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Encontra-se também próximo da estrada da Beira (hoje Rua do Brasil, junto ao entroncamento com a Rua dos Combatentes) um pequeno lugar, o «Calhabé», que foi formado pela aglomeração de algumas casitas ao pé de uma antiga taberna.
Vem-lhe o nome de um consciencioso sacerdote de Baco, muito nomeado nos finais do último (séc. XVIII), e do qual nos deixou memória um dos autores da «Macarronea», no «Calhabeidos». Vejamos.
O Calhabé, o famoso Calhabé, entra na taverna, e é calorosamente recebido; alguém o apostrofa, com umas reminiscências virgilianas:
Ó Calhabee, Deus nobis haec otia fecit;
Sejas bem vindo; nobis communia sejant
Gaudia; nam boa pinga temos, boa pinga bibatur,
Tantas pelas nossas corrat vinhaça goellas,
Quantum ferre solet Inverni mensibus augam,
Monda, Coimbrenses cobris qua turbidus agros.
Ferte siti alqueires, almudes, ferte canadas,
Et pipae, ceu Monda, fluant: date procula, tripas
Tempestas vermelha reguet ; Calhabee, bebamus.
O Calhabé não se fez rogar; escancara a boca como um forno; bebe da torneira do tonel, bebe, bebe; e não fica farto, Vendo que os outros não acompanham, incita-os às libações:
Bibe plus, bibe, quaeso:
Sume canadinham saltem hanc: engole copinhum
Saltem hunc.
E bebe sem descanso; mas finalmente a cabeça se lhe transtorna; e por fim cai bêbado «como uma canastra».
Então todos os companheiros aplaudem, dizendo-lhe um tanto admirados:
Tu quoque, magne, cadis, Calhabee!
Nota
A designação Calhabé foi aqui muito popular pois era a que figurava nos elétricos da linha 5. Quando foram substituídos pelos troleicarros estes passaram a ostentar a designação S. José e o topónimo foi-se perdendo.
Figueiredo, A. C. B. 1996. Coimbra Antiga e Moderna. Edição Fac-similada. Coimbra, Livraria Almedina, pg. 311
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