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A' Cerca de Coimbra



Sábado, 29.04.17

Memórias da Vida: visita guiada ao Cemitério da Conchada, no próximo sábado

MEMÓRIAS DE VIDA: CEMITÉRIO DA CONCHADA

Visita orientada por Regina Anacleto, com o apoio de Rodrigues Costa

            

Jazigo Maria do Céu. Conchada.tif

Jazigo neoclássico

                                                                     

Data do evento:

06.05.2017, sábado, às 10h30, com a duração prevista de 60 minutos

 

Organização:

A’Cerca de Coimbra (blogue)

 

Apoios:

Clube de Comunicação Social de Coimbra

Coimbra antiga e moderna (blogue)

Coimbra livre e aberta a todos (blogue)

"Cromos", Personalidades e Estórias de Coimbra (blogue)

Penedo da Saudade Tertúlia (blogue)

 

Público-alvo:

Todos os interessados na história e cultura coimbrã

Visita livre (sem prévia inscrição, ainda que agradecendo a manifestação de interesse na participação)

 

Objetivos:

- Integrar o espaço físico do conjunto cemiterial no tempo e no contexto socioeconómico

- Identificar alguns monumentos

- Sensibilizar os participantes para a necessidade de valorizar e preservar este tipo de património arquitetónico, artístico e cultural

 

Programa:

- Concentração dos participantes no jardim fronteiro à porta principal do cemitério da Conchada

- Breve exposição: o culto dos mortos ao longo dos tempos e o estabelecimento dos cemitérios em Portugal; as particularidades do cemitério da Conchada; o projeto inicial

 

- Percurso

  1. Portão principal: o Anjo da Paz
  2. Jazigo da família Brinca Esteves.
  3. Jazigo neomanuelino
  4. Jazigo da condessa de Canas
  5. Jazigo neorrenascença
  6. Jazigo neorromânico
  7. Jazigo neogótico
  8. Jazigo de Daniel Rodrigues
  9. Jazigo neobarroco
  10. Jazigo arte nova
  11. Jazigo art déco
  12. Monumento funerário homenageando António Augusto Gonçalves
  13. Jazigo neogótico
  14. Arqueta neogótica
  15. Jazigo neorrenascença
  16. Jazigo arte nova
  17. Jazigo arte nova
  18. Jazigo neomanuelino
  19. Jazigo neoclássico
  20. Campa de João Machado

 

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por Rodrigues Costa às 11:07

Quarta-feira, 26.04.17

Coimbra e as suas Personalidades: José Barata

De seu nome completo José dos Santos Sousa Barata, foi sócio fundador e um dos primeiros e dos mais ilustres alunos da Escola Livre das Artes do Desenho fundada em 1878 por António Augusto Gonçalves de quem foi um discípulo dileto.

Joaquim Martins Teixeira de Carvalho refere ainda que foi aluno da Escola Brotero e discípulo de João Machado.

Na Exposição de 1884, expõe um busto da Vénus de Milo, estudo feito em pedra de Outil, obra que foi premiada.

A primeira grande obra conhecida em que participou data de 1886 e foi a casa neomanuelina da Rua do Corpo de Deus.

A partir de 1897 colabora na obra do que é hoje o Palace Hotel do Buçaco, sendo referido em O Conimbricense, de 8 de Julho de 1899 como um dos artistas que mais se têm distinguido pela mestria e perfeição com que têem executado delicadissimos lavores em pedra.

Em 1898, em parceria com João Machado e sob a batuta de António Augusto Gonçalves, interveio no restauro do pórtico principal da Sé Velha.

Em 1904, Joaquim Martins Teixeira de Carvalho refere-o como um dos artistas conimbricenses que trabalha nas obras do Palácio da Regaleira, em Sintra, afirmando, que lavra como nenhum outro artista portugues, em estilo manuelino

Em 1916 esculpiu a fonte do palacete Garcia (hoje Vila Marini).

José Barata. Palacete Garcia. Fonte  cor.TIF

Fonte do Palacete Garcia

 Em 1927 concluiu a magnifica pia batismal da igreja de Santo António dos Olivais.

