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A' Cerca de Coimbra



Quinta-feira, 31.12.15

Coimbra. Rainha Santa Isabel, cronologia

Nasce a princesa aragonesa no apogeu da Idade Média, no século das últimas e mais brilhantes Cruzadas … Na Península os reinos então existentes combatem entre si para alargar os seus domínios … É o século da pregação de um dos mais puros modelos de doutrina cristã, S. Francisco de Assis.

RESENHA
1270 (11 de Fevereiro) – nasce em Barcelona ou Saragoça, D. Isabel, filha de D. Pedro e D. Constança de Navarra, então príncipes, futuros reis de Aragão e duques de Barcelona.

1281 (24 de Abril) – em Vide, onde se encontra D. Dinis, é ajustado, perante os embaixadores enviados por D. Pedro III de Aragão, o contrato matrimonial, oferecendo D. Dinis a D. Isabel como doação «propter nuptias» os senhorios de Óbidos, Abrantes e Porto de Mós, segura por doze castelos de arras.

1282 (11 de Fevereiro) – realiza-se em Barcelona, por procuração, o casamento de D. Dinis e de D. Isabel, que então não contava mais de doze anos.
1282 (fins de Julho) – chega a princesa D. Isabel a Trancoso, onde se encontra D. Dinis, então com 21 anos de idade, e aí recebem as bênçãos matrimoniais e se realizam as bodas nupciais.
1282 (15 de Outubro) – chega a Coimbra o casal régio, que se apeou na cerca de Santa Maria de Celas e aí se preparou para dar solenemente entrada na cidade.

1287 – nasce a infanta D. Constança, tendo a rainha 17 anos de idade.

1287 (13 de Dezembro) – D. Isabel desloca-se a Badajoz para tentar harmonizar D. Dinis e seu irmão D. Afonso na luta familiar que então existia entre eles.

1292 (8 de Fevereiro) – nasce em Coimbra o infante D. Afonso, tendo a rainha 20 anos de idade.
1297 (12 de Setembro) – encontro em Alcanises dos reis de Portugal e de Castela para celebrarem contrato de paz e acordarem, enfim, o matrimónio da infanta D. Constança com D. Fernando IV de Castela, tendo tido neste litígio e neste acordo a rainha D. Isabel influente papel…
1298 (21 de Janeiro) – D. Dinis confia a D. Isabel, numa demonstração de grande apreço, que por sua morte seja ela a tutora e a governanta das riquezas e das propriedades de seus filhos bastardos.

1299 (8 de Abril) – D. Dinis faz o seu testamento em Santarém nomeando a rainha sua primeira testamentária.

1300 – intervenção de D. Isabel nas lutas que se desencadearam entre D. Jaime II de Aragão, irmão da rainha e de D. Fernando IV de Castela, alcançando que os dois monarcas firmassem em Campillo um tratado de paz e amizade.

1307- manifesta o desejo e decide D. Isabel fundar em Coimbra o mosteiro de Santa Clara no local, então abandonado e quase em ruínas, onde D. Mor Dias havia primitivamente erguido o seu mosteiro

1311 – intervenção de D. Isabel junto de D. Fernando IV de Castela, seu genro, o qual tendo chegado à maioridade não quer reconhecer a validade do tratado de Alcanises …
1312 – começo dos amuos entre o infante D. Afonso e seu pai, o rei D. Dinis, a partir dos quais D. Isabel assume, desde logo, o papel e medianeira e pacificadora.

1316 – é lançada a primeira pedra do convento de Santa Clara e de Santa Isabel.
1317 (24 de Julho) – instalam-se as primeiras religiosas no convento de Santa Clara, ainda inacabado.

