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A' Cerca de Coimbra



Quinta-feira, 27.10.16

Coimbra: a Brotero uma escola com passado e com presente 3

Até possuir edifício próprio, a Escola Brotero ocupou, desde a sua instituição, por empréstimo ou pagando renda, espaços cada vez mais amplos e diversificados, respondendo assim ao aumento crescente da sua massa estudantil e dos cursos ministrados.

... em 1884, a Câmara Municipal de Coimbra destinou para sua instalação a antiga Igreja da Trindade ... as obras (de adaptação) não foram de imediato realizadas (e nunca mais o seriam), de forma que a Associação dos Artistas resolveu dispensar provisoriamente a única sala que dispunha ... o refeitório do antigo Convento de Santa Cruz, emprestando também o mobiliário, até chegar o que havia sido encomendado para o efeito (o que começou a verificar-se em Março de 1885, ou seja, um mês após o início das aulas.

Em Dezembro de 1886... a Câmara Municipal cedeu à Escola, após obras de restauro e adaptação, as dependências do Mosteiro situadas por cima do antigo refeitório.

... em 23 de Fevereiro de 1889 ... «foram anexadas às antigas instalações,  numa primeira fase, o andar superior da fachada oeste do jardim da Manga e a antiga capela do noviciado e, posteriormente, a fachada sul do mesmo jardim, bem como o pavimento térreo das duas fachadas e o jardim da Manga.

... Para a instalação das oficinas... a Câmara em 1890/91, cedeu para o efeito  ... «a parte baixa do antigo cerco do noviciado». Mais tarde, com o aumento da frequência escolar, ferramenta e maquinaria para alargamento daquelas, foram construídos pavilhões sobre os tanques do jardim.

Nestas instalações funcionou a Escola durante anos. Instalações, no entanto, foram progressivamente beneficiadas. Sob a direção de Sidónio Pais, foi nelas erguida, em 1904, uma central elétrica privativa.

... Na madrugada do dia 13 de Janeiro de 1917, um violento incêndio destruiu parte das instalações, incluindo gabinetes, salas de Desenho, o laboratório de Química... após um período em que, provisoriamente, ocupou dependências contiguas ... a Brotero transferiu-se, em Dezembro de 1918, para a casa da Quinta do Mosteiro – antiga residência de verão do Prior – situada no espaço hoje ocupado pela Associação Académica ... as oficinas mantiveram-se no Jardim da Manga.

De 1919 a 1920, funcionou no mesmo edifício, por falta de sede própria, a Escola Comercial de Coimbra... a qual ... veio a ser transferida para o 1.º andar arrendado (ainda em 1919) de um prédio (hoje inexistente) na Rua da Sofia (n.º 157) ... tendo-se aí mantido até 1926, data em que se incorporou definitivamente na Brotero.

... Quando se criou o «Instituto Industrial e Comercial de Coimbra», a 5 de Dezembro de 1921, a Escola Brotero partilhou com ele as suas instalações... a morosidade verificada na construção do novo edifício, já iniciado junto à Praça da República, levaram a que se determinasse a mudança dos dois estabelecimentos de ensino para a antiga hospedaria do Convento de Santa Cruz e residência do seu Prior, então Hospício da Maternidade (afeto à Faculdade de Medicina desse 22 de Fevereiro de 1911), frente ao Mercado D. Pedro V, local onde hoje se encontra a «Escola Secundária de Jaime Cortesão».

Figueira, M. L. 2012. Escola Brotero. Memórias de Sempre. 2.ª edição revista e actualizada. Coimbra, Escola Secundária Avelar Brotero, p. 61-64

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por Rodrigues Costa às 22:15

Quarta-feira, 26.10.16

Coimbra: a Brotero uma escola com passado e com presente 2

A Brotero é uma escola de tradições. Uma escola que nasceu do nada e cresceu, valorizando o Coimbra e o País ... Atenta à evolução do mundo exterior, sempre foi uma escola de vanguarda ... Uma escola-Escola, de todos os tempos, de sempre, porque sempre em luta consigo própria. Para servir.

... Desde o século XVIII que o ensino profissional – até aí quase inteiramente da responsabilidade das corporações de artes e ofícios e de organismos religiosos – mereceu a atenção dos governantes nacionais. Contudo, só após o Liberalismo e face à necessidade de resposta ao avanço da Revolução Industrial foram tomadas as primeiras medidas sérias com vista à sua implementação.

...Em Coimbra, este estado de coisas fez surgir, em 1851, a «Sociedade de Instrução dos Operários» e, em 1862, a «Associação dos Artistas de Coimbra», que, sob o patrocínio de Olímpio Nicolau Rui Fernandes, visava «a difusão do Ensino Geral e Técnico das Artes e Ofícios, propagando os conhecimentos de economia, industrial e doméstica, necessários ao aperfeiçoamento dos métodos de trabalho, e promovendo em tais atividades o uso e introdução de novos maquinismos», e deu origem ... em 1878, a criação da «Escola Livre das Artes do Desenho», por iniciativa de António Augusto Gonçalves, a qual obteve da Câmara Municipal a cedência da antiga Casa do Senado, no andar superior da Torre do Arco de Almedina.

... por Decreto de 3 de Janeiro de 1884, o Ministro ... António Augusto de Aguiar, criou oito Escolas de Desenho Industrial, verificando-se com agrado que uma delas era em Coimbra – a atual Escola Secundária de Avelar Brotero.

