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A' Cerca de Coimbra



Quinta-feira, 29.09.16

Coimbra: a Implantação da República 1

No dia 4 de Outubro (de 1910), quando (Belisário Pimenta) se despedia ... ouviram ambos de um empregado da Estação que o comboio não viera, porque em Lisboa havia revolução. Os dois oficiais olharam um para o outro, sem saber o que dizer: “Era a revolução, finalmente!”. Seguiram-se “dois dias e duas noites de uma ansiedade horrível. […] nada se sabia, andávamos a perguntar notícias uns aos outros.”            

Ao Comité (Militar de Coimbra), reunido de urgência desde as dez da manhã do dia 4, chegara a notícia do assassinato de Miguel Bombarda, mas nada fora comunicado sobre o movimento insurrecional... No dia 5, à tarde, Belisário Pimenta meteu-se em casa, dividido entre o desânimo e a esperança de que aquela demora prenunciasse a vitória dos republicanos. Por volta das quatro e meia da manhã do dia 6, chegou a Coimbra a notícia da proclamação da República em Lisboa ...  “pela madrugada, foguetório, músicas, vivas, chegaram aos meus ouvidos como aos olhos de um náufrago deve aparecer o porto salvador! Era a República, caramba! “

Os vivas que Belisário Pimenta, com comoção, ouvia naquela madrugada soltavam-se de uma manifestação popular, que se formara em Santa Clara e vinha engrossando no seu percurso pelas ruas da cidade. A multidão aclamava a República e os seus homens ...  “Quando, na madrugada de 6 de Outubro de 1910, o povo redemoinhava por aí, alegre e triunfante, […] lembrou-se de vir, em turba, cantando e gritando, até à minha rua solitária e, parando em frente da minha casa, exigiu que eu aparecesse. Cheguei-me ao alpendre da entrada e vi a turba enchendo de lado a lado a calçada; uma filarmónica rouquejava como podia A Portuguesa e quando eu andava aos abraços e rebolões por entre todos, alguém gritou:  – Viva o nosso comissário!  Não olhei para quem lançou o grito traiçoeiro, porque me pareceu ter a visão [premonitória] da tortura de dois meses e tanto; mas ouvi a multidão repetir com força: – Viva! Viva!

... Nesse dia 6, às duas da tarde, nos Paços do Concelho, foi solenemente proclamada a República Portuguesa na cidade de Coimbra. Do Auto de Proclamação consta que, estando reunida a Câmara Municipal, sob a presidência de Sílvio Pélico Lopes Ferreira Neto, vice-presidente em exercício, deram entrada na sala de sessões Francisco José Fernandes Costa, já na qualidade de Governador Civil do Distrito, nomeado pelo Governo Provisório, e António Cândido de Almeida Leitão, administrador interino do concelho de Coimbra. O novo Governador Civil fez, então, uma alocução perante a numerosa assembleia, que, por entre manifestações de adesão e entusiasmo, terminou pela aclamação solene do Governo da República Portuguesa. De seguida, o Dr. Fernandes Costa dirigiu-se à multidão que se encontrava frente aos Paços do Concelho, que acolheu as suas palavras com brados patrióticos e vibrantes vivas à Pátria e à República Portuguesa.

O Auto de Proclamação foi assinado pelos Vereadores destituídos, por Fernandes Costa e Almeida Leitão, e por mais de trezentos cidadãos, que estavam presentes ou que pediram para o assinar.

Ribeiro, V.A.P.V. 19. 2011. As memórias de Belisário Pimenta. Percursos de um republicano coimbrão. Dissertação de Mestrado em história Contemporânea. Coimbra, Faculdade de Letras da Universidade de Coimbra. Pg. 54 a 57

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por Rodrigues Costa às 10:20

Terça-feira, 27.09.16

Coimbra: a Rua da Sota e o Mirante do Fidalgo

Ao pesquisar no Arquivo Histórico Municipal de Coimbra os Títulos originais. 1835-1858, encontrei na página 159 uma escritura datada de 1852.03.08, na qual era dito:

Pelo presente de cláro, q.e concedo licença a Camara p.º fazer huma rua, principiando a sua abertura da extremidade da ponte, lançando uma linha recta desde a quina da caza digo do Mirante do Fidálgo, ate a quina das cazas de Manuel do Vál; e do lado da Ponte tudo até ao cais.