1322 (7 de Março) – D. Dinis põe cerco a Coimbra. O infante logo que disso tem conhecimento apressa-se a acudir à cidade e D. Isabel para evitar o choque entre seu marido e seu filho, transgredindo as ordens terminantes do rei, sai de Alenquer e corre às terras de Entre-Minho-e-Douro a implorar a seu filho que evite o recontro com seu pai, desistindo de qualquer luta e se subordine à vontade real. Não conseguindo junto do filho os seus intentos dirige-se a seu marido conseguindo que este levante o cerco à cidade e se retirasse para Leiria …
1323-24 – de novo o infante D. Afonso abre guerra a seu pai partindo de Santarém, onde residia, contra Lisboa, onde estava o rei. D. Isabel, mais uma vez se apressa a evitar a luta, partindo de Lisboa para o lugar da contenda, montando uma mula e indiferente ao perigo que corria, pois as hostilidades já haviam começado no campo Loures-Alvalade. É ainda devido à sua nobilíssima ação de «anjo da paz» que esta se alcança, definitivamente, entre seu marido e filho.
1325 (2 de Janeiro) – declaração feita pela rainha D. Isabel de desejar ser sepultada vestida com o hábito de Santa Clara, no mosteiro de Coimbra, e, se enviuvar, usar aquele hábito como sinal de viúva e de humildade, sem emissão de algum voto ou profissão.

1327 (22 de Dezembro) – faz D. Isabel o seu último testamento no qual manda sepultar o seu corpo no mosteiro de Santa Clara de Coimbra a meio do coro da igreja e no qual, mais uma vez manifesta o seu espirito de beneficência social.

1334 – Lisboa é sacudida e em parte arruinada por um tremor de terra. A rainha Isabel aí desenvolve uma notabilíssima atividade amparando e socorrendo com desvelado carinho as vítimas da catástrofe.
1336 – acende-se a guerra entre seu filho D. Afonso IV e seu neto D. Afonso XI de Castela. Perante tal calamidade, de gravíssimas consequências para o reino, D. Isabel sai do seu paço de Santa Clara em direção a Estremoz, onde se encontrava seu filho, para conseguir a paz.
1336 (4 de Julho) – morre em Estremoz a rainha D. Isabel, dias antes chegada a esta vila, esgotada da viagem e que aí cai gravemente doente.
1336 (11 de Julho) – o corpo da rainha dá entrada no mosteiro de Santa Clara de Coimbra.
1336 (12 de Julho) – D. Isabel é sepultada no seu túmulo.
1516 (15 de Abril) – breve do papa Leão X que beatifica a rainha D. Isabel.
1517 (4 de Julho) – é celebrada pela primeira vez em Coimbra a festa da Bem-aventurada rainha Santa Isabel.
1556 (21 de Janeiro) – o papa Paulo IV estende o culto da Rainha Santa, que estava confinado a Coimbra, a todo o território português.

1625 (25 de Maio) – o papa Urbano VIII declara Santa a rainha D. Isabel.
1677 (29 de Outubro) – faz-se solenemente a trasladação do corpo da Rainha Santa do antigo mosteiro para uma capela provisória do novo convento de Santa Clara.

1755 (25 de Fevereiro) – a Câmara Municipal de Coimbra elege a Rainha Santa Isabel Padroeira da Cidade.

Pinto, A. S. 1973. Cronologia da Rainha Santa Isabel. Separata do Arquivo Coimbrão, vol. XXVI. Coimbra, Câmara Municipal de Coimbra. Pg. 1 a 13

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por Rodrigues Costa às 10:59

Quarta-feira, 30.12.15

Coimbra e as suas personalidades: Camilo Pessanha

Fruto dos amores ilegítimos de um estudante de Direito (mais tarde Juiz) com uma tricana, Pessanha formou-se também em Direito, em 1891. Exerceu a advocacia, em Coimbra, mas em 1894, partiu para a ex-colónia portuguesa do Oriente, para desempenhar o cargo de professor do liceu. Provido, em 1900, no lugar de Conservador do Registo Predial, levou uma existência tormentosa, irregular, viciado na ópio.


… Apesar de ficar cativo pelo Oriente, jamais deixou de divulgar a sua terra, o seu país, as suas gentes, os costumes e a cultura ocidental … quase indiferente ao destino dos seus poemas, que escrevia em papéis soltos, que oferecia e se dispersavam, foi um grande colecionador de cerâmica oriental, que se encontra, atualmente, em Lisboa e no Museu Nacional Machado de Castro, em Coimbra, instituição a quem a doou.