... A 20 de Fevereiro de 1885, ou seja, cerca de um ano depois da sua criação a Escola de Desenho Industrial Brotero, ainda equipada com mobiliário emprestado pela Associação dos Artistas e sem material didático, encomendado na Alemanha ... iniciou atividades ... Matricularam-se cento e cinquenta e dois alunos (cento e quarenta e nove do sexo masculino e três do sexo feminino), com idades compreendidas entre os seis e os quarenta anos e, na sua maioria, profissionais: «alfaiates, canteiros, carpinteiros, empregados, funileiros, marceneiros, ourives, paliteiros, pedreiros, pintores de louça, sapateiros, segeiros, serralheiros, tipógrafos». A única disciplina lecionada no primeiro ano de funcionamento foi a de «Desenho Elementar». E apenas no período noturno, dado que, por falta de alunos, a Escola não teve aulas diurnas, tal como pelo menos nos seis anos subsequentes.

... Em 1889 ... o ministro Emídio Navarro elevou a Escola de Desenho Industrial Brotero a Escola Industrial.

... em 1914, ano a partir do qual a Escola passaria, em consequência, a Escola Industrial e Comercial.

... Nos finais do ano (1918) ... a Secção Comercial existente na Brotero foi-lhe retirada, para formar uma escola independente – a Escola Comercial de Coimbra, que, por não ter sede própria se estabeleceu no edifício da Escola (novamente apenas) Industrial, de Outubro de 1919 até Junho de 1920, data em que, por escassez de espaço, foi transferida para um andar na Rua da Sofia.

... em 1926 ... a 4 de Setembro ... foi decretada a integração da Escola Comercial de Coimbra na Escola Brotero, adotando esta – e por largos anos – a denominação de Escola Industrial e Comercial de Brotero .

... Em suma, a «Brotero», de início uma escola de modestas dimensões, foi ampliando e diversificando ao longo dos tempos o seu efetivo curricular com a introdução sucessiva de cursos profissionais tecnológicos e artísticos ... ligados a variadíssimas áreas, como Comércio, Serralharia, Mecânica, Serralharia Artística, Carpintaria, Talha (em madeira) e Marcenaria, Cerâmica, Vitrais, Eletrotecnia, Mecanotecnia, Construção Civil, Costura e Bordados, Mecânica de Automóveis.

 

Figueira, M. L. 2012. Escola Brotero. Memórias de Sempre. 2.ª edição revista e actualizada. Coimbra, Escola Secundária Avelar Brotero, p. 13, 17-20, 25, 28, 32

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por Rodrigues Costa às 09:44

Terça-feira, 25.10.16

Coimbra: a Brotero uma escola com passado e com presente 1

O «Diário do Governo» de 10 de Janeiro de 1889, publicou o decreto seguinte que se transcreve na íntegra.

«... Artigo 1.º É criada uma Escola Industrial que se denominará «Brotero» destinada a ministrar o ensino teórico e prático apropriado às indústrias predominantes na referida cidade.

Art.º 2.º Na Escola de que se trata serão ensinadas as seguintes disciplinas; a) Aritmética e geometria elementar; b) Química industrial; c) Princípios de física, elementos de mecânica; d) Língua francesa; e) Desenho industrial.

Art.º 3.º O ensino teórico na Escola de que se trata será complementado com o ensino manual para o que se estabelecerão junto da mesma escolas oficinas de a) trabalhos em metal (ferraria, serralharia, fundição e outros); b) trabalhos em madeira (carpintaria, marcenaria e outros); c) trabalhos em barro.

Art.º 4.º A aula de desenho industrial «Brotero» que atualmente existe na referida cidade será incorporada na escola industrial de que se trata logo que esta comece a funcionar.»

O decreto é assinado pelo Ministro e Secretário de Estado dos Negócios das Obras Públicas ... Emídio Júlio Navarro.

... A primitiva instalação da Escola foi feita em um dos lanços do claustro da Manga, onde então residia o administrador dos correios, sendo demolidas as separações das celas e construídas em seu lugar cinco salas.

... As instalações oficinais conservaram-se no Jardim da Manga até que depois de 1926 passaram para o atual edifício da Escola Industrial e Comercial Brotero. Na Escola Industrial Brotero foi depois criada uma secção comercial ... a secção comercial que funcionava na Escola Industrial Brotero, foi elevada a Escola Comercial, ficando instalada na Rua da Sofia, no segundo andar do edifício onde hoje está o Café Império, e que ao tempo estava ocupado pela Imprensa Académica. No ano de 1926 houve a fusão das duas Escolas, com a designação de Escola Industrial e Comercial de Brotero.

Dos seus antigos diretores e professores que tiveram também projeção nacional, já falecidos, passamos a indicar: O professor António Augusto Gonçalves, que foi ao mesmo tempo jornalista e panfletário de raros méritos, escritor ilustre, notável professor, crítico de arte e artista...; O Doutor Sidónio Pais tomou posse do cargo de professor temporário no dia 3 de Julho de 1902 ... e do cargo de Diretor da Escola em 4 de Outubro de 1905, em substituição do Mestre António Augusto Gonçalves, que mais tarde, voltou outra vez à Direção da Escola. O professor Doutor Sidónio Pais foi lente de Matemática na Universidade de Coimbra, e em 1917-1918 Presidente da Republica ...; O Arquiteto, Diretor e Professor Augusto de Carvalho da Silva Pinto ... Artista e professor de superiores méritos ...; Eugénio de Castro, no seu género, um dos poetas mais notáveis do mundo latino na Idade Contemporânea e Sanches da Gama que na poesia sarcástica foi um dos primeiros do País, talvez o primeiro.

