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Durante o oitavário da festa do Pentecostes, vinham aqui (à Ermida do Espirito Santo) numerosos ranchos, da cidade, dos campos e das serras, de perto e de longe, fazer as suas orações e cumprir os seus votos. A romaria, quase completamente profana, que faz juntar ainda hoje em cada ano numerosa gente em Santo António dos Olivais, naqueles mesmo dias, é uma simples reminiscência, inteiramente avariada, da antiga romaria piedosa à ermida do Espírito Santo.
Vasconcelos, A. Ermida do Espirito Santo In: Correio de Coimbra, n.º 510, Coimbra, 1932.03.19
A Romaria do Espirito Santo em 1886
A Romaria do Espirito Santo destes tempos
Em muito grande número ali concorrem os ranchos de camponeses, a cumprirem as suas promessas, e ainda mais a folgarem, em danças e descantes ao som das violas e das flautas. São partes integrantes da romaria a gaita-de-foles, o zabumba, ou «Zé P’reira», e os ferrinhos.
No vasto terreiro, que se estende em frente da igreja (e que se estendia até ao espaço hoje ocupado por uma clinica médica), dispõem aqui e ali algumas vendedeiras suas tendas portáteis, assim de brinquedos e outros miúdos objetos, como de doces e confeitaria, entre os quais se distinguem, já se vê, as tigelinhas de manjar branco e as arrufadas.
Manjar branco
Estas romarias são sempre muitíssimo animadas: a alegria e o entusiasmo reinam ali soberanamente; mas não é raro (como em toda a parte sucede) que, exaltadas as cabeças pelos vinhos e licores, uma boa palavra seja tomada à má parte, e que se levantem conflitos, que degeneram algumas vezes em sérias lutas perturbadoras das danças. É belo assistir a estes bailados: as jovens e formosas camponesas, cingindo o seu corpo de coletes de cores vivas, com os pescoços ocultos sob cordões, cruzes e corações de ouro, com seus chapéus ornados de fitas, de penas de pavão e do indispensável «registo», camponesas, digo giram graciosas com os seus companheiros endomingados, que só deixam a dança para ir dum pulo fazer uma libação.
A burguesia da cidade e a academia não se misturam aos camponeses; mas nem por isso deixam de concorrer a estas festas populares, gostando do espetáculo desses folguedos, que a noite faz terminar, com grande sentimento de muita gente. Os «ranchos» regressam às suas casas, cantando sempre, mas com menos entusiasmo do que à vinda; e os moradores da cidade voltam aos lares domésticos, aonde tem já o «chá» pronto alguma boa tia velha, alguma «fada-benta», como em Coimbra se chamam às boas senhoras de génio brando e santa intenções.
Borges de Figueiredo, «Coimbra antiga e moderna»
Borges, N.C. 1987. Coimbra e Região. Lisboa, Editorial Presença, pg. 122
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