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A' Cerca de Coimbra



Sexta-feira, 30.10.15

Coimbra: Fado ao Serenata Coimbrã? 3

…Na busca que fizemos, durante bastante tempo, com o fito de encontrarmos a génese do fado-de-Coimbra, chamou-nos a atenção de modo especial um caderno de música escrito à mão e encadernado com sinais evidentes de ter sido muito utilizado, que existe na secção de manuscritos musicais da Biblioteca da Universidade de Coimbra, ainda por catalogar. Eis os primeiros dizeres: «Caderno de Múzica – Piano e Canto – J.D.C.».
Este caderno começou a ser escrito em 1862, segundo parece por um Costa Vasconcelos Delgado (o autor das primeiras músicas ali registadas) e em 1927 pertencia a Tomaz da Costa Paiva, do Zambujal.
O facto de nele estar copiado, com a data de 7-12-62 o conhecido «Hino Académico» que fora composto em 1853, exatamente para a Academia Coimbrã, legitima a nossa suposição de que as obras ali recolhidas eram cantadas e tocadas em ambientes frequentados por estudantes daquela época.
Um dos géneros musicais ali representados é o da «modinha» - «romança ou ária sentimental de fundo amoroso muito vulgarizada em todo o País e no Brasail pelos séculos XVIII e XIX», na definição de Francisco de Freitas.
Sucede que um dos cultores daquele género musical foi o P. José Maurício (1752-1815) que, entre outras coisas, foi professor da Cadeira de Música da Universidade de Coimbra e tinha o bom hábito de reunir em sua casa amadores para executar música, em saraus que tiveram grande fama na cidade.
Sobre a possível ligação entre a modinha e a serenata, já em 1895, se pronunciou César das Neves, no preâmbulo do II Volume do Cancioneiro …Referindo-se expressamente às modinhas, diz que elas «faziam as delícias nos serões das famílias mais ilustres» no fim do século XVIII e princípios do século XIX.
Continuando a historiar a evolução da música nos salões oitocentistas, diz que «vem depois João de Lemos e os Dórias com os seus fados e baladas, e as inúmeras romanzas brasileiras», para destacar, finalmente, o aparecimento de Augusto Hilário «com os seus fados-serenatas de uma contextura nova, cuja nota dominante reside na riqueza de modulações, na emotividade, ora apaixonada e sensual, ora patética e romântica».
Este testemunho de César das Neves afoita-nos a afirmar aquilo que já tínhamos deduzido do estudo comparado dalgumas modinhas com as baladas integradas nas récitas estudantis do fim do século passado (séc. XIX) e com o «fado-serenata» (parece ser esta a mais correta designação para o que se vai chamando fado-de-Coimbra): a modinha deixa o piano para se agarrar à viola; sai dos salões, despojando-se de arrebiques poeirentos; vem para a rua onde se refresca, simplifica e se torna expansiva; é assumida pela virilidade da voz masculina; por fim, chama a guitarra, deixa-se influenciar um pouco pelo fado lisboeta – transforma-se no «fado-de-Coimbra».

Faria, F. 1980. Fado de Coimbra ou Serenata Coimbrã? Coimbra, Comissão Municipal de Turismo, pg. 12 e 13

 

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por Rodrigues Costa às 09:53

Quinta-feira, 29.10.15

Coimbra: Fado ao Serenata Coimbrã? 2

Ninguém, melhor que Frederico de Freitas … escreveu sobre o fado (de Lisboa) porque, assim o pensamos, ninguém estudou as suas origens tão profundamente.
… É sem qualquer reserva que aderimos à tese que atribui ao fado origem brasileira, já que ela se baseia em factos históricos … O fado foi, no começo, uma dança um tanto lasciva, com música instrumental, de ritmo sincopado, derivado do ritmo de uma outra dança afro-brasileira, que é o lundum. Aportada à foz do Tejo, quedou-se pelas casas pouco iluminadas da colina … Aí se mudou em canção dolente … Mais tarde subiu aos salões e ao palco … para se vulgarizar como canção ligeira, de divertimento, acompanhada à guitarra e à viola…
Mas o fado, enquanto fado, sempre foi uma canção de ambientes fechados … o ritmo, enquadrado no compasso binário, tem uma síncope no segundo tempo: o acompanhamento é feito, normalmente, apenas em dois acordes – o da tónica e o da dominante – alternados de dois em dois compassos; a canção é do género silábico.

