Saltar para: Posts [1], Pesquisa e Arquivos [2]

A' Cerca de Coimbra



Segunda-feira, 29.02.16

Coimbra, origens 5

As opiniões sobre a data das muralhas de ‘Aeminium’ são diversas. Fernandes Martins atribuiu-as ao século V. Nogueira Gonçalves concluiu que a data «mais provável é a da primeira reconquista, no governo de Afonso III, no século IX, a seguir à tomada de 878». Vergílio Correia admitiu uma data visigótica. A incorporação na cerca citadina de grandes silhares romanos de pedra branca, de elementos arquitetónicos, de lápides, cistas e cipos era, em sua opinião, prova indireta da construção das muralhas numa altura em que «aflorassem ainda na terra, ou constituíssem ‘res nullius’ os edifícios de que faziam parte». «Por outro lado, acrescenta, não se encontraram, até agora, nas muralhas, pedras de ornato paleocristão ou bárbaro». Ora, Coimbra foi cidade importante na época visigótica e quatro reis visigóticos cunharam aqui moeda. Esta principalidade politica poderia explicar a fortificação da cidade. Acrescentemos que a transferência da sede episcopal de Conimbriga para ‘Aeminium’, ocorrida entre 569 e 589, isto é, por alturas da queda do reino suévico, poderia ter contribuído para a edificação das muralhas.
Estabeleça-se, porém, um paralelo com as muralhas de Conimbriga, que são, sem dúvida, da época romana. Já existiam pelo menos em 468, pois nessa data tomaram os Suevos a cidade, destruindo parte da cerca. São mesmo anteriores aos inícios do século V, pois nessa época se fez um enterramento que temos de supor, pela sua posição, anterior à muralha. Ora, silhares de boa pedra branca idênticos aos que aparecem na muralha de Coimbra, elementos arquitetónicos, inscrições, também se encontram nas muralhas de Conimbriga. Nada obsta a que as de ‘Aeminium’ sejam contemporâneas. A cronologia das muralhas romanas peninsulares é ainda um problema, mas os elementos reunidos inclinam-nos a atribuí-las a um grande plano de fortificação de Dioclesiano e Maximiniano, iniciado nos fins de século III e naturalmente continuado pelo IV … Se estas datam dos inícios do século IV, não podemos, porém, deixar de admitir reconstruções posteriores, talvez profundas nalgumas zonas.
Em diversos pontos do recinto amuralhado da cidade se tem descoberto vestígios romanos, para além do criptopórtico e do arco à Estrela … Estes materiais, dispersos em vários pontos da cidade, sugerem, embora não provem, que a área circuitada pela muralha era toda ela ocupada. Aliás, seja a muralha do século IV ou do IX, não é muito verosímil que se tenha construído com largueza, incluindo amplos espaços não habitados.

Alarcão, J. 1979. As Origens de Coimbra. Separata das Actas das I Jornadas do Grupo de Arqueologia e Arte do Centro. Coimbra, Edição do GAAC. Pg. 36 a 39

 

Autoria e outros dados (tags, etc)

por Rodrigues Costa às 11:55

Sexta-feira, 26.02.16

Coimbra, origens 4

Dos três monumentos referidos por Sá de Miranda – o arco triunfal, as «grutas», o aqueduto – o segundo ainda se mantém e constituiu uma das mais impressionantes obras de arquitetura romana de Coimbra. Trata-se do criptopórtico sob o Museu de Machado de Castro, antigo paço dos bispos de Coimbra.
A rua que contorna o monumento é ainda hoje conhecida pelo nome de Rua das Covas … No século XIII, a rua era chamada ‘vico de Covis’; no século XII, algumas casas situadas nas imediações eram ditas ‘sub illas covas’ ou ‘circa foveas’.

… O achado, nos entulhos retirados do criptopórtico, de uma pequena ara consagrada ao Génio da Basílica, ‘Genio Baselecae’, sugere que basílica da cidade de ‘Aeminium’ se encontrava implantada naquele local; sendo a basílica um dos edifícios que integravam o fórum, é legítimo supor que o criptopórtico constituía a infraestrutura do fórum eminiense.