... Não esquecendo também as notabilíssimas individualidades de Charles Lepierre e de Leopoldo Batistini nos altos e relevantíssimos serviços prestados a Coimbra e ao País; o Doutor Mário de Almeida, como jurista; e o dr. Amadeu Ferraz de Carvalho escritor e bibliófilo muito distinto.

Pélico, S. Notas ligeiras sobre a Escola Industrial e Comercial de Brotero, e de alguns dos seus mais notáveis diretores de professores já falecidos. In Brotero. Ano lectivo. Revista Técnica e Cultural. Número 11. Maio.1955. Pg. 57 a 63

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por Rodrigues Costa às 11:36

Quinta-feira, 20.10.16

Coimbra: o Regimento de 1740 para os Concelhos do seu termo 3

Item, encartados os Juizes ... teráõ particular cuidado na taixa, e almotaçaria dos vinhos, e azeites, por ser notório, e mostrar a experiencia, que nos lugares do termo desta Cidade se vendem os ditos géneros pelo miúdo, por preço mais excessivo, do que corre nesta mesma Cidade ... de que ha, e tem havido gravíssimas queixas, principalmente nas estalagens.

... esta mesma regra se observará ... a respeyto das Padeyras; e das pessoas, que venderem paõ ... averiguar se tem o pezo, q deve ter segundo a Estiva ... valendo o alqueyre de trigo por sete vinténs, hade ter de peso cada pan de dez reis, dezoito onças, e quatro oitavas; e o de sinco reis, terá de pezo nove onças, e duas oitavas.

... nas vendas dos vinhos feitos debaixo do ramo em tabernas publicas, devem haver medidas aferidas em cada anno.

... terão especial cuidado sobre as medidas dos moleyros ... e se lhes dará Correição todos os meses, para que se evitem os roubos ... tendo maquias avantajadas.

... com os Estanqueiros haverá a mesma vigilancia a respeito dos pesos, e balanças ... nos Concelhos ... haveraõ os pesos seguintes, a saber arroba, meya arroba, oito arrates, quatro, dous, hum, e meyo, e quarto. E bem assim, balanças grandes, e as medidas de medir, a saber meyo almude de vinho, meyo alqueire para azeite, alqueire, quarta, e raza, que tudo será aferido por todo o mez de Janeiro.

... depois de haverem tomado posse, e estarem servindo, faraõ eleição, convocadas todas as pessoas do Povo, de recebedores para cobrarem o tributo de quatro e meyo pro cento, siza, jugada, e as mais fintas do costume.

... na correnteza dos caminhos públicos tambem haverá grande vigilancia, concertando-se, e reparando-se pelo modo pussivel, convocado o povo como sempre até agora se praticou.

... tambem deve haver cuidado nas agoas de rega, e se repartiraõ pelo Juiz, com assistencia  de dous louvados, que seraõ eleitos em Concelho, convocados os moradores delle.

... em cada Concelho deve haver huma casa, em que se faça audiencia, e as convocações, e conselho do costume.

... teraõ especial cuidado na limpeza, e asseyo das fontes.

... deve ter cuidado sobre os forateyros, e homens, q não foram conhecidos.

... se se puzerem alguns fogos, que façaõ danno, ou posto que o naõ façaõ, se se queimarem montados, que sejaõ postos de propósito, quer por caso fortuito, se virá dar conta ao Doutor Juiz de Fora.

... toda a pessoa, a saber, homem mulher, mosso, mossa, escravo, ou escrava, que entrem em vinhas, hortas, pomares, e meloaes alheyos sem licença de seus donos, desde vinte de Junho em diante até o fim dos recolhimentos, sendo achados em fragante delicto, seráõ trazidos à Cadea publica desta Cidade.

... as bestas, e gado vacaril, que forem achados nas vinhas ... pagará o danno, e de coyma, por cada cabeça, cem reis.

... haverá hum curral do Concelho, que terá só a chave, e fichadura, no qual se enserraraõ os ditos gados.

Câmara Municipal de Coimbra. 1740. Novo Regimento para os Concelhos do Termo da Cidade de Coimbra. Coimbra, Oficina de Antonio Simoens Ferreyra, p. 9-29.

 

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por Rodrigues Costa às 09:11

Quarta-feira, 19.10.16

Coimbra: o Regimento de 1740 para os Concelhos do seu termo 2

Item, tambem se entregará na mesma occaziaõ, com a dita Pauta o importe da Juradia, que he hum direyto antiquíssimo, que se paga à Camera desde tempo sem memoria, como sabem os presentes ... se declara, que cada Concelho na fórma da posse, e dos assentos antigos dos livros da Camera, paga o que se contém cada hum em sua verba, e saõ do theor seguinte, pela ordem das letras de cada Concelho.

