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A' Cerca de Coimbra



Quarta-feira, 31.05.17

Coimbra: 135 anos de ensino de enfermagem

A Escola Superior de Enfermagem de Coimbra organizou recentemente uma exposição subordinada ao tema: 135 anos de ensino da enfermagem em Coimbra.

A exposição apresentava um excelente acervo fotográfico e muito interessantes textos sobre a história do ensino da enfermagem no Mundo, em Portugal e, necessariamente, em Coimbra. Tudo reunido num catálogo que aqui divulgamos.

 

Resultante da fusão da Escola Superior de enfermagem Dr. Ângelo da Fonseca (fundada em 1881) e da Escola Superior de Enfermagem de Bissaya-Barreto (fundada em 1971), ocorrida em 2006, a Escola Superior de Enfermagem de Coimbra é herdeira da mais antiga formação em enfermagem em Portugal.

... E Portugal, a expulsão das ordens religiosas em 1834, entre as quais se encontravam religiosos que se dedicavam ao cuidado dos enfermos nos hospitais, conduziu a uma situação de degradação nos cuidados de enfermagem ... Foi neste enquadramento que aconteceram as primeiras iniciativas de formação de enfermeiros pela mão de médicos e se criou a primeira Escola de Enfermeiros nos Hospitais da Universidade de Coimbra (1881), seguida das Escolas no Hospital Real de São José em Lisboa (1886/1901) e no Hospital Geral de Santo António, no Porto (1897).

... A primeira Escola de Enfermeiros de Coimbra foi criada em 1881, por iniciativa voluntária do Professor Doutor Costa Simões, nos Hospitais da Universidade de Coimbra. Contudo esta iniciativa teve pouca duração.

Daí em diante, e durante várias décadas, não houve em Coimbra, ensino organizado sendo a formação de enfermeiros pontual.

Em 1919 foi criada a Escola de Enfermagem dos Hospitais da Universidade de Coimbra que passou a designar-se Escola de Enfermagem Dr. Ângelo da Fonseca, 1931.

Enfemeiros década de 40.jpg

Grupo de enfermeiros dos Hospitais da Universidade de Coimbra, década de 1940

 Em 1946 surgiu a Escola de Enfermagem Rainha Santa Isabel, uma iniciativa privada pertencente à União Noelista de Coimbra que formou enfermeiras pelo menos até 1973.

Em 1948, no seguimento da reorganização da assistência psiquiátrica, teve início o Curso Geral de Enfermagem Psiquiátrica na Escola de Enfermagem Psiquiátrica entretanto inaugurada no Hospital Sobral Cid.

Escola de Enfermagem.jpg

 Aula prática – Escola de Enfermagem Dr. Ângelo da Fonseca, década 1950

 Em 1955 foi criada a Escola de Enfermeiras Parteiras Puericultoras que formava especialistas para trabalhar nas diversas delegações do instituto Maternal, a qual veio a ser integrada na Escola de Enfermagem de Bissaya Barreto em 1973. Em 1983 esta formação, designada Curso de Especialização em Enfermagem de Saúde Materna e Obstétrica passou para a Escola de Enfermagem Pós-Básica Dr. Ângelo da Fonseca de Enfermagem.

Em 1971, junto do Centro Hospital de Coimbra, foi criada a Escola de Enfermagem de Bissaya Barreto.

Inicialmente, as escolas estavam sob administração dos hospitais ou instituições privadas fundadoras. A partir de 1942 as escolas de enfermagem públicas passaram a ter autonomia técnica e administrativa, ficando todavia sob a orientação e fiscalização da Inspeção de Assistência Social ou das Direções Gerais de Saúde

Escola Superior de Enfermagem de Coimbra. Exposição 135 anos de ensino da enfermagem em Coimbra. 2016. Coimbra, 135 anos de ensino da enfermagem em Coimbra. pg. 11, 45, 49-51

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por Rodrigues Costa às 22:16

Terça-feira, 30.05.17

Coimbra: Petição sobre a classificação do Cemitério da Conchada

No passado dia 7, na sequência de uma visita guiada ao Cemitério da Conchada, organizada com o apoio deste blogue, foi posta à subscrição pública uma petição solicitando à Câmara Municipal de Coimbra a abertura do processo de classificação de interesse concelhio para o Cemitério da Conchada.

