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Almalaguês é sede da freguesia... Confinando com os municípios de Lousã e Miranda do Corvo, a freguesia participava, até há cerca de trinta anos, dos modos de vida e da economia tradicional... Deste facto resulta, em parte, a prevalência que a tecelagem manual ainda assume naquela área. É que "antigamente todas teciam". Teciam em casa para si e para as necessidades das famílias, teciam para as "senhoras de Coimbra", teciam e vendiam em feiras próximas mas, a maior parte tecia para os negociantes que abasteciam mercados regionais em carpetes, passadeiras, tapetes e mantas.
Alguns destes negociantes... montaram as suas próprias unidades fabris com teares mecânicos, quer na Lousã, quer em Miranda do Corvo. Almalaguês, alcandorada no cimo do monte, com problemas graves, à época, de acessibilidade, com pouca água, não teve condições para a emergência de processos semelhantes ou paralelos a este. Isoladas, as suas tecedeiras não só não induziram o aparecimento da indústria têxtil, como não tinham alternativa aos rendimentos propiciados pela tecelagem.
Até 1974 a freguesia viveu, por deficiência de transportes diários, um relativo isolamento, o que ajudou a preservar, com uma rara expressão, uma atividade como a tecelagem manual... Ancoradas numa forte tradição de manufatura e venda de carpetes, passadeiras e "atoalhados", com sólidas e variadas ligações ao mercado, as tecedeiras de Almalaguês mantiveram-se a trabalhar nos seus teares, até aos nossos dias.
Nem todas... Mas, independentemente da sua atual situação relativamente à tecelagem, em todas se deteta uma grande afetividade na sua relação com o tear, onde radica um forte sentimento identitário. Almalaguês, terra de tecedeiras, "das melhores".
Num abandono que, contudo, tende a generalizar-se, "há sempre alguém que resiste/ há sempre alguém que diz não" e algumas, de meia idade, mantém-se mesmo ao tear. Em 1980 ... 330 tecedeiras ... Em 1994/95 ... 135 tecedeiras na freguesia e 80 no lugar. ... em quinze anos (dos quais dez correspondem ao início da integração europeia) a freguesia perde 59,1% das tecedeiras recenseadas em Novembro de 1980.
... Nos finais dos anos setenta a Câmara Municipal de Coimbra foi pioneira no entendimento das artes tradicionais como um património de cariz popular, não autorado, que se tornava importante conhecer nos seus limites e potencialidades. O trabalho, em tão boa hora começado por Fernando Rodrigues Costa, não teve, no entanto, continuadores à altura e quando este abandonou o seu lugar de responsável pelos Serviços Municipais de Turismo muito se perdeu, daquele primeiro entusiasmo e da reflexão então encetada num memorável "Colóquio sobre Artesanato" realizado em Novembro de 1979, no Instituto Antropológico.
Mas, em 1978, quando se faz de 25 de Outubro a 5 de Novembro, no Edifício Chiado ... uma mostra da Tecelagem da Região da Almalaguês toda a reflexão sobre artes e ofícios tradicionais está ainda, por toda a parte, no seu início. Fortemente marcado por abordagens de carácter etnográfico o discurso que então se fazia sobre Almalaguês ignora a descrição dos motivos ou padrões que caracterizam e individualizam aquela produção, omite o nome das tecedeiras que lhe dão sentido, enquanto valoriza a descrição e nomenclatura de cada uma das peças do tear.
... Está por fazer o levantamento dos motivos de Almalaguês, mas é fácil entender que, a situação atual se caracteriza por uma grande variedade de possibilidades colhidas em fontes muito diversas. Como o "bordado" corresponde ao levantamento (borboto) do fio segundo uma quadrícula implícita à trama do tecido, em que aos fios "verticais" da teia, se contrapõem os fios "horizontais" propiciados pela lançadeira, torna-se fácil transpor para o trabalho do tear qualquer desenho assente numa quadrícula e vice-versa.
Pires, A. Tocar a vida, aos pedais do tear. (História de uma tecedeira). In Mestres Artífices do Século. 2002. Lisboa, Instituto de Emprego e Formação Profissional
A CARC, criada por Fernando Rodrigues Costa, diretor dos serviços municipais de Turismo, foi uma das primeiras entidades a promover artesãos e atividades artesanais com um programa coerente de iniciativas de que se destacam exposições temáticas – e lembro a de 1978, sobre a tecelagem de Almalaguês, ou a de 1980 sobre os Barros Pretos de Olho Marinho (com texto de Alberto Correia) - com artesãos a trabalhar junto dos visitantes, recriando as condições das respetivas oficinas.