Avenal, quatrocentos e sincoenta (reis)

Amial, oito centos e sincoenta

Arzilla, trezentos e sincoenta

Alquarraques, quatrocentos

Antozede, cento e sincoenta

Ardazube, seiscentos e sincoenta

Antes, quatrocentos e sincoenta

Almalaguez, cento e sincoenta

Aljazede, cento e sincoenta

Almeiler, seiscentos e sincoenta

Alvorge, quatrocentos e sincoenta

Alcabideque, cento e sincoenta

Arrifana de Poyares, cento e sincoenta

Algaça, cento e sincoenta

Alfafar, seiscentos e sincoenta

Alcouce, setecentos e sincoenta

Abrunheyra, e Asafarge, seiscentos e sincoenta

Anobra, mil e sincoenta

Barreyra, quatro centos e sincoenta

Brafemes, quatro mil e sincoenta

Bolho, setecentos e sincoenta

Bera, dous mil duzentos e sincoenta

Beyçudo, duzentos e sincoenta

Bendafé, quinhentos e sincoenta

Bruscos, seiscentos e sincoenta

Condeyxa a nova, mil e sincoenta

Casconha, mil trezentos e sincoenta

Condeyxa a velha, cento e cincoenta

Cruz dos Marouços, quatro centos e sincoenta

Curogeyra, cento e sincoenta

Carregaes, trezentos e sessenta

Casaes do campo, seiscentos e sincoenta

Casas novas do campo, setecentos e sincoenta

Casais de Eyras, seiscentos e sincoenta

Canedo, duzentos e sincoenta

Cordinham, setecentos e sincoenta

Conraria, cento e sincoenta

Ceyra, seiscentos e sincoenta

Castelloviegas, quinhentos

Casas novas do Alvorge, setecentos e sincoenta

Falla, dous mil e sincoenta

Figueyra de Lorvão, quinhentos e sincoenta

Fassalamim, cento e sincoenta

Freyxo, duzentos e sincoenta

Fonte coberta, quatro centos e sincoenta

Féteyra, quatro centos e sincoenta

Friumes, cento e sincoenta

Hombres, cento e sincoenta

Loago de Deos, mil e sincoenta

Lorvão, quinhentos e sincoenta

Larsan, quinhentos e sincoenta

Levira, trezentos e sincoenta

Legação, duzentos e sincoenta

Loureyro, trezentos e sincoenta

Lamaroza, mil quinhentos e sincoenta

Montesaõ, mil e sincoenta

Marneleyra de Botaõ, quinhentos e sincoenta

Murtede, cento e sincoenta

Matos de Façalamim, cento e sincoenta

Moura Santa, cento e sincoenta

Mucella, cento e sincoenta

Orvieyra, cento e sincoenta

Outeyro de Botam, mil e sincoenta

Pãoquente, trezentos e sincoenta

Palha cana, quinhentos e sincoenta

Pé de caõ, seiscentos e cincoenta

Pampilhoza, quatro centos e sincoenta

Pedrulha, dous mil e duzentos

Palheyra, quinhentos e sincoenta

Quimbres, quinhentos e sincoenta

Ribeyra de Frades, cento e sincoenta

Rio da Galinhas, quatro centos e sincoenta

Sobreyro, trezentos e sessenta

Sébal grande, quatro centos e sincoenta

Sébal pequeno, quatro centos e sincoenta

Segonheyra, quinhentos e sincoenta

São Martinho do Bispo, mil e sincoenta

Souzellas, mil cento e sincoenta

Sioga do Monte, quatro centos e sincoenta

Saõ Paulo, oito centos e sincoenta

Sendelgas, trezentos e sessenta

Saõ Martinho de Arvore, três mil trezentos e sincoenta

Saõ Sylvestre, oito centos e sincoenta

Sazes, quinhentos e sincoenta

Sepins grande, seiscentos e sincoenta

Sepins pequeno, quinhentos

Sobral, seiscentos e sincoenta

Sarzadella, quinhentos e sincoenta

Taveyro, quinhentos e sincoenta

Trouxomil, seiscentos e sincoenta

Travaço, cento e sincoenta

Traveyra, oito centos e sincoenta

Ventoza de Condeixa, setecentos e sincoenta

Villapouca de Sarnache, cento e sincoenta

Villella, mil quinhentos e sincoenta

Ventoza do Bayrro, setecentos e sincoenta

Villa nova de Outil, seiscentos e sincoenta

Val de Boy, duzentos

Villa cham de Poyares, cento e sincoenta

Villa pouca do Campo, quinhentos e sincoenta

Zouparria do Monte, quinhentos e sincoenta

Zouparria do Campo, quinhentos e sincoenta

Cujas importâncias satisfazem os Concelhos cada hum o que lhe toca, e vay repartido nas verbas acima declaradas, sahindo do rendimentos dos mesmos Concelhos, e na falta dele se cobra dos moradores pelos Juizes.