A esta petição, até ao momento, já aderiam 73 subscritores.

Sendo intenção dos Organizadores remeter a petição à consideração do Senhor Presidente da Câmara imediatamente após o final do mês em curso – ou seja, depois de amanhã, quinta-feira –, solicita-se a quantos entendam subscrever a mesma o favor de fazerem até às 24h00 de amanhã, em:

http://peticaopublica.com/pview.aspx?pi=PT85512.

 

Arqueta filha Marques Ribeiro.jpg

 Arqueta da Filha de Marques Ribeiro

Obrigado

Rodrigues Costa

 

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por Rodrigues Costa às 20:27

Segunda-feira, 29.05.17

Coimbra: Manutenção Militar, reintegração no património municipal

 A comunicação social, noticiou, que o edifício onde estivera instalada a Manutenção Militar, sito na Avenida Sá da Bandeira, fora reintegrado no património da Câmara Municipal de Coimbra. Esse sucedimento ficou a dever-se, numa primeira conjuntura, ao facto de, na escritura assinada no ano de 1899 entre a edilidade aeminiense e o então Ministério da Guerra figurar uma cláusula que previa a reversão do imóvel para a posse da autarquia, no caso de o “antigo matadouro e respectivos terrenos contíguos” deixarem de ser utilizados para fins militares.

Manutenção. Anais. 1920-1939.TIF

Edificio primitivo da Manutenção Militar

 Na sequência da extinção das ordens religiosas acontecida em 1834, a Câmara de Coimbra tomou posse, em 15 de dezembro de 1836, dos edifícios, e não só, do extinto mosteiro de Santa Cruz que lhe haviam sido cedidos pelo Estado; contudo, devido a dúvidas e a abusos de diversa índole ... o governo fez publicar, a 30 de julho de 1839, uma carta de lei destinada a esclarecer que tinham sido concedidos ao município os edifícios do extinto mosteiro de Santa Cruz, com exclusão da igreja e suas dependências, o pequeno laranjal, a horta e a encosta que ficam contíguas aos mencionados edifícios e terminavam na estrada pública situada na zona da Fonte Nova.

 

Para além da rua que ligava a estrada de Montarroio à horta fradesca, mas ainda no âmbito dos terrenos pertencentes à Câmara, erguia-se o matadouro dos crúzios que, posteriormente, passou a funcionar como municipal. Esse terreno pertencia à edilidade que, após a retirada do matadouro cedeu, por escritura, o terreno, a fim de aí se ergueu o edifício da Manutenção Militar; o imóvel, ao longo dos anos, foi-se ampliando.

Manutenção Militar 1.jpgManutenção Militar, ainda se vislumbrando a antiga Viela do Hospício que

durante séculos serviu de saída da Cidade para Norte

 

Pretende, agora, a Câmara Municipal instalar no imóvel, para além de outras valências, os diversos núcleos do Arquivo Municipal que, ao presente, se encontram dispersos. Para além de dar vida a um imóvel que se encontrava inerte em pleno centro histórico vai facilitar o conhecimento e o estudo de um acervo muito valioso capaz de contribuir para o aprofundar do conhecimento histórico da nossa cidade.

Anacleto, R. In: Diário de Coimbra, 29563, Coimbra, 2017.05.26

 

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por Rodrigues Costa às 22:16

Sexta-feira, 26.05.17

Coimbra e as suas personalidades: Zeca Afonso

Perfazem-se hoje 34 anos – como o tempo passa – que José Afonso recebeu a medalha de ouro da Cidade de Coimbra.

A esta distância julgo que é tempo de lembrar uma homenagem da Cidade a um dos seus Filhos maiores.

Ao tempo era Presidente da Câmara o Dr. Mendes Silva e eu exercia as funções de Chefe dos Serviços Municipais de Turismo pelo que me coube a honra de liderar a equipa que organizou essa homenagem.