Ora o fado coimbrão apresenta-se com características bem diferentes, senão até opostas em alguns pormenores.
Desde logo se torna evidente que a canção coimbrã é uma música de ar livre, a estiolar em ambientes fechados, nos quais perde força expressiva e significado social … O ritmo é agrupado em compassos quaternários, de andamento moderado, frequentemente alongado em suspensões, de preferência nas passagens mais agudas. A guitarra, para além duma curta introdução, quase se limita a acordes arpejados sempre coincidentes com os tempos, sobre os quais a melodia se liberta em curvas bem lançadas, gostosamente ornamentadas com trilos decorativos e melismas expressivos.
… Mas uma das características definidoras deste género musical é a riqueza das suas modulações. É raro encontrar-se um fado coimbrão cuja melodia se sobreponha à simples alternância dos dois acordes da tónica e da dominante.
… Enfim, quer pelo gosto e riqueza das modulações, quer pela supremacia da melodia sobre a parte instrumental, quer pela variedade rítmica, nada aponta uma origem, para o Fado-de-Coimbra, coincidente com a do fado de Lisboa, ou seja, do FADO, tout court. Na serenata de Coimbra não vislumbramos qualquer antecedência de dança.
Já lhe chamámos «serenata» em vez de fado e fizemo-lo propositadamente para melhor o situarmos entre os vários géneros musicais.
Consultado, por exemplo, o Dicionário da Música de Marc Honegger, encontramos a seguinte noção de «serenata»: «Composição vocal – acompanhada por um ou mais instrumentos – ou puramente instrumental, destinada a ser executada ao ar livre, durante a noite, sob as janelas duma pessoa que se pretende seduzir ou honrar».
Ora, pelo que todos conhecemos, é bem evidente a aplicabilidade perfeita daquela noção ao que se tem chamado «fado-de-Coimbra».
… Se, na origem, era simples melodia acompanhada por alaúde ou viola clássica, no séc. XVI tornou-se canção polifónica e foi sendo moldada ao gosto dominante em cada época. No século XVII o alaúde deu lugar ao bandolim (que, entre nós, se transformou levemente em relação ao original italiano, quanto à forma do fundo – o bandolim português tem o fundo chato) instrumento cujo emprego se generalizou na Europa, principalmente na Itália, França e Alemanha, no século XVIII, passando a ser, nestes países, o instrumento favorito dos músicos que se dedicam às serenatas.

Faria, F. 1980. Fado de Coimbra ou Serenata Coimbrã? Coimbra, Comissão Municipal de Turismo, pg. 7 a 11

 

 

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por Rodrigues Costa às 10:26