Câmara Municipal de Coimbra. 1740. Novo Regimento para os Concelhos do Termo da Cidade de Coimbra. Coimbra, Oficina de Antonio Simoens Ferreyra, p. 4-8

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por Rodrigues Costa às 10:35

Quinta-feira, 13.10.16

Coimbra: o Regimento de 1740 para os Concelhos do seu termo 1

O Doutor Juiz de Fora, Vereadores, Procurador geral e Misteres desta muito nobre, e sempre leal Cidade de Coimbra, e seu termo, por Sua Magestade, q Deos guarde, etc. Fazemos saber, q por nos incumbir a boa regencia dos povos, e utilidade publica, averiguando que o Regimento antigo que foy dado em outro tempo aos Concelhos do termo da mesma Cidade, necessitava de reforma, tanto no substancial de sua disposição por se acharem alteradas as cousas do seu estado, pela mudança dos tempos, como porque em muitos dos ditos Concelhos havia falta delle, e em outros era de letra antiga, pouco legivel, e já lacerado, defeyto, que tambem tinhaõ outros, que eraõ imprecisos; porque o curso dos anos, junto o máo trato, lhe tinhaõ causado aquelle estrago, e se achavaõ assim os ditos Concelhos sem Regimento para a sua observancia, de que com effeyto resultavaõ muitos incómodos na Républica; querendo atalhallos, como nos incumbe, por cumprimento tambem [?] Capitulo de Correyçaõ do ano de setecentos e trinta e nove[?]  que por   haver a mesma informação, se mandou fazer a dita ...., para que os povos vivaõ ajustados em tudo com o que deve ser, e em tranquilidade, se lhes da o presente Regimento para a sua observancia, debaixo das penas nelle contheúdas.

Eleyção do Juiz, e mais Officiaes, e factura das Pautas

O Juiz de cada Concelho será obrigado a trazer, e entregar em cada anno até ao último do mez de Novembro, o mais tardar, a Pauta, e eleyçaõ das Justiças, q haõde servir o anno seguinte, sem esperar aviso, ou ordem alguma; porque se assim o fazerem resulta evidente utilidade aos povos, nas custas, que se lhe evitaõ da despeza da Ordem, e Caminheyro, que todos os anos se lhe mandava ao mesmo fim.

... Item na dita Pauta, que deve ser feyta pelo Escrivaõ do Concelho, por elle assinada, e pelo Juiz, e Produrador, que estiveram servindo; nem deve entrar nella pessoa alguma, que nos dous anos próximos tiver servido no mesmo Concelho, salvo para Escrivães, nas terras somente, em que não houverem pessoas, que saybaõ ler, e escrever.

... Item, as Pautas devem ser escritas originalmente no livro do Concelho, aonde tambem se devem tomar os votos, escrevendo-se com separação deles, que he o que se chama Pauta, tomando-se três pessoas das mais votadas, tanto para Juiz, como para Escrivão, e Produrador.

... Item com a dita Pauta se entregará o Rol dos Lagares, como vay determinado em outra parte deste Regimento, declarando-se quem he o Senhorio, e o seu administrador, ou arrendatário.

 

Câmara Municipal de Coimbra. 1740. Novo Regimento para os Concelhos do Termo da Cidade de Coimbra. Coimbra, Oficina de Antonio Simoens Ferreyra, p. 3-4

 

 

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por Rodrigues Costa às 11:21

Terça-feira, 11.10.16

Coimbra: as estradas que aqui chegavam e que daqui partiam

Pela Dr.ª Paula França foi chamada a minha atenção para uma obra muito interessante editada em meados do século XVIII.

Trata-se de um livro com um título muito longo – como era uso nesse tempo – que iremos referir como Roteiro Terrestre de Portugal que está disponível na net e no qual são identificadas, sob a forma de roteiros, as estradas então existentes em Portugal.

No que respeita a Coimbra respigamos os seguintes dados:

Roteiro de Leiria para Coimbra, onde se contam 12 leguas ao Norte

De Leiria à Venda dos Machados; ... À Villa do Pombal; ... Ao Cartaxo; A  Condeixa; A Coimbra.

Roteiro de Thomar a Coimbra, indo por Alvaiazere, por onde costuma ir o correio, em que se contão 13 leguas ao Norte

De Thomar à Venda Nova; ... Alvaiazere; ... Alcabideque; Venda do Cego; Coimbra.

A mesma jornada indo pelo Cabasso, em que se contão as mesmas treze leguas, e he peior caminho

De Thomar à Venda Nova; ... À Venda do Barqueiro; ... A Pudentes; A Chão de Lamas; A Coimbra.

Roteiro de Santarem para Coimbra, em que se contão vinte e trez leguas ao norte

De Santarém a Tremes; ... Ao Pombal; ...; A Porto Coelheiro; À Condeixa; A Coimbra.

Roteiro de Lisboa para a cidade de Coimbra, em que se contão trinta e quatro leguas ao Norte

A Alhandra; A Villa-Franca; ... Santarem; ... Alcabedeque; Venda do Cego; Coimbra.

De referir que no Roteiro de Lisboa para Gouveia a passagem por Coimbra é assim referida: Condexa; Cernache; Cruz dos Moiroços; Coimbra; Mealhada.

Roteiro para Aveiro, em que se contão nove leguas ao Noroeste

De Coimbra aos Fornos; Dahi aos Marcos; A Murtede; ... A Mamarosa; ... A Aveiro.

Roteiro de Coimbra para o Porto, em que se contão dezoito leguas ao Norte

De Coimbra aos Fornos; Dahi ao Carquejo; À Mealhada; ... A Oliveira de Azemeis ... A Porto.

Acrescenta-se que o Professor Doutor António de Oliveira para o trajeto junto a Coimbrao propõe o seguinte itinerário: Saída por S. Lázaro – Ribeira de Coselhas (Águas de Maia) – Assamassa (Capela de N. S. do Loreto) – subia à Pedrulha – Venda da Fontoura – Ponte do Rachado – Fornos – Carquejo – Ponte Viadores (Oliveira, A. A vida económica e social de Coimbra de 1537 a 1640. Volume II. P. 20-21).

