cedida à Ordem a igreja e suas pertenças... Por carta de lei de 23 de Abril de 1845, obteve a mesma Ordem Terceira o edifício do extinto Colégio do Carmo, contíguo à igreja, a fim de nele estabelecer um hospital para os seus irmãos pobres... Meteu logo mãos à obra para a rápida adaptação provisória do edifício a hospital. Estava já capaz de receber alguns doentes, quando rebentou a revolução popular anti-cabralista de 1846... No mesmo dia 17 de Maio, a Junta provisória requisitou o edifício do Carmo, a fim de servir de quartel às forças populares arregimentadas, que se instalaram logo ali, e estregaram tudo, deixando depois a casa arruinada, quando retiraram.
Foi reparado, e em grande parte reconstruído o edifício a gosto moderno, bem pouco feliz, sendo finalmente aberto o hospital... 15 de Junho de 1851.
... Fundou-se em 1855 o... Asilo da Mendicidade... obteve-se da Ordem Terceira licença para ficar provisoriamente ... Ali se conservou até... 15 de Novembro de 1860.
... Finalmente, pela carta de lei de 11 de Agosto de 1860, obteve a Ordem Terceira a cerca que fora do Colégio, excetuada apenas a parte que viesse a tornar-se indispensável à estrada, que se projetava fazer, da azinhaga do Carmo ao cemitério da Conchada.
Vasconcelos, A. 1987. Escritos Vários Relativos à Universidade de Coimbra. Reedição preparada por Manuel Augusto Rodrigues. Volume I e II. Coimbra, Arquivo da Universidade de Coimbra, pg. 187-189, do Vol. I
Assisti pela segunda vez, no passado domingo dia 4 de Junho, a um concerto dos seis órgãos da Basílica de Mafra.
Tive, agora, ocasião para tomar conhecimento da existência da ECHO (Europae Civitates Historicorum Organorum) que foi fundada em 1997 e tem como objetivo desempenhar um papel unificador em projetos a nível europeu das cidades com órgãos de valor histórico e de origem europeia.
Integram esta rede Alkmaar (Holanda), Bruxelas (Bélgica), Freiberg (Alemanha), Fribourg (suíça), Innsbruck (Áustria), Mafra (Portugal). Toulouse (França), Treviso (Itália) e Trondheim (Noruega).
Órgão da Capela da Universidade
Rede a que Coimbra por direito próprio podia e devia pertencer, porque:
- Dispõe de quatro grandes órgãos históricos – Igreja de Santa Cruz, Universidade, Sé Nova e Seminário de Coimbra. Todos operacionais e alguns recentemente recuperados. Acresce mais um órgão, o do Colégio da Sapiência ou Colégio Novo cujo estado desconheço, mas que foi objeto de recuperação no início da segunda metade do século passado;
- Existem ainda nos Concelhos limítrofes outros dois órgãos recentemente recuperados e de valor inestimável: o do Mosteiro do Lorvão (Penacova); e o do Convento de Semide (Miranda do Corvo);
Órgão do Convento de Lorvão
- Teve Coimbra duas escolas de música de referência do nosso País, com produção organística própria: a do Mosteiro de Santa Cruz; e a da Universidade.
Órgão da Igreja de Santa Cruz
De tudo o que atrás refiro o seguinte conjunto de perguntas:
- Quantas cidades e regiões do Mundo se podem orgulhar de um património cultural desta dimensão?
- Depois dos vultuosos investimentos feitos e sendo condição necessária para a boa manutenção destes instrumentos o seu uso regular, o que se tem feito para que a mesma aconteça?
- Não seria muito importante a existência de um organista residente que assegure aquele uso regular e que divulgue a música por aqui composta?
- Este não seria um elemento muito importante não só para a vida cultural de Coimbra e da Região onde se insere, bem como para o desenvolvimento do turismo cultural que todos defendem?
- Não é possível a conjugação de vontades entre os Municípios de Coimbra, de Penacova, de Miranda do Corvo, da Diocese, da Universidade, da Direção Regional de Cultura do Centro e da Região de Turismo Centro de Portugal, tendo em vista a potenciação do património organístico aqui existente?
Eu tenho as minhas respostas. Acho que todos devem ter as suas. Em especial os candidatos na pugna eleitoral que está em curso.
Rodrigues Costa
António Augusto Gonçalves, que fora, como se referiu, o responsável pelas hospedarias e que trabalhava com o prelado na intervenção da Sé Velha, incumbiu-se de projetar a nova fábrica eclesial.
