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A' Cerca de Coimbra



Sexta-feira, 26.05.17

Coimbra e as suas personalidades: Zeca Afonso

Perfazem-se hoje 34 anos – como o tempo passa – que José Afonso recebeu a medalha de ouro da Cidade de Coimbra.

A esta distância julgo que é tempo de lembrar uma homenagem da Cidade a um dos seus Filhos maiores.

Ao tempo era Presidente da Câmara o Dr. Mendes Silva e eu exercia as funções de Chefe dos Serviços Municipais de Turismo pelo que me coube a honra de liderar a equipa que organizou essa homenagem.

A iniciativa da homenagem partiu do Dr. António Portugal, companheiro em Coimbra do Zeca, que apresentou à Assembleia Municipal de Coimbra uma proposta para a atribuição da medalha de ouro da Cidade, a qual foi aprovada por unanimidade.

Proposta em ordem à qual Zeca Afonso, com a modéstia que lhe era própria, manifestou inicialmente alguma resistência, mas que acabou por aceitar com a condição de não haver uma cerimónia protocolar, mas sim um evento aberto a todos.

Recordo, simplesmente, as controvérsias que surgiram na Cidade sobre o lugar e a forma da realização do evento, bem como sobre quem deveria assumir a sua realização.

Recordo, uma reunião no gabinete do Presidente, onde o assunto foi discutido e onde se tomou a decisão de a Câmara organizar um espetáculo público no magnífico cenário do Jogo da Pela, na Sereia, no decurso do qual a medalha fosse entregue.

No dia 26 de Maio de 1983, a Sereia que foi pequena para acolher os muitos que quiseram participar na homenagem.

O guião da cerimónia perdeu-se pelo que me restam duas fontes: a minha memória e um exemplar de um disco não comercial, patrocinado pelo Município, que reproduz parte da gravação do espetáculo. Disco que hoje constitui uma verdadeira relíquia.

Zeca Afonso.jpg

 Esse documento histórico apresenta as seguintes músicas:

- Saudades de Coimbra, cantado por Zeca Afonso

- Tenho barcos tenho remos, cantado por António Bernardino

- Trás outro amigo também, cantado por Luís Marinho

- Dueto concertante, tocado por António Brojo, António Portugal, Aurélio Reis, Luís Filipe e Rui Pato que também acompanharam aquelas peças.

Nele são ainda recordadas duas intervenções.

A primeira de António Portugal que, nomeadamente, afirmou: Penso que aqui estão as tuas raízes ... aqui te temos hoje Zeca, para com toda fraternidade que cabe no coração de um irmão e ideal de um amigo de sempre, te saudar em nome dos jovens do nosso tempo e desta Cidade que te não esquece e para quem és um filho muito querido.

Da intervenção do Dr. Mendes Silva recordo as seguintes passagens: Aqui estamos juntos, numa festa de estudantes de Coimbra ... A Cidade de Coimbra, a tua Cidade, em momento de gratidão bem alto, concedeu-te a medalha de ouro com que distingue os seus vultos mais ilustres. Bem a mereceste, pois fazes parte da sua história por direito próprio. Obrigado Zeca. Volta sempre. A casa é tua.

Quanto às minhas recordações conto uma das memórias mais marcantes da minha vida.

Estava junto a Zeca Afonso, já então a sofrer da doença que o iria acompanhar até ao fim da sua vida. Após a entrega da medalha, a cerimónia foi interrompida por um grupo de jovens que reivindicaram o direito de falar. De falar para contestar a aceitação por Zeca Afonso da medalha da Cidade, tendo o jovem orador então afirmado, cito de memória, que só se explicava tal aceitação porque Zeca era já “um cadáver ambulante”.

Fácil é compreender o burburinho que tal afirmação gerou e que levou alguns a tirarem desforço fazendo o grupo fugir da Sereia. Quando isso aconteceu o Zeca abeirou-se do microfone e disse: não lhes batam ... são só uns miúdos.

Uma frase, uma grandeza humana que me marcou para vida.

Um facto que aqui recordo.

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por Rodrigues Costa às 10:11


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