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A' Cerca de Coimbra



Terça-feira, 31.05.16

Coimbra, Teatro nas igrejas e mascarados na rua

No seu «ajuntamento» de 3-V-1556, a Câmara de Coimbra aprovou uma postura proibindo que qualquer pessoa andasse desconhecida com máscara ou rebuço nesta cidade, «salvo nas procissões ordenadas pela cidade». Mas as pessoas que nesses dias andassem embuçadas ou com máscara nem teriam armas ou paus nem coisa com que pudessem fazer mal, nem profeririam palavras «desonestas». E, acabada a procissão, não mais andariam com as tais máscaras e rebuços. A infração de qualquer destes preceitos dava lugar à condenação na pena de dez cruzados, pagos da cadeia.

... Por lei ou ordenação do rei D. Sebastião, de 5-V-1565, foi determinado que se não fizessem representações nas igrejas, nem se trouxessem máscaras nas procissões.

Estas e outras proibições fizeram-se de forma expressa nas constituições do bispado de Coimbra, de 1591... determinou-se que na procissão do «Corpus Christi» não houvesse «representação alguma desonesta, nem mulheres que representassem santos ou outras invenções». ... «Somos informados – lê-se aí – que em algumas igrejas e ermidas, em as vigílias e dias de orago delas e outros dias de festa, se representam autos e farsas e outros jogos profanos; e porque, além de ser isto proibido, é coisa de muito escândalo e de se não ter às igrejas e lugares a reverência devida, defendemos a todas as pessoas eclesiásticas e seculares, sob pena de excomunhão e dez cruzados para a fábrica das mesmas igrejas, que nelas ou nas ermidas, se não representem farsas, autos, nem comédias, ainda que sejam representações pias e histórias de santos, de dia nem de noite; nem haja nelas jogos, danças ou cantigas profanas. E aos priores, reitores e curas mandamos, sob pena de dois mil réis, que pagarão do Aljube, que não consintam que nas igrejas se façam as ditas representações, jogos ou danças, ou cantigas profanas, nem se juntem nelas leigos a cantar, danças ou comer, ou para fazer outros aos profanos».

A comparação destas constituições com as... de 1521 faz crer que muito progrediram os abusos do primeiro para o último quartel do século XVI.

... «Chegou-se a abusar tanto dos autos e comédias sagradas que, por exemplo nos autos de Santa Bárbara e Santa Catarina, não tiveram dúvida os seus autores de representar no teatro a administração do sacramento do batismo.

... Mas a limitação dos espetáculos públicos em Coimbra, durante o último quartel do século XVI e posteriormente, obedeceu não só a razões de ordem religiosa, mas a conveniências políticas, com o propósito de ocasionarem perturbações na vida da Cidade.

Loureiro, J.P. 1959. O Teatro em Coimbra. Elementos para a sua história. 1526-1910. Coimbra, Câmara Municipal. Pg. 49 e 51, 55 e 56

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por Rodrigues Costa às 09:40

Quinta-feira, 26.05.16

Coimbra: Teatro na Universidade

Por alvará de 28-IX-1546, o rei (D. João III) determinou à Universidade que os lentes de terceira e de quarta regras de latinidade fossem de então em diante obrigados, em cada ano, a fazer representar cada um sua comédia nas escolas, nos lugares e tempo que o reitor ordenasse. Cada um desses lentes teria quinze cruzados para a ajuda das despesas que nas comédias houvessem de fazer, os quais lhes seriam pagos da Arca da Universidade.

E, por alvará de 16-X do mesmo ano, determinou que o lente de gramática da mais alta regra que se lia no Colégio de S. Jerónimo fosse obrigado a fazer e representar, também em cada ano, uma comédia nas escolas.

... Assim surgiu de direito o «teatro escolar» em Coimbra, de facto nascido um pouco antes, com a representação de tragédias em 1542, não devendo ser estranha à sua criação a influência exercida pela Universidade de Salamanca.