Senhor da Serra. Hospedarias
A construção do templo, que se processou em duas fases, iniciou-se em 1900 ... Quatro anos depois (Agosto de 1904), a nave e o campanário já se encontravam concluídos. O antigo templo setecentista permaneceu no meio da nave e só quando esta se finalizou é que o demoliram ... em 1907, Gonçalves desloca-se ao Senhor da Serra, a fim de, in loco, observar a obra que se andava a fazer; tratava-se da conclusão da capela-mor e dos anexos.
... Caracterizar estilisticamente a igreja que se ergueu nos primeiros anos de Novecentos no Senhor da Serra, torna-se tarefa difícil, direi mesmo quase impossível, porque ela não apresenta unidade. Mas, quem melhor a descreveu foi o seu autor quando disse que “não houve nunca o propósito de construir uma Capela que fosse escrava dum estilo. Teve-se apenas em vista uma construção agradável. Quem olhar para o esguio da torre supor-se-á em frente dum gótico flamejante; quem examinar os capitéis e cachorros julgar-se-á em frente duma construção românica. O forro do corpo da capela é dum certo sabor românico mas já o da capela-mor, apainelado como é, parece do século XVII”.
Capela do Divino Senhor da Serra
Construiu-se a capela, mas estava despida, nua e fria: sem mobiliário. Ornamentá-la e inserir-lhe retábulos tornava-se imperioso. Em Coimbra procedia-se, na altura, à demolição da igreja da Misericórdia velha ... Os dois retábulos laterais existentes no templo deixaram de ter serventia, ficaram desativados, acabando por ser comprados para o Senhor da Serra ... Um dos retábulos ficou povoado com o seu orago, o Cristo Redentor, mas para o outro, João Machado, “que tantas e tão repetidas vezes tem assinalado o prestígio da escola coimbrã com produções geniais e de verdadeiro triunfo para o seu conceituado nome” esculpiu uma imagem da Senhora da Piedade ... na abside faltava o retábulo-mor. Mais uma vez, António Augusto Gonçalves é o responsável pelo projeto e, em 1908, durante o tempo em que decorreu a romaria (Agosto), o esboço aguarelado esteve exposto, a fim de ser ratificado por todos quantos passavam pelo Senhor da Serra.
... Lateralmente, em dois nichos de maior envergadura, aparecem, cada um por banda, S. Pedro e S. Paulo que se encontram, respetivamente, ladeados por uns outros menores povoados por Santo Agostinho e São Jerónimo e por Santo Ambrósio e São Gregório Magno.
Capela do Divino Senhor da Serra. Retábulo-mor
... No novo templo, a erguer-se lá no píncaro da serra, havia que tentar imitar os tempos de outrora; por isso, nas oficinas da Escola Brotero, o químico Charles Lepierre, então professor naquele estabelecimento de ensino, tentava produzir, com os seus alunos, as vidraças brilhantes capazes de tornar intimista a igreja e de lhe conferir espiritualidade. Deparam-se com inúmeros problemas impeditivos de concretizar a empresa, mas, mesmo assim, ainda colocam nas ventanas os vitrais que representam os quatro evangelistas e no óculo o do “Divino Salvador”.
... As oficinas da Brotero, relativamente à igreja do Divino Senhor da Serra, funcionaram como verdadeiros laboratórios, pois também foi aí, nas de cerâmica, que António Augusto Gonçalves deu corpo ao lambril de azulejos que reveste a nave, historiados com a vida de Cristo. Parece-me poder deduzir, através da consulta do seu acervo e da da imprensa local, que eles foram assentes em duas etapas. A primeira, e mais vasta, decorreu até cerca de 1913 e a segunda, em 1919-1920.
E penso assim, porque na Gazeta de Coimbra se pode ler: “com destino à capela do Senhor da Serra acabam de sair das oficinas de cerâmica da Brotero dois belos paneaux representando os quadros “Ecce Homo” e “Flagelato pro nobis” cujo desenho se deve ao notável artista conimbricense António Augusto Gonçalves. É mais uma produção que honra sobremaneira as oficinas da Escola Brotero e também a arte coimbrã”.
Anacleto, R. 2011. O Senhor da Serra: arte e património, In: Santuário do Divino Senhor da Serra de Semide. História, devoção e espiritualidade, Semide, Senhor da Serra, p. 9-47.