Sendo óbvio que a localização do referido Mirante era na Portagem colocou-se a questão de saber qual a rua que a Câmara estava a abrir. Existiam três hipóteses: o início da Estrada da Beira; o princípio da futura Avenida Navarro; ou uma qualquer outra rua.

Feita uma pesquisa nos Anais do Município de Coimbra, foi possível esclarecer a questão.

Assim na entrada referente à Sessão de 1882.04.16, era referido:

Dada a cedência feita ao Município por José Fortunato Góis Mendonça Pereira de Carvalho de um terreno que fica em linha recta tirada do Mirante dos Fidalgos da Portagem até à esquina das casas de António do Vale, no Beco do Forno, manda-se naquele terreno abrir uma rua que da Ponte vá à Rua do Sargento-Mor. (Silva, A.C. 1972-1973. Anais do Município de Coimbra. 1840-1869, p. 221).

Mas adiante, na página 223, na legenda de um pormenor de uma fotografia da Portagem acrescentou Armando Carneiro da Silva: Mesmo no enfiamento da ponte o «mirante dos Abreus». À direita do encontro da Ponte o «Cais do Cerieiro» e para a esquerda o «Cais das Ameias».

Em conclusão. A rua que então se pretendia abrir era o início da atual Rua da Sota e o Mirante do Fidalgo ou dos Abreus estava localizado no espaço que é hoje o Largo da Portagem e que então tinha uma dimensão muito menor.

 

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por Rodrigues Costa às 10:44

Quinta-feira, 22.09.16

Coimbra: Escrituras camarárias no século XVI

Nas minhas deambulações pelo Arquivo Municipal, foi-me dado a conhecer uma importante tarefa a que as Técnicas que ali trabalham meteram ombros e que é a de elaborar os sumários das escrituras que a Câmara celebrou ao longo do tempo. Escrituras que, primitivamente, eram lavradas em livros próprios então designados por Livro de Notas.

Salientado que a série, para além das escrituras coimbrãs, inclui escrituras de outros Concelhos, no que concerne especificamente à Câmara de Coimbra, as primeiras sumariadas são as que estão no volume Notas n.º 2, 1575-1577.

Trata-se de um «Volume incompleto, com 214 fls. encadernado no século XVIII, não possui termo de abertura original. Apresenta um título de letra moderna, na folha de guarda de papel, que diz: “Livro de Notas que teve seu principio no anno de 1575 e acabou no anno de 1577... Pela análise do termo de encerramento, com letra original quinhentista, que diz: “Este livro he das notas de Pero Cabral, esprivão da camara desta cidade que toqua as cousas de […] que asinei e numerei per comisom do señor juiz Pero Barba de Campos, ho qual livro tem duzemtas e corenta meas folhas. Oje vymte dias de abril do anno de 1575. Amts».

 Sendo que as escrituras, na sua grande maioria estão relacionadas com o fornecimento de carne, considerei interessante fazer uma seleção de sumários das mesmas, no propósito de se perceber os diversos assuntos que - nos anos de 1575 e 1576 – as mesmas tratavam.

Assim:

1575.06,14

Obrigação e fiança de Brás Peres, lavrador, morador no lugar de Fráguas, para fornecimento de carne, aos açougues públicos da cidade de Coimbra, sendo seu fiador, Domingos Dias, cirieiro, morador em Coimbra.

AHMC/ Notas, nº 2, 1575-1577, fl. 8

1575.07.13

Obrigação e fiança de Simão Peres, para recebimento da renda dos correntes, sendo fiadores, Diogo Fernandes, chapinheiro, morador em Coimbra e Domingos Fernandes, lavrador, morador em Bencanta. 

AHMC/ Notas, nº 2, 1575-1577, fl. 14

1575.08.27

Aforamento que faz a Câmara de Coimbra, a João Luís, sapateiro, morador em Coimbra, de um pequeno marachão e rossio, junto ao Rio Mondego. 

AHMC/ Notas, nº 2, 1575-1577, fl. 24 

1575.10.25

Obrigação de Simão Peres, Sebastião Peres, João Fernandes e António João, barqueiros, moradores em Coimbra, para fornecimento de sal à cidade de Coimbra. 