A iniciativa da homenagem partiu do Dr. António Portugal, companheiro em Coimbra do Zeca, que apresentou à Assembleia Municipal de Coimbra uma proposta para a atribuição da medalha de ouro da Cidade, a qual foi aprovada por unanimidade.

Proposta em ordem à qual Zeca Afonso, com a modéstia que lhe era própria, manifestou inicialmente alguma resistência, mas que acabou por aceitar com a condição de não haver uma cerimónia protocolar, mas sim um evento aberto a todos.

Recordo, simplesmente, as controvérsias que surgiram na Cidade sobre o lugar e a forma da realização do evento, bem como sobre quem deveria assumir a sua realização.

Recordo, uma reunião no gabinete do Presidente, onde o assunto foi discutido e onde se tomou a decisão de a Câmara organizar um espetáculo público no magnífico cenário do Jogo da Pela, na Sereia, no decurso do qual a medalha fosse entregue.

No dia 26 de Maio de 1983, a Sereia que foi pequena para acolher os muitos que quiseram participar na homenagem.

O guião da cerimónia perdeu-se pelo que me restam duas fontes: a minha memória e um exemplar de um disco não comercial, patrocinado pelo Município, que reproduz parte da gravação do espetáculo. Disco que hoje constitui uma verdadeira relíquia.

Zeca Afonso.jpg

 Esse documento histórico apresenta as seguintes músicas:

- Saudades de Coimbra, cantado por Zeca Afonso

- Tenho barcos tenho remos, cantado por António Bernardino

- Trás outro amigo também, cantado por Luís Marinho

- Dueto concertante, tocado por António Brojo, António Portugal, Aurélio Reis, Luís Filipe e Rui Pato que também acompanharam aquelas peças.

Nele são ainda recordadas duas intervenções.

A primeira de António Portugal que, nomeadamente, afirmou: Penso que aqui estão as tuas raízes ... aqui te temos hoje Zeca, para com toda fraternidade que cabe no coração de um irmão e ideal de um amigo de sempre, te saudar em nome dos jovens do nosso tempo e desta Cidade que te não esquece e para quem és um filho muito querido.

Da intervenção do Dr. Mendes Silva recordo as seguintes passagens: Aqui estamos juntos, numa festa de estudantes de Coimbra ... A Cidade de Coimbra, a tua Cidade, em momento de gratidão bem alto, concedeu-te a medalha de ouro com que distingue os seus vultos mais ilustres. Bem a mereceste, pois fazes parte da sua história por direito próprio. Obrigado Zeca. Volta sempre. A casa é tua.

Quanto às minhas recordações conto uma das memórias mais marcantes da minha vida.

Estava junto a Zeca Afonso, já então a sofrer da doença que o iria acompanhar até ao fim da sua vida. Após a entrega da medalha, a cerimónia foi interrompida por um grupo de jovens que reivindicaram o direito de falar. De falar para contestar a aceitação por Zeca Afonso da medalha da Cidade, tendo o jovem orador então afirmado, cito de memória, que só se explicava tal aceitação porque Zeca era já “um cadáver ambulante”.

Fácil é compreender o burburinho que tal afirmação gerou e que levou alguns a tirarem desforço fazendo o grupo fugir da Sereia. Quando isso aconteceu o Zeca abeirou-se do microfone e disse: não lhes batam ... são só uns miúdos.

Uma frase, uma grandeza humana que me marcou para vida.

Um facto que aqui recordo.

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por Rodrigues Costa às 10:11

Quarta-feira, 24.05.17

Hospital de S. Lázaro ou a história de uma demolição recente

Quando em 2005 integrei uma lista concorrente à Câmara Municipal de Coimbra uma das questões abordadas no decurso dessa campanha eleitoral foi a recuperação do que, então, restava no Hospital de S. Lázaro e que se pode observar na seguinte figura:          

Hospital dos Lázaros Fora de Portas.TIF

 Hospital dos Lázaros, Fora de Portas

Das grandes promessas eleitorais então feitas nada resultou. O muito que ainda lá restava e que se podia ter recuperado... já foi demolido para alargar o parque de estacionamento de uma repartição pública. Sem comentários!!