... Mas, nem essa influência salmantina seria necessária para explicar o relevante papel que o teatro passou a ter na vida colegial e universitária coimbrã, porque era de esperar que André de Gouveia, no juízo de Montaigne, o «maior principal de França», trouxesse para Portugal as práticas correntes nos colégios que com tanta glória ali dirigiu.

«Ora uma parte importante de educação nesses colégios era o «Teatro Escolar» porque constituía o complemento indispensável dos chamados estudos clássicos. Entre os candidatos a professores de humanidades eram preferidos aqueles que soubessem compor tragédias e comédias à maneira latina e os alunos não recebiam os seus diplomas sem provarem ter tomado parte com aproveitamento nesses exercícios».

Loureiro, J.P. 1959. O Teatro em Coimbra. Elementos para a sua história. 1526-1910. Coimbra, Câmara Municipal. Pg. 45 e 46

 

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por Rodrigues Costa às 10:11

Quarta-feira, 25.05.16

Coimbra e Gil Vicente

Tendo D. João III retirado com a corte para Coimbra em 1526 (por causa do terramoto), aqui veio Gil Vicente representar-lhe a farsa dos «Almocreves»... Lê-se na rubrica desta peça: «Esta seguinte farsa foi feita e representada ao... Rei D. João, o terceiro em Portugal deste nome, na sua cidade de Coimbra... Seu fundamento é que um fidalgo de muita pouca renda usava muito estado, tinha capelão seu e ourives seu, e outros oficiais, aos quais nunca pagava.»

«Com o terror da peste, D. João III foge de Almeirim para Coimbra, onde é recebido solenemente recitando-lhe a arenga ou oração de chegada Francisco de Sá, a quem o rei concedera a sua intimidade. Nestes festejos tomou parte Gil Vicente, representando a comédia «Sobre a divisa da cidade de Coimbra»... estando na sua muito honrada, nobre e sempre leal cidade de Coimbra. Na qual comédia se trata o que deve significar aquela Princesa, Leão, e Serpente, e Cálice, ou Fonte, que tem por divisa: e assim este nome de Coimbra donde procede, e assim o nome do rio, outras antiguidades a que não é sabida verdadeiramente sua origem. Tudo composto em louvor e honra da sobredita cidade. Feita e representada era do Senhor de MDXXVII.

... No mesmo ano de 1527 ainda Gil Vicente voltou a representar em Coimbra, mas agora a tragicomédia da «Serra da Estrela»... no parto da Sereníssima e mui alta Rainha Dona Catarina Nossa Senhora e nascimento da Ilustríssima Infanta Dona Maria, que depois foi princesa de Castela (futura mulher de Filipe II)

Loureiro, J.P. 1959. O Teatro em Coimbra. Elementos para a sua história. 1526-1910. Coimbra, Câmara Municipal. Pg. 43 a 44

 

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por Rodrigues Costa às 10:35

Quinta-feira, 19.05.16

Coimbra: a cerâmica aqui produzida 2

A cerâmica fabricada em Coimbra tinha na cidade e povoações circunvizinhas um mercado de certa importância. Porém, ele era insuficiente para absorver toda a produção, pelo que parte da louça aqui produzida ia para outras localidades das Beiras, Alentejo, Algarve, Ilhas, África Portuguesa, Espanha e Brasil. O seu transporte efetuava-se por via terrestre, fluvial e marítima.

Desconhecemos a quantidade e o valor da louça vendida em Coimbra e para fora. Admitimos, no entanto, que nas muitas lojas de venda deste artigo existentes na cidade – 60, em 1879 – fosse transacionada uma grande parte da louça produzida.

De acordo com as informações que chegaram até nós, a cerâmica expedida pelos fabricantes de Coimbra tinha boa recetividade noutros mercados, o que se ficava a dever ao reduzido preço e grande durabilidade. Para o norte de Espanha ia louça de Coimbra, assim como para Caminha, Porto, Lisboa e muitas outras terras. Se achamos exagerada a afirmação de que em Lisboa e Porto só se consumia louça grossa de Coimbra, já aceitamos perfeitamente que a presença desta se tornasse incómoda para os fabricantes e comerciantes daquelas cidades, especialmente pelo seu módico preço.