AHMC/ Notas, nº 2, 1575-1577, fl. 28

1576.02.27

Obrigação e fiança de Domingos Jerónimo, surrador, morador em Coimbra, à renda da medidagem do azeite, sendo seu fiador Pedro Álvares “o trovão”, de Orvieira. AHMC/ Notas, nº 2, 1575-1577, fl. 42  

1576.03.30

Contrato de troca, escambo e aforamento, que faz o Colégio de São Bento, com a Câmara de Coimbra, representado pelo abade, frei Pedro de Basto, para construção do seu novo Colégio e cerca, dando à cidade o seu olival, “em torno dos arcos do cano real, até ao caminho da Porta do Castelo e ermida de São Martinho, para rossio público, sem nunca tapar, nem aforar, a pessoa alguma”, recebendo a possibilidade de cercar a sua propriedade até ao rio, com a cláusula de abrirem uma porta, no muro, acima da Porta de Belcouce, com degraus até à água, para serventia pública, e outras condições. AHMC/ Notas, nº 2, 1575-1577, fl. 44v

1576.03.30

Traslado da provisão régia de 18 de Outubro de 1574, do cardeal Dom Henrique, autorizando a construção do novo Colégio de São Bento, e impondo as condições necessárias à proteção do cano real da água, para as fontes da cidade, com que o colégio confina. 

AHMC/ Notas, nº 2, 1575-1577, fl. 52 

1576.07.10

Venda que faz Antónia de Figueiredo, viúva de André Falcão, moradora em Aveiro, através de seus procuradores, seu filho Luís Falcão e Mateus Couceiro, também de Aveiro, a João Rodrigues, boieiro do Colégio de Jesus, de umas casas, “sitas na Rua de Alvaiázere, à carcova junto à Porta do Castelo”, pagando terradego à Câmara de Coimbra sua directa senhoria. 

AHMC/ Notas, nº 2, 1575-1577, fl.119v

1576.07.22

Procuração que faz o Senado da Câmara de Coimbra ao dr. Henrique da Horta, procurador na Casa da Suplicação e a Luís Fernandes morador em Coimbra, para a causa contra os duques de Aveiro, por cobranças excessivas de foros, rendas e tributos, no campo do Bolão, não cumprindo o estipulado no Foral da cidade.

AHMC/ Notas, nº 2,1575-1577, fl. 130v

1576.07.31

Obrigação de Rodrigo Aires, natural de Coimbra e morador na cidade de Lisboa, para fornecimento de pão de trigo e centeio à cidade de Coimbra.

 AHMC/ Notas, nº 2, 1575-1577, fl. 135

1576.09.22

Obrigação e fiança de Pedro Gomes, morador em Coimbra, para rendeiro da renda do verde (anual), por falecimento de seu sogro, Simão Fernandes, sendo seu fiador Vasco Machado, vendeiro, morador em Coimbra.

AHMC/ Notas, nº 2, 1575-1577, fl. 149v

1576.10.27

Aforamento que faz o Senado da Câmara de Coimbra, a Miguel de Almeida, beneficiado na Igreja de São Cristóvão, de um pedaço de barbacã, acima de um outro que seu pai, Jerónimo de Almeida tinha antes aforado, “desde a Torre Grande, até ao baluarte que está pegado com o muro quebrado junto da Torre de Hércules”, com a condição de não serem feitas obras nem casas, somente quintais e hortas e se fosse necessário a Câmara tomá-la-ia de novo, em caso de defesa da cidade. 

AHMC/ Notas, nº 2, 1575-1577, fl. 155v.

Para melhor compreensão dos assuntos tratados, com a ajuda da Dr.ª Paula França, se esclarece:

- Recebimento da renda dos correntes, refere-se ao imposto designado por sisa dos correntes;

- Renda da medidagem do azeite, relativa ao pagamento efetuado para realizar a aferição, obrigatória, das medidas utilizadas na venda do azeite;

- Pagando terrádego, prestação paga quando era transferido um aforamento a terceiros;

- Rendeiro da renda do verde (anual), adjudicatário da fiscalização da utilização dos pastos camarários pelos rebanhos e que cobrava as taxas dessa utilização;

- Aforamento, forma de propriedade imperfeita ... podia ser perpétuo ou temporário, embora necessariamente com uma duração superior a 10 anos. O encargo principal do foreiro consiste em pagar anualmente ao senhorio direto uma prestação, em géneros ou dinheiro, denominada «foro». Enciclopédia Luso-Brasileira de Cultura. Volume 1.º, 368-370.