A partir de uma data indeterminada, mas que se pode situar em torno da primeira metade do século XVII, em Ceira, terra que se situa nas proximidades de Coimbra, o casal Martim (ou Martinho) Avô e sua mulher Maria Guilhalme detinham a posse de um Cristo que passou a ser alvo de grande devoção.
Devido a conflitos e desaguisados acontecidos entre os muitos que acorriam a sua casa para venerar e implorar graças à imagem, ou por qualquer outra razão, os possuidores resolveram desfazer-se dela e esconderem-na num local ermo.
Na vizinhança da zona onde o casal vivia localizava-se o mosteiro de Semide, ocupado por monjas beneditinas e um certo dia, quando os seus criados andavam a apanhar lenha, encontraram a imagem e levaram-na para o cenóbio, a fim de ali ser cultuada. O local do achamento parece que ficava dentro da área de jurisdição do mosteiro e as religiosas fizeram aí erguer uma cruz que passou a ser conhecida pelo nome de “Cruz de Longe”.
Divino Senhor da Serra registo
A comunidade, para que a Cruz pudesse continuar a ser venerada pelos muitos que persistiam em acorrer ali, a fim de pedir a proteção do Senhor, acabou por mandar construir um pequeno coberto abobadado no cimo do monte que ficava sobranceiro ao complexo monástico. O alpendre, posteriormente, e no contexto de uma evolução habitual, deve ter visto fechados três dos seus lados e virado capela numa data que se situa entre 1553-1563; mas, ao longo dos tempos, foi recebendo acrescentos e modificações feitos a esmo. Também se lhe iam apondo casas destinadas a dar pousada aos, cada vez mais numerosos, romeiros que acorriam ao Santuário.
A capela do Divino Senhor da Serra em 1882. Desenho a lápis de António Augusto Gonçalves (ABMC)
... A relação do Bispo-conde (Manuel Correia de Bastos Pina) com Mestre Gonçalves, a desenvolver-se no campo artístico e não no ideológico, levou-o a encarregá-lo de, em 1898, riscar um “albergue” destinado a dar guarida aos romeiros, a erguer-se junto da “velha” capelinha do Senhor da Serra e pago pelas esmolas oferecidas ao Santuário. A fim de tomar contacto com o local, para melhor dar corpo à obra, António Augusto Gonçalves deslocou-se ao Senhor da Serra na companhia de Monsenhor José Maria dos Santos. No ano seguinte, em Julho, antes da romaria, as hospedarias (afinal parece que se construiu mais do que uma) já se encontravam concluídas e uma delas tinha capacidade para acomodar 200 pessoas.
Mas, lá no cimo do monte, onde céus e terra quase se tocam, o prelado não se quedou por estes edifícios. Constatando que o pequeno templo não servia para dar resposta a uma romaria tão concorrida como a que acontecia em Agosto de cada ano, pensou em fazer construir uma igreja condigna.
Com efeito, a romaria, tal como o periódico Resistencia, em 1902, a refere era viva e pitoresca: “Anda a cidade [de Coimbra] desde o dia 15, cheia dos ranchos dos romeiros, que vão ou voltam do Senhor da Serra, cuja romaria anual acaba hoje.
Chegada dos romeiros ao apeadeiro de Trémoa. Cerca de 1906
“A estrada da Beira anda animada daqueles grupos, que vão de merendas á cabeça, ou voltam com a imagem do Senhor, cuidadosamente metida na fita do chapéu.
“Quando chegam á Portela, se levam animais, atravessam o rio a vau, sem se importarem com os risos e os ditos, que lhes gritam de cima os que vão pela ponte, ao verem as mulheres levantarem cuidadosamente, e bem alto, as saias para lhas não molhar o rio.
Subindo para o Senhor da Serra. 1901
“Depois lá vai tudo até às Vendas de Ceira, e daí, ladeira acima, até ao alto do monte, donde se avista o telhado alegre da hospedaria da capela, e começa a sentir-se a carícia do vento fresco.
“Param a ouvir um sermão, depois outro.
“Lino da Assunção descreve o efeito cómico dos sermões pregados ao mesmo tempo, em pleno ar e pleno sol.
“Ainda hoje a fama do púlpito é para quem mais berra.
“O quadro não deixaria de ser singularíssimo, e digno dum pincel cáustico.