No decurso do trabalho de investigação que venho realizando sobre a história da Herdade de Enxofães que foi comprada pelo Hospital de S. Lázaro em Fevereiro de 1212, encontrei no Arquivo da Universidade de Coimbra uma planta – que julgo inédita – das referidas instalações:

Hospital dos Lázaros.JPG

 Planta do Hospital de S. Lázaro existente no AUC

A planta está datada de 1852.09.11 e foi elaborada quando, após o Hospital de S. Lázaro ter passado a integrar os Hospitais da Universidade de Coimbra, se equacionou levar a cabo uma necessária reforma das referidas instalações.

Reforma que acabou por não se realizar tendo o hospital passado a funcionar, posteriormente, na alta da Cidade, no antigo Colégio dos Militares.

O documento, cujo interesse julgamos evidente, tem a seguinte legenda:

Planta das instalações do hospital de S. Lázaro com os seguintes dizeres:

Mapa do Hospital dos Lazaros em exbosso: per Coito fes

A cor preta he o lucal donde sequer fazer as duas emfermarias pª doenças agudas, o qual necessita de solho escada portas e janelas feitas de novo, e algumas traves.

A cor amarela reprezenta casas q tem o madeiramento cahido

A cor emcarnada são as cazas q servem actualm.te.

À margem está a seguinte nota manuscrita:

Pela medição feita em 11 de Setembro de 1852 contem o Edificio, quintal e insua os palmos designados em cada linha, comprehendendo, feita a medição pela parte onde se acham os numeros, em toda a circunferencia – 1470 palmos – incluindo o angulo de 16 palmos da parte da estrada reconhecendo q o desenho se acha errado.

Coimbra 14 de Setembro de 1852

O Admd.or do  Concl.º

Antonio dos Santos Pereira Jardim

Hospital dos Lázaros portal.TIF

Fica para memória do que nunca devia ter sido destruído no século XXI: uma construção que vinha do século XIII, que foi restaurada no século XVI e que podia e devia, hoje, constituir mais um marco visível da história da Cidade.

Rodrigues Costa

 

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por Rodrigues Costa às 09:45

Segunda-feira, 22.05.17

Coimbra: Ermida de Santa Comba e a fonte da mesma Santa

Nas múltiplas colinas e vales que formam a orografia secundária da região citadina, nota-se entre a linha de cimos da Cumeada e o largo vale de Coselhas, para o norte de Celas, um modesto vale, o Valmeão, com pequeno morro a reparti-lo, aonde assentam os restos da capelita, que se apresenta, por isso, como capela devocional de altura.

A sua origem repousa na tradição de ter sido aqui martirizada, em época indeterminada, Santa Comba, santa que se representa crucificada, ou antes, ligada a uma árvore em forma crucial.

Há já referência à capela no ano de 1458. Sendo do padroado da Câmara passou, em 1491, para o do cabido catedralício. A capela renovou-se no séc. XVII (pellos annos de 1612). Foi vendida pela Fazenda Pública, cerca de 1925.

Está a desaparecer, tendo findado oito séculos de culto no local; podendo todavia acontecer que o da santa tivesse sucedido a um pré-histórico, de consagração de altos e grutas.

Capela de Santa Comba 04.jpg

Capela de Santa Comba

 Pelo que resta, vê-se que a obra era a da reforma do princípio do séc. XVII.

Era pequena: um corpo retangular tendo a meio da parede da epístola uma breve saliência, que só interiormente se pode ver para que servia. Precedia-a um alpendre, ao qual se subia por quatro degraus. Conserva-se o parapeito mas já desapareceram os dois pilares quadrados dos ângulos da frente, as duas colunas dóricas que ficavam entre eles e ainda a coluna que a cada lado dividia a meio o espaço; só restam as duas meias colunas, encostadas às paredes, do arranque do alpendre.

