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A insuficiência de quadros qualificados no país, que respondessem às solicitações, face ao alargamento inusitado de escolas de desenho industrial … a partir de 1888 … está na origem de contratação de professores estrangeiros para lecionar naquelas escolas.
… A Legação Portuguesa em Roma fez publicar o anúncio … Pelo relatório final apresentado pelo júri romano pode concluir-se que as respostas foram imediatas … Cerca de um ano depois, procedia o governo português à contratação de … Leopoldo Battistini … celebração do contrato por cinco anos com o governo português, em 1 de Julho de 1889, para lecionar na Escola Industrial Brotero … À data da vinda para o nosso país, Leopoldo Battistini contava vinte e quatro anos ... Encontra-se em Coimbra na primeira reunião do conselho escolar que teve lugar na Escola Industrial Brotero no dia 22 de Novembro de 1889. Participaram na mesma reunião outros estrangeiros, oriundos da Áustria (Emil Jock e Hans Dickel professores das cadeiras de desenho de máquinas e física e mecânica, o primeiro e de desenho arquitetónico, o segundo) e França (Charles Lepierre … química industrial) … Permaneceriam na Escola de Coimbra … Battistini até Setembro de 1903 … e Lepierre até ao ano de 1911.
… Maria de Portugal … quando pretende encontrar uma justificação … decisão do jovem professor em prolongar a sua estadia, contra todas as previsões, em Portugal – em Coimbra, mais corretamente – introduz um indicador de ordem subjetiva … o artista não contou com o “sortilégio que a terra portuguesa exerce em todos” … Consta apenas que … foi vítima pactuante do sortílego efeito a que não conseguiu ou não quis oferecer resistência e que se deixou embalar pelas saudosas cores da terra e do céu coimbrão.
… Joaquim Leitão quando fala do encontro de Leopoldo Battistini com a cidade mondeguina … fornece duas pistas significativas. A primeira quando relata que … aceitara ir ensinar ali porque lhe tinham dito que a cidade universitária era a Florença portuguesa e a segunda, ao dizer que Quim Martins e Augusto Gonçalves tinham ido mostrar ao pintor a cidade do Mondego, noite fechada.
… O golpe desferido sobre as suas ilusões, que Battistini alimentara … foi tão cruel quanto eficaz porque “nunca até à morte, se varreu do espirito do ilustre italiano” … o choque … derivara do “atraso material da cidade” que nesse tempo “não tinha sequer iluminação que merecesse tal nome” … a memória que o italiano reteve de Coimbra associava-se às imagens da escuridão, de falta de higiene e de rusticidade – denunciadas pelos gatos vadios – e à bizarria dos intelectuais, enfiados em antros em que ele não descortinava qualquer conforto ou sentido estético, a discutir assuntos que lhe escapavam.
… Caracterizadas pela irreverência sempre, as festas estudantis “além de interferirem em linhas e setores de sociabilidade geral, geravam formas peculiares e relativamente autónomas de sociabilidade a vários níveis”: os bailes, as récitas, as baladas, as serenatas e os passeios fluviais, além da festa exclusiva dos quintanistas de Medicina e as intervenções da Academia nos centenários de inspiração cívica e patriótica, que ficaram memoráveis … A sensibilidade de Leopoldo Battistini não lhe conseguiu ficar indiferente à magia telúrica das manifestações públicas aqui sumariadas plenas de força anímica, de pujança e de rusticidade de um povo que ritma o pulsar da vida pelos ciclos da natureza … A vida privada de Battistini pautar-se-á, em breve, pela dos citadinos de Coimbra … Sabe-se que habitou uma casa na Couraça dos Apóstolos … Posteriormente deslocou-se para a rua da Alegria.
Lázaro, A. 2002. Leopoldo Battistini: Realidade e Utopia. Influência de Coimbra no percurso estético e artístico do pintor italiano em Portugal (1889-1936). Coimbra, Câmara Municipal de Coimbra. Pg. 71 a 75, 91 a 101
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