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De uma coisa podemos falar, é que a resposta dos estudantes de Coimbra foi quase sempre a uma voz. A estreita união entre os elementos da sociedade académica, para o melhor e o pior, levava sempre a uma resposta unívoca.
Se alguém ofendia um ‘saca de carvão’, ofendia toda a Academia e a resposta era dada a uma voz; se alguém necessitava de apoio e solidariedade, corria a palavra e toda a Academia participava de qualquer ação benévola e filantrópica. Iguais entre iguais, unidos mais do que irmãos, os estudantes de Coimbra formavam um todo.
... A peculiaridade característica das instituições coimbrãs torna-as muito diversas de outras quaisquer instituições que lhe estejam ou não próximas em termos de identidade. Se se disser – ‘andar à lebre’; ‘ir ao prego’; ‘é da praxe’; ‘como manda a tradição’; ‘é uma república’; etc. – em Coimbra, têm todas estas expressões uma carga simbólica e valorativa.
Carminé Nobre ... diz-nos ... “A praxe é uma das tradições da Academia Coimbrã. Vão longe, felizmente, os tempos do ‘canelão’ e de outras manifestações praxistas que por vezes chegavam a atingir momentos de violência que degeneravam em graves conflitos académicos, sem resultados honrosos para a Capa e Batina.
Nesses tempos, Coimbra era o terror para os ‘bichos’ e ‘caloiros’ e a própria ‘carta de alforria’ do ‘semiputo’ era estritamente condicionada às leis praxistas.
... O ano letivo de 1928 iniciou-se com uma ofensiva dos praxistas que a todo o transe, queria manter essa tradição académica.
A ‘caça’ ao ‘caloiro’ e ao ‘bicho’, depois das horas regulamentares era feita por cardumes de troupes que se espalhavam por toda a cidade, batendo os lugares ‘estratégicos’ ... Nesse Outubro, porém a praxe começou a tomar aspetos conflituosos, de certa gravidade, porque aos grupos praxistas opunham-se estudantes anti-praxistas.
No fundo era uma questão política, que se debatia entre republicanos e integralistas e no meio dos quais a praxe era ‘um motivo’ ... Todo este movimento praxista e anti-praxista foi acompanhado por alguma bordoada pelas ruas de Coimbra. Na Alta, na Baixa, à porta dos cinemas e nos bairros mais afastados deram-se conflitos entre estudantes que algumas vezes tiveram o seu epílogo no Banco dos Hospitais.
... Em 1935, surgiu novo conflito com a ‘revolta dos bichos’.
Em Outubro desse ano, o estudante de Letras, Zé Barata ... desencadeou uma ‘ofensiva’ troupista que estabeleceu o pânico nas hostes do liceu José Falcão ... Esta ‘ofensiva’ criou exaltações de independência por parte dos ‘oprimidos’ e o grito de revolta surgiu, forte, teso e guerreiro ... Na Calçada, a ‘troupe’ do Zé Barata enfrentou essa manifestação, que da Alta partiu, aos gritos de ‘abaixo a tirania’... Este ‘choque’ provocou uma tremenda zaragata, na qual tomaram parte, também, estudantes universitários anti-praxistas, que não hesitaram em dar o corpo ao manifesto, na defesa do ponto de vista dos ‘bichos’
Ribeiro, A. 2004. As Repúblicas de Coimbra. Coimbra, Diário de Coimbra. Pg. 87 a 93
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