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por Rodrigues Costa às 09:31

Terça-feira, 20.09.16

Coimbra: as artes e ofícios

O exercício de uma profissão “arte ou ofício mecânico” exigia um período de aprendizagem prolongado ficando o aprendiz a viver com o mestre. Colaborava em todas as atividades de fabrico na oficina sem auferir salário, até estar apto a realizar a sua obra-prima.

Esse objeto era submetido à apreciação dos juízes do ofício eleitos entre os mestres. O certificado, “carta de examinação e aprovação”, era a condição para poder montar oficina própria. Após o seu registo na Câmara, obtinha-se licença para ter “loja aberta”.

O fabrico e a qualidade dos produtos eram rigorosamente controlados pelas Corporações dos Ofícios, através de um regulamento específico designado por Regimento... encontram-se no AHMC alguns exemplares de Regimentos: dos sombreireiros (séc. XVI), dos Sirgueiros (1582), dos Alfaiates (1596), dos Caldeireiros (1600), dos Cordoeiros (1659), etc.

Os ofícios agrupavam-se por afinidades profissionais escolhendo um santo protetor comum para a bandeira da sua corporação, daí a designação de embandeirados. Cada um desses doze conjuntos embandeirados elegia dois representantes, constituindo a Casa dos Vinte e Quatro dos Mesteres de Coimbra. Desta instituição saía o Juiz do Povo e os Misteres da Mesa que assistiam às reuniões da Câmara. A sua existência está bem documentada para o século XVII, e seguintes possuindo as atas das suas reuniões.

... O arruamento dos mesteres, medida controladora da produção e da concorrência desleal, em Coimbra deixou os seus vestígios na toponímia da cidade, embora não tenha sido observado com tanto rigor como noutras cidades. Ainda é possível encontrar, atualmente, as Ruas dos Oleiros, da Louça, das Padeiras, dos Sapateiros, em zonas onde outrora se fixaram estas profissões.

Outros ofícios localizavam-se em áreas outrora desertas e hoje densamente urbanizadas... Esse é o caso dos fogueteiros que no séc. XVIII se sediavam fora de portas entre a Ladeira da Forca e a Ponte de Água de Maias. É também o exemplo dos Cordoeiros que naquela mesma época possuíam as suas oficinas nos terrenos baldios que iam da Capela de Nosso Senhor do Arnado (entretanto demolida) até ao rio, pela atual Avenida Fernão de Magalhães.

... Entre a documentação compulsada ... surgiram várias referências a Mulheres no exercício dos seus ofícios ... Num breve levantamento encontramo-las a exercer os ofícios mais diversos, desde os que tradicionalmente estão associados à condição feminina e às artes domésticas como parteira, lavadeira, tecedeira, alfaiata, padeira, forneira, etc. como noutros mais invulgares em que partilham o universo masculino. É o caso da profissão de Algebrista, antepassada do endireita e do moderno ortopedista, definida como o ofício de “consertar brasos e pernas e outros quaisquer membros desmanados e bem assi para curar feridas simplises, chaguas, apestemas, entrasas leves que não forem de má qualidade”.

Nota: A Ladeira da Forca é hoje designada, a meu ver mal, por Escadas de Santa Justa; a Ponte de Água de Maias refere-se à ponte que existiu onde agora está a Rotunda da Casa do Sal.

França, P. 1997. Catálogo. Exposição Artes & Ofícios de Outras Eras. 27 Set. a 17 Out.1997. Coimbra, Arquivo Histórico Municipal de Coimbra, Trabalho fotocopiado, pg. 2-4.

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por Rodrigues Costa às 11:28

Quinta-feira, 15.09.16

Coimbra: a Feira das Neves

Ao consultar no Arquivo Histórico Municipal de Coimbra as Vereações n.º 78, 1839-1842, encontrei a folhas 189, a seguinte notícia:

Os Arrematantes da obra da Fonte da Feira das Neves pedem se lhes dê o primeiro pagamento do seu contracto. A Câmara ordenou se lhe passasse mandado conforme determinado no auto d’adjudicação. Da mesma ata consta, ainda, o pagamento de 18$333 rs. aos referidos Arrematantes.

 

Ora a Feira das Neves era do meu total desconhecimento, bem como de outros Estudiosos das coisas de Coimbra. Tendo solicitado a ajuda da Dr.ª Paula França, arquivista do AHMC, a qual tendo pesquisado o assunto me transmitiu as seguintes informações:

. No trajeto da antiga estrada real junto a Trouxemil, identificou uma capela da Senhora das Neves que tinha uma fonte próxima;

. Que em pesquisas anteriormente realizadas se tinha apercebido que na época da deliberação a Câmara estava a ser chamada a fazer reparações na estrada real, na zona da sua responsabilidade.

