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A' Cerca de Coimbra



Quarta-feira, 13.04.16

Coimbra: A higiene pública ou a falta da mesma

A rua era, na sociedade do Oriente medieval, entendida e vivida como uma extensão natural da casa. Um espaço público que os particulares tendiam frequentemente a privatizar, prática tanto mais grave quanto mais estreita, sinuosa e íngreme fosse a rua em questão o que, de resto, sucedia na esmagadora maioria dos casos.

Do alvorecer ao toque das Trindades, em que o tanger do sino anunciava o recolher obrigatório, a rua fervilhava de movimento ... O mesmo se passava em Coimbra onde “se faziam muitos furtos de noite e porque é cousa deshonesta e de que os homens não têm necessidade haverem de estar depois do sino corrido à sua porta, e por se evitarem os maus azos, acordaram (os vereadores) que toda pessoa se recolha”

... à porta de casa, na soleira, num degrau ou no alpendre, desenrolavam-se inúmeras atividades ... As posturas municipais de Coimbra proibiam “maçar linho em ruas correntes” bem como lançá-lo “nos adros das igrejas estendido para se amanhar”, prova de que era um hábito comum.

... Presença constante eram os animais que cada vizinho criava. Galinhas, patos e porcos vagueavam livremente pelas ruas ... Também em Portugal, os regulamentos municipais tendem a restringir a criação de porcos no interior da cidade ... Em Coimbra não era consentida a sua presença pelas ruas da cidade «pela muita sujidade que fazem»

... Para a rua, onde já se acumulavam dejetos vários, lixos, excrementos de animais e até animais em putrefação, vertiam-se diariamente as águas domésticas, os conteúdos dos "camareiros" ... É o que se pode inferir pelas posturas municipais (coimbrãs): “quando quer que pelas ruas e praças se acharem bestas, cães, gatos, aves mortas e quaesquer outras coisas sujas e fedorentas”

... Em 1525, era D. João III quem determinava a limpeza de um monturo em Coimbra, lembrando que na cidade haviam falecido trezentas e setenta e três pessoas.

... “considerando como muitas pessoas no tempo das chuvas e enxurradas grandes deitam (em Coimbra) de suas casas nas ditas enxurradas muitas sujidades de esterco, palha  com que os canos da cidade entupem donde se recebem muitas perdas”

... Em Coimbra, um dos espaços destinados à recolha do lixo situava-se fora da Porta do Castelo, “em uma grande barroca que aí está ao fundo da calçada”

… Em Coimbra, a edilidade proíbe a qualquer pessoa fazer «os seus feitos na praça ou em ruas e quelhas públicas» sob pena de 30 reais, medida que não se aplicava a «meninos de quatro anos para baixo». O incumprimento das posturas era de tal ordem que nem a escada que dava acesso à Torre de Almedina, onde então se realizavam as sessões camarárias, era poupada da «descortesia que os homens e moços faziam em virem fazer seus feitos». Aí, porém, o castigo era proporcionalmente mais grave: mil reais e quatro dias de prisão se fosse homem, mancebo ou escravo, trezentos reais e dez dias de cadeia se fosse moço».

 Trindade, L. 2002. A Casa Corrente em Coimbra. Dos finais da Idade Média aos inícios da Época Moderna. Coimbra, Câmara Municipal de Coimbra. Pg. 96 a 101

 

 

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por Rodrigues Costa às 10:02


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