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A' Cerca de Coimbra



Sexta-feira, 15.01.16

Coimbra, agricultura e pecuária 2

A presença do gado lanígero (com mistura de algumas cabras) nos olivais da cidade aumenta, pode bem presumir-se, logo depois de 1540 … alguns cidadãos fazem-se criadores de ovelhas. Colégios e mosteiros multiplicavam os rebanhos.
A perda dos olivais passou a ser tanto «que se não podia sofrer». Isto resultava do número e grandeza dos rebanhos e do aproveitamento agrícola dos olivais. «A sombra e aro destes» foi sempre pequeno. O crescimento da população e o estrago dos campos do Mondego tornaram-no ainda menor: as necessidades obrigavam a semear os olivais, a pôr vinhas, pomares e hortas dentro deles.
Estes lugares foram sempre coutados. Mas os bois, por vezes, e muito mais, agora, as ovelhas e cabras, danificavam-nos. Considerando o facto, sob «o clamor do povo», os regedores da cidade, inovando, proibiram o gado lanígero e caprino de pastar ou ter curral dentro deles … O povo, ou pelo menos um dos seus representantes … embargou a sentença … Perante o facto … Coimbra tomou uma solução de compromisso em 26 de Abril de 1559: os olivais abertos serão anualmente demarcados em duas folhas; uma, para pastagem do gado «que à cidade bem parecer com licença dela»; a outra, para que os seus donos, se quisessem, a semeassem de pão e a «afrutassem de qualquer novidade».
… Um outro lugar de pastos comuns, de muita importância para a cidade, era o «campo» de Coimbra.
O campo devia ser guardado desde as sementeiras até ficar «solto». Se fossem cultivados trigos galegos ou cevadas temporãs a vigilância começaria em Janeiro. Por meados deste mês, pelo menos. Já muitos «pães» (cereais) temporãos estavam na terra. Os serôdios, pelo meio de Março, e as outras culturas igualmente no tempo «convinhável».
Até às colheitas o gado não podia entrar aqui: por disposições gerais e camarárias as pastagens eram proibidas em todos os terrenos fechados e, nos abertos, enquanto tivessem culturas.

Oliveira, A. 1971. A Vida Económica e Social de Coimbra de 1537 a 1640. Primeira Parte. Volume I. Coimbra, Universidade de Coimbra, pg. 98 a 101, 112

 

 

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por Rodrigues Costa às 20:27

Quinta-feira, 14.01.16

Coimbra, agricultura e pecuária 1

Os olivais ainda não impunham a sua expressão na paisagem coimbrã em 1085, embora já o azeite entrasse na onomástica coimbrã … Do século XII há inegáveis testemunhos da presença da oliveira nesta região. Mas a riqueza agrária é dadas pelas vinhas, plantadas numa zona muito vasta, a começar junto das portas das muralhas (Porta do Sol, pelo menos).
A paisagem agrícola era então muito mais caracterizada pela cepa do que pela oliveira. Junto da cidade, pertencentes a Santa Cruz, havia algumas oliveiras em Montarroio. Ao certo, um olival em «Lagenas», perto do Mondego, um outro (com vinha) em Vila Franca e um terceiro (olival, ou vinha e olival) na Várzea do Mondego … Mas sabe-se que em 1379 os olivais caracterizavam a paisagem coimbrã na margem esquerda do Mondego, no termo da estrada que vinha de Almalaguês … Nos finais do século XIV a cultura da oliveira estava, assim, muito divulgada em Coimbra. O azeite constituía então o principal produto agrícola.