José Barata. Ig. S. Anto. Olivais. Pia baptismal

 Pia batismal da igreja de Santo António dos Olivais

 No Despertar de 26 de Fevereiro de 1930 é referido numa nota necrológica: Decorador distinto do manuelino, tendo também executado diversas esculturas, deixou espalhada pelo país (Buçaco, Sintra, etc.) obras admiráveis de beleza e elegância. A pia batismal da paróquia de Santo António dos Olivais, a ornamentação de um prédio na Rua Alexandre Herculano e um jazigo em manuelino foram as suas últimas obras, revelando nelas o seu talento de artista, José Barata, pode também dizer-se, foi quem melhor interpretou o estilo manuelino.

Nota: Esta entrada só foi possível pela investigação e disponibilidade da Senhora Professora Doutora Regina Anacleto que, para a mesma, me cedeu as fotografias e as suas fichas referentes a José Barata.

O meu profundo agradecimento.

 

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por Rodrigues Costa às 22:02

Sexta-feira, 21.04.17

Coimbra e as suas personalidades: José da Fonseca

José da Fonseca, apesar das reais potencialidades artísticas reveladas ao longo da sua existência, tem sido votado a um certo esquecimento, talvez nem sempre casual.

O artista nasceu em Coimbra, a 20 de Fevereiro de 1884, e iniciou os seus estudos artísticos na então Escola Industrial Brotero ... Fonseca concluiu o seu curso na Escola Brotero com alta classificação, mas «apesar de já então estar na posse de apreciável técnica e apto a produzir e a criar na difícil atmosfera das artes (...) tomou novas lições com mestre António Augusto Gonçalves», o que equivale a dizer que frequentou a Escola Livre. Além disso, foi discípulo de João Machado e na sua oficina aperfeiçoou os ensinamentos adquiridos no estabelecimento de ensino estatal.

... O arquiteto-pintor italiano Luigi Manini ... foi incumbido, cerca de 1890, de projetar o conjunto dos edifícios onde se integraria o Palace Hotel do Buçaco ... Aos artistas canteiros de Coimbra, ligados à Escola Livre das Artes do Desenho, foi-lhes entregue o lavor da pedra e José da Fonseca, ainda muito jovem, integrava a companha

... Na charneira do século, o Dr. Carvalho Monteiro, vulgarmente apelidado de Monteiro dos Milhões por via da sua enorme fortuna, depois de ter comprado em Sintra (na estrada dos Pisões) aos herdeiros da baronesa da Regaleira, a quinta do mesmo nome, encomendou o projeto do palacete e de alguns outros edifícios a construir na, herdade ao cenógrafo italiano.

... Manini havia lidado de perto com o trabalho realizado, no Buçaco pelos artistas conimbricenses, e não teve rebuços em os aliciar para que fossem também eles a lavrar a pedra desta sua nova construção.

Alguns canteiros deslocaram-se a Sintra e por lá se quedaram, enquanto o trabalho não escasseou, para, posteriormente, regressarem à sua cidade ou se fixarem em Lisboa; outros lavraram a pedra em Coimbra e enviaram-na através do caminho-de-ferro, a fim de ser armada no local. José da Fonseca acabou por se radicar na vila, onde organizou a sua vida pessoal e montou oficina.

Mestre Fonseca acompanhou os trabalhos da Regaleira, pode bem dizer-se, desde o princípio até ao fim.

Regaleira fogão 04.jpg

José da Fonseca. Quinta da Regaleira fogão

 O lavrado da pedra, algumas estátuas e a magnífica chaminé da casa de jantar, saíram do seu cinzel. Esta última, desenhada por Manini, joga com os apelidos do proprietário: Carvalho e Monteiro. Coroa o conjunto, que quase esmaga pela sua sumptuosidade excessiva e pela falta de equilíbrio existente entre a peça e a parede onde se inscreve, a estátua de um caçador. Na parte superior do fogão de sala, surgem cavalos, cães, figuras humanas e vegetação, completamente isolados do fundo, demonstrando por parte do artista grande domínio da técnica de trabalhar a pedra.

... A partir de 1928, participa nas Exposições da Sociedade Nacional de Belas-Artes com bastante assiduidade; a imprensa e o público nota-o, a coletividade confere-lhe prémios, Em 1932, na 25.a Exposição, apresenta o trabalho intitulado Lóki; quatro anos mais tarde, na 33.a expõe o grupo Náufragos; e, no Salão Primavera da 42.a Exposição, levou às gentes da capital o Busto de Senhora e o grupo designado por Surpresa. Este conjunto de nus foi posteriormente, em 1947, apresentado também numa exposição coletiva que teve lugar no Palácio Valenças, em Sintra. A escultura era particularmente notável pela sua plasticidade, riqueza rítmica e possuía ainda a envolvê-la «um sopro de sensualidade» .