O pendor do terreno era grande e havia necessidade de edificar um terraço onde planamente se estabelecesse o fórum. Ora, um embasamento maciço seria talvez menos sólido e seguramente menos útil que alveolado de galerias ou cárceres. Os romanos edificaram, pois, o corpo gigantesco de um pódio com dois andares.
No piso superior, uma galeria em forma de π envolve outra do mesmo traçado. Em cada braço, três passagens dão acesso de uma a outra galeria; nos topos, as galerias são também comunicantes. De través, entre os braços do π, sete cárceres comunicam entre si por estreitas passagens abobadadas disposta no mesmo enfiamento. No andar inferior acham-se outras sete salas mais altas e espaçosas, dispostas ao longo de uma galeria e comunicantes entre si por passagens estreitas. Este andar foi parcialmente destruído por casas que se ergueram encostadas ao edifício.

… Também se acharam quatro cabeças de mármore, duas representando talvez as Agripinas, outras duas, Vespasiano e Trajano. Estas cabeças ornaram provavelmente o fórum onde assentava o criptopórtico, se é que não foram antes veneradas no templo que dominava o fórum.

… O fórum, se efetivamente ficava implantado no criptopórtico, ocupava uma posição central no recinto amuralhado da cidade.

Alarcão, J. 1979. As Origens de Coimbra. Separata das Actas das I Jornadas do Grupo de Arqueologia e Arte do Centro. Coimbra, Edição do GAAC. Pg. 34 a 36

Autoria e outros dados (tags, etc)

por Rodrigues Costa às 10:05

Quinta-feira, 25.02.16

Coimbra, origens 3

O Mondego era na Antiguidade navegável até Coimbra, e mesmo até à foz do Dão; constituía uma importante via fluvial, de oeste a leste, largamente praticada ainda na Idade Média; no sentido norte-sul, a via, agora terrestre, não podia encontrar melhor cruzamento do rio que em Coimbra: para poente, os terrenos eram alagadiços, o rio muito caudaloso e largo; para o interior, as vias tornavam-se ásperos caminhos de montanha. Coimbra era, pois, ponto de passagem obrigatório entre o norte e o sul, centro onde naturalmente se podiam trocar os produtos da serra pelos da planície e do mar.

A existência de uma ponte de pedra romana em Coimbra é mais do que provável. Ficaria sensivelmente no sítio da atual, sítio que corresponde, com ligeira diferença, ao das pontes de D. Afonso Henriques e D. Manuel. Aliás, terão sido estas fábricas novas ou simples restauros da ponte romana?
Atravessado o rio, a estrada romana seguiria a linha das atuais rua de Ferreira Borges (antigamente chamada de Calçada), Visconde da Luz e Direita. Esta última, chamada na Idade Média rua da Figueira Velha, constituiu a saída da cidade até à abertura, no século XVI, da Rua da Sofia.
Na atual Praça 8 de Maio, a via cruzava a torrente, já referida, de ‘balneis Regis’. Foi Vergílio Correia quem sugeriu a existência de umas termas romanas no local onde, em 1131, se deu início à construção do mosteiro de Santa Cruz. E Nogueira Gonçalves … admitiu que a porta mourisca mencionada em documento de 1137 fosse último resto desta construção. De tais termas, porém, nada ficou.

... De outros monumentos romanos de Coimbra, infelizmente desaparecidos, conserva-se mais segura memória. São eles o arco da Estrela e o aqueduto.
… Hefnagel, na gravura de Coimbra, incluída na obra ‘Civitates orbis terrarum’, atribuída tradicionalmente a Braunio, desenhou, no ângulo entre a Couraça de Lisboa e a Couraça da Estrela, três colunas que na legenda aparecem designadas: ‘colunnae antiquae Romanorum’. As colunas assentam sobre um estilóbato baixo e são coroadas por arcos.
Que as colunas romanas não podiam estar situadas exatamente no local onde Braunio as representou, é indiscutível. Daí até negar a existência do monumento é passo grande … não nos deixam dúvidas sobre a existência do monumento, que a Câmara da cidade deixou demolir em 1778 … Era um monumento tão notável, que deu nome à porta da muralha situada ao fundo da Couraça de Lisboa. Com efeito, o nome que esta teve – de Belcouce – significa «no arco» ou «junto ao arco»