Em 14 de Maio do mesmo ano (1488), considerando a notória destruição dos olivais velhos e novos pelos «muitos bois» de Santa Cruz e moradores da cidade, já o monarca havia concedido à Câmara que pudesse pôr aos daninhos aquelas penas que lhe parecesse. E eram bem necessárias porquanto a «novidade» dos olivais constituía ainda (e continuou a sê-lo durante muito tempo) a melhor cultura para «governança e repairo» dos moradores da cidade estava muito diminuída … ao gado de Santa Cruz outro se veio juntar: os bois dos obrigados a darem carne à cidade, ao Bispo, ao Cabido, os necessários ao serviço do Hospital Real, das freiras de Santa Clara e de outros; depois, com a transferência da Universidade, os animais dos seus carniceiros e recoveiros, dos colégios e dos mosteiros.
… O número (de bois que pastavam nos olivais da cidade) cresceu de tal modo que, em 1556, os vereadores se veem obrigados a solicitar providências régias. Embora os olivais continuassem a ser «o principal proveito desta cidade e de que os moradores della se mais ajudão», não havia quem os quisesses pôr «porque loguo he tudo destruído» … Ao prejuízo causado por estas reses somou-se, sobretudo após a transferência da Universidade, o provocado por animais diversos, nomeadamente os que podiam ser destinados ao talho. Entre eles os porcos.
Nos açougues citadinos o abate de porcos era muito inferior à dos bois e, sobretudo, à dos carneiros. Mas o facto não excluía uma criação de gado porcino que se nos afigura, pelo menos em algumas épocas, com certo relevo.
As posturas municipais decretadas sobre a pastagem dos porcos dentro da cidade ou do aro dos olivais foram múltiplas e visaram não só a defesa das culturas mas também a higiene da área urbana.
Pelas ruas, praças, rossios e arrabaldes costumavam os donos trazer este gado.

Oliveira, A. 1971. A Vida Económica e Social de Coimbra de 1537 a 1640. Primeira Parte. Volume I. Coimbra, Universidade de Coimbra, pg. 84 e 85, 88 a 90, 91 a 93

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por Rodrigues Costa às 11:36

Quarta-feira, 13.01.16

Coimbra: o tempo do In Illo Tempore 3

E também os futricas: os livreiros … os funcionários, os alfaiates … os comerciantes … os tipógrafos, os penhoristas … as serventes, as figuras típicas, desde o negociante pretensioso ao vagabundo castiço, e estou-me a lembrar do Merzendó, do Rabino, do Pitonó, do Newton, assim chamado porque sabia de cor o binómio do célebre cientista, do Cobra Ladrão, do Jinó e do Horta, que uma noite estava estendido como morto junto a uma tasca, e que quando um estudante condoído lhe perguntou se estava a sentir-se mal, a resposta veio rápida – qualquer coisa como isto:
“ – Não senhor doutor. Estou à espera que venha a polícia para me levar às costas, porque estou muito cansado para ir a pé.”

E os litógrafos, que faziam as úteis e odiadas sebentas, como o cego Pacheco ou o Manuel das Barbas, a quem em vida fizeram o famoso epitáfio:
‘Aqui jaz Manuel; descansa!
Trabalho muito, e bebeu …
Litografava as sebentas
Mas foi feliz: - nunca as leu!’

Sebentas que, à noite, eram distribuídas de porta em porta, pela célebre Maria Marrafa, figura central do Centenário da Sebenta, de parceria com o “Almirante Rato” … que fazia umas caldeiradas maravilhosas.
E já se vê, as tascas, como a da Ana dos Ossos ou a da Tia Camela, que pontificava, e que durante o curso de Trindade Coelho foi por Deus chamada para o céu, para continuar ali a cozinhar o seu delicioso peixe frito, que regalara durante anos sucessivas gerações de académicos.
E quando, depois das aulas, os quintanistas iam para a Baixa com as suas fitas para as mostrar, “… das janelas, lindas donzelas, atrás dos vidros, a suspirar”.
E é claro, as fogueiras, com a lendária ligação do estudante e da tricana, em que o calor das cantigas e da música provocava, quantas vezes, as tradicionais desavenças, mais ou menos violentas, entre os “filhotes” e os “sacas de carvão”.

… o autor do ‘In Illo Tempore’ soube relatar, como pouco, a sua vivência, dar-nos um testemunho vivo, alegre e vibrante dos acontecimentos, das pessoas e das situações. E transporta-nos, nas asas da imaginação às ruas de Coimbra, às récitas e às fogueiras, ao tédio das aulas e à alegria das festas. E sentimo-nos figurantes do livro, vestidos com a pele dos seus personagens, vendo e ouvindo com os nossos olhos e os nossos ouvidos as preleções monocórdicas dos mestres, o ruido das latas nas pedras das ingremes ruas da cidade, as piadas chistosas, a voz dos mandadores das fogueiras, o colorido das fitas, os harmoniosos cânticos e os maneios das tricanas.
E sentimos os encontrões nos tumultos, as vozes altissonantes das assembleias, o fragor das festas académicas, o grito estridente dos gaiteiros e o som ensurdecedor dos bombos zurzidos sem piedade.