A fachada era de breves dimensões. A porta, de arco semicircular, sem impostas, de arestas vivas, mostra em duas aduelas laterais: «... VIRGINIS ET MARTI». Ao lado direito da empena está o campanariozinho de duas sineiras, reforma do séc. XVIII, tendo-se-lhe englobado o primitivo, a servir duma ventaria.

Não conseguimos entrar, mas desafeta e arrancados os azulejos, pouco interesse pode ter. Nada podemos dizer por isso da pequena gruta para a qual se descia da sacristia.

 

Já fora do pequeno morro da capela, mais abaixo no Valemeão, dentro duma quinta e na encosta do lado da cidade, ainda existe a fonte de Santa Comba.

Fonte de S. Comba.jpg

 Fonte de S. Comba

In: Lemos, J.M.O. 2004. Fontes e Chafarizes de Coimbra, pg.76

 Espaço retangular cortado na vertente, tendo o fundo com restos de decoração: uma gárgula com figura humana em meio de largo rótulo, pia em forma de concha circular, nicho singelo a dominar a abertura de mina ou gruta. Inserido neste nicho está um pequeno baixo-relevo, de segunda categoria, com a santa crucificada e vestida, acompanhada de dois soldados a cada lado e vê-se, numa cunha de segurança da cruz, o começo da data: «16...». A estes elementos do princípio do séc. XVII, juntou-se, no XVIII, uma decoração em argamassa de que existem apenas restos. A gente do local ainda presta certo culto, acendendo uma lâmpada junto ao nicho no dia 20 de Julho.

Correia, V., Gonçalves, A.N.1947. Inventário artístico de Portugal. Cidade de Coimbra, Lisboa, ANBA, p. 192-193.

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por Rodrigues Costa às 09:21

Sexta-feira, 19.05.17

Coimbra. A Fonte do Gato e a Capela de S. Romão

Partindo do largo fronteiro à Igreja de Santo António dos Olivais vai-se pela Calçada do Gato – uma das mais íngremes de Coimbra – em direção ao lugar de S. Romão de onde se pode escolher ou ir para a circular externa ou ir na direção de S. Paulo de Frades.

A Fonte do Gato encontra-se na Calçada do Gato, a meio caminho... Construída em 1771, a fonte tem uma só bica sobre um pequeno tanque de forma oval, muito deteriorado, e a sua água tem a nascente numa quinta próxima.

No frontispício, as armas da cidade são rematadas, na parte inferior, pelo vulto de um gato. A pedra que contém este vulto está muito desgastada pela ação do tempo, ou destruída pela mão de «vândalos», e o vulto mal se distingue ... foi remodelada no século XIX, nas a inscrição primitiva (ANNO 1771) não foi alterada.

fonte do gato 2.JPG

 Fonte do Gato, na atualidade

 Lemos, J.M.O. 2004. Fontes e Chafarizes de Coimbra. Coimbra, Câmara Municipal de Coimbra, pg. 55.

 

Continuando a descida, ao chegar ao vale deparamo-nos com a capela se S. Romão.

 

Capela de S. Romão 1.JPG

 Capela de S. Romão, na atualidade

Perto de Santo António dos Olivais, ao fundo da Calçada do Gato, fazendo parte duma quinta que foi dos marqueses de Pomares, está encostada e anexa à incaracterística casa da quinta. Pertence ao séc. XVIII.

É circular e pequena. A porta tem um aspeto simples e termina em frontão triangular, ficando-lhe acima um óculo, em oval, deitado. O teto é de estuque, com singelas molduras. O arco (de tijolo) em que se abriga o simulacro de altar tem todo a aparência de arco de entrada de capela-mor, a qual já se devia encontrar dentro da casa.

A escultura do padroeiro é obra popular; mostra na direita uma palma e um cutelo e tem aos pés um elmo.

Está em começo de ruína.

A escultura do padroeiro é obra popular; mostra na direita uma palma e um cutelo e tem aos pés um elmo.

Está em começo de ruina.

