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A' Cerca de Coimbra



Quinta-feira, 29.10.15

Coimbra: Fado ao Serenata Coimbrã? 2

Ninguém, melhor que Frederico de Freitas … escreveu sobre o fado (de Lisboa) porque, assim o pensamos, ninguém estudou as suas origens tão profundamente.
… É sem qualquer reserva que aderimos à tese que atribui ao fado origem brasileira, já que ela se baseia em factos históricos … O fado foi, no começo, uma dança um tanto lasciva, com música instrumental, de ritmo sincopado, derivado do ritmo de uma outra dança afro-brasileira, que é o lundum. Aportada à foz do Tejo, quedou-se pelas casas pouco iluminadas da colina … Aí se mudou em canção dolente … Mais tarde subiu aos salões e ao palco … para se vulgarizar como canção ligeira, de divertimento, acompanhada à guitarra e à viola…
Mas o fado, enquanto fado, sempre foi uma canção de ambientes fechados … o ritmo, enquadrado no compasso binário, tem uma síncope no segundo tempo: o acompanhamento é feito, normalmente, apenas em dois acordes – o da tónica e o da dominante – alternados de dois em dois compassos; a canção é do género silábico.

Ora o fado coimbrão apresenta-se com características bem diferentes, senão até opostas em alguns pormenores.
Desde logo se torna evidente que a canção coimbrã é uma música de ar livre, a estiolar em ambientes fechados, nos quais perde força expressiva e significado social … O ritmo é agrupado em compassos quaternários, de andamento moderado, frequentemente alongado em suspensões, de preferência nas passagens mais agudas. A guitarra, para além duma curta introdução, quase se limita a acordes arpejados sempre coincidentes com os tempos, sobre os quais a melodia se liberta em curvas bem lançadas, gostosamente ornamentadas com trilos decorativos e melismas expressivos.
… Mas uma das características definidoras deste género musical é a riqueza das suas modulações. É raro encontrar-se um fado coimbrão cuja melodia se sobreponha à simples alternância dos dois acordes da tónica e da dominante.
… Enfim, quer pelo gosto e riqueza das modulações, quer pela supremacia da melodia sobre a parte instrumental, quer pela variedade rítmica, nada aponta uma origem, para o Fado-de-Coimbra, coincidente com a do fado de Lisboa, ou seja, do FADO, tout court. Na serenata de Coimbra não vislumbramos qualquer antecedência de dança.
Já lhe chamámos «serenata» em vez de fado e fizemo-lo propositadamente para melhor o situarmos entre os vários géneros musicais.
Consultado, por exemplo, o Dicionário da Música de Marc Honegger, encontramos a seguinte noção de «serenata»: «Composição vocal – acompanhada por um ou mais instrumentos – ou puramente instrumental, destinada a ser executada ao ar livre, durante a noite, sob as janelas duma pessoa que se pretende seduzir ou honrar».
Ora, pelo que todos conhecemos, é bem evidente a aplicabilidade perfeita daquela noção ao que se tem chamado «fado-de-Coimbra».
… Se, na origem, era simples melodia acompanhada por alaúde ou viola clássica, no séc. XVI tornou-se canção polifónica e foi sendo moldada ao gosto dominante em cada época. No século XVII o alaúde deu lugar ao bandolim (que, entre nós, se transformou levemente em relação ao original italiano, quanto à forma do fundo – o bandolim português tem o fundo chato) instrumento cujo emprego se generalizou na Europa, principalmente na Itália, França e Alemanha, no século XVIII, passando a ser, nestes países, o instrumento favorito dos músicos que se dedicam às serenatas.

Faria, F. 1980. Fado de Coimbra ou Serenata Coimbrã? Coimbra, Comissão Municipal de Turismo, pg. 7 a 11

 

 

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por Rodrigues Costa às 10:26


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