… a  progressiva introdução os mercados da faiança fina ou meia porcelana ia atrofiando a venda da faiança grossa … a cerâmica de barro vermelho viu-se verdadeiramente ameaçada e, pode dizer-se, aniquilada – na sua antiga organização – com a instalação de novas e mais modernas unidades, designadamente na Pampilhosa e no Cabo Mondego.

Os meios de transporte, por seu turno, apesar dos progressos de que foram beneficiando … apresentavam limitações de diversa ordem. A rede estradas, não obstante algumas beneficiações de que foi alvo a partir da Regeneração (1851), continuou a ser insuficiente para permitir as necessárias ligações, sobretudo com o interior … O caminho-de-ferro foi sendo instalado na região, mas lenta e deficientemente. A título de exemplo, veja-se o seguinte facto: ainda em 1905, o transporte de louça, de Coimbra para Viseu e seu distrito, era feito em carro de bois. É que, como o ramal do caminho-de-ferro de Viseu era de via estreita, tornava-se necessário fazer transbordo em Santa Comba Dão, o que obrigava as fábricas de Coimbra a terem ali empregados … «ficando por estes factos o transporte assim feito (em carro de bois) muito mais barato e commodo, ainda que mais demorado». E que dizer do assoreamento do Mondego – e da falta de água no mesmo em grande parte do ano – e do porto da Figueira da Foz, com todos os inconvenientes que daí advinham para a navegação?»

Mendes, J. A. Cerâmica em Coimbra nos finais do século XIX e inícios do século XX (Achegas para o seu estudo). In A Cerâmica em Coimbra. 1982. Coimbra, Comissão de Coordenação da Região Centro. Pg. 23 a 44.

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por Rodrigues Costa às 22:39

Terça-feira, 17.05.16

Coimbra: a cerâmica aqui produzida 1

Não é fácil conhecer as origens da atividade cerâmica em Coimbra, que certamente antecedeu a formação da própria nacionalidade. Documentos escritos referenciam-na em meados do século XII (1145) e começos do século XIII (1203 e 1213), podendo pois falar-se de uma tradição de mais de oito séculos.

Do período que decorre até ao século XV, são escassas as informações conhecidas, Posteriormente, a documentação com referências à cerâmica em Coimbra torna-se mais abundante, sendo possível avaliar mais facilmente o seu desenvolvimento. São marcos significativos o aparecimento da faiança e da profissão de pintor de louça. Quanto à faiança, julgamos datar-se os seus inícios – provados documentalmente – dos fins do século XVI … Baseamo-nos na alusão a Manuel Bernardes, «malgueiro de louça branca», que de acordo com a Sisa de 1599, pagava 400 réis. O ofício de pintor de louça aparece em vários documentos da primeira metade do século XVII. Na segunda metade deste, já a maior parte da louça expedida pela barra da Figueira provinha das fábricas de Coimbra, tendo-se depois (1701-1758) verificado um substancial aumento da saída da louçã coimbrã por aquele porto, a qual se destinava ao Algarve, aos Açores e Madeira e também à Inglaterra.

Mas foi no último quartel do século XVIII que a cerâmica da Lusa Atenas entrou num «período de incomparável brilho e actividade», como escreveu António Augusto Gonçalves. A ele ficaram indissociavelmente ligados dois nomes famosos: Domingos Vandelli e Manuel da Costa Brioso.

O primeiro fundou uma fábrica de louça no Rossio de Santa Clara (1784), vindo a criar um tipo de faiança característico, vulgarmente conhecido por «louça vandel», tendo-lhe sido concedidos privilégios diversos para a exploração da mesma.