A obra poética resultou da reunião dos seus poemas pelo amigo João de Castro Osório, e que Pessanha intitulou de “Clepsidra” … que inculca o sentimento melancólico de que a vida corre do tempo, de que o próprio homem é constante passagem e se esvai no tempo.
Clepsidra é considerada a obra literária mais representativa do simbolismo português. Postumamente, foi editado um volume, “China”, que reúne ensaios sobre a civilização e literatura chinesa, incluindo uma tradução de oito elegias chinesas da autoria do poeta de Coimbra.

Nunes, M. 2005. Estátuas de Coimbra. Coimbra, GAAC – Grupo de Arqueologia e Arte do Centro. Pg. 63 e 64

 

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por Rodrigues Costa às 10:10

Terça-feira, 29.12.15

Coimbra e as suas personalidades: Cabral Antunes

José Maria Cabral Antunes, Medalha de Ouro da Cidade de Coimbra, em 1980 … é considerado, justamente, ‘o melhor escultor medalhístico português’. Nasceu em Coimbra a 6 de Fevereiro de 1916 e faleceu na mesma cidade a 6 de Abril de 1986.
A sua vocação para as artes plásticas despertou precocemente … preocuparam-se os seus professores em guardar os desenhos que fazia aos 6 anos e que são hoje testemunho da arte … à qual foi juntando, ao longo da vida, um enorme saber “só de experiência feito” que o guindou à condição de um dos melhores escultores do seu tempo.
Ainda jovem, encontramos o mestre escultor entregue à nobre arte estatuária … Das mãos de Cabral Antunes nasceram quase todos os modelos estatuários criados em Coimbra entre as décadas de 30 e 60, do século XX … inúmeros motivos alegóricos, miniaturas, baixos-relevos e bustos que se encontram espalhados um pouco por todo o País. No campo da estatuária são de destacar dois grandes monumentos, ambos em Coimbra: o conjunto dedicado aos Heróis do Ultramar … e a estátua do Papa João Paulo II

… O interesse pela medalhística surgiu mais tarde, no início de 60 … A medalhística era, então, um género plástico sem grande expressão. Ao génio artístico de Cabral Antunes se deve o facto da sua consagração como arte maior … Cabral Antunes transformou a medalhística, e a medalhística transformou Cabral Antunes no mais apreciado arista neste campo das artes plásticas. No último quartel da sua vida, o Mestre modelou no gesso e fez passar a bronze, à prata e ao ouro cerca de mil medalhas, algumas das quais fazem parte das mais belas coleções não só no nosso País, como de todo o Mundo.

Nunes, M. 2005. Estátuas de Coimbra. Coimbra, GAAC – Grupo de Arqueologia e Arte do Centro. Pg. 60 e 61.

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por Rodrigues Costa às 11:33

Segunda-feira, 28.12.15

Coimbra, a Sereia e as suas estátuas

O Parque de Santa Cruz, vulgarmente conhecido por Jardim da Sereia, fez parte integrante do antigo Mosteiro de Santa Cruz. No século XVIII, na época do Prior, D. Gaspar da Encarnação, foi aquela vasta área ajardinada e dotada de artísticos tanques, fontes e de um recinto para o jogo da péla. A entrada principal está marcada por um bonito pórtico ladeado de dois torreões, com uma arcada tríplice, ornamentada com concreções calcárias, vindas das grutas da zona de Condeixa … Dominam o pórtico três esculturas barrocas, simbolizando as Três Virtudes Teologais: Fé, Esperança e Caridade … a Fé está ao centro e empunha, elevado na mão direita, um cálice, enquanto a Caridade fica cercada de crianças e situa-se à esquerda, e a Esperança do lado direito, apresenta-se com a corrente de uma âncora (já desaparecida) … Uma lápide com texto em latim e colocada por baixo da figura central, a Fé, alude no seu conteúdo, ao local paradisíaco da Sereia
… A Cascata (vulgar e erroneamente designada por Fonte da Sereia) coroa o espaço cenográfico e paisagístico, intensamente barroco, o Jogo da Péla.
A Cascata ergue-se como grandioso trono de retábulo, em degraus de concreções calcárias semeadas de plantas (avencas), e tem a ornamentá-la e escultura, em pedra de Nossa Senhora da Conceição. Em plano mais recuado dois medalhões de azulejo figurativo do século XVIII com as cenas bíblicas de Sara e Agor no deserto (lado esquerdo) e o profeta Eliseu a lançar sal nas águas de Jericó (lado direito). A ladear os azulejos as estátuas dos quatro evangelistas: São Lucas e São João do lado esquerdo; São Mateus e São Marcos do lado direito.
As esculturas em calcário, degradadas, que remontam ao século XVI … está incompleta, porquanto falta o anjo no São Marcos e o touro alado do São Lucas está amputado das hastes
… no cimo de um cenográfico escadório, entremeado de patamares com repuxos e tanques de água, bancos de pedra armados de azulejo com motivos paisagísticos, de animais e água, nos encostos, encontra-se a Fonte da Nogueira, chamada, também, do Tritão … no alto um nicho com uma imagem da Virgem, e na base um grupo escultórico que simboliza um Tritão a abrir a boca a um golfinho, e donde corre a água para uma concha … Tritão, que na designação popular é a Sereia (daí o nome porque é conhecido o jardim).

