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A' Cerca de Coimbra



Quinta-feira, 08.12.16

Coimbra e o comércio marítimo no século XII

Durante a Idade Média certas espécies, como a baleia, visitavam as costas portuguesas e foram objeto duma pesca ativa; e nalguns rios, como o Minho, o Douro, o Mondego e o Zêzere, muitos documentos dos primeiros séculos da monarquia atestam que os sáveis, pela sua grande abundância, constituíam parte comum na alimentação desse tempo.

... O que pode afirmar-se, quer na base de documentos coevos, quer como consequência lógica desse tráfico marítimo, é que, ao longo das costas ocidentais ... o Mondego até Soure ... termo de rotas marítimas que levavam a Santiago de Compostela, eram, antes da fundação da monarquia, sulcados por baixéis de mercadores árabes e normandos.

... Mas acontece que as referências mais antigas, que logramos encontrar, sobre o comércio marítimo em portos portugueses, no começo da monarquia, dizem respeito ao estuário do Mondego e a relações com os sarracenos ... já antes de 1122 navios de comércio entravam a foz do Mondego e a foz do Mira.

 ... querela, havida nos últimos anos do reinado de D. Afonso Henriques, entre os oficiais da Infante D. Teresa, filha do monarca e senhora de Montemor-o-Velho e o Mosteiro de Santa Cruz, que entre si disputavam os direitos de entrada dos navios pela foz do Mondego. Desse documento se conclui que os direitos foram cobrados a princípio e desde os tempos da rainha D. Teresa ou quiçá do conde D. Henrique, em Santa Eulália, que ainda no século XVII comunicava com o mar, depois em Montemor e mais tarde em Buarcos.

... A confirmar estes factos, as posturas municipais de Coimbra, de 1145, taxam, entre outros produtos, o preço da pimenta, o que significa relações comerciais bastante continuadas com os sarracenos, pois só estes a esta data estavam em condições de fornecer regularmente esse produto. Do foral da mesma cidade de 1179, se depreende igualmente que a pimenta continuava nesse tempo, a ser produto usual no mercado.

... Outro facto confirma ainda, a nosso ver, a navegabilidade do estuário do Mondego e a sua importância primacial como artéria do comércio árabe ou os portos árabes, durante o século XII: o mapa hispano-árabe (1109) ... insere no ocidente da Península, a seguinte nomenclatura – Lisboa, Galicia e Saurius (Soure); e a carta de Edrisim de c. 1154, menciona somente o cabo de São Vicente, Monte-maior (Montemor-o-Velho) e o rio Minho.

...Portugal nasce como Estado e afiança a sua independência desde que, aproveitando uma cultura herdada e as facilidades que lhe oferecia o mar, criou um novo género de vida: o comércio marítimo á distância com base na agricultura.

... É certo que desde 1139, já existem indícios de povoação na foz do Mondego, e já em 1143 alguns documentos se referem a Buarcos. Além disso, como vimos, os primeiros portos de comércio que desde os alvores da monarquia têm relações continuadas com o estrangeiro, são os do estuário do Mondego. Mas é na segunda metade do século XII, terminadas as incursões dos piratas normandos, e muito reduzidas as dos muçulmanos, que assistimos ao «súbito desenvolvimento do litoral português».

Cortesão, J. 2016. Os Descobrimentos Portugueses. Volume II. Lisboa, Expresso. Pg. 183, 197 a 199, 201 a 202

 

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por Rodrigues Costa às 12:14


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