… A ação do segundo, menos conhecida durante muito tempo mas não menos importante, foi posta em destaque por alguns estudiosos … Encontramos uma referência à fábrica da viúva de Manuel Jesus (?) Brioso, provavelmente descendente de M. Costa Brioso.

Mas não eram somente as fábricas de Vandelli e Brioso que então se localizavam em Coimbra, pois o seu número ascendia a 17, sendo 11 de louça branca e 6 de louça vermelha.

Como sucedeu em várias outras regiões do país com a indústria em geral, nas primeiras décadas do século XIX, a cerâmica em Coimbra sofria os efeitos da concorrência estrangeira – quanto à louça de melhor qualidade – e das invasões francesas. Assim, das 14 fábricas existentes em 1813 – 9 de barro branco e 5 de barro vermelho -, 6 estavam em decadência, 5 estacionárias e só 3 progressivas. De notar que a mais afetada era a cerâmica de barro vermelho, visto nas 6 fábricas em decadência estarem incluídas as 5 desta louça.

A situação descrita pouco terá melhorado durante mais de uma década … em 1825 principiou a notar-se alguma tendência para aperfeiçoamentos, com a fundação de uma fábrica de faiança por Leandro José da Fonseca.

Mendes, J. A. Cerâmica em Coimbra nos finais do século XIX e inícios do século XX (Achegas para o seu estudo). In A Cerâmica em Coimbra. 1982. Coimbra, Comissão de Coordenação da Região Centro. Pg. 23 a 44.

 

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por Rodrigues Costa às 10:15

Sexta-feira, 13.05.16

O A’Cerca de Coimbra, um ano após o seu início

Cumpre-se hoje um ano sobre o dia 13 de Maio de 2015 em que iniciei a publicação regular, nos dias úteis, de entradas sobre temas relativos à nossa Cidade, neste meu blogue A’Cerca de Coimbra.

Entradas que têm vindo a ser por mim partilhadas nos blogues: “Cromos”, Personalidades e Estórias de Coimbra; Coimbra Antiga; e Coimbra Antiga Coimbra Moderna.

Mais recordo que, passada uma semana sobre a referida data, tempo considerado como o de um necessário período experimental, depois de explicar as razões pessoais que me tinham levado à criação do blogue, afirmei que gostaria de ter a opinião dos eventuais leitores sobre o trabalho que me propunha realizar, o qual foi assim caracterizado: recolher referências à cidade do Mondego existentes em obras publicadas e divulgá-las utilizando os recursos que as novas tecnologias disponibilizam.

Apelei, então, à participação de todos aqueles que o desejassem, na observância das seguintes regras essenciais:

- Respeito escrupuloso pelo tema único do blogue, delimitado ao período que vai dos tempos iniciais até ao final do século XX;

- Entradas tão breves quanto possível;

- Indicação clara e expressa das fontes utilizadas;

- Respeito pelas regras da propriedade intelectual, nomeadamente, no que concerne à utilização de imagens.

Tudo, se enquadrando na procura do objetivo fundador: o da divulgação da história de Coimbra.

Deste modo, à primeira entrada que levou o título Aeminium é Coimbra, seguiram-se mais 255 entradas, as quais originaram algumas partilhas, alguns “gosto” normalmente sempre das mesmas Pessoas, 6 comentários e zero reações e participações.

Está, então, na hora de fazer uma reflexão sobre o caminho percorrido.

Reflexão que me leva a concluir que não obstante algumas palavras amigas que pessoalmente me foram transmitidas, os objetivos pretendidos não estão a ser atingidos pois a adesão, para além do muito reduzido número de Pessoas que habitualmente leem o que tem sido publicado, é bastante diminuta.

Como será fácil de compreender o ritmo de publicação a que me propus significa a exigência de um elevado ritmo de trabalho na seleção e preparação das entradas. Trabalho que embora me dê prazer e que eu próprio decidi, necessitava do ânimo dos seus eventuais leitores. O referido reduzido número destes, leva-me a concluir que o tema central do que venho publicando, só interessa a um número muito restrito de Pessoas.