… Por iniciativa do Clube da Comunicação Social foi-lhe erigido (a Cabral Antunes) no Parque de Santa Cruz, um busto em bronze, inaugurado em Abril de 1987 … o trabalho artístico foi executado pelo escultor Celestino Alves André.
… A 14 de Dezembro de 1967, no 1.º centenário do nascimento do poeta (Camilo Pessanha), foi inaugurado em Coimbra, sua terra natal, e no Parque de Santa Cruz ... um busto em bronze … da autoria do escultor Cabral Antunes … A iniciativa foi da responsabilidade da Câmara Municipal de Coimbra

Nunes, M. 2005. Estátuas de Coimbra. Coimbra, GAAC – Grupo de Arqueologia e Arte do Centro. Pg. 47 a 63

 

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por Rodrigues Costa às 10:56

Quinta-feira, 24.12.15

Coimbra, caminhos e bairros a nascente da Cidade

Nada mais natural pensar que a antiga estrada da Beira até á Portela tenha seguido um traçado que a atual decalca; o próprio terreno parece indicar esse lógico trajeto; e todavia não se deu isso.
… A estrada da Beira partia não da ponte mas da parte alta, da porta do Castelo … Passada a porta da fortaleza tinha-se logo abaixo ao lado direito o caminho que permitia voltar á cidade pela porta da Traição; à esquerda a estrada de Entremuros que levaria a Fonte Nova, de onde se tomaria para a porta Nova ou rua das Figueirinhas ou ainda se cortaria a norte para o Montarroio.
… Muito naturalmente o sítio, na parte mais plana, a do colo do monte, pedia um agregadozinho populacional. Ao lado direito, aonde vinha bater o muro da velha quinta dos crúzios, havia um, como hoje, em frente ao aqueduto. Prolongava-se mais que agora (e duma demolição recente ainda nos lembramos todos), fazendo uma correnteza de casas, tendo só encostadas aos arcos e em frente portanto das outras umas duas ou três.
Tinha para o lado da Penitenciária a modesta capela de S. Martinho, e em ponto levemente anterior o oratório do Santo Cristo das Maleitas, transformação dum cruzeiro de caminho.
Era este o fatal bairro popular que precedia a entrada das cidades fortificadas. Tabernas, pequenos negócios, gente sem eira nem beira, vivendo em tugúrios e pronta a qualquer serviço humilde, a alombar todos os carregos, a encarregar-se de qualquer recado, tudo isso aí ficaria.
Sigamos o caminho, passando sob o arco principal, pois que a topografia foi modificada com o muro do jardim botânico. Era aqui o ladeirento e pequeno campo de Santa Ana, com o chafariz, donde seguia o caminho de Celas e cortava o da Beira para o novo bairrozinho, o de S. José, tirando o nome do colégio conventual de S. José dos Marianos (hospital militar).
… Começava a descida e, à capela de Santo Antoninho dos porcos (pois que ali se fazia o mercado deles) passava o caminho pelo desvio angular que ainda ali se vê, para depois se meter pela ladeira calçada das Alpenduradas.
No fundo da descida, depois do mercado e das traseiras da fábrica, atingindo o vale, encontrava-se, como hoje, o começo do bairro do Calhabé e que se continuava esgarçadamente até perto da passagem de nível, sítio este aonde todos nós conhecemos umas casa baixas. Numa destas parece que viveu o velho Calhabé, prazenteiro e bebedor, mas que fora homem de representação.
Já outrora ninguém pensaria que ainda fosse cidade o Calhabé, bem ao contrário do que os justos fados talharam e que começa a realizar-se: o Calhabé ser a cidade e Coimbra um pobre bairro do mesmo Calhabé!
Podia-se descansar um pouco que uma nova ladeira esperava o caminhante. Lentamente subia-se á Portela da Cobiça. Lançado um último olhar à cidade afastada, transposto o colo, caminhava-se pelo vale transverso até ao rio, que depois se ia acompanhando para cima das Torres. Em frente aos Palheiros esperava-se que a barca do concelho viesse da outra margem e nos transportasse.
A cidade, aonde ficava ela!
… Lá seguiriam os viandantes, pelo cume, até Carvalho. Por Poiares, Almas da Serra, (S. Pedro Dias) iriam cair na Ponte de Mucela, aonde buscariam agasalho conforme a sua bolsa.
A serra máxima, a da Estrela do pastor, esperava-os.