“O céu límpido e azul, o sol claro e abrasador e a planura do cômoro apinhado de homens, suando dentro nos grossos jaquetões de briche, e de mulheres com saias de seriguilha pela cabeça deixando cair sobre as testas deprimidas as farripas dum cabelo empastado como linho antes de ser cardado. Aqui, no púlpito do adro o pregador confundindo a sua voz com o eco de outra que lhe vem lá de dentro de junto do altar. Mais além outro, na beira dum carro, encostado a uma pipa, e a quem o festeiro abriga com um enorme chapéu vermelho, que mais vermelhas torna as bochechas luzidias do pregador. Debaixo dum toldo de barraca e sobre uma mesa, vê se outro gesticulando, alagado em água que lhe encharca a sobrepeliz e estola, procurando dominar com a voz as metáforas do vizinho, que sobre uma cadeira á sombra dos pinheiros conta dezenas de milagres acontecidos em favor dos devotos que mandam pregar sermões. E, acabado um sermão, retira-se o grupo que o encomendou e aproxima-se outro que o prometeu. E todas estas vozes já roucas procurando dominar o ruído confuso dos descantes, das guitarras, das algazarras dos beberrões, das altercações das rivalidades estimuladas pelo álcool e até das injúrias e grosserias das rixas travadas pela posse duma mulher, ou pela liquidação de velhas contas que vieram abertas lá desde as aldeias. E o sol de Agosto dardejando inclemente sobre os largos chapéus e tornando escuros os rostos luzidios e afogueados e ainda mais negros os beiços enegrecidos pelo vinho e pelo pó; e como comentário às palavras dos padres quase áfonos, que clamam pela justiça e misericórdia divinas, as vozes vibrantes das tricanas de Coimbra, menos devotas e mais alegres, bailando e cantando ao som das violas o Manuel ceguinho ou o Oh ladrão! ladrão!
“Por fim entram na capela onde o Cristo agoniza numa cruz de pedra, deixando cair a cabeça para mostrar o cabelo negro que cresce, como diz a lenda, todos os anos.
“Pelas paredes, pregadas em ripas de madeira, vêem-se tranças de cabelo de todas as cores, votos que fazem os doentes, por saberem que é este o sacrifício que mais gosto dá ao Senhor da Serra”.
Anacleto, R. 2011. O Senhor da Serra: arte e património, In: Santuário do Divino Senhor da Serra de Semide. História, devoção e espiritualidade, Semide, Senhor da Serra, p. 9-47
No decurso da investigação que venho realizando, encontrei a seguinte curiosa notícia:
Dom Luiz. Por graça de Deus, Rei de Portugal e dos Algarves, etc. Fazemos saber a todos os nossos súbditos, que as côrtes geraes da nação decretaram e nós queremos a lei seguinte:
Artigo 1.º É aprovado o contrato de iluminação da cidade de Coimbra, por meio de gaz, celebrado entre a respectiva camara municipal e a companhia conimbricense de illuminação, a gaz, por escriptura de 17 de março de 1874.
Instalações da Companhia Conimbricense de Illuminação, fotografia da coleção de Jorge Oliveira, a quem agradecemos a cedência
Contrato para a iluminação a gaz da cidade de Coimbra, a que se refere esta lei, e d’ella faz parte.
Saibam os que este publico instrumento de contrato virem, que no anno do nascimento de Nosso Senhor Jesus Christo de 1874, aos 17 dias do mez de março, n’esta cidade de Coimbra, paços do concelho e sala das sessões ... se achavam presentes de uma parte os ex.mos dr. José Maria Pereira Coutinho, vice-presidente da camara ... e da outra parte os ex.mos directores da companhia conimbricense de illuminação a gaz, José Luiz Pereira Crespo e João Eduardo Ahrens, residentes em Lisboa... E logo pelo primeiro outorgante foi dito que, terminando em 30 de setembro do corrente anno a concessão feita á companhia representada pelos segundos outorgantes para a illuminação a gaz da cidade de Coimbra, em virtude da escriptura celebrada ... em 13 de Outubro de 1854, tinham ambas as partes contratantes acordado em renovar aquela concessão mediante as seguintes condições.
1.ª A companhia... obriga-se a continuar a laboração da sua actual fabrica e a montar á sua custa todos os novos aparelhos que forem precisos para fornecer todo o gaz necessario á illuminação publica e particular da cidade de Coimbra que lhe for requisitado, tanto pela camara municipal, como pelos particulares, para terem de noite illuminação permanente em todas as ruas, travessas, praças e mais logares públicos em que actualmente existe a illuminação a gaz ou para onde se fizerem as novas canalisações a que se refere a condição 12.ª.