José da Fonseca pb.jpg

José da Fonseca trabalhou em Sintra durante mais de quatro décadas, até ao seu falecimento, ocorrido em 13 de Dezembro de 1956.

Anacleto, R. Dois fontanários do concelho de Sintra esculpidos pelo mestre-canteiro José da Fonseca, In Boletim Cultural, 90, 1.º e 2.º tomos. Lisboa, Assembleia Distrital de Lisboa, 1984/1988, p. 105-124.

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por Rodrigues Costa às 12:53

Terça-feira, 18.04.17

Coimbra e as suas personalidades: Daniel Rodrigues

Um outro artista do ferro, que não pode deixar de merecer uma referência específica é Daniel Rodrigues que nasceu a 26 de Março de 1886 no Largo das Ameias, em Coimbra, terra para onde os seus pais, oriundos de Penacova e de Figueira de Lorvão se haviam transferido.

... Iniciou a sua aprendizagem numa oficina de serralharia civil e a sua habilidade invulgar para o desenho e manejo do ferro terão despertado o interesse de António Augusto Gonçalves, que o levou a frequentar as aulas de Desenho Ornamental e de Modelação, ministradas na Escola Industrial Brotero ... Foi também aluno da Escola Livre.

Em 1933, conjuntamente com António Maria da Conceição e com Manuel de Jesus Cardoso, integra a direção daquela ‘universidade plebeia’, fazendo-se também sócio da Associação de Socorros Mútuos dos Artistas de Coimbra.

Morreu, com 84 anos, quase à beira de cumprir mais um, a 11 ou 12 de Fevereiro de 1971.

Para além das obras já mencionadas, começou a executar, em 1928, uma artística grade para o palacete Sotto-Mayor que foi construído na Figueira da Foz. A fundição deste trabalho esteve a cargo da casa Alves Coimbra, Sucessores, desta cidade, e a cinzelagem e acabamento foram feitos na oficina do mestre serralheiro. A peça, que foi muito apreciada e mereceu rasgados elogios.

... em 1934, por iniciativa do pároco daquela freguesia (Santo António dos Olivais) fez o desenho e executou duas artística grades de ferro, no estilo gótico, destinadas às capelas laterais da escadaria da igreja . Quatro anos depois, bateu uns artísticos portões para a capela de Nossa Senhora da Conceição e do Senhor dos Passos, da mesma igreja , bem como o lustre central do templo.

Daniel Rodrigues. Anjo da Paz Eterna cor.JPG

Daniel Rodrigues. Anjo da Paz Eterna

De entre as obras de Daniel Rodrigues, com temática religiosa, destaca-se o Anjo da Paz Eterna, feito em 1941, feito para ser colocado no portão do cemitério da Conchada, a substituir o esqueleto que ali havia . Trata-se de uma estátua vultuosa que teve por modelo uma das suas filhas; dir-se-ia que o artista trabalhou o ferro com a mesma facilidade com que as mãos do oleiro modelam o barro. O anjo ergue as suas asas e, segurando a cruz, como que aponta o céu, num sinal de esperança e de evasão que é, afinal, o estigma de toda a arte. Neste trabalho deve salientar-se a perfeita nitidez das feições do rosto e a execução do cabelo, o subtil drapeado da túnica, apertada na cintura com um cordão, deixando aparecer, ligeiramente, os pés descalços, simbolizando a humildade que é, afinal, a deste artista e a fragilidade inerente ao ser humano.

Nas horas vagas, vai trabalhando na porta do jazigo da sua filha ... A peça revela a forte sensibilidade do artista, que retrata, através da imagem esculpida no ferro duro e frio, o real-irreal ou o tempo-não-tempo, que é a transição vida-morte, numa quase ausência de dimensões. Retratou, ao mínimo pormenor o quarto, com o seu mobiliário, a janela que já não dá para este mundo e a jovem, soerguida no seu leito, enfrentando o Anjo da morte. Em baixo, visualizam-se dois santos, a velar a caminhada eterna que Cristo e sua Mãe, insertos nos grandes medalhões que se situam a meio dos batentes, asseguram, entre lírios e rosas, uma ressurreição.