Refere-se, ainda, que nos Caminhos de Santiago, este itinerário, depois do Carquejo, passa pela capela de Mala, a caminho da Ponte de Viadores.

Roteiro de Coimbra para Viseu, em que se contão treze leguas ao Nordeste

De Coimbra a Eiras; A Botão; Ao Galhano; ... A Tondella; ... A Viseu.

Roteiro de Coimbra para a Guarda, em que se contão vinte e duas leguas a Nascente

De Coimbra às Torres; Aos Carvalhos; A Algacia; ... A Celorico; ... A Guarda.

Roteiro de Coimbra para o porto da Figueira, em que se contão sete leguas ao Poente

De Coimbra a Taveiro; A Pereira; A S. Barão; A Monte-Mór; ... A Figueira.

 

Summario das distancias, que ha de Coimbra às Villas da sua Correição

De Coimbra a (em léguas):

            Alvayazere                             8 ao Sul

            Ança                                       2 ao Sul (sic)

            Ancião                                    6 ao Sul

            Arganil                                   7 ao Nascente

            Avô                                        9 ao Nascente

            Bobadella                            12 ao Nascente

            Botão                                    2 ao Nordeste

            Buarcos                                8 ao Poente

            Cantanhede                         4 ao Noroeste

            Carvalho                              4 ao Sul

            Celavisa                              6 ao Nascente

            Cernaxe dos alhos              2 ao Sul

            Coja                                     8 ao Nascente

           Comba Dão                          6 ao Nordeste

            Esgueira                              8 ao Norte

            Fajão                                   9 ao Nascente

            Goes                                   5 ao Nascente

            Mira                                     7 ao Noroeste

            Miranda do Corvo               4 ao Sueste

            Pena-Cova                          3 ao Norte

            Pereira                                2 ao Poente

            Podentes                            3 ao Nascente

            Pombalinho                        4 ao Sul

            Pombeiro                            5 ao Nascente

            Povoa de S. Christina         2 ao Norte

            Rabaçal                              3 ao Norte (sic)

            Redondos                           6 ao Sul

            Tentugal                              2 ao Poente

            Vacariça                              3 ao Norte

            Villa-Nova de Anços           4 ao Poente

            Villa-Nova de Mõç.             4 ao Norte

Castro, J. B. 1748. Roteiro Terrestre de Portugal ... Lisboa, Oficina de Manuel Manescat da Costa.

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por Rodrigues Costa às 20:26

Quinta-feira, 06.10.16

Coimbra e as suas personalidades: Belisário Pimenta

Belisário Pimenta nasceu em 3 de Outubro de 1879 ... prédio com o número 11 da Praça do Comércio, a velha praça burguesa da Baixa coimbrã.  A sua primeira canção de embalar foi o ronronar cadenciado das máquinas da tipografia do avô materno, instalada nos dois andares de baixo.

... Na sessão em que ingressou na Academia Portuguesa de História, em 28 de Janeiro de 1966, Belisário Pimenta apresentou-se como “homem do Século Dezanove" ... Ansiando pelas grandes batalhas, Belisário Pimenta não perdia de vista que a luta se travava também noutros patamares, ainda que menos decisivos. Empenhava-se no movimento para instalação em Coimbra do Jardim-Escola João de Deus ... Participou na instalação da delegação de Coimbra da Sociedade da Cruz Vermelha ... Foi membro da Sociedade de Propaganda e Defesa de Coimbra.

... No Verão de 1900, concluídos os preparatórios na Universidade, foi admitido na Escola do Exército

... Era no Lusitano, nas longas conversas com os seus amigos republicanos, que retemperava o ânimo. Ia do quartel diretamente para lá, muitas vezes ainda com a farda de serviço ou até, como no dia da visita do Rei a Coimbra, de grande uniforme, causando escândalo entre os oficiais talassas, frequentadores do passeio em frente, do outro lado da Calçada.

Os passeios da Calçada não deixavam margem para equívocos ou para manifestações dúbias. Ali, os campos estavam rigorosamente definidos. O Tenente Belisário Pimenta, oficial do Exército e do Regimento de Infantaria n.º 23, nunca largava o Lusitano e nunca ia ao outro passeio. E fazia questão nisso: “O passeio do Lusitano é dos republicanos, tendo como pontos de concentração o café, a relojoaria do Ferreira; ao passo que o passeio do outro lado, do lado da Havaneza, é dos monárquicos, tendo como pontos de reunião principais a Havaneza para a gente fina, intelectuais, a casa das máquinas Singer para os oficiais do exército talassas e a farmácia Donato para uma certa gente ociosa, franquistagem reles e alguns oficiais correspondentes.”

... No Domingo, dia 9 (de Outubro de 1910), foi chamado ... ao gabinete do Governador Civil, este puxou-o para uma das varandas que davam para o Largo da Feira e fez-lhe a proposta que já esperava. Belisário Pimenta alinhou todos os argumentos que pôde para evitar o que entendia vir a ser um desastre. Mas Fernandes Costa opôs-lhe que o momento não era azado para dúvidas e que “achava pouco patriótico e pouco próprio de um republicano não fazer um sacrifício […] quando a República nascente precisava de todos” ... ao descer as escadas do Governo Civil, já com a posse tomada (de Comissário da Polícia de Coimbra) e com o alvará dobrado no bolso, deu ordem ao primeiro guarda que viu para que houvesse, daí a pouco, formatura geral do corpo de polícia, para fazer a sua apresentação. A corporação esperava-o, formada por esquadras no claustro ... Depois dos lugares comuns, fez-lhes “uma antevisão do que seria o serviço policial com o regime democrático, simples missão de cordura e de paz, com prestígio e força moral, com delicadeza e respeito.”  

