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À frente dos destinos da Terra Portucalense, desde 1128, Afonso Henriques deixa Guimarães e fixa-se em Coimbra, em 1130 ou 1131.
Este deslocar do centro de gravidade de Guimarães para Coimbra é carregado de significado. É a fuga à tensão entre senhores territoriais de Entre-Douro-e-Minho. Isto é, entre pequenas unidades sociais interdependentes e rivais na conquista do poder social. Auxiliares importantes na vitória de Afonso Henriques em 1128 (também a sua própria vitória), foram engrandecendo o seu domínio e aumentando o seu poder, passando a ver em Afonso Henriques um rival. Este pressentiu o risco de se deixar aniquilar por eles ou vir a cair na sua dependência. Um processo concorrencial entre Afonso Henriques e os senhores do Norte, agravado pelas dificuldades de expansão externa, leva-o a desejar apoderar-se de outras terras. É, em última análise, a procura e a consequente construção de um espaço operatório para a sua ação, a partir do qual se irá esforçar por realizar o seu programa político: a integração das distintas unidades socioculturais, a expansão e o domínio do conjunto do território. A facilidade que Coimbra oferece à defesa e irradiação do seu poder, justifica a escolha desta cidade e a ulterior estratégia de controlo sobre ela.
A ação do infante sobre Coimbra começara já em 1128, com a nomeação para seu bispo do arcediago D. Bernardo, pro-gregoriano e anti-compostelano, em oposição ao clero local que propusera D. Telo, arcediago da Sé de Coimbra, à condessa D. Teresa. Assim, utilizando o conjunto de particularidades que dificultavam a uniformização em Coimbra, absorve a antiga oposição entre senhores laicos e gregorianos, ao mesmo tempo que prepara a aproximação com Roma. Por outro lado, sendo, em primeiro lugar, um grande senhor feudal, atribui-se como função fundamenta a guerra externa, a conquista. Coimbra, como cidade fronteiriça, tendo próximo o muçulmano, possibilitava não só o alargamento do território, mas permitia ainda ao rei aumentar a sua riqueza, fama e honra e recompensar as forças essenciais do seu exército, os seus cavaleiros, também eles desejosos de terras.
... No que diz respeito a Coimbra propriamente dita, subjacente às doações de Afonso Henriques está a consciência da diversidade existente e do prolongamento da luta, entre moçárabes e gregorianos... A intenção de ter propício à sua causa o bispo, representante máximo do poder religioso da cidade, um pro-gregoriano e anti-compostelano de que necessitava na sua luta contra os Travas e contra Diogo Gelmirez é evidente. Que o conseguiu e dele terá recebido importantes auxílios pecuniários, quer para a prossecução desta luta, quer principalmente para subsidiar a guerra externa, provam-no as ulteriores doações onde esse auxílio fica expresso.
... neutralizados os potenciais rivais do Norte, organizado o poder e centralizado em Coimbra, Afonso Henriques procurará, defendendo militarmente as suas terras e afirmando o seu poder face aos muçulmanos e a seus vizinhos, transformar o sistema social existente. Enfim, projetar uma sociedade laica.
Ventura, L. e Faria A.S. 1990. Livro Santo de Santa Cruz. Cartulário do Séc. XII. Edição de Leontina Ventura. Transcrições de Leontina Ventura e Ana Santiago Faria. 1990. Coimbra, Instituto Nacional de Investigação Científica, pg. 9-10, 14-15, 17.
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