Andrade, C.S. 2003. O ‘In Illo Tempore’ de Trindade Coelho. In Centenário da Publicação do ‘In Illo Tempore’ deTrindade Coelho. Coimbra, Câmara Municipal de Coimbra. Pg. 34 a 36

 

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por Rodrigues Costa às 10:23

Terça-feira, 12.01.16

Coimbra: o tempo do In Illo Tempore 2

Trindade Coelho tinha todos os ingredientes para escrever o se livro, fazendo jus ao subtítulo: ‘Estudantes, Lentes e Futricas’.

Os primeiros, os colegas, como não podia deixar de ser: as suas aventuras e desventuras, a que acrescenta, aqui e além, episódios de gerações anteriores que andavam na memória de todos, de João de Deus ou João Penha, de Guerra Junqueiro ou Gonçalves Crespo. E, numa galeria cheia de cor, passam a vida das repúblicas, os “ursos” e os “flautistas”, as praxes, as tertúlias dos cafés, o “Lusitano” e o “anda a Roda”, as ceias, as inflamadas assembleias, os despiques literários, os habituais conflitos com a polícia e as autoridades, as festas das latas, as récitas, o Orfeon Académico, de João Arroio, fundado no seu tempo, aquando das celebrações do centenário camoniano. E será aqui de recordar a risada que acompanhou as palavras que aquele dirigiu a Trindade Coelho, comentando as suas “aptidões” orfeónicas: “- É que você e o porco … só têm três notas”.

E os lentes, claro. E na galeria passa agora o “velho” Pereira Jardim, que na sua juventude aproveitava os intervalos do seu ofício de tanoeiro para estudar e que chegou a catedrático; o Padre Pita, em cujas aulas se jogava a “santa lotaria”; Lopes Praça ou Avelino Calisto, que se passeava a cavalo pelas ruas de Coimbra fardado de granadeiro; Bernardo de Albuquerque, com os seus grandes bigodes, que foram imortalizados em verso:
‘Não haverá por aí quem merque
(Gritava um homem na feira)
Vassouras da bigodeira
Do Bernardo de Albuquerque?’

E Sanches da Gama, figura avantajada que fazia jus à sua fama e proveito de apreciador da boa mesa; Pedro Monteiro, de seu nome completo Pedro Monteiro de Azevedo Castelo Branco, tão célebre como a quadra que o retratou:
‘Se vires um homem de pernas muito altas
Olhos em guerra e cara de mau
Prostrai-vos por terra, beijai-lhe as sandálias.
É Pedro Penedo da Rocha Calhau.’

E tantos outros, como Assis Teixeira, que mais tarde o Pad’Zé imortalizaria … E Chaves e Castro … Cronómetro vivo, o “praxista-mor” rigoroso no cumprimento dos regulamentos universitários, e que também não escapou à veia poética de um aluno, inspirado pela figura de Minerva que, lá no alto, estava colocada sobre o professor:
‘Minerva, faz-nos a esmola,
Se o pai dos deuses consente.
Deixa cair essa bola
Sobre a cabeça do lente’

… E assim se ia quebrando a monotonia das aulas sempre iguais, com os expedientes das “farpas” e das “dispensas” … Quanto ao que o mestre debitava, lá estava o aluno “sebenteiro” que se encarregava de coligir diariamente a lição …

Andrade, C.S. 2003. O ‘In Illo Tempore’ de Trindade Coelho. In Centenário da Publicação do ‘In Illo Tempore’ deTrindade Coelho. Coimbra, Câmara Municipal de Coimbra. Pg. 32 a 34

 

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por Rodrigues Costa às 10:48

Segunda-feira, 11.01.16

Coimbra: o tempo do In Illo Tempore 1

A bibliografia coimbrã de memórias académicas é hoje bastante vasta. Ao longo dos anos, vários artigos estudantes, quando o cabelo começa a branquear e as saudades a estarem mais presentes, deixaram-nos o seu depoimento em letra de forma. Mas entre os vários livros publicados - de tão desigual merecimento, diga-se de passagem – o ‘In Illo Tempore’ ocupa um lugar com um relevo muito especial, sendo ainda hoje uma das obras mais representativas da vida académica coimbrã.
Quais as razões desse facto? Julgo que, para o êxito do livro, que logo no ano da publicação teve duas edições, muito contribuiu a colaboração de António Augusto Gonçalves com os seus desenhos que, infelizmente, não acompanharam as edições posteriores.