Gonçalves, A. N. 1952. Antigos Caminhos e Pequenos Bairros a Nascente da Cidade. In Diário de Coimbra, edição de 25.12.1951

 

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por Rodrigues Costa às 10:42

Quarta-feira, 23.12.15

Coimbra, os retábulos da Capela da Universidade

Alguns anos vão já passados depois que o notável historiador de Arte Robert C. Smith deu a conhecer a autoria dos retábulos gémeos da capela da Universidade de Coimbra … na opinião deste autor, a talha coimbrã da segunda metade do século XVIII não passou de um mero decalque de “modelos pombalinos de Lisboa”
… Ora, como já tivemos ocasião de escrever, embora a talha de Coimbra desta época siga um estilo aparentado com o pombalino de Lisboa, apresenta, no entanto, características próprias que lhe conferem a personalidade suficiente para poderem assumir o papel de família regional. Os retábulos colaterais da capela da Universidade de Coimbra, como excelentes exemplares desse estilo regional, merecem, por isso, o destaque que a sua importância lhes confere.
A história dos retábulos remonta a tempos anteriores à sua execução, já que eles são ao atuais representantes de outros que os antecederam.
É de crer que a dedicação dos altares colaterais do cruzeiro a Nossa Senhora da Luz e a Santa Catarina se tenha efetuado com a instalação da Universidade nos paços reais, já que a Senhora da Luz era padroeira da confraria dos lentes e estudantes da mesma invocação e Santa Catarina de Alexandria é, como se sabe, patrona dos estudantes, particularmente dos de Filosofia
… A atual imagem de Nossa Senhora da Luz foi esculpida em 1598, havendo notícias de uma anterior. Em data ainda não conhecida ter-lhe-ia sido feito um novo retábulo. Do outro lado, o da Epístola, erguia-se o altar de Santa Catarina que devia ser modesto e destoar, pelo que … Em 22 de Abril de 1690 lavrou-se o contrato com Manuel Ferreira, escultor em Leiria … para “fazer o Retabello da capella de santa catherina da d.ª un.de ma forma e feitio do de nossa senhora da luz com nicho da mesma sorte”. Da nova imagem foi encarregado Frei Cipriano da Cruz … o trabalho de dourar o retábulo e estofar a imagem foi contratado por Luís de Oliveira, de Lisboa
… Porém, volvido pouco mais de meio século, um novo gosto se implantara na cidade … Os retábulos seiscentistas … pareceram assim “incapazes” ao visitador em 16 de Abril de 1758 … determinou “que p.ª os altares colaterais de N. Sr.ª da Lus, e Santa Catherina se fassão novos retabolos todos de madeyra de castanho ao moderno com toda a perfeição e primor da arte …”
… Para fazer a traça ao moderno … escolheu-se o entalhador Domingos Moreira em 6 de Março de 1759 … se deram de empreitada ao carpinteiro Alexandre Simões Ferreira e ao entalhador João Ferreira Quaresma … Os apontamentos foram feitos pelo entalhador e mestre-de-obras da Universidade, Gaspar Ferreira … foram encarregados da pintura e douramento José Botelho e Bento de Miranda.
Assim nasceram e se conservam – salvo ligeiras agressões na sua integridade – os dois retábulos gémeos, apenas diferentes entre si em pequenos pormenores alusivos aos santos que albergam.