Mas também a organização de um espaço de venda das produções artesanais mais emblemáticas, primeiro no edifício Chiado, posteriormente na Torre de Anto constituiu um domínio de intervenção da CARC, bem como o apoio à participação de artesãos em feiras, quer nacionais quer internacionais. Na ocasião, esse apoio, além de financeiro e logístico, exercia-se em domínios tão privados como a obtenção do consentimento dos maridos para que permitissem a ida das suas mulheres a ida à Feira de Vila do Conde ou outra qualquer feira.
… A Casa do Artesanato da Região de Coimbra, que apostava no associativismo dos artesãos, poderia ter significado para Coimbra e sua região o que o CRAT (Centro Regional de Artes Tradicionais, Porto) significou e significa para o Artesanato Português – e, nesse pressuposto, ainda houve contactos entre as duas instituições, trocando informações sobre estatutos, financiamento e modo de funcionamento. Todavia, acabou por se reduzir a um posto de vendas instalado na Torre de Anto, que durou até aos finais da década de 90 e todo o trabalho de estudo e reflexão iniciado logo em 1976/77 se gorou, apesar da dos seus auspiciosos começos em ligação a uma entidade universitária e mobilizando gente muito motivada e capaz.
Mas, em 1979, o tempo era ainda de esperança e os técnicos que se encontravam na “Casa do Artesanato da Região de Coimbra”, mostram bem, no “trabalho coletivo” que apresentaram no Colóquio, e a que chamaram “O necessário papel das Autarquias Locais na defesa do Artesanato” (páginas 57 a 61), o quanto acreditavam no projeto. De todos os nomes que poderão ter estado ligados à CARC é de elementar justiça mencionar o de Berta Duarte que, sempre que lho permitiram, desenvolveu trabalho empenhado no âmbito das Artes e Ofícios.
Numa altura em que praticamente não existiam serviços que, de algum modo se ocupassem com o sector de atividade a que hoje chamamos Artes e Ofícios, os funcionários públicos que acorrem ao Colóquio, fazem-no, não por razões diretamente relacionadas com a sua vida profissional, mas, e não arrisco muito ao afirmá-lo, por gosto pessoal, por considerarem o tema interessante, uma novidade, porventura, uma oportunidade de desenvolverem trabalho numa área tão específica e que apreciavam.
Pires, A. (2008). Um colóquio. Um livro. Um ponto de partida. In Mãos – revista semestral de artes e ofícios. N.º32 - Jul/Dez 08
A Casa do Artesanato da Região de Coimbra, iniciativa da Câmara Municipal de Coimbra, através dos Serviços Municipais de Turismo, visa a preservação e divulgação do artesanato da região... desenvolve a sua atividade através de: Sala Museu, repositório objetos e ferramentas; Oficina, onde pela presença de diversos artesãos se procura divulgar as diferentes técnicas artesanais; Posto de Vendas, dedicado à venda dos artigos produzidos.
Desde o início, registou esta Casa um grande afluxo de turistas, particularmente estrangeiros, interessados no artesanato da nossa região... para o Inverno voltámo-nos para um novo campo – o didático ... o primeiro grupo de jovens que visitaram a Torre aproveitando a presença de um artesão... foi um desencadear de perguntas a eu o Artesão respondia prontamente, feliz por se ver rodeado daquela miudagem ávida de aprender.
Casa do Artesanato da Região de Coimbra. 1979. O necessário papel das Autarquias Locais na defesa do Artesanato. In Actas do Colóquio sobre o Artesanato. 1982. Coimbra, Gráfica de Coimbra. Pg. 58 e 59
O livro é pequeno e de fraco aspeto. A capa de cartolina, queimada do sol, mostra um verde-claro debotado onde se destaca um título formal e preciso: Actas do Colóquio Sobre Artesanato. Coimbra, 8 a 11 de Novembro de 1979. A mesma capa elucida logo quanto às entidades responsáveis pela organização do Colóquio: os Serviços Municipais de Cultura e Turismo de Coimbra e o Instituto Português do Património Cultural.