… O aqueduto de S. Sebastião foi construído sobre as ruínas de um idêntico cano, muito mais antigo e provavelmente romano …Provam-no as lápides que, em 1570, se colocaram no aqueduto restaurado por D. Sebastião … «… mandou reedificar de novo todo este aqueduto, mais nobremente do que fora feito havia muitos anos…»

Alarcão, J. 1979. As Origens de Coimbra. Separata das Actas das I Jornadas do Grupo de Arqueologia e Arte do Centro. Coimbra, Edição do GAAC. Pg. 28 a 34

 

Autoria e outros dados (tags, etc)

por Rodrigues Costa às 10:36

Quarta-feira, 24.02.16

Coimbra, origens 2

A ocupação pré-romana da cidade é provável, ainda que não provada.

… Na área da cidade, mesmo da cidade alargada do nosso tempo, não se encontraram nunca vestígios pré-romanos. Os mais próximos são os da Caverna dos Alqueves.
Fica situada entre as aldeias da Póvoa e Bordalo, a poente de Coimbra, nas traseiras do mosteiro novo de Santa Clara. Descoberta pelo Dr. Santos Rocha, que aí fez explorações em 1898, foi escavada também por A. Mesquita de Figueiredo, em 1900 e 1901. O espólio encontrado é neolítico.

É provável que o festo da colina onde, no nosso tempo, se instalou a cidade universitária, tenha sido ocupado desde épocas recuadas. O sítio é excelente. Dois vales profundos cavam um fosso natural em redor da colina. O primeiro corresponde à atual Avenida de Sá da Bandeira. Por ele corria um ribeiro chamado ‘torrente de balneis Regis’ no documento de 1137 demarcatório da freguesia de Santa Cruz. O ribeiro, que tomava a direção da Rua da Moeda, tinha caudal suficiente para moer, na Idade Média, as azenhas instaladas nesta rua … O segundo vale corresponde ao Jardim Botânico e à sua mata. Uma rampa natural, que o aqueduto de S. Sebastião, ou dos Arcos do Jardim acompanha, separa os dois vales … Este morro é ainda fendido a meio por aquilo que Fernandes Martins chamou expressivamente uma «cutilada»: um valeiro que, saindo do antigo Largo da Feira, «e seguindo pelo Rego de Água em direção à Rua das Covas, ganha declive cada vez mais rápido, para se despenhar por Quebra-Costas, a caminho da Porta de Almedina». Em 14 de Junho de 1411, segundo revela Nogueira Gonçalves, uma enxurrada de tal sorte se precipitou por este córrego, que arrancou as portas chapeadas de ferro da cidade…
Um sítio naturalmente defendido e cómodo para assento de povoado fica assim definido entre a Couraça de Lisboa e o córrego da Rua das Covas ou de Borges Carneiro. Se nenhuns vestígios de épocas pré-históricas foram aí encontrados, isso se deve, certamente, ao facto de os trabalhos para a instalação da cidade universitária não terem sido acompanhados por arqueólogos.

Na área da atual cidade, outro ponto que os povos pré-históricos poderiam ter ocupado, é o morro da Conchada; não se conhecem aqui, porém, vestígios arqueológicos. Uma «necrópole com sepulturas antropomórficas abertas em rocha», provavelmente medieval, foi descoberta no vale de Coselhas.


