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No dia 4 de Outubro (de 1910), quando (Belisário Pimenta) se despedia ... ouviram ambos de um empregado da Estação que o comboio não viera, porque em Lisboa havia revolução. Os dois oficiais olharam um para o outro, sem saber o que dizer: “Era a revolução, finalmente!”. Seguiram-se “dois dias e duas noites de uma ansiedade horrível. […] nada se sabia, andávamos a perguntar notícias uns aos outros.”
Ao Comité (Militar de Coimbra), reunido de urgência desde as dez da manhã do dia 4, chegara a notícia do assassinato de Miguel Bombarda, mas nada fora comunicado sobre o movimento insurrecional... No dia 5, à tarde, Belisário Pimenta meteu-se em casa, dividido entre o desânimo e a esperança de que aquela demora prenunciasse a vitória dos republicanos. Por volta das quatro e meia da manhã do dia 6, chegou a Coimbra a notícia da proclamação da República em Lisboa ... “pela madrugada, foguetório, músicas, vivas, chegaram aos meus ouvidos como aos olhos de um náufrago deve aparecer o porto salvador! Era a República, caramba! “
Os vivas que Belisário Pimenta, com comoção, ouvia naquela madrugada soltavam-se de uma manifestação popular, que se formara em Santa Clara e vinha engrossando no seu percurso pelas ruas da cidade. A multidão aclamava a República e os seus homens ... “Quando, na madrugada de 6 de Outubro de 1910, o povo redemoinhava por aí, alegre e triunfante, […] lembrou-se de vir, em turba, cantando e gritando, até à minha rua solitária e, parando em frente da minha casa, exigiu que eu aparecesse. Cheguei-me ao alpendre da entrada e vi a turba enchendo de lado a lado a calçada; uma filarmónica rouquejava como podia A Portuguesa e quando eu andava aos abraços e rebolões por entre todos, alguém gritou: – Viva o nosso comissário! Não olhei para quem lançou o grito traiçoeiro, porque me pareceu ter a visão [premonitória] da tortura de dois meses e tanto; mas ouvi a multidão repetir com força: – Viva! Viva!
... Nesse dia 6, às duas da tarde, nos Paços do Concelho, foi solenemente proclamada a República Portuguesa na cidade de Coimbra. Do Auto de Proclamação consta que, estando reunida a Câmara Municipal, sob a presidência de Sílvio Pélico Lopes Ferreira Neto, vice-presidente em exercício, deram entrada na sala de sessões Francisco José Fernandes Costa, já na qualidade de Governador Civil do Distrito, nomeado pelo Governo Provisório, e António Cândido de Almeida Leitão, administrador interino do concelho de Coimbra. O novo Governador Civil fez, então, uma alocução perante a numerosa assembleia, que, por entre manifestações de adesão e entusiasmo, terminou pela aclamação solene do Governo da República Portuguesa. De seguida, o Dr. Fernandes Costa dirigiu-se à multidão que se encontrava frente aos Paços do Concelho, que acolheu as suas palavras com brados patrióticos e vibrantes vivas à Pátria e à República Portuguesa.
O Auto de Proclamação foi assinado pelos Vereadores destituídos, por Fernandes Costa e Almeida Leitão, e por mais de trezentos cidadãos, que estavam presentes ou que pediram para o assinar.
Ribeiro, V.A.P.V. 19. 2011. As memórias de Belisário Pimenta. Percursos de um republicano coimbrão. Dissertação de Mestrado em história Contemporânea. Coimbra, Faculdade de Letras da Universidade de Coimbra. Pg. 54 a 57
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