Ao longo da sua vida, Daniel Rodrigues ... executa “relevos erguidos no ferro forjado à força de buris e martelada”. É um trabalho verdadeiramente “toledano, grosso de aspecto, mas de um valor que atesta bem as possibilidades da forja e do martelo ao serviço da arte”.

... Os seus trabalhos encontram-se espalhados por todo o país, desde a Régua, a Odemira, passando por Braga, Porto, Aveiro, Figueira da Foz, Torres Novas, Beja, Lisboa, Covilhã, Belmonte, Figueiró dos Vinhos, Espinhal, Santa Comba, Mortágua ou Coimbra.

Anacleto, R. 1999. Ourives Conimbricenses do Ferro na primeira metade do século XX. Conferência nas I Jornadas da Escola do ferro de Coimbra. In publicado Munda, n.º 40, p. 25-29.

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por Rodrigues Costa às 08:46

Quinta-feira, 13.04.17

Coimbra e as suas personalidades: Lourenço Chaves de Almeida

Nasceu no lugar e freguesia de Santa Maria de Almacave (Lamego), em 1876. Pertencia a uma família de artistas, pois um seu um bisavô era canteiro; o avô materno, entalhador; o avô paterno e o pai, serralheiros. Em Outubro de 1897, a seu pedido e porque era sargento espingardeiro, foi transferido do Regimento de Infantaria 13, com sede em Lamego, para o 23, que ocupava, em Coimbra, o antigo convento de Sant’Ana.

Depois de se fixar nesta cidade, ele que era serralheiro artífice, conviveu com os artistas e fez-se amigo de João Machado, tendo começado a aprender modelação na sua oficina.

Entretanto, com a reabertura da Escola Livre, em 1904, passou a ser discípulo de Mestre Gonçalves e, posteriormente, frequentou a Escola Industrial.

Quando morreu, no dia 15 de Dezembro de 1952, tinha 76 anos e morava no Tovim de Baixo.

É com os ferros do fogão da casa dos Patudos, que Chaves inicia a sua carreira. O gótico, o manuelino, o renascimento, o rococó, não tinham segredos para o forjador. O artista apresentou, como referi, as ferragens (suporte, tenaz e pá), correspondentes ao fogão executado por João Machado ... Tratava-se de uma obra para ser admirada “pela elegancia nervosa com que foi concebida e executada, torcendo e levantando o ferro com o cuidado delicado de um ourives”. Os ferros do fogão “poder-se-iam fazer com o mesmo desenho em prata martelada, sem necessitar mais elegância no desenho, mais delicadeza na execução” .

Anos mais tarde, em 1919 ... um candelabro, executado de acordo com o gosto pompeiano ... No ano seguinte ... uma segunda obra de vulto: agora tratava-se de uma braseira, que seguiu o mesmo gosto estilístico da peça anterior . Mas, desta vez, o artista auferiu uma dupla consagração, porque o trabalho foi mostrado aos conimbricenses na sala romana do Museu Machado de Castro e, depois, em Lisboa, seria exposto pelos possuidores das suas peças, “que assim lhe queriam dar uma prova de admiração”.

Em 1924, a mesma sala romana do Museu Machado de Castro abre-se novamente para apresentar o chamado Lectus, obra em ferro forjado ... Esta peça é uma verdadeira joia de ferro, “que tanto honra o nome [do artista] e que nos enche de orgulho por ser executada em Coimbra, terra de arte, graça e beleza!” . Juntamente com o canapé expôs um lampadário.

Depois da guerra de 14-18, começou a desenvolver-se, um pouco por todo o país, o culto aos Mortos da Grande Guerra. As entidades responsáveis determinaram que, numa grande manifestação nacional, fossem trasladados para o Mosteiro da Batalha, os restos de um desses heróis.

Em Coimbra, e mais concretamente no Quartel-general, despontou um movimento no sentido de ser colocado um lampadário condigno na casa do capítulo, junto do sarcófago que deve guardar os despojos do soldado desconhecido. Para concretizar esta ideia, foi aberta uma subscrição, que, num primeiro momento se pensava estender a todas as unidades militares do país, mas posteriormente limitada à contribuição dos oficiais, sargentos e praças da 5.ª divisão do Exército, com sede em Coimbra.