Alarcão, J. 1979. As Origens de Coimbra. Separata das Actas das I Jornadas do Grupo de Arqueologia e Arte do Centro. Coimbra, Edição do GAAC. Pg. 25 a 27

 

Autoria e outros dados (tags, etc)

por Rodrigues Costa às 10:10

Terça-feira, 23.02.16

Coimbra, origens 1

Plínio, na sua ‘História Natural’, descrevendo a fachada atlântica da Península Ibérica, fala de ‘Aeminium’ e do rio que banhava o ‘oppidum’, rio a que chama Aeminiun num passo e ‘Munda’ em outro. Esta é a mais antiga referência à cidade; e se o nome dela não põe problemas, porque se encontra confirmado por Ptolomeu, pelo ‘Itinerário Antonino’ e por diversas inscrições (para citar apenas fontes da época romana, excluindo as visigóticas e medievais), o nome do rio suscita uma dúvida: seria o Mondego conhecido indistintamente por ‘Aeminium’ e ‘Munda’? Este último nome aparece igualmente em Mela e Ptolomeu, sob as formas, respetivamente, de ‘Monda’ e ‘Munda’ … Estrabão não menciona a cidade; refere-se apenas ao rio …

… Borges de Figueiredo viu em ‘Aeminium’ um elemento céltico, ‘meneiu’, que significaria elevação, altura, e que se encontraria também em ‘Herminiu (mons)’ … O nome de ‘Munda’ é também pré-romano, segundo Leite de Vasconcelos. Dele, ou da sua forma equivalente ‘Monda’, derivou, pela adjunção de um sufixo também pré-romano, - aec – e de uma desinência latina, - us -, o nome de ‘Mondaecus’.

… o ‘Itinerário de Antonino’ situa ‘Aeminium’ a dez milhas de ‘Conimbriga’, na estrada de ‘Olisipo’ a ‘Bracara Augusta’. A situação exata … foi muito discutida … o problema, porém, ficou definitivamente resolvido com o achado, em Abril de 1888, de uma lápide que servia de cantareira numa casa então demolida em Coimbra, ao fundo da Couraça dos Apóstolos. A lápide, fazendo menção da ‘civitas aeminiensis’, demonstrou ser este o nome antigo de Coimbra. Calaram-se então as vozes que identificavam a antiga ‘Aeminium’ com Águeda, Macinhata do Vouga ou Montemor-o-Velho.

Alarcão, J. 1979. As Origens de Coimbra. Separata das Actas das I Jornadas do Grupo de Arqueologia e Arte do Centro. Coimbra, Edição do GAAC. Pg. 23 a 25

 

Autoria e outros dados (tags, etc)

por Rodrigues Costa às 10:27

Segunda-feira, 22.02.16

Coimbra: primeira reconquista cristã e a destruição pelo Almançor

Era o ano de 878 … segundo a contagem comum da sucessão dos tempos, ano de novecentos e dezasseis, da hispânica, que nessa época se usava.
Ano glorioso este, ano pedra angular em que assenta o teor da vida moderna da cidade e da região.
Feito de tal grandeza e que, contudo, hoje, passado um milénio e centena de anos, o seu conhecimentos nos é dado por breve nota da ‘Chronicon Laurbanense’: "Era DCCCCXVI prendita est conimbrie ad ermenegildo comité". Na era de 916 foi tomada Coimbra pelo conde Ermenegildo.

Era este conde de Portucale e Tui e procedeu por ordem do rei asturo-leonês D. Afonso III – o grande, aquele que de Oviedo veio assentar a sede do governo em Leão.
Oito palavras somente a rememorar esse facto de extraordinário alcance. Comentado singelamente pelo ‘Chronicon Gotorum’, na ementa de resenha da vida daquele rei … Coimbra, possuída pelo inimigo, fora ermada e povoada a seguir por gente vinda de acima Douro.
Ação epopeica consideramo-lo, como em todos os tempos os vencedores julgaram as suas; porém, nós, com a sensibilidade moderna, meditamos nos morticínios a seguir à tomada e na redução ao cativeiro dos moradores restantes.

… E esse período, essa primeira reconquista cristã, permaneceu por um século, até às razias de Almançor, o que na mesma ementa é comentado sumariamente: … Almançor, pois, tomou Coimbra e, como a muitos foi ouvido dizer, ficou deserta sete anos, sendo reedificada pelos ismaelitas, que a conservaram em seu poder.
Era o ano de 987, como para Montemor se daria em 990. Se foi despovoada a cidade, o território permaneceu com a gente adstrita.