 

A partir destas informações foi possível obter junto de pessoas idosas de Enxofães e de Trouxemil as seguintes informações complementares:

– A Capela de Nossa Senhora das Neves está localizada no lugar mais elevado de Trouxemil, com uma vista magnífica para sul, à qual se acede por uma rua estreita, a meio da rua principal da povoação.

Junto à capela existe um amplo terreiro que já serviu como campo de futebol e que hoje está amplo, existindo um polidesportivo ao fundo do mesmo.

A festa de Nossa Senhora das Neves realiza-se, anualmente, a 5 de Agosto.

 

– Naquele local realizava-se, desde tempos remotos, a Feira das Neves a qual tinha grande relevância para os povos gandareses, a norte do local.

A Feira funcionou até uma data indeterminada quando, por motivo de uma peste do gado bovino, foi proibida a circulação deste naquela área.

 

– Aproveitando esse facto a população de Barcouço – freguesia contígua à de Trouxemil, para norte, e que já pertence ao concelho da Mealhada e distrito de Aveiro – começou a realizar a feira no local de Santa Luzia, pois o mesmo não estava abrangido pelo referido embargo.

E assim se mantem a Feira de Santa Luzia até aos dias hoje, com o consequente desaparecimento da Feira das Neves.

 

Resumindo: A Feira da Neves realizava-se em Trouxemil, logo no espaço geográfico do concelho de Coimbra e era relevante para a economia não só deste Concelho, bem como para as populações da região gandaresa.

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por Rodrigues Costa às 12:46

Terça-feira, 13.09.16

Coimbra: o tempo de gestação de Portugal 3

O facto de Afonso Henriques em 1128 ter derrotado a mãe em São Mamede pode não ter acontecido apenas com o assentimento dos magnates portucalenses que o promoviam, nos quais o arcebispo de Braga se incluía, mas ainda com o apoio tácito ou talvez mesmo formal do próprio rei de Leão, Afonso VII, com quem ... numa primeira fase do seu domínio, parece ter mantido excelentes relações ...pelo menos antes da mudança do infante para Coimbra, em 1130, não se detetaram hostilidades ou problemas.

... durante o reinado de Afonso Henriques, parece-me inegável a influência determinante que os arcebispos e o seu cabido tiveram na nomeação e no tipo de chanceleres do rei. Talvez não seja uma coincidência que a maioria destes homens provenha do cabido da sé de Braga, e que possam ser relacionados de uma forma ou de outra com os meios crúzios de Coimbra, o mosteiro em cuja fundação e vida o arcebispo João Peculiar teve papel tão destacado ... pelo menos cinco dos chanceleres de Afonso Henriques saíram do cabido de Braga, e muitos dos seus notários e escribas tinham sido recrutados nos meios conimbricenses, na sé de Coimbra e no Mosteiro de Santa Cruz.

... parece provado, que os documentos da chancelaria eram guardados em Santa Cruz de Coimbra nesta primeira fase, a hipótese de que, embora os arcebispos de Braga não exercessem a chancelaria régia diretamente, deveriam ter em Santa Cruz de Coimbra um reduto de influência considerável.

Coimbra é sem dúvida o ponto focal do reinado de Afonso Henriques, quer por ser o núcleo urbano para onde o jovem infante vai transferir o centro de ações quer pelo que representa culturalmente e intelectualmente, na confluência de uma fortíssima tradição moçárabe com os representantes das novas correntes filosóficas e religiosas, encarnados nos cónegos da sé, nos crúzios de Santa Cruz de Coimbra e na influência crescente dos cistercienses de Alcobaça.

