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Caros Amigos
Guardei para as vésperas deste Natal dois textos que Borges Figueiredo publicou, nos finais do século XIX, no seu livro Coimbra Antiga e Moderna.
São um belo poema de amor a Coimbra escrito por um Coimbrinha como o são – por nascimento ou adoção – aqueles que vão tendo a paciência de ler os escritos que vou respigando das minhas leituras.
É esta a minha prenda de Natal esse e todos esses e os demais Coimbrinhas.
Feliz Natal
Rodrigues Costa
Coimbra – a lusa Athenas dos literatos, a rainha do Mondego dos poetas, antiga côrte portugueza dos historiadores, a cidade universitaria de Portugal, como adesignam os estrangeiros, - Coimbra é a cidade mais bella da patria de Camões, é aquella a que está ligado maior numero de nossas memorias gloriosas.
Se todo aquelle que durante algum tempo alli demorou, mórmente na mocidade, conserva d’ella uma indelevel recordação, quem a teve por patria quer-lhe muito, embora por apprehensão ou systema deixe de manafestal-o.
Eu não nego, nem alardeio, a minha affeição por Coimbra, mas declaro que, após muitos anos de auzencia, tive desejos de rever a terra natal. E, para que esses desejos se não convertessem naturalmente em nostalgia, parti para a cidade do Mondego, deliberado a passar lá alguns dias.
Embora sempre em mim produza somnolencia o «zum-tum» do comboio, não cerrei os olhos em toda a viagem; e, talvez por isso, pareceu-me o caminho tão longo... tão longo como a um deputado parece o caminho que leva a ministro.
Finalmente soou o aviso que indicava estarmos proximos de Coimbra; e, alongando eu a vista por entre os salgueiros do rio, onde algumas lavadeiras se entregavam a seu labor nas ilhotas de areia dourada, reconheci essa pinha de casas, a cuja alvura de cal davam os raios do sol poente uma côr graciosa, e em cujas vidraças elles se reflectiam, fazendo-as parecer enormes carvões ardentes.
Confesso francamente, embora isso faça sorrir maliciosamente o leitor, que uma certa melancolia se apoderou de mim n’aquelle momento. É que me assaltaram então mais vivas as doces lembranças as dolorosas recordações, succedendo-se e combatendo-se à porfia, deliciando-me ou maguando-me o coração...
Mas já o rio tinha sido transposto; atravessáramos uma floresta de elevados salgueiros e copados eucalytos; parára a locomotiva em frente da estação.
Eu que antigamente, quando visitava Coimbra, encontrava logo um rosto amigo cujos olhos me procuravam ansiosos, ou ao menos um semblante conhecido, não vi pessoa alguma que me trouxesse á lembrança o tempo antigo.
Figueiredo, A. C. B. 1996. Coimbra Antiga e Moderna. Edição Fac-similada. Coimbra, Livraria Almedina, pg. 1-2
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