Gonçalves, A.N., Correia, V. 1947. Inventário Artístico de Portugal. Cidade de Coimbra. Lisboa, Academia Nacional de Belas Artes, p. 194-195

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por Rodrigues Costa às 10:44

Quarta-feira, 17.05.17

Coimbra: a Ermida do Espirito Santo que já não há

A norte da igreja de Santo António dos Olivais, cerca dum quilómetro de distância, por caminho íngreme e malandamoso, deparava-se-nos na depressão dum ameno vale, meio escondida por árvores frondosas e arbustos copados, entre prados verdejantes e matizados de flores na primavera, em situação calma, silenciosa, inundada de paz e de poesia, uma ermida simples e pobre, mas de portal brasonado, onde se viam, a par, o escudo das quinas e castelos dos Reis de Portugal e do Algarve, e o de ouro dos Meneses, indicando que interviera na construção ou na reparação desta capela el-Rei D. Fernando e sua mulher a Rainha D. Leonor Teles de Meneses.

O interior não desdizia do exterior: a mesma simplicidade, a mesma atmosfera de paz e sossego, o mesmo ambiente de poesia. Tinha a capela por Titular a terceira Pessoa da Trindade Santíssima, o divino Espírito Paracleto.

... Perdiam-se da memória dos homens as origens deste santuário. Sabia-se apenas, por tradição, que fora muito protegido e amparado pela piedade dos nossos primeiros monarcas; e o brasão de armas do último Rei da primeira dinastia sela e autentica essa tradição oral, pela primeira vez registada por Coelho Gasco na “Conquista e Antiguidade de Coimbra”.

... O Cabido da Catedral também vinha anualmente a esta capelinha fazer a sua romaria... Na segunda-feira do Pentecostes, depois de cantar na Sé a Hora de Prima, saía incorporado processionalmente todo o pessoal - Dignidades, Cónegos, Beneficiados, Capelães-cantores, meninos do coro, etc., e, com a cruz alçada à frente, cantando a Ladainha de Todos-os-Santos, alguns anos acompanhado do próprio Bispo-Conde, seguido da turbamulta de fiéis de todas as categorias sociais, lá ia em direção ao castelo, saindo da cidade por essa porta... Ao avistarem, finalmente, a capelinha do Espírito Santo, suspendiam o canto, e recitado em silêncio o Pater noster e a Ave-maria

... Deixou o Cabido de cumprir esta obrigação aí por volta de 1834; mas depois, quando era Prelado de Coimbra o Arcebispo Bispo-Conde Dom Manuel Bento Rodrigues (1851-1858)... fez ele ressuscitar também a procissão antiga e devotíssima da sua Sé à capela do Espírito Santo, que daí em diante voltou a realizar-se, embora com o prístino brilho e entusiasmo bastante apagados. Entretanto ainda se fez a procissão, ininterruptamente, através de toda a década de 60, vindo a extinguir-se de inanição, nesta apagada e vil tristeza, ao principiar a de 70; ignoro o ano preciso.

Há poucos anos foi a ermida com o seu quintal vendida, e suponho que demolida.

O que se lucrou com isto? Alguns míseros escudos, que entraram nos cofres do Estado, e não conseguiram diminuir o deficit, em troca dum vandalismo a mais, bem escusado, na já longa história das devastações que têm assolado o país!

Os brasões reais, que encimavam a porta da ermida, esses foram caritativamente recolhidos no Museu de Machado de Castro.

Vasconcelos, A. Ermida do Espirito Santo. In: Correio de Coimbra, n.º 510, Coimbra, 1932.03.19.

 

Nota: Percorri a Calçada do Espirito Santo, procurando o que eventualmente restaria da Ermida do Espirito Santo. Ao fundo vislumbrei um pequeno mas belo e frondoso bosque e o que me pareceu uma antiga casa agrícola. Falei com as poucas Pessoas que encontrei e bati a duas portas ... nem a memória da capela já resta!!