Assim, é o respeito por esse número restrito de Pessoas que me leva a não tomar a decisão talvez mais ajustada – a do encerramento do blogue – e a optar, pelo menos para já, pela redução do número de entradas para duas por semana, em princípio às 3.ªs e 5.ªs feiras.

É evidente que mantenho e reforço o apelo inicial para a participação na atividade do blogue de todos aqueles que o desejem.

Tudo isto na certeza de que me vou continuar a dedicar, enquanto tiver força e jeito, a projetos que tenham em vista a divulgação da história da Cidade em que nasci e de que tanto gosto

Com a estima, do

Rodrigues Costa

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por Rodrigues Costa às 10:04

Sexta-feira, 13.05.16

Coimbra: As plantas em azulejo da reconstrução pombalina da Universidade

Notáveis exemplares de Cerâmica Coimbrã … Trata-se do revestimento azulejar, setecentista, da época pombalina, de uma sala do antigo Paço Episcopal, edifício onde … 1911 se instalou o Museu Nacional Machado de Castro.

… Representam as cartelas destes painéis de azulejos os alçados dos edifícios universitários mandados fazer aquando da Reforma do Marquês de Pombal … são importantes estes azulejos: para a história do Paço Episcopal … para a história da Universidade, para a história de Coimbra, para a história da Arte.

… Situa-se a sala onde se encontram estes azulejos no 1.º andar do Museu, no ângulo Nascente-Norte do edifício antigo … Esta sala seria de «curiosidades» aquando da instalação do Museu.

… Havia numa sala do paço, feitos em azulejos todos os planos de todos os edifícios que mandou edificar em Coimbra para Universidade o marquês de Pombal …

… Estes azulejos, obra portuguesa, obra das olarias de Coimbra valiam para a história da arte em Portugal, eram um documento histórico de uma grande reforma … Supunha-se já então que os desenhos dos edifícios dos azulejos tinham sido copiados dos próprios projetos que serviram às obras pombalinas.

… Os desenhos das plantas e alçados dos vários edifícios da reforma pombalina são da autoria do então Tenente-coronel engenheiro Guilherme Elsden, o inglês diretor das obras da Universidade de Coimbra.

Encontram-se colocados em nove painéis de azulejos …

… a planta n.º IV do álbum representa a «Elevação Geométrica do Edifício destinado para as Sciencias Naturaes – Lado principal»…

… a planta n.º 5 representa o «Prospecto da obra nova do Museu, e edifício velho do Hospital na frente do lado septentrional…

…a planta n.º VII intitula-se «Spaccato cortado pelo meio de todo o edifício, e olhando para a frente principal» …

… a planta n.º XI designa-se «Elevação Geométrica do Laboratório Chymico. Lado principal» …

… na planta n.º XIX … representa-se a «Eelevação Geométrica da frente principal do Observatório Astronómico da Universidade de Coimbra».

… a planta n.º XXVIII, com a data de 1773, representa a Elevação Geométrica do Cabido da Sé.

 

Figueiredo, M.P. Da Cerâmica Coimbrã. Uns notáveis azulejos do Museu Nacional de Machado de Castro. In A Cerâmica em Coimbra. 1982. Coimbra, Comissão de Coordenação da Região Centro. Pg. 53 a 60.

 

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por Rodrigues Costa às 10:01

Quarta-feira, 11.05.16

Coimbra e as invasões francesas 6

Não tardou, porém, a desencadear-se a terceira invasão. Um exército mais poderoso que os anteriores, com um efetivo de 85.000 homens … atacou a nossa praça de Almeida cercando-a a 15 de Agosto de 1810, a qual teve de render-se em consequência de uma explosão de pólvora que arruinou as suas defesas.