Quarta-feira, 28.10.15

Coimbra: Fado ao Serenata Coimbrã? 1

É muito antigo o gosto do universitário coimbrão em cantar de noite ao ar livre.
A Universidade tinha sido instalada na cidade mondeguina há bem pouco tempo, quando ao Rei D. João III chegaram queixas sobre tão «escandaloso procedimento» … o Monarca dirigiu ao Reitor uma carta, em 20 de Junho de 1539, na qual ordenava que o meirinho da Universidade fosse rigoroso para os «estudantes … andam de noite com armas fazendo músicas e outros autos…»
… É evidente que a provisão poucos ou nenhuns efeitos práticos causou … o «escandaloso procedimento» se tornou um hábito tradicional, cada vez mais arreigado, até ao ponto de, passados dois séculos, haver grupos de estudantes que «passavam dia e noite a tocar instrumentos musicais, a jogar cartas e a fazer versos» … Não conhecemos qualquer documento de que possa deduzir-se o género de música feita pelos estudantes … Mas o que nos parece impensável era levar tão longe as raízes do chamado fado-de-Coimbra.
Foi numa morna noite Outonal de 1949 que me encontrei com esse estranho personagem com o nome de «Fado-de-Coimbra».
Chegara, de mala às costas, pela tardinha, e instalara-me no 30 de Sé Velha, lá em cima, no último andar, a partilhar do quarto onde um amigo mais velho me acolheu.
Foi aí que, a desconhecidas horas da madrugada, me surpreendeu uma voz de tenor, bem timbrada, clara e livre e me fez entrar no quarto uma melodia, em curvas descendentes e levemente ornadas:
Oh! Estrelinha do Norte
‘Spera por mim, que eu já vou!
O meu companheiro de quarto, minhoto como eu, mas já perfeitamente conhecedor do ambiente – era, então «puto» - elucidou-me: é Fulano (não recordo o nome do cantor) que canta o fado, ali na escada da Sé Velha.
Seguiram-se outras melodias (mais uma ou duas, talvez) … Desde então, habituei-me àquelas visitas noturnas. E quando ninguém vinha à Sé Velha fazer o «ite missa est» duma serenata, lá aparecia o Mota (que pela quarta ou quinta vez insistia no primeiro ano de direito) a recitar poesias, suas ou alheias, para que em cada noite o sono dos moradores daquele Largo não caísse na chateza da monotonia.
… Ao mesmo tempo, ia-me interrogando: mas, porquê chamar a isto um fado?
É que, à palavra fado correspondiam, nos arquétipos mentais do meu conhecimento, noções bem diferentes: ou popular dança de roda, com quadras soltas cantadas normalmente em desgarrada; ou canção de «bas-fond» lisboeta … A diferença entre os dois géneros musicais é patente e a ela nos vamos agora referir.

Faria, F. 1980. Fado de Coimbra ou Serenata Coimbrã? Coimbra, Comissão Municipal de Turismo, pg. 5 a 7

 

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por Rodrigues Costa às 09:59

Terça-feira, 27.10.15

Coimbra e as suas personalidades: Augusto Nunes Pereira

Natural do lugar da Mata, freguesia de Fajão do concelho da Pampilhosa da Serra, iniciou a vida eclesiástica paroquiando Montemor-o-Velho … finalmente, dedicou-se de alma e coração, à Paróquia de S. Bartolomeu, em Coimbra, durante vinte e oito anos … desde 1952 até fim de 1980.
Paralelamente com a atividade religiosa, que comandou sempre todos os atos da sua vida, deu valiosíssimo contributo ao ensino lecionando na Escola de Avelar Brotero, ARCA, Escola Normal Social, Externato de S. Tomás de Aquino, Externato Pedro Nunes e Seminário Maior de Coimbra …
Nos domínios da Arte ocupou … um lugar privilegiado tanto a nível local e regional, como, mesmo, a título nacional.

Santos, A.P. Monsenhor Nunes Pereira? Cónego Nunes Pereira? Não! Padre Nunes Pereira, apenas. In Movimento Artístico de Coimbra. Boletim Informativo n.º 2. Coimbra, Novembro de 1986, Edição do M.A.C. (policopiada), pg. 13

 