& único. Para este fim a companhia conservará desde o ocaso até ao nascimento do sol em toda a sua canalisação a necessaria pressão.
2.ª Este contrato vigorará pelo praso de dez annos...
3.ª O estabelecimento ou fabrica da companhia continuará a ser, como presentemente é, no sitio das Portas de Santa Margarida, ao fundo da rua da Sophia, no terreno que actualmente ocupa...
...
6.ª Os candieiros continuarão a ser de chapa de cobre, assente sobre braços ou candelabros de ferro fundido e todos numerados...
7.ª - 1.º Nas noites de luar claro, desde o nascer até ao pôr da lua a luz dos candieiros públicos poderá ter só metade das dimensões marcadas.
- 2.º Os candieiros públicos serão accesos ao anoitecer e apagados ao amanhecer, sendo este serviço regulado de fórma que todos os candieiros estejam accesos vinte minutos depois do escurecer, e não se comecem a apagar mais de vinte minutos antes do amanhecer.
...
11.ª A camara pagará á companhia, livre de toda e qualquer outra despeza... a quantia de 22$500 réis annuaes por cada candieiro de illuminação publica...
12. Alem dos candieiros existentes ao tempo da celebração d’este contrato, a camara poderá exigir da companhia a colocação de outros, pelo preço anual estabelecido...
1.º Alem da illuminação acima estipulada a companhia obriga-se a canalisar de novo, e colocar os candieiros que a camara indicar nas linhas seguintes:
Linha da estação do caminho de ferro, aproximadamente 1:297 metros correntes;
Linha da ponte 681 metros;
Linha do Jardim Botanico 190 metros;;
Linha da Alegria 200 metros;
Linha do caes 330 metros;
Linha do Bairro de Thomar 500 metros
Diario do Governo. 1875. Numero 76, de 7 de Abril
Notícias que nos permite concluir que:
- A iluminação pública, a gás, foi iniciada cerca de 1854;
- A fábrica onde o gás era produzido estava instalada no terreno que mais tarde – após a municipalização desta empresa – serviu de remise e oficina dos carros elétricos, até à sua transferência para as instalações da Rua da Alegria;
As mesmas instalações já adaptadas a remise e oficinas, fotografia da coleção de Jorge Oliveira, a quem agradecemos a cedência
- Remise e oficina que, até há algum tempo, eram conhecidas pelas “instalações do gás”;
- No início da segunda metade século passado foram essas instalações cedidas para ampliação do Palácio da Justiça. Ampliação que ainda não aconteceu até ao presente, sendo que os edifícios ali existentes se apresentavam muito degradados até à sua muito recente demolição. O espaço vêm servindo de parque de estacionamento dos magistrados e funcionários do Palácio da Justiça
Era destinado aos religiosos estudantes universitários da «Ordem de S. Domingos». Cronologicamente é o primeiro dos Colégios que se estabeleceram na Universidade portuguesa, depois da sua fixação em Coimbra.
Teve por fundador e grande protetor el-Rei D. João III.
... Estava em princípio do ano letivo de 1539-1540 ... quando, a 16 de Outubro, se deu a migração dos colegiais dominicanos da Batalha para a cidade do Mondego, albergando-se no próprio edifício do convento de S. Domingos, sito à «Figueira-velha», na margem direita do rio, (as ruínas estão a cerca de 12 metros, sob o Hotel Almedina)... É pois a esta data ... que devemos reportar o início deste primeiro Colégio universitário, que tinha por titular S. Tomás de Aquino.
Ali se manteve até 1546, em que os religiosos dominicanos se viram forçados a abandonar o seu convento, constantemente inundado e meio submerso pelo Mondego. As obras já corriam neste ano de 1546.
Construíram-se então dois edifícios distintos, mas vizinhos, na Rua da Sofia: um para o convento dos religiosos de S. Domingos, outro para o Colégio de S. Tomás, onde residiriam os dominicanos universitários, assim os lentes como os estudantes.
Colégio de S. Tomás, portal
... Realizou-se com grandeza a fábrica do edifício, situado, como fica dito, na Rua da Sofia, ocupando o local onde hoje se ergue o palácio da Justiça; ainda neste se vê a bela arcada renascença do claustro colegial. O lindo e majestoso portal, que decorava a fachada, encontra-se enxertado na parede externa do Museu de Machado de Castro, que se defronta com o largo de S. Salvador.