Esse desastre forçou o exército anglo-luso a operar uma retirada estratégica, só se dispondo a combater nas alturas do Buçaco, onde se travou batalha a 27 de Setembro, com êxito para o exército anglo-luso, pois que o exército invasor não conseguira desaloja-lo das suas posições

… os franceses … resolveram contornar a serra e meter em direção à estrada de Lisboa-Porto, indo atingi-la na povoação de Avelãs de Caminho, uma vez apercebidos disso, os anglo-lusos operaram uma retirada sobre Coimbra … e entraram em Coimbra a 30 de Setembro, sempre sob o comando de Wellington … Pouco se demorou contudo nesta cidade, prosseguindo afanosamente na sua retirada, para as famosas linhas de Torres Vedras.

A 1 de Outubro entrou Massena em Coimbra, aqui praticando o exército francês os vandalismos habituais … não foi possível obstar a que os franceses na sua saída para Lisboa incendiassem algumas casas da Calçada … e entre elas a Casa da Câmara da Praça, no dia 3 de Outubro de 1810 … dirigiram-se à quinta da Cheira … e lançaram fogo à casa da residência do Doutor Tomé Rodrigues Sobral … Este incêndio foi o produto de um ato de vingança pelo papel representado pelo Doutor Sobral na expulsão dos franceses em 1808, fabricando pólvora.

… Pouco se deteve Massena em Coimbra e partiu para Lisboa, tendo ali deixado uma guarnição de certo vulto.

«O coronel inglês Trant, que na ocasião da batalha do Buçaco havia ficado do lado do Porto com algumas forças, tratou de surpreender a guarnição dos franceses em Coimbra. Para isso marchou com um pequeno corpo de exército, quase todo constituído de milícias, em que entrava o regimento de milícias desta cidade, e no dia 7 de Outubro entrou nesta cidade com as suas forças. E tão bem combinada e executada foi a operação que, com escassa resistência, aprisionaram um corpo de cerca de 5.000 franceses, na sua quase totalidade alojado no Mosteiro de Santa Clara. Os prisioneiros foram remetidos para o Porto, e custou salvar-lhes as vidas, dado o estado de indignação popular e exaltação dos ânimos em face dos malefícios perpetrados pelos cruéis invasores».

Desta feliz empresa resultou não mais o exército francês ter voltado a Coimbra.

Loureiro, J. P. 1967. Coimbra no Século XIX. Separata do Arquivo Coimbrão, Vol. XXIII. Coimbra, Câmara Municipal de Coimbra. Pg. 73 a 76

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por Rodrigues Costa às 10:00

Terça-feira, 10.05.16

Coimbra e as invasões francesas 5

A 26 de Junho de 1808 …alistaram-se num batalhão académico os estudantes que ainda se encontravam em Coimbra.

… No dia 28, um destacamento de 15 estudantes com um furriel, saiu de Coimbra para fazer aclamar o príncipe regente em Pombal e Leiria, tendo prestado, com o auxílio do povo, relevantes serviços nessa expedição.

… Com muita valentia – segundo se lê em fidedigna fonte de informação – puseram cerco ao forte da Nazaré, tomado aos franceses, fazendo 50 prisioneiros.

... «Enquanto o exército anglo-luso marchava contra os franceses, ficou a brigada académica – caçadores, cavalaria, artilharia e artífices – de guarnição a Coimbra, por ser um ponto importante que convinha manter bem defendido…»

… No princípio de Agosto ainda de 1808, chegou à praça de Almeida, o batalhão académico organizado em Coimbra. E, a 24 desse mês, expediu o marechal Beresford, de Castelo Branco, a seguinte ordem do dia:

«O marechal comandante em chefe do exército, querendo dar descanso à parte do corpo académico de linha, que se acha presentemente em armas, e que tem servido depois da última invasão dos franceses com um patriotismo, um desinteresse e uma vontade que lhe fazem a maior honra, deseja que o corpo passe, para depositar as suas armas, a Coimbra, para que aí estejam prontos, se o inimigo tentar ainda a invasão deste reino, não duvidando que a mesma lealdade ao seu príncipe e amor da pátria, que têm dirigido este corpo, o reanimarão para tornar às armas. O marechal deseja que todo este corpo, que serviu debaixo das ordens do coronel Trant sobre o Vouga, e depois no Porto, que marchou voluntariamente para as fronteiras, receba a sua aprovação e agradecimento por seus serviços.