Borges, N.C. 1991. Os Retábulos Gémeos da Capela da Universidade de Coimbra. Separata das Actas do Congresso “História da Universidade (no 7.º Centenário da Sua Fundação. Vol. 2.º. Coimbra. Universidade de Coimbra. Pg. 305 a 307

 

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por Rodrigues Costa às 10:57

Terça-feira, 22.12.15

Coimbra. Os órgãos mais relevantes existentes na Cidade

O órgão surge associado a festas e manifestações de caracter profano durante o período greco-romano.

No entanto, na Baixa Idade Média começa a assumir um papel fundamental nas cerimónias religiosas, sendo autorizada a sua utilização pelo Papa Vitalino, eleito em 657.

A produção destes instrumentos musicais alcança a sua máxima expressão durante o século XVII, época em que também surge a talha dourada e policromada indispensável à exuberância e teatralidade das cerimónias religiosas.

Os órgãos mais relevantes existentes em Coimbra são a seguir enumerados.

Igreja de Santa Cruz
Órgão do século XVIII, executado por D. Manoel Benito Gomez Gerrera, com reaproveitamento de elementos decorativos de um outro exemplar mais antigo, da autoria do entalhador Francisco Lorete.

 

Misericórdia
Órgão do século XVIII, de autor desconhecido, projetado para as antigas instalações da Misericórdia, alvo de grandes restauros, o último dos quais em 2001, pelo mestre organeiro George Jann.

 

Sé Nova
Órgãos do século XVIII, de autor desconhecido, onde desponta já o gosto neoclássico apesar de apresentar ainda bastantes elementos da linguagem artística anterior.

 

Capela de S. Miguel
Órgão do século XVIII, executado pelo organeiro Frei Manuel de S. Bento, destinado ao ensino da música na Universidade e também às várias celebrações religiosas e académicas.

 

Seminário Maior
Órgão do século XVIII, executado pelo organeiro Frei Manuel de S. Bento …

 

Neves, P. Sem data. Órgãos. Roteiros de Coimbra. Coimbra, Turismo de Coimbra, E.M.

 

 

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por Rodrigues Costa às 12:44