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por Rodrigues Costa às 23:13

Segunda-feira, 15.05.17

Coimbra: a romaria do Espirito Santo que ainda vai havendo

Durante o oitavário da festa do Pentecostes, vinham aqui (à Ermida do Espirito Santo) numerosos ranchos, da cidade, dos campos e das serras, de perto e de longe, fazer as suas orações e cumprir os seus votos. A romaria, quase completamente profana, que faz juntar ainda hoje em cada ano numerosa gente em Santo António dos Olivais, naqueles mesmo dias, é uma simples reminiscência, inteiramente avariada, da antiga romaria piedosa à ermida do Espírito Santo.

Vasconcelos, A. Ermida do Espirito Santo In: Correio de Coimbra, n.º 510, Coimbra, 1932.03.19

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A Romaria do Espirito Santo em 1886

Romaria do Espírito Santo 01.jpg

A Romaria do Espirito Santo destes tempos

Em muito grande número ali concorrem os ranchos de camponeses, a cumprirem as suas promessas, e ainda mais a folgarem, em danças e descantes ao som das violas e das flautas. São partes integrantes da romaria a gaita-de-foles, o zabumba, ou «Zé P’reira», e os ferrinhos.

No vasto terreiro, que se estende em frente da igreja (e que se estendia até ao espaço hoje ocupado por uma clinica médica), dispõem aqui e ali algumas vendedeiras suas tendas portáteis, assim de brinquedos e outros miúdos objetos, como de doces e confeitaria, entre os quais se distinguem, já se vê, as tigelinhas de manjar branco e as arrufadas.

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Manjar branco

 Estas romarias são sempre muitíssimo animadas: a alegria e o entusiasmo reinam ali soberanamente; mas não é raro (como em toda a parte sucede) que, exaltadas as cabeças pelos vinhos e licores, uma boa palavra seja tomada à má parte, e que se levantem conflitos, que degeneram algumas vezes em sérias lutas perturbadoras das danças. É belo assistir a estes bailados: as jovens e formosas camponesas, cingindo o seu corpo de coletes de cores vivas, com os pescoços ocultos sob cordões, cruzes e corações de ouro, com seus chapéus ornados de fitas, de penas de pavão e do indispensável «registo», camponesas, digo giram graciosas com os seus companheiros endomingados, que só deixam a dança para ir dum pulo fazer uma libação.

A burguesia da cidade e a academia não se misturam aos camponeses; mas nem por isso deixam de concorrer a estas festas populares, gostando do espetáculo desses folguedos, que a noite faz terminar, com grande sentimento de muita gente. Os «ranchos» regressam às suas casas, cantando sempre, mas com menos entusiasmo do que à vinda; e os moradores da cidade voltam aos lares domésticos, aonde tem já o «chá» pronto alguma boa tia velha, alguma «fada-benta», como em Coimbra se chamam às boas senhoras de génio brando e santa intenções.

Borges de Figueiredo, «Coimbra antiga e moderna»

Borges, N.C. 1987. Coimbra e Região. Lisboa, Editorial Presença, pg. 122

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por Rodrigues Costa às 09:50

Sexta-feira, 12.05.17

Coimbra: Ermida de Santa Comba

Há no arrabalde de Coimbra uma pequena capela dedicada a Santa Comba, Virgem e Mártir Conimbrigense, que era noutros tempos muito visitada e celebrada.

Capela de Santa Comba 04.jpg

 Ermida de Santa Comba, na atualidade

 Em sítio ermo, ao cimo de áspera riba, sobranceira a um fértil vale, tem ante a porta um carinhoso e hospitaleiro alpendre, donde se surpreendem pores de sol magníficos.

Quando eu frequentava os estudos em Coimbra, era este templozinho muito visitado, principalmente nas tardes do outono e da primavera, pela rapaziada académica, atraída pela beleza do panorama e dos espetáculos naturais que dali se gozam, e pelo suave e místico ambiente de poesia e lenda, de que antigas tradições envolveram este lugar. Em tempos anteriores ao da minha geração académica, a esta ermida vinham durante o ano todo, mas, principalmente, a 20 de Julho, muitos romeiros, que fervorosamente traziam súplicas devotas em suas necessidades, ou agradecimentos festivos pelas graças recebidas, sempre acompanhados de numerosas oblatas.