Lampadário Chaves de Almeida 03 a.png

Lourenço de Almeida. Chama da Pátria (desenho de António Augusto Gonçalves)

 Desde logo ficou assente que o lampadário, mais tarde denominado Chama da Pátria, fosse executado por Lourenço Chaves de Almeida, que até era militar.

O lampadário, que foi batido dentro do estilo gótico e mede 1,80 m de altura, foi exposto ao público no átrio da Câmara Municipal de Coimbra ... em Lisboa  e depois, em Viana do Castelo, na altura em que ia ser imposta a Cruz de Guerra à bandeira que, em França, fora oferecida à brigada do Minho .

O lampadário seria colocado no Mosteiro de Santa Maria da Victória no dia 28 de Junho, data da assinatura do tratado de paz.

Seja-me ainda permitido referir, em 1930, a encomenda de um candelabro de 30 luzes, feita pelo presidente da Comissão Administrativa do município de Coimbra, a fim de ser colocado no salão nobre.

Anacleto, R. 1999. Ourives Conimbricenses do Ferro na primeira metade do século XX. Conferência nas I Jornadas da Escola do ferro de Coimbra. In publicado Munda, n.º 40, p. 21-25

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por Rodrigues Costa às 09:14

Terça-feira, 11.04.17

Coimbra: Ourives Conimbricenses do Ferro 3

Os artistas conimbricenses do ferro iam batendo as mais diversas peças, trabalhando quase sempre isoladamente, mas expondo-as coletiva ou individualmente, tanto em mostras locais, como nacionais; contudo, quando elaboravam algum artefacto mais requintado, não se eximiam de o apresentar no Museu Machado de Castro, na Faculdade de Letras, ou na montra de algum estabelecimento da Calçada.

Uma, talvez a primeira grande apresentação pública dos seus trabalhos fora da cidade, aconteceu em 1905, na exposição que o Grémio Artístico anualmente realizava em Lisboa. Estiveram aí presentes trabalhos de Daniel Rodrigues, Lourenço Chaves de Almeida, Manuel Pedro de Jesus, António Craveiro e António Maria da Conceição.

Mas, a primeira obra coletiva de vulto surgiu quando foi necessário dar resposta aos trabalhos de ferro, destinados ao edifício da Faculdade de Letras ... em 1927 vieram a ser assentes, na fachada principal do edifício, os grandes portões de ferro forjado, obra dos artistas Manuel Pedro de Jesus, António Maria da Conceição (Rato), Daniel Rodrigues, Albertino Marques.

Albertino Marques. Portão da antiga Faculdade de

Albertino Marques. Portão da antiga Faculdade de Letras

 Aliás, a Faculdade de Letras, pode bem dizer-se, manteve uma avença com o ferro forjado, porque, dois anos antes, em 1925, Albertino Marques tinha em mãos uma grade que se destinava àquela casa e em 1928 e 1929 executou quatro lindos e artísticos candelabros, para serem colocados na escadaria, bem como dois outros monumentais tocheiros que se destinavam ao vestíbulo. Além disso, no mesmo estilo dos candelabros, também com desenho e sob a orientação de Silva Pinto, bateu dois portões de ferro forjado para a entrada do museu da Faculdade.

E as encomendas da Faculdade de Letras não ficaram por aqui, pois em 1930, nas oficinas de Daniel Rodrigues e de Albertino Marques estavam a executar-se umas artísticas ferragens para a porta do salão nobre do edifício e umas grades em estilo pombalino para as escadas do vestíbulo da reitoria. Anos mais tarde, em 1936, aquele imóvel ia ser revestido com uma grade de ferro, cuja execução fora confiada a Albertino Marques, a Daniel Rodrigues e a Jesus Cardoso.

Uma outra obra conjunta e de grande envergadura, a envolver quase todos os artistas mondeguinos do ferro, encontra-se relacionada com o edifício do Palácio da Justiça, a erguer-se na antiga e inacabada morada dos condes do Ameal.