Branco, M.J. Antes da independência de Portugal. In Portugal e Espanha. Amores e desamores. Volume I. Coordenação de Matos, A.T., Costa, J.P.O. e Carneiro, R. 2015. Lisboa. Círculo de Leitores. Pg. 84, 80, 90 e 91, 93

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por Rodrigues Costa às 13:33

Quinta-feira, 08.09.16

Coimbra: o tempo de gestação de Portugal 2

Na verdade, algo já deveria estar mal entre o rei (D. Afonso VI de Leão) e o genro Raimundo, pelo menos em 1095, pois nesse ano o rei desloca-se em pessoa aos confins meridionais do condado, onde, quer em Lisboa e Santarém, quer em Coimbra, o encontramos a gerir o território de forma direta, ultrapassando a autoridade e a jurisdição que ele mesmo concedera a Raimundo para esse efeito. Pouco depois, o rei desmembrava a parte meridional do condado que dera a Raimundo em 1090 e depois em 1094, retirando-lhe a parte que ficava entre o Minho e o Tejo e recriando desse modo as fronteiras dos anteriores condados portucalense e conimbricense dos séculos IX e X, que agora entregava a Henrique, com a cedência hereditária do domínio sobre as regiões dos antigos condados portucalense e conimbricense, o que lhe deve ter dado largos poderes senhoriais que geriu ao modo de qualquer senhor «feudal»

... À distância a que estamos, é possível entender que Teresa não soube jogar as suas redes de aliança com a mesma habilidade do marido, e acabou por fazer perigar uma considerável parte do que Henrique conseguira assegurar para o Condado Portucalense como a posse de Coimbra e Porto a Braga, a independência perante a Galiza, a guerra de fronteira com os muçulmanos e, sobretudo, o apoio dos nobres portucalenses ... Ausente do condado na maioria do tempo que decorreu entre 1112 e 1116, encontramo-la envolvida nas questões sucessórias travadas na Galiza ... sofrendo duas investidas da irmã na fronteira galega, aliando-se com Pedro Froilaz no cerco a Urraca em Sabroso em 1116 ... Estas tréguas, que durariam três anos, obrigaram Teresa a suspender as suas ambições e a regressar ao condado ... a debilidade de que padeciam as forças militares portugueses numa altura em que os almorávidas redobravam em agressividade e força e em que Coimbra sofreria um dos mais perigosos cercos desde a conquista de D. Fernando I.

... Desde 1117, Teresa começou a usar o título de rainha e continuaria a sua política pró-galega ... nomeação de Fernão Peres de Trava como governador de Coimbra e Porto e da inoportunidade da maioria das ocasiões em que decidiu hostilizar a irmã Urraca ... resultando a maioria das suas investidas em perdas de território.

... A necessidade de afastar Teresa do Condado Portucalense para garantir a estabilidade do mesmo e até a pacificação na Galiza e em Leão deveria parecer cada vez mais evidente ... Teresa governou como senhora do Condado Portucalense desde o ano da morte de Henrique até ao seu afastamento forçado, em 1128, quando uma aliança entre os nobres destacados do seu condado, os eclesiásticos mais relevantes, o seu único filho de Henrique, Afonso Henriques e, muito provavelmente, o então já rei de Leão, Afonso VII, apoiaram uma ação militar que derrotaria a condessa-rainha e a afastaria do poder.

Branco, M.J. Antes da independência de Portugal. In Portugal e Espanha. Amores e desamores. Volume I. Coordenação de Matos, A.T., Costa, J.P.O. e Carneiro, R. 2015. Lisboa. Círculo de Leitores. Pg. 43 e 44, 54 a 56, 61 e 62

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por Rodrigues Costa às 09:09

Terça-feira, 06.09.16

Coimbra: o tempo de gestação de Portugal 1

A opção mais fácil seria tratar apenas o Condado Portucalense, desde o momento em que o imperador das Hispânias, Afonso VI (1096-1109), atribuiu o governo desse território a seu genro, Henrique de Borgonha, em 1096 ... Mas na verdade, a anterior ocupação do território e a sua perceção como unidade sociopolítica de contornos específicos tem origens em tempos mais antigos, remontando às presúrias dos séculos IX e X e à forma como as famílias a quem o território foi concedido para povoar e aquelas a quem a gestão «direta» desse mesmo território seria entregue viriam a relacionar-se, quer entre si, quer com o poder real asturo-leonês.

... Os tempos em que Portucale e Coimbra eram apenas terras concedidas em presúria a condes curialistas já nos alertam para um relacionamento muito próximo destas famílias com a monarquia vigente, dominando a região e os que nela se encontravam, consolidando unidades políticas embrionárias nas quais o reino de Leão viria a decalcar os futuros condados.

... A política de Afonso III parece ter encontrado os seus primeiros ensaios nas regiões da Galiza, Entre Minho e Douro e entre Douro e Mondego, provavelmente fruto da rapidez com que, nessas regiões, o esforço da conquista progredia no último quartel do século IX.