... Na sua aparente modéstia, este livro representa um dos grandes marcos da História do Artesanato Português, sólido testemunho de uma realização que congregou um heterogéneo grupo de 90 pessoas, algumas das quais se dedicaram a este sector de atividade, num vínculo que desenvolveram em múltiplas realizações, ao longo de quase trinta anos, e que, para muitas, ainda hoje se mantém.
Se, passado todo este tempo, impressiona a qualidade dos presentes, a lista de participantes evidencia ainda uma realidade que não tem qualquer paralelo com uma situação equivalente que se verificasse na atualidade.
... Num Colóquio que, nas palavras de Henrique Coutinho Gouveia, nasceu “da convicção comum de que qualquer política futura de artesanato terá que se basear num conhecimento mais aprofundado da realidade portuguesa”... para além dos 30 professores, dos 15 funcionários trabalhando em museus, de mais outros 15 funcionários públicos, dos 6 elementos dos serviços de Cultura e Turismo da Câmara Municipal de Coimbra, dos 5 estrangeiros (1 brasileiro, 1 espanhol e 3 cabo-verdianos) restam 9 elementos que se distribuem por categorias muito diversas.
A organização do Colóquio previa dois dias inteiros para apresentação de comunicações, um outro dia para... constituição de cinco mesas redondas para debate e proposição de conclusões ... é no grupo de trabalho moderado por Rodrigues Costa (“Turismo e Artesanato”), que surgem, sem dúvida, as conclusões mais interessantes e visionárias, de que se destacam:
- “O artesanato deve ser rigoroso na sua qualidade, resguardando-se das mistificações e das fraudes. Deverá ser estabelecida uma verificação da sua genuinidade.
- Recomenda-se às Autarquias a realização de feiras periódicas, francas, semanais ou mensais, com a presença exclusiva do artesão, evitando-se os intermediários.
- Recomenda-se igualmente às autoridades ligadas ao sector a criação do Estatuto do artesão e do respetivo cartão de identificação.
- Propõe-se a criação de um Organismo ou Centro dinamizador do artesanato, que trate de todos os problemas a ele respeitantes”.
... No registo escrito que testemunha o Colóquio de 1979 nada ficou sobre as acaloradas discussões que aí tiveram lugar. Viviam-se tempos de grande efervescência e liberdade pessoal... Faziam-se estudos sobre produções artesanais descrevendo pormenorizadamente todos os utensílios e respetivos modos de usar, nomeando todas as suas partes, sem, com o mesmo detalhe, se caracterizarem as produções na especificidade das suas gramáticas decorativas e funcionalidades.
... Embora em pequeno número, os estrangeiros que são convidados e aceitam participar neste Colóquio, acrescentam uma dimensão internacional plena de significado quanto à ambição e abertura que o Colóquio revela, ao pretender-se auscultar outras realidades... o espanhol Manuel Montalvo aparece com um discurso iconoclasta, defendendo a necessidade de se inovar ao nível das tecnologias e do produto final. É assim que, sobre o artesanato, denuncia que “não se trata de fabricar objetos medíocres para que se possa apreciar que são feitos à mão e de forma primitiva” recomendando as vantagens da qualidade de todos os processos ligados ao fabrico e da própria mobilização e envolvimento dos artífices, como condição prévia de sucesso.
Numa época em que a substituição de rodas de oleiro por rodas mecânicas gerava a maior das polémicas, pois o trabalho “deixava de ser artesanal”, poucas pessoas terão percebido (e aceite) o lúcido discurso de Manuel Montalvo:
“Recordo ainda artesãos já idosos, trabalhando em condições muito duras e sacrificadas, com métodos que se pretendia que nunca se deveriam modificar, considerando-se sacrilégio pensar numa evolução e facilitar o trabalho – era mais cómodo sacrificar-se o homem na ara de uma pureza arcaica e fictícia. E o resultado ficou à vista: nenhum dos filhos destes artesãos quis continuar o ofício da família”.
(…) “O artesanato não precisa de dádivas; (…) não acredito nos artesanatos de conserva, nos artesanatos subvencionados para fabricarem aquilo que ninguém lhes pede, (…) gastando o tempo em operações vãs, que uma simples máquina pode realizar”.
