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A' Cerca de Coimbra



Terça-feira, 12.01.16

Coimbra: o tempo do In Illo Tempore 2

Trindade Coelho tinha todos os ingredientes para escrever o se livro, fazendo jus ao subtítulo: ‘Estudantes, Lentes e Futricas’.

Os primeiros, os colegas, como não podia deixar de ser: as suas aventuras e desventuras, a que acrescenta, aqui e além, episódios de gerações anteriores que andavam na memória de todos, de João de Deus ou João Penha, de Guerra Junqueiro ou Gonçalves Crespo. E, numa galeria cheia de cor, passam a vida das repúblicas, os “ursos” e os “flautistas”, as praxes, as tertúlias dos cafés, o “Lusitano” e o “anda a Roda”, as ceias, as inflamadas assembleias, os despiques literários, os habituais conflitos com a polícia e as autoridades, as festas das latas, as récitas, o Orfeon Académico, de João Arroio, fundado no seu tempo, aquando das celebrações do centenário camoniano. E será aqui de recordar a risada que acompanhou as palavras que aquele dirigiu a Trindade Coelho, comentando as suas “aptidões” orfeónicas: “- É que você e o porco … só têm três notas”.

E os lentes, claro. E na galeria passa agora o “velho” Pereira Jardim, que na sua juventude aproveitava os intervalos do seu ofício de tanoeiro para estudar e que chegou a catedrático; o Padre Pita, em cujas aulas se jogava a “santa lotaria”; Lopes Praça ou Avelino Calisto, que se passeava a cavalo pelas ruas de Coimbra fardado de granadeiro; Bernardo de Albuquerque, com os seus grandes bigodes, que foram imortalizados em verso:
‘Não haverá por aí quem merque
(Gritava um homem na feira)
Vassouras da bigodeira
Do Bernardo de Albuquerque?’

E Sanches da Gama, figura avantajada que fazia jus à sua fama e proveito de apreciador da boa mesa; Pedro Monteiro, de seu nome completo Pedro Monteiro de Azevedo Castelo Branco, tão célebre como a quadra que o retratou:
‘Se vires um homem de pernas muito altas
Olhos em guerra e cara de mau
Prostrai-vos por terra, beijai-lhe as sandálias.
É Pedro Penedo da Rocha Calhau.’

E tantos outros, como Assis Teixeira, que mais tarde o Pad’Zé imortalizaria … E Chaves e Castro … Cronómetro vivo, o “praxista-mor” rigoroso no cumprimento dos regulamentos universitários, e que também não escapou à veia poética de um aluno, inspirado pela figura de Minerva que, lá no alto, estava colocada sobre o professor:
‘Minerva, faz-nos a esmola,
Se o pai dos deuses consente.
Deixa cair essa bola
Sobre a cabeça do lente’

… E assim se ia quebrando a monotonia das aulas sempre iguais, com os expedientes das “farpas” e das “dispensas” … Quanto ao que o mestre debitava, lá estava o aluno “sebenteiro” que se encarregava de coligir diariamente a lição …

Andrade, C.S. 2003. O ‘In Illo Tempore’ de Trindade Coelho. In Centenário da Publicação do ‘In Illo Tempore’ deTrindade Coelho. Coimbra, Câmara Municipal de Coimbra. Pg. 32 a 34

 

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por Rodrigues Costa às 10:48


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