É assim que o encontrarmos, entre 868 e 878, acompanhando os progressos dos sucessos militares, a distribuir territórios de forma quase sistemática àqueles que virão a ser considerados os «fundadores» do domínio senhorial dos condados portucalense e conimbricense ... em 878, depois da conquista de Coimbra, entrega a região conimbricense a Hermenegildo Guterres, a quem se juntariam Godesteu, Ero e Diogo Fernandes, que acabariam, em conjunto, por marcar o condado conimbricense de forma indelével e por, união quase sistemática a mulheres da família de Vimara Peres, de Afonso Betotes e da monarquia asturiense, dominar muitos dos sucessos políticos daqueles anos, sobretudo os que se passavam junto da corte régia.

Este conjunto de famílias da alta nobreza dominaria consistentemente a região por quase século e meio ... Porto e Coimbra e as regiões circundantes assumiram então um papel importante como polos de atração de gentes, das populações vindas do Norte, num primeiro momento, e das que a eles se juntavam logo a seguir, chegadas do termo desses núcleos populacionais e suas regiões adjacentes.

A fundação de mosteiros e a dotação de igrejas constituíram outras importantes fontes de poder e de colonização.

... O crescente protagonismo destes nobres encontrou um dos seus expoentes máximos no envenenamento do rei Sancho I por Gonçalo Moniz, então conde de Coimbra e descendente de Hermenegildo Guterres ... as famílias condais de Coimbra acabaram por estabelecer alianças matrimoniais com as famílias de Entre Douro e Minho de tal maneira próximas que, fruto de acasos biológicos, acabam por predominar sobre as primitivas fundadores e aglomerar num só espaço de dominação social aquilo que começara por estar cindido em dois. O Condado Portucalense e o conimbricense, por força das alianças entre as famílias condais dos primitivos pressores, acabariam por se fundir insensivelmente num grande território dominado pelas mesmas famílias.

Branco, M.J. Antes da independência de Portugal. In Portugal e Espanha. Amores e desamores. Volume I. Coordenação de Matos, A.T., Costa, J.P.O. e Carneiro, R. 2015. Lisboa. Círculo de Leitores. Pg. 17 a 19, 28 a 32

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por Rodrigues Costa às 11:01

Quinta-feira, 01.09.16

Coimbra: Chafarizes e fontes que desapareceram 2

Chafariz da Feira

Estava situado na praça de S. Bartolomeu, conforme se pode ver ... na vista panorâmica da cidade de Coimbra, de Jorge Braunio ... onde aparece com a designação de “fons fori” ... Foi mandado construir ... em 1573, por carta régia de el-rei D. Sebastião ... No ano de 1747, este Chafariz beneficiou da limpeza e desobstrução dos canos ... No ano de 1864 ... voltou a ser reformado, tendo sido adicionadas na frontaria as armas da cidade e a data de 1864. Manteve o número de três bicas e o depósito de água suficiente para acudir aos incêndios.

 

Chafariz da Sé Velha

Terá sido construído no adro da igreja ... junto ao ângulo noroeste, onde existia um deposito provisório de águas. A transformação efetuada nesse depósito, no ano de 1573 ou 1574, teria dado lugar ao chafariz de uma só bica, em cumprimento da ordenação na carta régia ... de el-rei D. Sebastião ... Cerca de sete anos depois da sua edificação ... foi beneficiado passando a dispor de duas bicas, tendo a ladeá-lo dois brasões ... foi modificado, para ampliação do depósito e retirada de uma bica e, em 1898 foi recuado

 

 Fonte dos Bicos

O nome estava relacionado com a arquitetura singular das suas pedras quadrangulares cortadas em pirâmide formando um bico ... terá sido mandada construir ... quando o rei D. João III fixou definitivamente a Universidade em Coimbra, no ano de 1537. O Marco da Feira, na zona norte da Alta, servia de terraço à Fonte dos Bicos, que ligava o lado nascente do Largo da Feira à Ladeira do Marco da Feira, depois Rua dos Estudos ... O Marco da Feira nasceu da cobertura da cisterna que alimentava a Fonte da Feira.

 

Lemos, J.M.O. 2004. Fontes e Chafarizes de Coimbra. Direção de Arte de Fernando Correia e Nuno Farinha. Coimbra, Câmara Municipal de Coimbra. Pg. 163, 166 e 167, 182

 

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por Rodrigues Costa às 22:49


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