Na sessão de 29 de Agosto de 1929, a Câmara Municipal de Coimbra apreciou um requerimento ... pedindo licença para proceder à vedação do Palácio da Justiça, com um muro e gradeamento. Mas, quase em simultâneo com o pedido, a imprensa noticiava que tinha sido aprovada a proposta conjunta dos serralheiros Lourenço Chaves de Almeida, António Maria da Conceição, Daniel Rodrigues, José Domingos Baptista e Albertino Marques, para a confeção de 106 metros de grade, 2 portões e várias pilastras destinadas à parte exterior das traseiras do imóvel.

Palácio da Justiça 01 Grade c.tif

Palácio da Justiça. Portão pormenor

... A vedação, que se andava a assentar em Agosto de 1930, é em ferro batido e a imprensa da época considerava-a como um dos mais artísticos trabalhos “que se têm executado nos últimos tempos em Coimbra, obedecendo à arquitetura do renascimento do século XVI, tão notável e abundante na nossa região e que tem servido de escola aos artistas contemporâneos” ... no ano seguinte (1931) Albertino Marques forjava, para o Palácio da Justiça, um novo portão em estilo renascença; concomitantemente, executava, no mesmo gosto, quatro candeeiros, destinados à iluminação do claustro superior ... para o salão nobre do tribunal, Albertino Marques e Daniel Rodrigues, coadjuvados por João Machado Júnior que modelou os bustos destinados a ser, posteriormente, executados em ferro forjado, bateram um lustre .

Conhecendo conclusão em fins de Junho de 1934, foram executados nas oficinas de Daniel Rodrigues e de Albertino Marques quatro artísticos lampiões e as respetivas gárgulas de suporte.

Anacleto, R. 1999. Ourives Conimbricenses do Ferro na primeira metade do século XX. Conferência nas I Jornadas da Escola do ferro de Coimbra. In publicado Munda, n.º 40, p. 14-21

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por Rodrigues Costa às 18:32

Quinta-feira, 06.04.17

Coimbra: Ourives Conimbricenses do Ferro 2

António Augusto Gonçalves entregou-se ao ressurgimento do trabalho em ferro com o mesmo fanatismo que lhe era reconhecido no respeitante às outras artes e “encontrando” em Manuel Pedro de Jesus que, por volta de 1900, já era sócio da Escola Livre, aptidões excecionais para a serralharia decorativa, incentivou-o a trabalhar nesse campo. Quando finalmente, em 1907, na Escola Industrial Brotero, começaram a funcionar as oficinas de marcenaria e talha, de serralharia, de cerâmica e de formação, Manuel Pedro foi nomeado mestre da de serralharia, lugar que, em 1925, voltava a ocupar, sendo-lhe então reconhecida uma enorme competência e a capacidade de saber aliar a um profundo conhecimento prático da sua especialidade, a teoria necessária, para que o ensino resultasse profícuo e consciente.

A indústria contemporânea do ferro forjado renasceu em Coimbra com a nova centúria, viveu na cidade, mas espalhou-se por todo o país. Homens e mulheres de bom gosto e fartos meios económicos faziam as suas encomendas aos serralheiros do burgo, que também não eram esquecidos pelos arquitetos lisboetas e não só. Adães Bermudes encomendou-lhes peças de ferro forjado para ornamentar edifícios saídos do seu lápis; Raul Lino desenhava peças para eles forjarem; Álvaro Machado louvou-os pelo trabalho executado e, em 1928, foram convidados a participar na exposição de Sevilha.

Também na exposição que Raul Lino levou a efeito nas salas do Instituto, onde apresentou, entre projetos, anteprojetos, plantas, esboços, fotografias, etc., trinta e nove peças, foi feita referência a trabalhos “de distinctos artistas de Coimbra”, concretamente a João Machado, na escultura, e a Manuel Pedro de Jesus e a Lourenço Chaves de Almeida, no ferro forjado.

Candelabro neogótico dos Patudos.tif

Casa dos Patudos. Candelabro neogótico

... No entanto, para sobreviver, a arte do ferro não podia apenas contar com encomendas vultuosas, teria de se democratizar, como bem dizia o Dr. Quim Martins e, para tal, fazer com que se tornassem necessários os objetos mais simples e de uso corrente, manufaturados naquele metal.