O livro seria editado … por Júlio Monteiro Aillaud, ele próprio natural de Coimbra, descendente de uma família de livreiros … Aillaud não deixou de pôr a sua marca no cólofon da obra que, apesar de impressa em Paris, era tão coimbrã:
“Este livro com desenhos originais de António Augusto Gonçalves e photografias coligidas em Coimbra por Antonio Luiz Teixeira Machado e Adriano Marques acabou de imprimir em Paris nas oficinas do editor Julio Monteiro Aillaud, natural de Coimbra, aos 27 dias do mês de Abril de MDCCCCII”.
… Trindade Coelho não se limitou a pôr no papel as suas recordações coimbrãs, recorrendo apenas às suas memórias. Ao longo da obra insere documentos que, certamente durante a sua vida académica foi recolhendo, copiando, quer se tratasse de folhetos, programas ou poemas que, de mão em mão, circulavam pelas aulas ou pelos locais frequentados pela Academia. E valoriza-os, anotando cada nome, referindo pos seus autores, explicando o seu significado, um trabalho que é precioso para o seu melhor conhecimento e as circunstâncias em que foram feitos e que, de outra forma, seriam hoje desconhecidas ou ininteligíveis. E todos esses elementos complementam as suas histórias, as figuras que retrata, os episódios que descreve. Com uma vivência estudantil muito participativa, movimentando-se no meio académico mas também com à-vontade na vida citadina, relacionando-se com as personagens da urbe de diversos quadrantes.

Andrade, C.S. 2003. O ‘In Illo Tempore’ de Trindade Coelho. In Centenário da Publicação do ‘In Illo Tempore’ deTrindade Coelho. Coimbra, Câmara Municipal de Coimbra. Pg. 31 e 32

Tags: Coimbra séc. XX, In Illo Tempore, Trindade Coelho, António Augusto Gonçalves, Júlio Monteiro Aillaud, António Luiz Teixeira Machado, Adriano Marques, Vida académica

 

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por Rodrigues Costa às 11:18

Sábado, 09.01.16

Igreja do Salvador: um monumento nacional em Coimbra, desconhecido pela maioria dos Conimbricenses e dos turistas que nos visitam. Os "Cromos" organizam visita guiada

A Igreja do Salvador, ou de S. Salvador como por alguns é referida, foi classificada como monumento nacional, há mais de um século, em 16.06.1910 e é, por certo, o monumento nacional menos conhecido da nossa cidade, uma vez que as circunstâncias têm ditado que a mesma só esteja aberta ocasionalmente.

Este monumento nacional é assim descrito por Nelson Correia Borges, na sua obra Coimbra e Região:


"… de fachada transformada no século XVIII, mas onde ainda avulta o belo portal românico que um letreiro indica ter sido mandado fazer em 1179 por Estêvão Martins. O interior mantém a estrutura primitiva, com altos pilares e colunas a sustentar o teto de madeira e a definir as três naves. As paredes encontram-se revestidas por azulejos historiados de meados do século XVIII, de fabrico coimbrão. A capela-mor tem um retábulo marmoreado do rococó de Coimbra, feito em 1746. Mais interessante é a capela colateral esquerda, pelo retábulo de S. Marcos, da década de 1540. Trata-se de mais numa obra de João de Ruão, de arquitetura muito sóbria e figuras calmas e bem proporcionadas.
Do lado sul do corpo da igreja foi aberta por volta de 1515 uma capela funerária de planta retangular, coberta por abóbada de nervuras, onde se contém o túmulo da fundadora."

Numa organização do blogue "Cromos", Personalidades e Estórias de Coimbra que conta com o apoio da

. Paróquia da Sé Nova

. Pelouro da Cultura da CMC

vai decorrer, no próximo dia 16.01.2016, sábado, às 11h00, com a duração prevista de cerca de 60 minutos, uma visita a este monumento, guiada pelo Senhor Professor Doutor Nelson Correia Borges, reputado especialista na obra de João de Ruão.


Esta visita é aberta não só aos membros dos "Cromos", bem como a todos quantos estejam interessados em conhecer detalhadamente um monumento de Coimbra que importa não só preservar, bem como divulgar e integrar nos circuitos turísticos da nossa Cidade.

 

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por Rodrigues Costa às 11:42

Sexta-feira, 08.01.16

Coimbra, encruzilhada de caminhos

O trânsito, para Sul ou para Norte do País, obrigatoriamente, devia passar pela cidade e por dentro da cerca: almocreves, mercadores, caminhantes e «outros quaeesquer que levarem cargas». A pena era grave: perda das bestas e do que levassem.