… a tomada de Coimbra, leva-nos … a da restaurada diocese visigótica conimbricense, a qual tinha por limite norte a corrente do rio Douro, desde Gaia (‘Castrum Antiquum’), com o distrito de Aveiro, prolongando-se para sul do Mondego.
… a vida (em Coimbra) podia decorrer normalmente, só entrecortada das lutas domésticas que não foram pequenas e dos ataques muçulmanos na fronteira sul, porque aqui, como diz Gonzaga de Azevedo … «Coimbra, cidade de fronteira com os sarracenos, mudou frequentemente de possuidor no decurso do século X. Libertada por S. Rosendo, em 968, voltou ao poder dos muçulmanos, que a dominaram até 981, e, em 975, percorriam e despovoavam a terra, até ás vizinhanças do Douro, sem obstáculo».

Gonçalves, A. N. 1978. Evocação do XI Centenário da Primeira Reconquista Cristã de Coimbra. Separata das Actas das I Jornadas do Grupo de Arqueologia e Arte do Centro. Coimbra, Edição do GAAC. Pg. 3 a 5

 

Autoria e outros dados (tags, etc)

por Rodrigues Costa às 10:13

Sexta-feira, 19.02.16

Coimbra: a Inquisição e o Cabido da Sé

Nota: Na leitura deste texto deve ser, nomeadamente, considerado que: a letra u, em muitas palavras escritas, substituía o atual v; o mesmo acontece na utilização do i em vez de j; muitas palavras eram abreviadas.

… Aos 13 dias do mês de Janro do dito Anno (1612) ueio a Cabido hum recado dos Inquisidores desta Cidade en q pediaõ por merce ao Cabido desse licença ao Dor Gabriel da Costa para hir assistir alguas tardes ao despacho do Santo officio.
… Aos. 8. de Abril de 612 (1612) … sendo chamado pa Cabido … se leõ huã carta … q o Conigo Joaõ Roiz Banha trattaua renunciar a sua conesia e (em) certa pessoa da naçaõ cujo pai, E may forã presos por hereges no santo officio, E auia (havia) pouco forã soltos por o perdaõ geral.
… Aos 26, de Setembro de 618 sendo pro Chamado pa Cabido … Considerada a Prizaõ q nella se fez de Antonio Dias da Cunha pello Santo offiçio, E o geral Escandalo q della se seguio naõ som.te nesta Cid.e mas Em todo o Rejno, E o mujto q se deue obuiar a semelhantes cazos … Se assentou q acerca da Confirmaçaõ do dito statuto se fizesse de nouo á Sua Sde
… Aos 19, de Março 1619 … sendo chamado o cabido … se tratou largamte nelle, como o dia de antes 2.a a noute prenderaõ ao nosso prebendro frco domez pelo sto off.o
… Aos 24 de Nouembro de 1619 … foi prezo á ordem do S.to Officio o Conego Doutoral Antonio Homem. q foi processado, e sahio no Auto da Fé.
… Aos 8. de 8bro (8 de Outubro de 1621) tratandosse em Cabido de como era preso pello sto officio o lecenceado Andre Vas cabaco procurador q foi do Cabido.
… Aos 14 de Feuereiro de 622 sendo primeiro chamado pera Cabido … pera se tratar das bullas do sor Frco da silua … E por serem as primeiras q se passaraõ depois da concessaõ do breue, de q sua sanctidade fez mce a esta Igreija. e Cabido, pera efeito da gente da nacaõ (pessoas de ascendência judaica) em algu tempo nam poder entrar nelle … determinaram … se elegessem pessoas abes, q fossem tirar as «prouanças de puritate sanguinis.
… Aos 15 dias do mês de Agosto de 631 por occasiaõ de huã peticaõ q fes Diogo fra cantor que era desta Sé e fora preso por judeu nos carceres do sto offº desta cidade … imaginando q por sair sem sambenito, e iurar só de uehementi sospeito na fé, saira bem… assentou o Cabido q de nehuã manra se admittisse o tal Diogo.

