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O esplendor da doçaria conventual em Portugal terá ocorrido em meados do século XV já que, foi neste século, que o açúcar entrou na tradição gastronómica dos conventos. Até esta altura, o principal adoçante era o mel, sendo o açúcar usado como componente na confeção de mezinhas e medicamentos.
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“… Nos conventos só a abadessa e a madre responsável pelo economato e cozinha tinham possibilidade de escrever as receitas em livros que estavam sob a sua guarda e que não podiam ser consultados por mais ninguém”.
É certo, porém, que estes princípios nem sempre foram seguidos, pelo que encontramos, para a mesma iguaria, variadas receitas consoante a região e o convento de origem. É o caso, entre outros, do leite-creme, do pudim da abadessa, da barriga de freira, da charcada, dos ovos reais, das trouxas-de-ovos, do arroz de leite, do arroz doce, do toucinho-do-céu, da marmelada, das compotas de frutas.
De referir, ainda, que a nomenclatura de alguns doces é comum, não só, a conventos de outras regiões do nosso país, como também de outros países. Na vizinha Espanha existem algumas similitudes, por exemplo, com os pastéis e biscoitos de Santa Clara, os melindres, os suspiros, o arroz de leite, o toucinho-do-céu ou com o manjar branco. Curiosamente, ao lermos «Zorro o começo da lenda» de Isabel Allende, deparamo-nos com o herói a deliciar-se com o manjar branco, numa altura em que se encontrava em Barcelona, a estudar.
… Com algumas limitações, consegue-se reunir um curioso manancial de informações possibilitando delinear um pouco da história dos conventos de Coimbra, onde floresceu a doçaria, a par de algumas práticas e tradições ligadas a esta atividade. Referimo-nos aos Mosteiro de Santa Clara e de Santa Maria de Celas e aos Conventos de Sant’Ana e Sandelgas.
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Relatemos, a propósito, a oferta de “marmelada” e de “pêssegos cobertos de Celas de Coimbra”, bem como ameixas de Santa Clara que, em 1652, as freiras destes Mosteiros fizeram ao rei D. João IV … Para o mesmo período também as religiosas de Celas enviaram ao Abade de Alcobaça um presente que incluía as famosas tigeladas.
Sousa, D. F. F. 2013?. Arte Doceira de Coimbra. Conventos e Tradições. Receituários (séculos XVII-XX). Sintra, Colares Editora, pg. 14, 16, 17
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