O trânsito que vinha do sul entrava, como é óbvio, pela ponte. Daqui passava pelo Arrabalde em direção à porta de Almedina. Em vez de seguir adiante, penetrava na cerca por esta porta e ia sair pela do Castelo. Descia depois pela Ribela, pelo caminho que passava atrás da torre do mosteiro de Santa Cruz. Uma vez de novo no Arrabalde, o tráfego apanhava o caminho de saída: por Montarroio, «assy como se vay sair per cima dos paacos da gafaria»; daqui em diante, «per sob onde esta a forca, assy se vay sair aa ponte da Auga de Maios». Chegado a este ponto, seguia «pelas stradas direitas».

O caminho do trânsito norte-sul não foi indicado. Talvez fosse o mesmo, agora, descendo a colina.

No Arrabalde, «a par de Sam Bertolameu e a par de Santiago» ficaram as estalagens. Mas não podiam vender outra coisa que não fosse palha.

Oliveira, A. 1971. A Vida Económica e Social de Coimbra de 1537 a 1640. Primeira Parte. Volume I. Coimbra, Universidade de Coimbra, pg.156 e 157

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por Rodrigues Costa às 10:41

Quinta-feira, 07.01.16

Coimbra, a cidade, o arrabalde e as freguesias no séc. XVI

A sede do concelho, sob o ponto de vista da administração civil, compreendia a povoação urbana propriamente dita e um subúrbio circundante … Nos registos paroquiais há predominância em considerar «cidade» apenas a zona intramuros … Da porta de Almedina para baixo começava o «arrabalde» … As aglomerações de Santa Clara e Celas são, nestas fontes, com frequência por burgos. Sobretudo Celas.
Almedina, «arrabalde» e burgo de Santa Clara constituem para alguns efeitos fiscais, o corpo citadino. Mas a «cidade» podia ainda ser um pouco mais extensa: burgo de Celas, Copeira, Rapoula, Pombal, Arregaça de Baixo e de Cima e as novas construções, impostas pelo «muito crescimento do povo», dentro da sombra dos olivais. A zona suburbana aparece exatamente identificada, por vezes, com este «aro dos olivais da cidade» cuja delimitação não é fácil de reconstituir.

Quatro das cinco freguesias de intramuros atravessavam as muralhas em 1567. S. Pedro e S. João de Almedina tinham uma pequena área urbana extravasando da cerca … As paróquias da Sé e de S. Cristóvão, com algo para além da porta de Belcouce, iam até ao rio, por um olival. Santa Cruz, confinava com a Sé, em Almedina, junto da rua de “Sobre a Riba”. Com outras freguesias partilhava o arrabalde, os burgos e o aro da cidade.
… A S.. Bartolomeu foi atribuído, da porta da ponte para fora, o burgo contíguo ao mosteiro de Santa Clara «assim como esta çarrado pela porta da cadea e pela porta da Rona»; a povoação dos paços velhos, denominada Currais, «começada do alpendre de Santa Isabel até ao cano de água com que moem os lagares de azeite do mosteiro»; desta água, caminho e cerca, para dentro, ficou somente com a Copeira e as casas construídas ou por edificar junto de «Santa Isabel defronte do muro do mosteiro até à porta da cadeia». Tudo o mais, nesta área litigiosa, pertencia à Sé.
Santiago confrontava com a Sé, dentro do aro da cidade, em 1567, apenas na porta de Almedina. Nada havia a demarcar de novo. O mesmo não sucedia com outra freguesia do arrabalde, Santa Justa.
Esta paróquia, na direção do Porto, chegava «até à estrada que vem da ribeira de Coselhas, junto de Água de Maias». Para o lado de Coselhas a linha divisória passava «por detrás da Forca, por o cume do monte de Águas Vertentes»

Oliveira, A. 1971. A Vida Económica e Social de Coimbra de 1537 a 1640. Primeira Parte. Volume I. Coimbra, Universidade de Coimbra, pg. 32 e 33, 36 e 37

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por Rodrigues Costa às 12:51

Quarta-feira, 06.01.16

Coimbra e a evolução do seu território

O termo do primitivo concelho de Coimbra, abrangendo um vasto território, foi-se restringindo à medida que novas jurisdições independentes cercearam a sua. No último quartel do século XIV as muralhas citadinas eram ainda o centro de uma área tão extensa quanto as pessoas e mantimentos das regiões planas e não fortificadas aí encontravam refúgio em tempo de mister. Populações do termo e de fora dele, quando da invasão de Henrique II e em alguns apertos no tempo do Mestre, aqui se acolheram.