Esta capelinha existia, é certo, no século XII. Reinando em Portugal D. Afonso Henriques, nos princípios do 2.° quartel daquele século, foram procuradas as relíquias de S.ta Comba na cripta da sua capela ...Pela trasladação das relíquias não diminui a veneração à capela, que continuou a ser um dos lugares mais respeitados desta região.

Considerava-se S.ta Comba especial advogada contra as maleitas ou sezões, doença que atacava e dizimava os habitantes dos campos do Mondego, então pantanosos e muito insalubres; por isso era grande a afluência de devotos que, constantemente, vinham visitar a imagem da Santa, colocada sobre o altar da ermida. A piedade dessa gente fez mais. Ergueu-se um outro altar na cripta da ermida, no local subterrâneo onde havia estado sepultada, e onde permanentemente ardia uma lâmpada votiva; sobre esse altar da cripta foi no século XIV colocada uma bela imagem de S.ta Comba coroada de flores, hoje depositada no Museu de Machado de Castro, escultura interessante sob vários aspetos, e especialmente por nos revelar um episódio de uma das variantes medievais da lenda columbina, que não foi registado pelos autores.

Anexas à ermida, construíram-se casas de vivenda para o ermitão, e, provavelmente, de albergaria para os romeiros, com a respetiva crasta ou claustro: um verdadeiro ermitágio, como então se dizia. Doações pias dilataram os domínios da capela com olivais rendosos.

No século XV era administradora do ermitágio de S.ta Comba a Vereação municipal de Coimbra, e havia ali ereta uma Confraria de moços ou jovens, que em 1483 andavam realizando obras na capela ou nos seus anexos, para cujo auxílio a Câmara lhes concedeu, durante um ano, todas as ofertas trazidas pelos devotos, e todo o fruto produzido pelas oliveiras.

Em 1491 perdeu a Câmara o direito que tinha sobre a ermida de S.ta Comba, em virtude de demanda que lhe moveu o Cabido da Catedral, julgada por sentença de 9 de Dezembro deste ano. Desde então até 1910 esteve aquele monumento de piedade e de poesia confiado aos Cónegos da Sé, administradores dos seus rendimentos.

Arruinadas as edificações medievais, foi em 1612 reconstruída a capela, tal como ainda hoje existe, com os seus três altares de boa talha, e paredes revestidas de azulejos, respeitando-se a primitiva cripta, à qual se desce da sacristia por uma escada de pedra. Tem contígua uma pequena casa de residência do ermitão, e nada mais. As antigas casas com a sua crasta desapareceram.

Capela de Santa Comba 01.tif

 Ermida de Santa Comba, finais do séc. XIX

 O Cabido manteve por muito tempo a capela em estado de decência, e todos os anos, a 20 de Julho, ali celebrava a festa da gloriosa Virgem e Mártir, com grande concorrência de povo de Coimbra e seus arrabaldes. Mas, depois de 1834, foi tudo caindo em abandono e desleixo, que aumentava progressivamente, de ano para ano. Decresceram os rendimentos da capela, os olivais foram alienados. Por fim o Cabido limitava-se a dar a casa do ermitão a um pobre, que a habitava com a família, servindo-lhe de quintal o pequeno adro da capela, que passou a ser cultivado; era esse inquilino quem recebia as raras ofertas que porventura algum devoto trouxesse a S.ta Comba, com a cláusula porém de cuidar da guarda e limpeza da ermida, e de pagar a esmola da Missa que, no dia da Santinha, um dos capelães da Sé lá ia celebrar.

Vendida em praça, há cerca de um ano, foi a capela e seus anexos adquirida por um industrial de Coimbra que, segundo se diz, a vai restaurar e abrir ao culto.

Vasconcelos, A. A ermida de Santa Comba. In “Correio de Coimbra”, 227, Coimbra, 1926.09.25.

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por Rodrigues Costa às 16:57

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