A par com os grandes candelabros, com os leitos pompeianos, com os portões da Faculdade de Letras ou do Palácio da Justiça, teriam de surgir as grades das varandas, os pequenos portões de jardins, as bandeiras das portas, as tabuletas de anúncios, os gradeamentos dos muros, os portais dos jazigos, as pequenas grades de campas, os puxadores das gavetas e as dobradiças das arcas. Realmente, a arte do ferro, democratizou-se, a indústria vingou e, para além das peças que ainda hoje ornamentam tantas casas e causam orgulho aos que as fruem, Coimbra passou a ser a “cidade das grades”.

Ninguém podia imaginar que nas negras e mal apetrechadas serralharias de Coimbra, entre as labaredas rubras das suas forjas e o ruído dos malhos tirando chispas fulgurantes dos vagalhões candentes, existia, latente, à espera de a despertarem, essa força criadora que transforma o ferro duro e de aspeto indomável em peças de requintado gosto artístico.

A serralharia artística de Coimbra renasceu com António Augusto Gonçalves e com o Dr. Joaquim Martins Teixeira de Carvalho, na intimidade Mestre Gonçalves e Mestre Quim Martins, como lhe chamava a plêiade de artistas que foram seus discípulos: António Maria da Conceição (Rato), Albertino Marques, António Craveiro, Daniel Rodrigues, Lourenço Chaves de Almeida, Manuel Pedro de Jesus, José Domingues Baptista e Filhos, José Pompeu Aroso, e tantos outros.

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Daniel Rodrigues. Igreja de S. António porta

 Das mãos dos ‘ferreiros’ saíram obras importantes, capazes de marcar o ressurgimento daquela arte rude e maravilhosa que, em Coimbra, a partir de meados do século XIX, tanto tinha decaído, limitando-se, a bem dizer, ao fabrico de camas e de lavatórios, como se verificou na exposição, realizada em 1869.

Nesse renascimento, para além dos dois mestres citados, podem ainda referir-se os nomes de Manuel Pedro de Jesus e de João Augusto Machado, este também a tentar o ferro e o ouro que, a partir de certo momento, lhe dedicou todo o ser saber e criatividade; por isso, foram precursores da serralharia artística de Coimbra.

Anacleto, R. 1999. Ourives Conimbricenses do Ferro na primeira metade do século XX. Conferência nas I Jornadas da Escola do ferro de Coimbra. In publicado Munda, n.º 40, p. 9-13

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por Rodrigues Costa às 09:53

Quarta-feira, 05.04.17

Coimbra: Visita Orientada ao Cemitério da Conchada

MEMÓRIAS DE VIDA: CEMITÉRIO DA CONCHADA

Visita orientada por Regina Anacleto, com o apoio de Rodrigues Costa                                                                          

Data do evento:

06.05.2017, sábado, às 10h30, com a duração prevista de 60 minutos

Organização:

A’Cerca de Coimbra (blogue)

Apoios:

Clube de Comunicação Social de Coimbra

Coimbra antiga e moderna (blogue)

Coimbra livre e aberta a todos (blogue)

"Cromos", Personalidades e Estórias de Coimbra (blogue)

Penedo da Saudade Tertúlia (blogue)

Público-alvo:

Todos os interessados na história e cultura coimbrã

Visita livre (sem prévia inscrição, ainda que agradecendo a manifestação de interesse na participação)

Objetivos:

- Integrar o espaço físico do conjunto cemiterial no tempo e no contexto socioeconómico

- Identificar alguns monumentos

- Sensibilizar os participantes para a necessidade de valorizar e preservar este tipo de património arquitetónico, artístico e cultural

Programa:

- Concentração dos participantes no jardim fronteiro à porta principal do cemitério da Conchada

- Breve exposição: o culto dos mortos ao longo dos tempos e o estabelecimento dos cemitérios em Portugal; as particularidades do cemitério da Conchada; o projeto inicial

Cemitério da Conchada. Projeto inicial.jpg

 Cemitério da Conchada projeto inicial

- Percurso

  1. Portão principal: o Anjo da Paz
  2. Jazigo da família Brinca Esteves.
  3. Jazigo neomanuelino
  4. Jazigo da condessa de Canas
  5. Jazigo neorrenascença
  6. Jazigo neorromânico
  7. Jazigo neogótico
  8. Jazigo de Daniel Rodrigues
  9. Jazigo neobarroco
  10. Jazigo arte nova
  11. Jazigo art déco
  12. Monumento funerário homenageando António Augusto Gonçalves
  13. Jazigo neogótico
  14. Arqueta neogótica
  15. Jazigo neorrenascença
  16. Jazigo arte nova
  17. Jazigo arte nova
  18. Jazigo neomanuelino
  19. Jazigo neoclássico
  20. Campa de João Machado