... Por essa altura, em 1932, já Belisário Pimenta dedicava preferencialmente o seu trabalho de investigação à história militar ... legou à Biblioteca Geral da Universidade Coimbra a sua livraria, os arquivos pessoais e a coleção dos seus originais autógrafos ... Aí, está disponibilizado, para além de um conjunto de 67 fotografias obtidas a partir da coleção de negativos de vidro que faz parte do legado, o acervo de originais manuscritos.

 

Ribeiro, V.A.P.V. 19. 2011. As memórias de Belisário Pimenta. Percursos de um republicano coimbrão. Dissertação de Mestrado em história Contemporânea. Coimbra, Faculdade de Letras da Universidade de Coimbra. Pg. 7, 8, 14, 39, 43, 57, 119

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por Rodrigues Costa às 09:02

Quarta-feira, 05.10.16

Coimbra: a Implantação da República 3

No Centro Dr. José Falcão, à Praça Velha, havia sessão permanente, em que se discutia, normalmente com veemência, tudo o que as novas autoridades republicanas faziam. Alguns dos filiados recentes – em que se contavam antigos monárquicos, convertidos de fresco à República – eram os discursadores mais acalorados. Ao contrário de Fernandes Costa, que, com o seu temperamento calmo, fazia por ignorar as atividades do Centro, Belisário Pimenta entendia que havia ali gente de “pouco senso”, convencida que “aquilo já não era o velho Centro Eleitoral, mas sim uma verdadeira Convenção”. Era sobre ele, na sua condição de Comissário, que recaíam os dissabores que resultavam do aventureirismo ali estimulado. Por sugestões saídas das exaltadas sessões do Centro, faziam-se assaltos à mão armada, arrombavam-se portas, faziam-se buscas – como aconteceu na Quinta de São Jorge, propriedade de um velho republicano do Porto, na Quinta das Varandas e na da Malavada –, tudo sem qualquer fundamento, mas sempre com o pretexto de se procurarem jesuítas escondidos. Naquelas semanas, em que se viveu numa atmosfera de suspeição e de balbúrdia, chegavam constantemente ao Comissariado informações que denotavam preocupação com uma eventual atividade conspirativa de monárquicos. Eles, que não se haviam de resignar à derrota, favorecidos pela benignidade do novo regime, pareciam já refazer-se da surpresa.

... Belisário Pimenta, num ou noutro caso, mandava vigiar os denunciados, mas, em geral, os avisos não tinham consistência e as averiguações não alcançavam resultados. Não podia confiar tais serviços à Judiciária – a polícia da secreta, como era geralmente conhecida –, constituída por homens vindos da Monarquia e, quase todos, ali colocados por monárquicos influentes. Encarregava das tarefas de vigilância “certos rapazes considerados republicanos sérios” ... Mas até estes lhe mereciam algumas reservas: as suas informações pareciam-lhe, muitas vezes, francamente fantasiadas.

No dia 16, ao fim da tarde, Belisário Pimenta foi procurado ... nessa noite ou na manhã seguinte, a Falange Demagógica iria deitar umas bombas na Universidade, “para acabar com aquilo”. A Falange Demagógica era um grupo aguerrido de estudantes anarquistas ... Ao ouvir que os estudantes escalariam as grades da Porta de Minerva e derramariam petróleo para incendiarem a Biblioteca e a Secretaria, reagiu vivamente...tranquilizou, dizendo-lhe que isso era apenas um desejo que não concretizariam, porque o grupo só queria meter um susto aos professores da Universidade ... naquela tarde na Universidade: foram lançadas bombas nos urinóis, ao fundo do corredor da capela; no vestiário dos professores, foi tudo desarrumado e foram levadas algumas borlas doutorais; na Sala dos Capelos, foram dados tiros no retrato de D. Manuel II, que foi também atingido por uma faca, que lhe causou um rasgão na tela; e foram destruídas as cátedras solenes das aulas.

... Num dos primeiros dias de Novembro, tomou posse como Governador Civil o Dr. Cerqueira Coimbra ... Terminada a cerimónia da tomada de posse do novo Governador Civil, Belisário Pimenta apresentou-lhe o seu pedido de demissão ... a sua presença no Comissariado se vinha tornando pouco desejada por alguns republicanos “vejo-me obrigado a ir embora, antes que a tal vox populi [a mesma que correu em 6 de Outubro, anunciando que ele seria nomeado Comissário] me ponha fora. E com motivos: eu não encontrei conspiração alguma, nas buscas realizadas, que fornecesse talassas para a cadeia ou até, quem sabe, para a forca; eu não mandei prender todo e qualquer indivíduo que coerentemente manifestasse desagrado à República […]; eu lançava baldes de água fria sobre a chama ardente do entusiasmo jacobino. […] julgo do meu dever ir embora. […] É um lugar sobre o qual caem as mais violentas e desencontradas opiniões, de forma que é de um equilíbrio, se não impossível, pelo menos difícil como todos os diabos. […].”

