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José da Fonseca, apesar das reais potencialidades artísticas reveladas ao longo da sua existência, tem sido votado a um certo esquecimento, talvez nem sempre casual.
O artista nasceu em Coimbra, a 20 de Fevereiro de 1884, e iniciou os seus estudos artísticos na então Escola Industrial Brotero ... Fonseca concluiu o seu curso na Escola Brotero com alta classificação, mas «apesar de já então estar na posse de apreciável técnica e apto a produzir e a criar na difícil atmosfera das artes (...) tomou novas lições com mestre António Augusto Gonçalves», o que equivale a dizer que frequentou a Escola Livre. Além disso, foi discípulo de João Machado e na sua oficina aperfeiçoou os ensinamentos adquiridos no estabelecimento de ensino estatal.
... O arquiteto-pintor italiano Luigi Manini ... foi incumbido, cerca de 1890, de projetar o conjunto dos edifícios onde se integraria o Palace Hotel do Buçaco ... Aos artistas canteiros de Coimbra, ligados à Escola Livre das Artes do Desenho, foi-lhes entregue o lavor da pedra e José da Fonseca, ainda muito jovem, integrava a companha
... Na charneira do século, o Dr. Carvalho Monteiro, vulgarmente apelidado de Monteiro dos Milhões por via da sua enorme fortuna, depois de ter comprado em Sintra (na estrada dos Pisões) aos herdeiros da baronesa da Regaleira, a quinta do mesmo nome, encomendou o projeto do palacete e de alguns outros edifícios a construir na, herdade ao cenógrafo italiano.
... Manini havia lidado de perto com o trabalho realizado, no Buçaco pelos artistas conimbricenses, e não teve rebuços em os aliciar para que fossem também eles a lavrar a pedra desta sua nova construção.
Alguns canteiros deslocaram-se a Sintra e por lá se quedaram, enquanto o trabalho não escasseou, para, posteriormente, regressarem à sua cidade ou se fixarem em Lisboa; outros lavraram a pedra em Coimbra e enviaram-na através do caminho-de-ferro, a fim de ser armada no local. José da Fonseca acabou por se radicar na vila, onde organizou a sua vida pessoal e montou oficina.
Mestre Fonseca acompanhou os trabalhos da Regaleira, pode bem dizer-se, desde o princípio até ao fim.
José da Fonseca. Quinta da Regaleira fogão
O lavrado da pedra, algumas estátuas e a magnífica chaminé da casa de jantar, saíram do seu cinzel. Esta última, desenhada por Manini, joga com os apelidos do proprietário: Carvalho e Monteiro. Coroa o conjunto, que quase esmaga pela sua sumptuosidade excessiva e pela falta de equilíbrio existente entre a peça e a parede onde se inscreve, a estátua de um caçador. Na parte superior do fogão de sala, surgem cavalos, cães, figuras humanas e vegetação, completamente isolados do fundo, demonstrando por parte do artista grande domínio da técnica de trabalhar a pedra.
... A partir de 1928, participa nas Exposições da Sociedade Nacional de Belas-Artes com bastante assiduidade; a imprensa e o público nota-o, a coletividade confere-lhe prémios, Em 1932, na 25.a Exposição, apresenta o trabalho intitulado Lóki; quatro anos mais tarde, na 33.a expõe o grupo Náufragos; e, no Salão Primavera da 42.a Exposição, levou às gentes da capital o Busto de Senhora e o grupo designado por Surpresa. Este conjunto de nus foi posteriormente, em 1947, apresentado também numa exposição coletiva que teve lugar no Palácio Valenças, em Sintra. A escultura era particularmente notável pela sua plasticidade, riqueza rítmica e possuía ainda a envolvê-la «um sopro de sensualidade» .
José da Fonseca trabalhou em Sintra durante mais de quatro décadas, até ao seu falecimento, ocorrido em 13 de Dezembro de 1956.
Anacleto, R. Dois fontanários do concelho de Sintra esculpidos pelo mestre-canteiro José da Fonseca, In Boletim Cultural, 90, 1.º e 2.º tomos. Lisboa, Assembleia Distrital de Lisboa, 1984/1988, p. 105-124.
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