Almeida, M.L. 1973. Acordos do Cabido de Coimbra. 1580-1640. Separata do Arquivo Coimbrão. Vol. XXVI. Coimbra, Biblioteca Municipal de Coimbra. Pg. 137, 139, 221, 224, 229, 236, 238, 299

Autoria e outros dados (tags, etc)

por Rodrigues Costa às 10:16

Quinta-feira, 18.02.16

Coimbra: o livro dos Acordos do Cabido de Coimbra

Entre os documentos do antigo cartório da Sé de Coimbra, desde há muito integrados no Arquivo da Universidade, contam-se os «Livros dos Acordos do Cabido» … 1451 a 1866. Quer dizer, mais de quatro séculos, dos dias de D. Afonso V até ao reinado de D. Luís, a vida interna da corporação capitular como os atos mais variados e relevantes da sua vida de relações públicas ali ficaram testemunhados, denunciando o valimento e a influência da instituição eclesiástica no âmbito nacional.

… Cartório riquíssimo era o do Cabido, de que nos resta em Coimbra um acerbo importante, mesmo opulento na sua qualidade e variedade, mas não a parcela mais valiosa para os estudos medievais, que essa no-la levou Alexandre Herculano para o Arquivo Nacional da Torre do Tombo.

… A leitura destas numerosas atas capitulares, e a reflexão conjuntiva que por ela se faça com as linhas gerais da história nacional, permitem surpreender o reflexo de sucessos importantes na decisão colaborante do Cabido de Coimbra, sobretudo quando em momentos difíceis superiormente se lhe requere ajuda material e valimento constante.

… Não vamos aqui especializar qualquer grupo de factos que se possam conjuntar com a história geral do país, o que implicaria mais do que um capítulo particularizado, todavia estão vivíssimos nestas páginas alguns sucessos bem dramáticos, entre eles, por escasso exemplo, a questão dos incriminados de revivescência judaica que atingiu duramente o cabido no primeiro quartel do século XVII.

Almeida, M.L. 1973. Acordos do Cabido de Coimbra. 1580-1640. Separata do Arquivo Coimbrão. Vol. XXVI. Coimbra, Biblioteca Municipal de Coimbra. Pg. 1 a 8

 

Autoria e outros dados (tags, etc)

por Rodrigues Costa às 10:56

Quarta-feira, 17.02.16

Coimbra e as suas personalidades: Elísio de Moura

Elysio de Azevedo e Moura nasceu em Braga, em 30 de Agosto de 1877, e faleceu em Coimbra, no dia 18 de Junho de 1977 … foi ao longo da vida, um homem bom, dotado de uma inteligência fulgurante, distinguindo-se sempre no decorrer da sua vida escolar pela precocidade e brilho. Foi um clínico prodigioso … aos 15 anos inscreveu-se na Universidade de Coimbra como aluno de Matemática e de Filosofia … para em 10 de Julho de 1895, com 17 anos, obter o grau de Bacharel em Filosofia.
Inscreveu-se, então, na Faculdade de Medicina e, em 30 de Junho de 1900, ficou Bacharel em Medicina com a nota de Muito Bom. A 1 de Março de 1901, sem ter completado 24 anos, concluiu a licenciatura, para em 1902 adquirir o grau de Doutor. Nomeado professor, naquele ano, ascendeu a Catedrático em 1910. Acumulou o ensino de várias cadeiras de diversos cursos, vindo a ocupar a Cátedra de Clinica Numerológica durante 34 anos.

… Inaugurou em Portugal o ensino da Neurologia e foi pioneiro dos estudos neurológicos e psiquiátricos na cidade de Coimbra, devendo-se-lhe a criação do Manicómio da Serra. Criou a Ordem dos Médicos e foi o primeiro Bastonário. Alcançou uma aura de cientista dotado de raro poder de penetração e de irradiante simpatia.