Palavras sensatas, realistas, que demoraram tempo a fazer o seu caminho.
Pires, A. (2008). Um colóquio. Um livro. Um ponto de partida. In Mãos – revista semestral de artes e ofícios. N.º32 - Jul/Dez 08
Depois de tantas correrias para Sul do Mondego … aconteceu que, naquele 6 de Dezembro de 1185, «da larga e muita idade foi vencido» o primeiro Rei de Portugal, D. Afonso Henriques … O corpo … foi vestido, ainda nos seus aposentos da alcáçova, de «Cónego Terceiro de Santa Cruz», que o era desde há meio século. E metido numa urna de «madeira de cedro» … Em procissão, na manhã do dia 7 de Dezembro, o caixão com o corpo do rei defunto foi levado aos ombros até à Sé Catedral, por entre cruzes de todos os mosteiros e igrejas paroquiais e os cânticos e as orações da multidão … com a particularidade de todos os acompanhantes, desde o Infante D. Sancho ao mais humilde dos servidores, se apresentarem de pés descalços.
… Durante todo aquele dia e boa parte do seguinte … houve velada contínua do corpo do Primeiro Rei na Sé Catedral … Já no dia 8, organizou-se nova procissão para a igreja do Mosteiro de Santa Cruz … o futuro rei, D. Sancho, transportando o histórico escudo das cinco quinas … e que ficaria pendurado junto ao túmulo em Santa Cruz … o alferes-mor Fernando Afonso … com a espada usada pelo Primeiro Rei em tantas batalhas e que também no seu túmulo seria colocada (permaneceria quase ininterruptamente, ao longo de quase sete séculos.
…. A primeira arca tumular … não teve qualquer ornamentação … foi, no entanto, um trabalho ‘provisório’ … sabe-se por documentos entretanto encontrados que, nas semanas seguintes ao falecimento, bons artistas conimbricenses … exercitaram toda a sua mestria num outro sarcófago real.
Este segundo sepulcro … também não chegou até nós, mas é de admitir que se tratasse de um mausoléu de tampa abaulada e ornamentação ao gosto românico … elogio fúnebre que neste sepulcro … se esculpiu:
… «Aqui jaz enterrado um outro Alexandre, um outro Júlio, guerreiro invencível, ilustre, honra do mundo. Os tempos do seu reinado foram-se alternando entre a guerra e a paz. Os reinos que reduziu ao poder da Igreja estão mostrando o muito que lhe mereceu a religião cristã e a fé no nosso Salvador. Para além dos gastos que fez e que convinham à majestade do seu Estado, daquilo que entesourou também muito distribuiu pelos mais pobres e miseráveis, levado a isso pela suavidade da Lei Evangélica. Foi um grande defensor da Cruz de Cristo, que usou como proteção no escudo real que adotou, em o qual se vê a mesma Cruz repartida em escudos menores. Ainda que a Fama Costumada de outros se ocupe por tempos dilatados, ninguém haverá que mereça mais louvores».
Quando a urna de madeira foi colocada dentro do segundo sepulcro no século XII – que ficou à entrada da igreja românica, encostado à parede e levantado do chão sobre duas pedras cuidadosamente aparelhadas – houve de novo cerimónia religiosa em Santa Cruz de Coimbra.
… Não muitos anos depois do falecimento de D. Afonso Henriques, porque os mouros continuassem a fazer incursões na linha do Mondego e o Mosteiro de Santa Cruz se situasse no ‘arrabalde’, D. Sancho I “ordenou e recomendou oralmente (‘mandauit et próprio ore commendauit’) aos frades crúzios que comprassem casas junto à torre dos sinos e aí construíssem igreja e casas para conservação dos restos mortais de seu pai e mãe, o que efetivamente se realizou…”
Lembra ainda o historiador José Pinto Loureiro … que «ao tempo, a torre sineira de Santa Cruz estava dentro da muralha, junto da Porta Nova, no local mais tarde ocupado pelo Colégio da Sapiência ou Colégio Novo».