O município coimbrão, para obras de defesa, tinha autoridade sobre a vasta zona que protegia. Mas o limite geográfico da sua jurisdição específica situava-se aquém desta área, na extremidade de umas dez ou doze léguas já nos meados do século XIV… O alfoz desta cidade, em 1371, perde Ançã com seu “termo e terrentoreo” … Cantanhede, termo da cidade do Mondego, fica nas mãos do conde D. Álvaro Pires de Castro … o Rei de Boa Memória havia subtraído à jurisdição desta cidade Tentúgal (1417), Pereira, (1420) Anobra (1420), Cernache (1417) e Condeixa (1420) … Mira em 1448.

No livro de Vereações de 1533 ficou transcrita, por ordem alfabética, uma lista dos concelhos … Segundo este registo, o termo coimbrão estava dividido em pelo menos noventa e nove concelhos, localizando-se quarenta e cinco a Norte do Mondego. Tinha por limites extremos, ao norte Levira e Paredes do Bairro. Ao sul, Almoster

Oliveira, A. 1971. A Vida Económica e Social de Coimbra de 1537 a 1640. Primeira Parte. Volume I. Coimbra, Universidade de Coimbra, pg. 19 a 26, 30

 

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por Rodrigues Costa às 10:52

Terça-feira, 05.01.16

Coimbra: O Conimbricense um jornal com história, um repositório de história

O Prof. Doutor Manuel Lopes de Almeida, ilustre Diretor da Biblioteca Geral da Universidade, propôs-se publicar o ‘Índice Ideográfico de «O Conimbricense»', organizado pela Biblioteca Municipal de Coimbra, da minha direção, já há anos a servir em volume datilografado.
Era sem dúvida um passo acertado, o da divulgação de um tal índice por assuntos, que a tantos estudiosos interessa manusear, para não ficar perpetuamente um exclusivo dos frequentadores da Biblioteca Municipal e dos que nela trabalham com permanência. Mas a esta biblioteca não tem sido possível acudir a tudo quanto deseja, obrigada a vazar em confinados moldes as suas ambições publicitárias.
Prontamente anuiu, portanto, e muito me honro de vir agora apresentar este trabalho que faz aparecer em público, e pela primeira vez, na realização de um ato de apreciável alcance cultural, as duas instituições bibliotecárias coimbrãs.
… Já noutro lugar tive ocasião de descrever a formação deste e de outros trabalhos congéneres a propósito dos índices de ‘O Instituto’, publicados em 1937, em condições análogas. Estas duas publicações periódicas, de géneros bem diversos, mereceram à Biblioteca Municipal um tratamento de exceção, mas igual para ambas, por terem a ligá-las traços comuns: publicações coimbrãs de destacada utilidade, contendo numerosos trabalhos de grande interesse. Por essa razão se organizaram os respetivos índices ideográficos, facultando-os ao público frequentador em volumes datilografados, enquanto não chegasse a hora de se poderem apresentar impressos.
… Produto de trabalho fragmentário de equipa em período de desemprego endémico, que permitiu chamar ao serviço numerosos assalariados … o ‘Índice’ agora trazido a público havia de ressentir-se desse mal de origem, logo exigindo um esforço de uniformização que não deixou de ser empreendido. Os anos foram correndo e em notas marginais se foram corrigindo inexatidões, aditando, suprimindo e alterando rubricas, e nele se fizeram transposições e se foram introduzindo todos os melhoramentos que a longa experiência foi aconselhando. E ainda agora, antes de se iniciar a impressão, para corresponder à boa vontade de quem a promoveu, foi novamente submetido a uma revisão severa e laboriosa.
É de justiça declarar que tanto aquele esforço unificador como a última revisão foram confiados à competência do 1.º bibliotecário José Branquinho de Carvalho, que dessa incumbência se desempenhou de bom grado, com aplicação e carinho dignos de apreço.


Loureiro, J.P. 1953. Prefácio de Índice Ideográfico de “O Conimbricense”. Suplemento ao vol. XXI do Boletim da Biblioteca da Universidade. Coimbra, Universidade de Coimbra. Pg. V e VIII

 

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por Rodrigues Costa às 10:09



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