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No âmbito dos 900 anos de Coimbra comemorando-se a data de atribuição do Foral à cidade, pelo Conde Dom Henrique, o AHMC organiza uma exposição intitulada “O Poder, o Local, e a Memória, 1111-2011.
...Entre muitos registos duma dilatada cronologia, selecionámos alguns documentos, que nos pareceram mais apelativos e significativos, embora, face à quantidade e diversidade, nem sempre a escolha tenha sido fácil.
... Ao escolher imagens, que aludindo ao tema do poder, do local e da memória, pudessem servir de símbolo introdutório para a exposição, surgiram-nos duas possibilidades: a serpente, símbolo antigo da Sabedoria, presente no antigo selo da cidade de Coimbra e no seu atual logótipo, e o armorial régio de Dom Manuel, no Foral de 1516. A serpente coroada, que encontrámos, não é, todavia, um desenho moderno estilizado. Reproduzimo-la diretamente da marca de água das folhas de papel de um Livro de Vereações, do século XVI ... O pormenor da iluminura manuelina, dado o seu rico colorido, serviu-nos de cartaz e emblema, atraindo o visitante para a exposição documental. Entre os documentos, procurámos aqueles em que aparecessem os agentes do poder central: o rei e os seus oficiais, os “juízes”, “alcaides” “alvazis”, e os elementos do poder local, os representantes das populações: “os procuradores, vereadores e os homens bons do concelho”. Ambos os poderes tentavam gerir a guerra e a paz, com os reinos vizinhos, dirimir conflitos, administrar a justiça e prover o bem-estar das populações.
Iniciámos com o texto do Foral de 1111, na cópia do Livro Preto da Sé de Coimbra. Independentemente do contexto político em que foi atribuído, surpreendeu-nos um pormenor do registo no cartulário onde, à época, se compilavam todos os documentos importantes, e que atualmente está guardado no Arquivo Nacional. Aparecia um sinal, muito comum nos documentos medievais, uma mão com o dedo indicador sinalizando determinado parágrafo. O texto latino assim marcado refere uma cláusula muito importante para os habitantes e residentes na cidade: a escolha dos representantes da autoridade régia devia recair entre os naturais de Coimbra.
O documento seguinte, mais tardio, mas mesmo assim, dos mais antigos do nosso acervo municipal, apresenta, em 1374, os representantes do concelho a defender os privilégios concedidos aos moradores da cerca de Almedina, para que esta zona fosse continuamente povoada. Trata-se de um instrumento de agravo, decidido em Coimbra, na alcáçova do rei e perante os oficiais régios. O procurador do concelho, Estêvão d' Aveiro, e os outros homens bons não vacilaram na defesa dos direitos atribuídos à população, que representavam, perante o Juiz Afonso Martins Alvernaz.
Em 1385, nas célebres Cortes de Coimbra, entre os nobres e prelados, que defenderão a legitimidade de Dom João, Mestre de Avis, como herdeiro do trono, encontramos, mais uma vez, os representantes do concelho e os tabeliães régios. Entre eles, destaca-se João de Coimbra, que assina o auto fazendo o seu sinal de tabelião, não deixando, todavia, de invocar a proteção divina, face à conjuntura conturbada que se vivia.
O documento possui o selo do concelho de Coimbra, entre os confirmantes, revelando a postura da cidade nesta causa nacional.
França, P. 2011. O Poder, o Local e a Memória, 1111-2011. Catálogo da Exposição. Coimbra, Arquivo Histórico Municipal de Coimbra/ Câmara Municipal de Coimbra. Pg. 3 e 4
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