… Por aviso régio de 11 de Outubro seguinte, foi concedido perdão de ato aos estudantes da Universidade, a pedido das diferentes Faculdades, em atenção aos distintos serviços que haviam prestado os estudantes que se alistaram, e ao valor de patriotismo que desenvolveram.

Nota: Perdão de ato em linguagem atual significaria passagem administrativa.

Loureiro, J. P. 1967. Coimbra no Século XIX. Separata do Arquivo Coimbrão, Vol. XXIII. Coimbra, Câmara Municipal de Coimbra. Pg. 58 e 59, 64 e 65

 

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por Rodrigues Costa às 20:49

Segunda-feira, 09.05.16

Coimbra e as invasões francesas 4

A 25 de Junho de 1808, saiu de Coimbra em direção à Figueira … um destacamento de 40 voluntários, na sua quase totalidade estudantes, sob o comando de um estudante da Universidade e sargento de artilharia, de nome Bernardo António Zagalo, com o fim de se apoderar do Forte de Santa Catarina.

Zagalo ordenou … que este destacamento … tomasse pela margem esquerda do Mondego, enquanto ele, com quatro cavaleiros seguia pela margem direita … Por toda a parte onde passaram se aclamou o príncipe regente, com repiques de sinos e inúmeros vivas, descobrindo-se as armas reais, onde se encontravam ocultas.

Uma vez juntos em Montemor-o-Velho, prosseguiram na sua caminhada durante a noite, chegando à Figueira às 7 horas da manhã, acompanhados por cerca de 3.000 homens das ordenanças, armados de piques, foices e lanças.

O sargento Zagalo determinou o ataque da vila por duas divisões … Aprisionaram 11 franceses, que andavam fora do forte, e puseram sentinelas à porta do governador.

Encaminharam-se seguidamente para o forte, com o fito de obrigarem a guarnição a render-se pela fome … Mas, adiantando-se o povo temerariamente … o sargento Zagalo surgiu à sua frente e obrigou-o a retroceder.

Nesse momento, porém, os franceses dispararam mosquetaria e uma peça de artilharia sobre o povo que, avisado a tempo, se prostrou no chão, ninguém tendo sido atingido.

… como se estabelecera rigorosamente o cerco … o sargento Zagalo intimou os franceses a renderem-se … ao que o comandante, que era um tenente de engenheiros português, declarou que não podia render-se em virtude do perigo em que colocaria a sua família, que se encontrava em Peniche, em poder dos franceses.

Por esse motivo prosseguiu o cerco e, no dia 17 … recebeu o sargento Zagalo ordem do governador de Coimbra para regressar imediatamente a esta cidade.

Como, porém, desejava terminar satisfatoriamente a empresa a que metera ombros, propôs ao comandante do forte que se entregasse, podendo seguir com a sua gente para Peniche, levando espingardas e mochilas, sem pólvora nem balas.

Aceite a condição … descarregaram-se as espingardas e os franceses foram embarcando para atravessar o rio e tomarem o rumo de Peniche.

O povo, porém, não tendo aprovado esta convenção verbal, foi examinar as cartucheiras dos franceses, descobrindo mais de 20 cartuchos em cada uma, ficando em consequência todos prisioneiros, além de dois tenentes

… A bandeira portuguesa foi arvorada no forte, com salvas de artilharia … Posto isto, seguiram para Coimbra, trazendo consigo os prisioneiros, as suas armas e cinco peças de artilharia para defesa da cidade.

Loureiro, J. P. 1967. Coimbra no Século XIX. Separata do Arquivo Coimbrão, Vol. XXIII. Coimbra, Câmara Municipal de Coimbra. Pg. 57 e 58

 

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por Rodrigues Costa às 09:06

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