 

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por Rodrigues Costa às 09:50

Terça-feira, 04.04.17

Coimbra: Ourives Conimbricenses do Ferro 1

Coimbra, nos finais do século passado (XIX) e inícios deste (XX), apenas saía da pacatez que a envolvia, quando festejava qualquer santo da sua devoção, quando se realizavam as tradicionais feiras ou quando aqui se deslocavam personalidades, quase sempre, do foro político ou cultural. Nessa altura, o quotidiano das gentes do burgo sofria alterações.

Na urbe, grosso modo, intelectuais e artífices movimentavam-se em quadrantes espaciais diferentes e, enquanto os primeiros gravitavam em torno da velha alcáçova, os segundos haviam-se instalado na zona baixa, já fora de portas, em ruas estreitas, que se desenrolavam circularmente em torno dos já inexistentes muros, apenas a adivinharem-se no perímetro urbano da cidade.

Mas, em Coimbra, o desenvolvimento industrial era lento e penoso, até porque se tratava de uma terra quase provinciana, de parcos recursos económicos, onde muito pouco havia para investir.

Mesmo assim, nos finais de Oitocentos, existiam na cidade fábricas de fiação e tecelagem, de sabão, de lanifícios e de cerâmica e, para além destas, O Conimbricense, ainda referia as de massas, as de moagem e as padarias.

A fundição e a serralharia apresentavam então um certo desenvolvimento, não só porque os estabelecimentos existiam em número considerável, como eram credenciados, uma vez que recebiam “numerosas encomendas para esta cidade, e para fora d’ellla”. Contudo, parece-me que estas oficinas gravitavam em torno de trabalhos que se relacionavam, essencialmente, com as necessidades do quotidiano, com a lavoura e com os transportes.

... A tradição artística coimbrã assentava as suas bases na pedra, não no ferro. Deste, nos alvores do nosso século, e, pese embora, a existência de vários estabelecimentos ‘industriais’ deste ramo.

Palácio da Justiçaa. Portico.tif

 Palácio da Justiça. pórtico

... a Exposição Universal de Paris atraía sobre si as atenções de todo o mundo civilizado. António Augusto Gonçalves não podia ficar indiferente a esta manifestação... A secção de serralharia fascinou-o!

...No regresso, questionava-se acerca do caminho a trilhar, a fim de modificar este estado de coisas e sonhava desenvolver, em Coimbra e com o ferro, uma arte que atingisse nível similar ao da pedra; acabou por confiar o desejo ao Dr. Joaquim Martins Teixeira de Carvalho, o bom Quim Martins, que tanto ajudou, com a pena e com a amizade, os artistas mondeguinos e transmitiu-o também a João Machado, o burilador para quem a pedra não tinha segredos.

A ideia foi germinando e o artista, um belo dia, com quatro pedras, improvisou, ao canto da sua oficina, uma incipiente forja, a fim de tentar manufaturar um florão, destinado a servir de puxador de gaveta. O ferreiro a quem pedira emprestados os utensílios necessários, veio ver e ensinou-o a bater o ferro. Machado entusiasmou-se e pôs de parte, durante algum tempo, o seu amor pela pedra; chegou mesmo a debuxar e a forjar algumas peças.

Assim ressurgiu, em Coimbra e acalentada pela Escola Livre das Artes do Desenho, uma arte que, durante longos anos, sofrera as consequências do desprestígio; a sua certidão de batismo, que não a de nascimento, foi passada quando Manuel Pedro de Jesus bateu, segundo um desenho e com direção de António Augusto Gonçalves, uma grade para o monumento funerário que então se erigiu no cemitério da Conchada em memória de Olímpio Nicolau Rui Fernandes.

Anacleto, R. 1999. Ourives Conimbricenses do Ferro na primeira metade do século XX. Conferência nas I Jornadas da Escola do Ferro de Coimbra. In publicado Munda, n.º 40, p. 1, 4, 7-9

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por Rodrigues Costa às 10:23


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