 

Ribeiro, V.A.P.V. 19. 2011. As memórias de Belisário Pimenta. Percursos de um republicano coimbrão. Dissertação de Mestrado em história Contemporânea. Coimbra, Faculdade de Letras da Universidade de Coimbra. Pg. 63 a 69

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por Rodrigues Costa às 08:52

Terça-feira, 04.10.16

Coimbra: a Implantação da República 2

Nos dias seguintes, correu pela cidade que Belisário Pimenta fora nomeado Comissário da Polícia ... No Domingo, dia 9, ... ao descer as escadas do Governo Civil, já com a posse tomada e com o alvará dobrado no bolso, deu ordem ao primeiro guarda que viu para que houvesse, daí a pouco, formatura geral do corpo de polícia, para fazer a sua apresentação. A corporação esperava-o, formada por esquadras no claustro, com a Judiciária à esquerda e os chefes à frente ... Depois dos lugares comuns, fez-lhes “uma antevisão do que seria o serviço policial com o regime democrático, simples missão de cordura e de paz, com prestígio e força moral, com delicadeza e respeito.”

 ... Teve também visitas de vários oficiais da guarnição, de gente dos jornais e de um ou outro professor da Universidade ... Para além de toda esta gente, que lhe tirava tempo, mas cujas felicitações aceitava com agrado, caíram-lhe no gabinete os que queriam aparecer às janelas que davam para a Rua Larga no “tu cá, tu lá com uma autoridade republicana” e alguns monárquicos, que, com à-vontade, pediam emprego ou compaixão. E até a Júlia, patroa de meretrizes, vestida à moda e com um grande chapéu de plumas, se apresentou ao novo Comissário.

 ... Governo Provisório, já no dia 8 de Outubro, havia decretado a repristinação das leis anti congreganistas do Marquês de Pombal e de Joaquim António de Aguiar, revogado o decreto de 18 de Abril de 1901 (que permitira a reconstituição, sujeita a condições restritivas, das ordens religiosas

... Em Coimbra, o povo, cioso da Revolução, via inimigos em todo o lado. Corria que padres jesuítas fugidos se acoitavam em vários pontos da cidade. 

Logo ao fim do dia em que tomara posse ... constava que, à uma da manhã, haveria assaltos de populares à Quinta de São Jorge e ao Convento de Santa ... Perto da meia-noite, meteram-se num carro fechado, a caminho de Santa Clara. Logo no Largo da Portagem, à entrada da ponte, um grupo armado fê-los parar. Estudantes, operários, comerciantes, caixeiros, todos com as golas dos casacos levantadas, que a noite estava fria, e apalpando o bolso das calças onde tinham o revólver, cercaram o carro. Alguns, de arma na mão, meteram a cabeça pela portinhola. Ao verem o Governador Civil e o Comissário, perderam o ar feroz que haviam tomado e deixaram seguir o carro. Umas dezenas de metros mais à frente, surgiu outro grupo ameaçador e a cena repetiu-se. Já na escuridão do rossio de Santa Clara, de trás das árvores e das sebes dos taludes, saíram vultos, que rodearam o carro, agitados e afagando as coronhas das pistolas. Depois de um deles se ter chegado à portinhola a inquirir, tudo sossegou. Mas, nesta altura, Fernandes Costa, já impaciente, não resistiu a perguntar: “Olhe lá: para que é tanta coisa?”. O cabecilha do grupo de vigilância, quase indignado, respondeu-lhe: “Então não sabe que há tanto padre fugido e escondido? Por aqui, não passam eles!”.

... o carro seguiu até à Quinta de São Jorge. No “jesuítico casarão”, tudo era sossego e escuridão e nada denunciava que alguém por ali estivesse escondido.

... No dia 10, já o povo de Coimbra murmurava por as autoridades não terem dado ainda cumprimento ao decreto de 8 de Outubro ... Na tarde desse dia 10, Fernandes Costa e Belisário Pimenta foram a Santa Clara. Depararam-se com uma multidão, que, de má catadura e debaixo de chuva, enchia o pátio do convento. Ao passarem em direção à portaria, do ajuntamento popular vinham frases de advertência: “Tenham cuidado, que há padres! Acautelem-se com as traições!” ...  A vistoria demorava já mais de uma hora, quando o polícia que ficara de guarda à portaria mandou recado a Belisário Pimenta, pedindo-lhe que viesse à entrada. A multidão que se comprimia no exterior do convento soltou um brado de alívio e satisfação, ao ver aparecer ao portão o Comissário. A demora fizera imaginar uma emboscada traiçoeira, na escuridão dos infindáveis corredores ... foram recebidos com vivas e manifestações de alegria. Fernandes Costa tranquilizou a multidão, informando que as freiras partiriam, mas que, por razões humanitárias, se lhes daria tempo para arranjarem as suas coisas. Daí a três ou quatro dias, todas as freiras de Santa Clara foram embora, para Vigo.

 

Ribeiro, V.A.P.V. 19. 2011. As memórias de Belisário Pimenta. Percursos de um republicano coimbrão. Dissertação de Mestrado em história Contemporânea. Coimbra, Faculdade de Letras da Universidade de Coimbra. Pg. 57 a 61

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por Rodrigues Costa às 10:33


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