Martins, A.S. 2006. Coimbra. “Cidade rica do Santo Corpo do seu Rei primeiro”. Coimbra. Edição do Autor. Pg. 19, 21 a 24, 27 a 29, 83 a 85
Mário Augusto da Silva, nasceu em Coimbra em 7 de Janeiro de 1901. Fundador e Diretor do Museu Nacional da Ciência e da Técnica, sediado em Coimbra, teve uma vida agitada por mor da sua oposição ao regime salazarista
… Matriculou-se na Universidade de Coimbra, em 1918, no curso de Ciências Físico-Químicas. Nomeado 2.ºAssistente em 1921, terminou a licenciatura com a nota de 19 valores
… Em 1925, partiu para França … Fez estágio com Madame Curie na área da radioatividade, sendo eleito membro da ‘Société de Chimie-physique’ … Doutorou-se em 1929. Ascendeu a Professor Catedrático em 1931. Foi nomeado Diretor do Laboratório de Física da Faculdade de Ciências. Lançou as bases para a criação da Emissora Universitária
… esteve na Fundação do MUD – Movimento da Mocidade Democrática, em 1945. Preso pela PIDE em 1946, foi libertado, mas em 1947 foi aposentado compulsivamente do cargo de Professor da Universidade de Coimbra.
Para trabalhar recorreu a vendedor e foi agente da Philips … Colaborou na campanha presidencial do Gen. Norton de Matos … Fez parte da comissão de auxílio ao Dr. Mário Soares, em 1968, quando aquele tinha residência fixa em S. Tomé.
Em 21 de Janeiro de 1973, graças ao seu empenho e dedicação, foram inauguradas as instalações provisórias do M.N.C.T. A partir de 1974 iniciou um vasto processo de aquisições para o Museu … Em 15 daquele mês (Junho de 1976) tomou posse como Diretor.
Em 10 de Novembro seguinte a Autarquia concedeu-lhe a medalha da Cidade e homenageou-o.
Faleceu, na cidade, em 13 de Julho de 1977.
Nunes, M. 2005. Estátuas de Coimbra. Coimbra, GAAC – Grupo de Arqueologia e Arte do Centro. Pg. 154 a 156
A insuficiência de quadros qualificados no país, que respondessem às solicitações, face ao alargamento inusitado de escolas de desenho industrial … a partir de 1888 … está na origem de contratação de professores estrangeiros para lecionar naquelas escolas.
… A Legação Portuguesa em Roma fez publicar o anúncio … Pelo relatório final apresentado pelo júri romano pode concluir-se que as respostas foram imediatas … Cerca de um ano depois, procedia o governo português à contratação de … Leopoldo Battistini … celebração do contrato por cinco anos com o governo português, em 1 de Julho de 1889, para lecionar na Escola Industrial Brotero … À data da vinda para o nosso país, Leopoldo Battistini contava vinte e quatro anos ... Encontra-se em Coimbra na primeira reunião do conselho escolar que teve lugar na Escola Industrial Brotero no dia 22 de Novembro de 1889. Participaram na mesma reunião outros estrangeiros, oriundos da Áustria (Emil Jock e Hans Dickel professores das cadeiras de desenho de máquinas e física e mecânica, o primeiro e de desenho arquitetónico, o segundo) e França (Charles Lepierre … química industrial) … Permaneceriam na Escola de Coimbra … Battistini até Setembro de 1903 … e Lepierre até ao ano de 1911.
… Maria de Portugal … quando pretende encontrar uma justificação … decisão do jovem professor em prolongar a sua estadia, contra todas as previsões, em Portugal – em Coimbra, mais corretamente – introduz um indicador de ordem subjetiva … o artista não contou com o “sortilégio que a terra portuguesa exerce em todos” … Consta apenas que … foi vítima pactuante do sortílego efeito a que não conseguiu ou não quis oferecer resistência e que se deixou embalar pelas saudosas cores da terra e do céu coimbrão.
… Joaquim Leitão quando fala do encontro de Leopoldo Battistini com a cidade mondeguina … fornece duas pistas significativas. A primeira quando relata que … aceitara ir ensinar ali porque lhe tinham dito que a cidade universitária era a Florença portuguesa e a segunda, ao dizer que Quim Martins e Augusto Gonçalves tinham ido mostrar ao pintor a cidade do Mondego, noite fechada.