Simples em tudo, nunca procurou lugares de prestígio ou honrarias, e dedicou grande parte da existência ao Asilo da Infância Desvalida, que, desde 1967, passou a chamar-se ‘Casa da Infância Doutor Elysio de Moura’. Doou-lhe a maior parte dos seus bens … Mandou reconstruir o edifício, uma casa velha. E das 11 crianças iniciais passou a poder recolher 230.
A sua sensibilidade, o trabalho e a obra que desenvolveu, testemunham que a sua ação marcou, indubitavelmente, um homem bom.

Nunes, M. 2005. Estátuas de Coimbra. Coimbra, GAAC – Grupo de Arqueologia e Arte do Centro. Pg. 146 a 148

Autoria e outros dados (tags, etc)

por Rodrigues Costa às 11:23

Terça-feira, 16.02.16

Coimbra: a Associação Humanitária dos Bombeiros Voluntários de Coimbra

A primeira Assembleia Geral realizada em 7 de Abril de 1889 instituía, em Coimbra, a Associação Humanitária dos Bombeiros Voluntários de Coimbra, dando cumprimento ao expresso nos estatutos apresentados no Governo Civil de Coimbra em 26 de Janeiro de 1889.
… Legalmente constituídos e com casa própria na Praça do Comércio, n.º 27-1.º, no prédio … onde estivera o Hospital de Todos-os-Santos – Hospital Real, os bombeiros deram jus ao seu entusiasmo.

… Adquirida a bomba, houve que arranjar espaço para a recolher. Desta forma nasceu o primeiro quartel-estação na Rua Adelino Veiga, então Rua das Solas, nos baixos do prédio do Recolhimento do Paço do Conde
… A estreia … aconteceu em 16 de Novembro de 1890 com um exercício geral na casa de José António Lucas, Praça do Comércio … em que se notou ordem e disciplina

… incêndio havido na Rua da sofia na noite de 18 para 19 de Julho daquele ano (1890) …pavoroso e medonho, que constituiu por assim dizer, o verdadeiro batismo dos Voluntários, fogo no prédio do «Caldas» e que pôs em risco os principais edifícios daquela artéria.

… em 1897 foram inauguradas as novas estações de serviço: Fora de Portas (hoje Rua da Figueira da Foz), estação designada, posteriormente, por estação da Rua da Sofia, e que estava instalada no Teatro dos Borras, Igreja de S. Pedro … outra em Santa Clara na fábrica de Peig Planas & C.ª … que cedeu gratuitamente o terreno.

… A maioria do material usado era braçal … Em 1900 adquiriram um breque (caro puxado a cavalos) a que foi atrelada uma bomba braçal.

… No aspeto de cobertura da Alta, os Voluntários tinham instalado na Rua dos Loios um quartel com material adequado a incêndios … Em 12 de Novembro de 1912 a Direção viu-se confrontada com o ofício de despejo … edifício dos Bentos, junto ao Liceu (nas proximidades do Aqueduto de S. Sebastião) acontecendo a mudança dos Loios onde funcionou o quartel durante vinte anos

.… adquirir, em 1923, o 1.º carro motorizado, o «Fiat» hoje uma relíquia.

… o prestigio … era notório. O Governo, em 1925, decreto de 22 de Agosto, concedera a condecoração de «Cavaleiro da Ordem Militar da Torre e Espada» pelos serviços prestados à sociedade. A imposição das insígnias ocorreu na Praça da República em 17/01/1926, com a presença de milhares de pessoas.

Nunes, M. 1998. Associação Humanitária dos Bombeiros Voluntários de Coimbra, Das origens aos nossos dias. (1889-1998). Páginas para a história de Coimbra. Coimbra, Associação Humanitária dos Bombeiros Voluntários de Coimbra. Pg. 33, 37 a 39, 45, 47, 57, 67, 73

 

Autoria e outros dados (tags, etc)

por Rodrigues Costa às 10:46

Pág. 1/3



Mais sobre mim

foto do autor


Pesquisar

Pesquisar no Blog  

Subscrever por e-mail

A subscrição é anónima e gera, no máximo, um e-mail por dia.

calendário

Fevereiro 2016

D S T Q Q S S
123456
78910111213
14151617181920
21222324252627
2829