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A Escola Livre das Artes do Desenho não passa, porém, o seu tempo a copiar estilos seguindo a norma do ensino clássico.
Os discípulos de António Augusto Gonçalves, canteiros ou serralheiros, sabem executar os mais modernos caprichos da arte.
É certo, porém, que os discípulos da Escola Livre das Artes do Desenho dão às interpretações dos diversos estilos um encanto; que raras vezes outros conseguem dar, e que os fazem justamente estimados e apreciados por Manini, Raul Lino, e todos enfim para quem o culto do passado não é esterilizador das fecundantes energias modernas.
Eu, por mim, nunca vi obra de estilo antigo, em capricho moderno de artista, que me desse a impressão estética das de António Augusto Gonçalves ou discípulo dele.
Deve-se isso á natureza: do seu ensino, que nos estilos passados, corno nas grandes obras da antiguidade clássica, procura apenas a intenção artística e a sua realização prática dentro da beleza.
A antiguidade clássica, o objeto de arte exótico, até as tentativas artísticas abortadas são para este mestre excecional fonte de ensino vitalizador e forte.
António Augusto Gonçalves não ensina a copiar um estilo, ensina a compreende-lo. E, na transcrição de qualquer motivo decorativo, os discípulos de Gonçalves metem sempre um pouco da sua alma.
Por isso as obras que produzem, na adoração dos velhos estilos, são vivas e não paradas e mortas como os pastiches que o romantismo e o mercantilismo da indústria moderna têm vulgarizado.
Os discípulos de António Augusto Gonçalves conhecem a unidade de espirito característica de cada estilo e a fôrma como se traduz na visão da linha, da superfície e do volume, na utilidade da luz e sombra, e sabem assim dar a uma planta rara de jardim, capricho moderno de floricultor curioso, a graça antiga com que os velhos escultores vestiam amorosamente as plantas humildes dos campos.
Alberto Caetano Ferreira – Sacrário de altar
Carvalho, J.M.T. Uma escola de canteiros, In Illustração Portugueza, 2.º semestre, 2.ª série, Lisboa, 1906, p. 162-165.
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