Segunda-feira, 21.12.15

Coimbra. Torre de Bera, seus usos e costume

Quatro ruazinhas floridas e uma torre. À volta desdobram-se as colinas e os montes.
… Tão antiga que ninguém lhe sabe as origens, esta aldeia deve ter nascido, como o nome faz acreditar, à sombra da velha torre que terá feito parte da linha de defesa da região de Coimbra ao tempo da Reconquista. Sendo provavelmente apenas um posto de atalaia, esta fortificação teria vigiado as surtidas de cristãos e mouros, serviria de abrigo à população ameaçada e dela sairiam avisos que poriam em guarda outras povoações ou os camponeses que tivessem saído em busca de lenha.
… No princípio deste século, as casas eram ainda na sua maior parte de pedra e terra; uma ou outra era caída. Entre elas ficavam as únicas vendas dos arredores.
As cozinhas, negras de fumo de várias gerações, abrigavam lareiras acesas num plano inferior ao soalho, criando um degrau que servia de assento, nas gavetinhas dos “bancos de talher” cada membro da família guardava a sua colher e o seu garfo; nas paredes, as cantareiras eram enfeitadas com papel recortado.
No exterior das casas sucediam-se as varandas de madeira.
Nas lojas térreas, de portas abertas para a rua, dispunham-se os teares em grupos de dois ou de três; aí trabalhavam as tecedeiras até altas horas da noite cantando as cantigas aprendidas com as mães ou as que tinham ouvido às tocatas da região.
Nesta época teciam-se panos delicados de desenhos minuciosos, por vezes em linho; mas pouco se usou este material que aqui nunca teve grande tradição mesmo quando chegou a ser cá cultivado; uma grande parte da obra era tecida em trapos que as próprias freguesas forneciam quando encomendavam o trabalho; usava-se também o algodão e faziam as colchas, lisas e lavradas, com lã de ovelha.
… Durante o ano sucediam-se as festas.
No primeiro de Janeiro … havia “fogaças”; leiloavam-se ofertas de bolos, jeropiga e outras coisas boas … Perto do Carnaval faziam-se as “pulhas”, terror das raparigas do lugar. Os rapazes iam munidos de funis para os outeiros vizinhos … dizendo uma quantidade de motes que compunham atribuindo namoros às raparigas e pondo a descoberto segredos que elas se tinham esforçado por manter … À meia-noite de Terça-feira Gorda enterrava-se o Entrudo: fazia-se um boneco cujo funeral era acompanhado por todos com altos choros e toques de campainha.
… já muito poucos o lembrarem o antigo “jogo do laço”. Com origens desconhecidas mas com um sabor medieval, este jogo do laço, que mais se pode chamar um ritual, realizava-se pelo St. António do largo de Bera. Três ou quatro rapazes vestidos de calças pretas, cinta vermelha, lenço ao pescoço e carapuço encarnado, iam até ao local onde tinham sido armados dois grandes arcos de paus entrelaçados e enfeitados com ramos de murta … levavam consigo um pau de cerca de dois metros com um arame na ponta onde prendiam um laço de fita. Cabia-lhes então meter a ponta do pau no espaço entre os dois arcos … A primeira fita, geralmente vermelha, era oferecida a St. António. As seguintes iam sendo oferecidas às raparigas de acordo com as preferências dos rapazes. De cada vez que conseguiam enfiar o pau entre os dois arcos, faziam nova oferta e diziam:


Oh querida da minha vida
Onde estás metida?
Tanto de tenho ‘precurado’.
Não te tenho encontrado.


Ribeiro, M. 1992. Torre de Bera. Coimbra, Edição de Autor. Pg. 1 a 6

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por Rodrigues Costa às 09:38

Sexta-feira, 18.12.15

Coimbra e as suas personalidades: João Machado

João Augusto Machado, de seu nome completo, nasceu em Coimbra a 7 de Dezembro de 1862. O pai esculpia “bonecos” nas horas vagas, mas era sapateiro … Depois de António Augusto Gonçalves ter fundado a Escola Livre, em 1878, Machado começou a frequentar esse ‘ninho de águias’ e, mais tarde, abriu oficina de canteiro. Na época, todos os artificies da pedra existentes em Coimbra, foram seus discípulos. O arquiteto Augusto da Silva Pinto … afirmava que, apesar de Machado possuir um curso de arte mais ou menos elementar e jamais se ter deslocado ao estrangeiro, conseguiu ser um escultor notável…
Machado, um dos maiores canteiros que se ‘formaram’ na ‘universidade plebeia’ ... Mas não se pode escamotear, em boa verdade, o facto de João Machado, um dos maiores entre os canteiros que se ‘formaram’ na «universidade plebeia’ mondeguina ter sido o responsável pela aprendizagem de quase todos esses lavrantes da pedra, pois a sua oficina funcionou sempre como laboratório da arte de escultor, uma vez que, no ensino oficial, a parte prática se encontrava, por várias razões, omissa.
… João Machado não recebia ‘ao dia’ como os outros, mas as remunerações eram-lhe entregues globalmente e resultava, quase sempre, de trabalho realizado na sua oficina sita então ainda na rua da Sofia, em Coimbra.
… Mestre Machado trabalhou esta alegoria (a Vitória do Palace do Bussaco) num só bloco, trazido das pedreiras de Ançã e que, segundo os carreiros que a transportam para Coimbra, em virtude do seu peso, fizera abanar a ponte da Cidreira, quando a atravessou. A pedra era linda a valer e o artista, enquanto a teve na sua oficina, antes de a ‘rasgar’, ficava-se longo tempo a olhá-la e a acariciá-la; doeu-lhe mesmo o coração começar a cortá-la, porque ele tinha “pela pedra rude a mesma adoração que os ourives pelo oiro fino … Bem sabia elle que a pedra, se a beija a arte, se põe a rir o mesmo riso que canta o ouro fino. Aos primeiros golpes que se lhe dam, a pedra solta gritos ásperos de dôr, como se chorasse o ferro. Mas, pouco a pouco, vai-se amaciando o som, ainda triste, como o cantar das rôlas a distância. E, quando a obra está quasi a acabar-se, a pedra sôa o riso metálico do oiro”.

