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A' Cerca de Coimbra



Quarta-feira, 28.12.16

Coimbra: as Festas e o Passeio Público 1

Coimbra, nos finais do século passado (século XIX) e inícios deste, apenas saía da pacatez que a envolvia, quando festejava qualquer santo da sua devoção ou se realizavam as tradicionais feiras. Também os grandes acontecimentos nacionais, ou a visita de qualquer personalidade, a mais das vezes política, faziam alterar o quotidiano das gentes do burgo, intelectuais e artífices que, grosso modo, se movimentavam na cidade em quadrantes espaciais diferentes. Os primeiros, gravitavam em torno da velha alcáçova, enquanto os segundos se haviam instalado na zona baixa, já fora de portas, em ruas estreitas, que se desenvolviam circularmente em volta dos muros carcomidos pelos anos.

Dentro da mentalidade europeia que norteou a Revolução Industrial e que só tardiamente se fez sentir no nosso país e mormente em Coimbra, a indústria começou a assentar arraiais e a dar frutos ... Divertimentos e espectáculos infiltraram-se lentamente na vida das pessoas. A mentalidade romântica que se estendeu entre nós para além dos limites do razoável, encontrou eco tanto na burguesia endinheirada como na nobreza decadente. E se as iniciativas chegavam já a Lisboa com um certo atraso em relação ao resto do velho continente, essa diferença, em Coimbra, ainda mais se jazia sentir.

A capital, através da iniciativa particular, ergueu em 1792-93 o Teatro de S. Carlos ... Na cidade mondeguina só um século depois, aquando do loteamento da Quinta de Santa Cruz, se formou uma sociedade de homens ligados ao mundo dos negócios com a finalidade de construir um Teatro-Circo .

Entretanto os costumes haviam-se modificado: as diversões e os passeios entraram no quotidiano. Vir à rua tornou-se um hábito e já não eram só os homens que o faziam, porque as mulheres também deixaram de sair de casa apenas para se deslocar à igreja.

Na capital, deambulava-se pelo miradouro de S. Pedro de Alcântara e pelo jardim do Príncipe Real antes da feitura do Passeio Público , ideia do Marquês de Pombal, concretizada pelo lápis de Reinaldo Manuel, fechado por grandes muros, qual cerca conventual, a que dava acesso uma alta cancela verde ... Toda a melhor sociedade da capital ali marcava ponto de encontro: burguesia e nobreza. As festas aconteciam com uma certa regularidade e eram, no verão, o grande atractivo de Lisboa. Às velas de cebo, tigelas de azeite e balões venezianos sucedeu-se o deslumbramento da iluminação a gás. As atracções eram numerosas e variadas: a música tocava no coreto, lançava-se fogo de artifício e exibiam-se, entre outras, cançonetistas, funâmbulos e bailarinos.

Se entretanto em Lisboa a moda do Passeio Público decaiu e a sua demolição se processou a partir de 1883, outro tanto se não pode dizer ao que acontecia na província. Aqui, a moda chegou, muito mais tarde e, consequentemente, a mentalidade que a acompanhou também já era outra: servia mais gentes, os muros e as grades desapareceram, era aberto e muito mais modesto. A música tocava, quase sempre de tarde, no coreto, rodeado de bancos, que se erguia no meio de um recinto aprazível e ajardinado. Todos iam ouvir a banda e, segundo os seus interesses e a sua cultura as pessoas agrupavam-se. A ocasião, além de servir para descontrair o espírito, permitia a troca de impressões, o acertar de um negócio e, porque não, o nascer de qualquer idílio.

Anacleto, R. 1983. O coreto do parque Dr. Manuel Braga em Coimbra, In Mundo da Arte, 14, Coimbra, 1983, p. 17-30, il., sep. Pg. 1 a 4

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por Rodrigues Costa às 20:01


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