… O golpe desferido sobre as suas ilusões, que Battistini alimentara … foi tão cruel quanto eficaz porque “nunca até à morte, se varreu do espirito do ilustre italiano” … o choque … derivara do “atraso material da cidade” que nesse tempo “não tinha sequer iluminação que merecesse tal nome” … a memória que o italiano reteve de Coimbra associava-se às imagens da escuridão, de falta de higiene e de rusticidade – denunciadas pelos gatos vadios – e à bizarria dos intelectuais, enfiados em antros em que ele não descortinava qualquer conforto ou sentido estético, a discutir assuntos que lhe escapavam.
… Caracterizadas pela irreverência sempre, as festas estudantis “além de interferirem em linhas e setores de sociabilidade geral, geravam formas peculiares e relativamente autónomas de sociabilidade a vários níveis”: os bailes, as récitas, as baladas, as serenatas e os passeios fluviais, além da festa exclusiva dos quintanistas de Medicina e as intervenções da Academia nos centenários de inspiração cívica e patriótica, que ficaram memoráveis … A sensibilidade de Leopoldo Battistini não lhe conseguiu ficar indiferente à magia telúrica das manifestações públicas aqui sumariadas plenas de força anímica, de pujança e de rusticidade de um povo que ritma o pulsar da vida pelos ciclos da natureza … A vida privada de Battistini pautar-se-á, em breve, pela dos citadinos de Coimbra … Sabe-se que habitou uma casa na Couraça dos Apóstolos … Posteriormente deslocou-se para a rua da Alegria.
Lázaro, A. 2002. Leopoldo Battistini: Realidade e Utopia. Influência de Coimbra no percurso estético e artístico do pintor italiano em Portugal (1889-1936). Coimbra, Câmara Municipal de Coimbra. Pg. 71 a 75, 91 a 101
Dentro dos institutos de crédito e das técnicas específicas de pagamento que asseguravam a respiração económica de Coimbra conta-se o «cambium per litteras». As referências a este instrumento de crédito e de câmbio colocam-nos na presença de pequenos «banqueiros» conimbricenses, de mercadores, de indivíduos que aliavam à profissão o exercício do câmbio
… O Doutor Manuel Rodrigues Navarro … no tráfico de câmbios … Em 1597, por exemplo, devia ter em Madrid como correspondente (?) Luís Mendes
… Um outro cambista que surge no circuito do financiamento do mesmo representante da Universidade é Gabriel Rodrigues. Pelo menos foi ele quem recebeu 40.000 réis por mil «reales» que Simão Rodrigues, de Viseu, fez entregar em Madrid ao Doutor Rui Lopes da Veiga
… Simão e Diogo Rodrigues, de Viseu, eram irmãos. Um irmão destes, Tomás Rodrigues, mercador de sedas e merceeiro, vivia em Coimbra e outro, Jorge Rodrigues, em Lisboa. Todos mercadores … Por Lisboa, Coimbra e Viseu (com ramificações pelo menos para Castela) passava uma corrente de mercadorias e dinheiro dirigida pelos irmãos Rodrigues.
Oliveira, A. 1971. A Vida Económica e Social de Coimbra de 1537 a 1640. Primeira Parte. Volume II. Coimbra, Universidade de Coimbra, pg. 90 a 95
... E a todas as causas de decadência... juntava-se ainda outra, de cor inteiramente local, nascida aqui em Coimbra do desrespeito de uma parte do público, tomando correntemente atitudes irreverentes e perturbadoras, mesmo para artista de elevada categoria e de grande consideração ... «A rapaziada garota do D. Luís – lê-se num periódico dessa época (Correspondência de Coimbra, Janeiro de 1879) – continua com o seu chinfrim reles, sem graça, vulgar mas atrevido. Grita, solta obscenidades e fuma. Três coisas mereciam pelo menos palmatoadas»
... E vinte ou trinta anos mais tarde, ainda a intolerável costumeira não se modificara grandemente... Além das memoráveis «pateadas» de desagrado com que por vezes se castigaram o mau desempenho ou a mediocridade das peças, a falta de urbanidade com que os artistas eram recebidos e tratados tornou a plateia de Coimbra muito de temer, ao ponto de só boas companhias se arriscarem a enfrentá-la.