Anacleto, R. 1997. Arquitetura Neomedieval Portuguesa. 1780-1924. Lisboa, Fundação Calouste Gulbenkian / Junta Nacional de Investigação Científica e Tecnológica. Pg. 312 a 315

 

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por Rodrigues Costa às 12:19

Quinta-feira, 17.12.15

Coimbra, a Escola de Canteiros de Coimbra 2

A obra do “Monteiro dos Milhões” (o Palacete da Regaleira) começava a dar brado, e, em 1904, ‘O Século’, na correspondência de Sintra, escrevia:
… Os artistas de cujas mãos sáem éssas óbras primas em pédra são da Batalha …

… transcrito na ‘Resistência’, mereceu uma violenta réplica, saída certamente, porque o tom o deixa adivinhar, da pena do seu diretor, Joaquim Martins Teixeira de Carvalho.
“ … Os artistas que fizérão as obras que o critico cita são de Coimbra e châmão-se António Augusto Gonçalves, João Machado, Jozé de Souza Barata e José Fonseca. João Machado e Jozé Barata são discipulos de António Augusto Gonçalves e estudárão na Escola livre das artes do desenho. Jozé Fonseca foi aluno da Escóla Brotéro e discipulo de João Machado. Jozé Baráta, lavra como nenhum outro artista português, em estilo manuelino. João Machado é um artista de sensibilidade artística rára, compreendendo e sentido as belezas de todos os estilos, como demonstrão as suas obras (…). Fonseca é um rapás muito novo, já oje um canteiro de valor e que mais poderá elevar-se, se continuar a estudar e não perder no meio lisboeta a modestia e a capacidade do trabalho”.

Mas o autor do artigo olvidara-se de um nome e, certamente a sensibilidade do artista visado terá sofrido com o esquecimento, pelo que no mesmo jornal, dias depois, voltou à carga … esqueceu-nos o nôme de um artista, injustiça que ôje reparamos. Chama-se êle João das Neves Machado; foi aluno da Escóla Brotéro, e é ôje socio da Escóla Livre das Artes do Desenho. É, com J. Fonsêca, um discipulo tambem de João Machado, na sua oficina completou a educação insuficiênte da Escóla Brotéro …”

… Um outro aspeto, quiçá bem importante, relaciona-se com a escola de canteiros de Coimbra que desde sempre se teve como ligada à obra … A maior parte dos artistas, encontravam-se associados à Escola Livre e praticamente todos a João Machado … Mas se alguns, como José Barata e António Gomes que se haviam deslocado para Sintra, a fim de trabalhar na Regaleira, regressaram à cidade, outros, como José e Luís Fonseca por lá se quedaram, o primeiro na vila e o segundo em Lisboa.
Mestre Fonseca acompanhou os trabalhos da Regaleira, pode bem dizer-se, desde o princípio até ao fim.
Esta verdadeira escola de canteiros de Coimbra, durante a sua vigência, assume tal importância na vida artística do país que ouso perguntar-me se ela, dentro destes parâmetros, se pode considerar periférica.

Anacleto, R. 1997. Arquitetura Neomedieval Portuguesa. 1780-1924. Lisboa, Fundação Calouste Gulbenkian / Junta Nacional de Investigação Científica e Tecnológica. Pg. 335 a 337

 

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por Rodrigues Costa às 10:30

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