Foi este Colégio incorporado oficialmente na Universidade por carta-régia de 20 de Junho de 1557.
Contou, entre os seus colegiais, teólogos muito notáveis, e até alguns célebres. Durante muito tempo foi este Colégio o principal fornecedor de lentes para a cadeira de Prima da Faculdade de Teologia.
Vasconcelos, A. 1987. Escritos Vários Relativos à Universidade de Coimbra. Reedição preparada por Manuel Augusto Rodrigues. Volume I e II. Coimbra, Arquivo da Universidade de Coimbra, pg. 184-186, do Vol. I
Pertenceu aos «Padres da Companhia de Jesus» ou «jesuítas».
Fundado em 1542, este Colégio foi o primeiro que a Companhia teve em todo o mundo... Funcionou a princípio provisoriamente numa casa na... Couraça dos Apóstolos.
Por carta régia de D. João III, datada de 16 de Agosto de 1544 foi concedida aos colegiais deste instituto ... «todos os privilégios, liberdades, graças e franquezas ... de que usam ... os lentes e deputados e conselheiros da Universidade»
... A 14 de Abril de 1547 ... lançamento da primeira pedra, a obra do edifício definitivo, o maior e mais grandioso que jamais se ergueu em Coimbra.
...A planta destas construções tem a forma de um retângulo, medindo tanto o lado oriental como o ocidental 108 metros de extensão, e os lados meridional e setentrional 94 metros cada um.
Colégio de Jesus
... Mais tarde construíram-se dois pequenos corpos de passadiços ou corredores, perpendiculares à fachada oriental, projetando-se para leste: um dava comunicação do Colégio de Jesus para o Real Colégio das Artes; o outro comunicava com um outro edifício fronteiro, onde estavam a cozinha, a dispensa e outras oficinas, sito aproximadamente onde hoje é o Laboratório Químico.
... A obra ia prosseguindo, embora um pouco lentamente... É preciso que se saiba que do antigo edifício pouco resta além do templo e de parte das paredes, ainda assim profundamente modificadas e enobrecidas.
... Foi este (o templo) a última parte do edifício a construir-se, pois corria já o ano de 1598 quando... colocou «ritu pontificali» a primeira pedra. Decorreram quarenta e um anos enquanto se foi construindo a grande nave com as suas capelas; ... logo este corpo se isolou, por um taipal ... levantou-se um altar provisório ... benzido na tarde de 31 de Dezembro de 1639.
... Continuaram a decorrer as obras durante mais de meio século, até se achar completo o transepto e capela-mor. Foi em 1698, a 31 de Julho, que se fez a inauguração do templo... havia passado um século desde a bênção e colocação da primeira pedra.
Mas estava então ainda longe o complemento das obras, que foram continuando, tanto no exterior como no interior, durante o 1.º quartel do século XVIII. A parte superior da fachada deve ter sido executada no princípio deste século; o douramento do retábulo do altar-mor concluiu-se em 1712, e os retábulos colaterais do transepto foram dourados em 1724.
... Pouco tempo gozaram os jesuítas de Coimbra a sua magnificentíssima igreja colegial, depois de concluída e perfeita.
Presos a 15 de Fevereiro de 1759... foi extinto o Colégio, e os respetivos edifícios ficaram abandonados durante treze anos.
... foi cedido ao Bispo e ao Cabido de Coimbra o templo ... para servir de catedral, com o seu claustro e com o corpo meridional do Colégio que lhe era contiguo, assim como grande parte do edifício que se estendia a ocidente da igreja; à Universidade, para instalação dos museus e mais estabelecimentos das Faculdades de Medicina e de Filosofia, foi concedido todo o resto do edifício.
O Hospital Real de Coimbra... Ficou instalado no ângulo NO do edifício.
Após a proclamação da Republica os serviços universitários ocuparam as partes do edifício que estavam em poder dos cónegos, com exclusão da igreja, torres dos sinos, claustro, sacristia e algumas dependências desta.
Vasconcelos, A. 1987. Escritos Vários Relativos à Universidade de Coimbra. Reedição preparada por Manuel Augusto Rodrigues. Volume I e II. Coimbra, Arquivo da Universidade de Coimbra, pg. 190-196, do Vol. I
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