Em compensação é de justiça reconhecer que, quando as peças valiam e os grandes artista mereciam ser aplaudidos, ninguém se mostrava escasso. «E a ovação ali feita – no dizer de testemunha presencial (Trindade Coelho, em In illo tempore) – não esquecia mais quem a recebia; e, se era mulher, além da chuva de flores dos finais de ato e dos intervalos, e o diploma de mérito da Academia Dramática entregue numa linda pasta, e com um discurso ainda mais lindo, tinha à saída do teatro, a fazerem-lhe tapete, as capas dos estudantes, vivas e palmas que eram um delírio, e a acompanhá-la até ao hotel, numa ovação que não despegava, a guarda de honra de toda a academia, com música a tocar o hino académico, e archotes à roda da carruagem»
... Mas a decadência, que já muito anos antes invadira o «amadorismo», alastrou também para o profissionalismo e acentuou-se de ano para ano, até que o cinema, proporcionando espetáculos mais variados, de mais largas perspetivas e de menor custo para os espectadores, de perto seguido pela organização de clubes desportivos, levaram o teatro de vencida, em Coimbra como no resto do País.
... O cinematógrafo do Teatro Príncipe Real estreou-se em 31.VIII.1908, e ao lado das fitas, exibia um fonógrafo combinado com elas para produzir os sons apropriados.
Loureiro, J.P. 1959. O Teatro em Coimbra. Elementos para a sua história. 1526-1910. Coimbra, Câmara Municipal. Pg. 35 a 37
A paixão dramática coimbrã foi inegavelmente muito viva, mormente na segunda metade do século XIX. Bastaria para demonstrá-lo sobejamente a formação e atividade de mais de uma centena de sociedades de amadores. Mas a essa prova podem juntar-se outras, como a dos «pasmosos êxitos» de algumas peças aqui representadas e a ilusão de que seria possível manter uma «companhia permanente» de teatro declamado, ilusão que se desvaneceu após o malogro de duas tentativas dececionantes.
Na primavera de 1858, uma companhia espanhola... a mágica «Casa do diabo» ... foi representada seis vezes: quatro no Teatro da Graça e duas no Teatro da Sé Velha.
... Pouco depois (1862), o drama «A probidade» subiu à cena sete vezes: quatro no Teatro de D.Luís ... e três no Teatro Académico.
... A famosa oratória «Gabriel e Lusbel» ... no Teatro de D.Luís ... foi levada à cena em dez espetáculos, no lapso de tempo de 8 a 29.III.1863, e em cinco espetáculos dois anos depois, de 4 a 26.III.1865.
... o drama sacro «Rainha Santa Isabel» foi representado dez vezes ... entre 28.III e 8.IV.1866.
... a revista «No país das arrufadas» subiu nove vezes à cena de Fevereiro a Maio de 1884, no Teatro-Circo Conimbricense.
... o drama «Mártires de Marrocos» parece ter sido representado em nove espetáculos no ano letivo de 1873-1874.
... as repetidas e frequentes visitas de companhias estrangeiras (espanholas, franceses e italianas) e com as «tournées» (que a necessidade converteu em hábito) das melhores companhias de Lisboa e Porto, o público foi-se familiarizando com os progressos da arte de representar e da literatura dramática ... As exigências estéticas do fim do século XIX estavam longe das do meado do mesmo século.
... Inaugurado auspiciosamente o Teatro de D. Luís em 1861, logo nos dois anos seguintes registou uma atividade prometedora, sem sair do plano do amadorismo local, apenas reforçando este, de quando em quando, com a intervenção de artistas profissionais (João Anastácio Rosa, João Rosa, Marcolino, Brás Martins, Carlota Veloso, etc.) que colaboraram em alguns espetáculos ali realizados.
Loureiro, J.P. 1959. O Teatro em Coimbra. Elementos para a sua história. 1526-1910. Coimbra, Câmara Municipal. Pg. 19 a 24
No próximo domingo 13 de Março, o Grupo Folclórico de Coimbra vai levar a efeito, no Bairro de Celas, Coimbra, mais uma reconstituição da antiga Feira dos Lázaros.
Esta atividade, que tem lugar no domingo da Ressurreição de São Lázaro, destaca-se pelo particular significado de que desfruta entre os conimbricenses em geral e entre os antigos habitantes da velha alta (salatinas), em particular.
Na Feira, poderão ser encontrados diversos doces conventuais e populares de Coimbra, cuja confeção é da inteira responsabilidade dos componentes do GFC.
A subscrição é anónima e gera, no máximo, um e-mail por dia.