Era filho de pai escultor santeiro que faleceu quando Augusto tinha nove anos: "Dele herdei este jeito para as artes e um razoável conjunto de ferramentas, com as quais iniciei a minha aprendizagem manual: plainas, serras, formões, goivas e o mais da arte". Cresceu e viveu até à adolescência em contacto direto com a vida dura e agreste das gentes da serra.
Em 1919, entrou no Seminário de Coimbra e de lá saiu ordenado sacerdote, em 1929. … De 1952 a 1974 foi chefe de redação do "Correio de Coimbra” que ilustrou com muitas gravuras.
Dirigiu o Museu de Arte Sacra do Seminário Maior de Coimbra. Colaborou no estudo de monumentos, na valorização do património arqueológico da Igreja de São Bartolomeu e investigou sobre os túmulos e o púlpito de Santa Cruz, tendo colaborado no inventário cultural de Arte Sacra da diocese de Coimbra.
Fundador do Movimento Artístico de Coimbra e da Sociedade Cooperativa de Gravadores de Portugal e sócio da Sociedade Nacional de Belas Artes.
Possui numerosos artigos, poemas e ilustrações em jornais, catálogos, opúsculos e monografias.
… Em 1986, a Câmara Municipal de Coimbra atribuiu-lhe a medalha de Ouro da Cidade. … O génio e a arte aliaram-se no grande homem, padre e artista que foi Augusto Nunes Pereira, para produzirem abundantes e saborosos frutos e para deliciarem os interessados e apaixonados pela beleza e pela arte.
Faleceu a 1 de Junho de 2001, com 94 anos

Acedido em 18.10.2015, em www.aldeiasdoxisto.pt/poi/1416

 

CALHAU ROLADO

Aqui limando,
além batendo,
após compondo,
Teve a forma que tem:
ficou redondo

Eu tenho até pensado
que não é ele mas sou eu
o tal calhau rolado

A. Nunes Pereira

 

Homenagem simples mas comovida ao meu Mestre, depois meu Amigo
Rodrigues Costa

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por Rodrigues Costa às 10:56

Sexta-feira, 23.10.15

Coimbra, as origens da Escola Brotero

No ... ano de 1984, a Escola Brotero de Coimbra, comemora o seu primeiro centenário. Com efeito, foi criada, pelo então Ministro das Obras Públicas, Comércio e Indústria, António Augusto de Aguiar, como Escola de Desenho Industrial, por Decreto de 3 de Janeiro de 1884, sendo batizada com o nome de «Brotero» por Decreto de 5 de Dezembro desse mesmo ano.
… Por Despacho de 4 de Dezembro de 1884, foi colocado na Escola Brotero, o professor António Augusto Gonçalves, diretor da «Escola Livre das Artes de Desenho» … Para instalação da Escola, a Câmara Municipal de Coimbra … cedeu a antiga Igreja da Trindade … Sendo, porém, necessário fazer obras de adaptação … a Associação dos Artistas de Coimbra, para que a abertura da Escola não fosse adiada, ofereceu uma sala de que, desde 1866, dispunha no mosteiro de Santa Cruz – o antigo refeitório. Aí abriu a Escola Brotero, em 20 de Fevereiro de 1885, lá se mantendo, em condições precárias, até Dezembro de 1887.
… O material didático … foi obtido, em parte, na Alemanha, na Inglaterra e na França e, em parte, no nosso País. Tendo o da Escola Brotero vindo da Alemanha … O ensino do desenho divide-se em elementar e industrial; o primeiro é diurno e o segundo é noturno … As aulas abriram efetivamente em 20 de Fevereiro de 1885, estando matriculados 84 alunos (81 do sexo masculino e 3 do sexo feminino … Em poucos dias, mantendo-se embora estacionário o número de alunos do sexo feminino, esse número subiu para 152. Esse alunos, cujas idades oscilavam entre os 6 e os 40 anos, ou se distribuíam por um leque bastante amplo de profissões – alfaiates, barbeiros, canteiros, carpinteiros, fabricantes de doce, fundidores, latoeiros, marceneiros, oleiros, ourives, pedreiros, pintores, tipógrafos.
… No começo do ano letivo de 1886-1887, em Dezembro, a Escola Brotero deixou de funcionar na sala da Associação dos Artistas e passou … no corredor por cima do antigo refeitório. Nesse corredor, ladeado de celas, foram feitas obras de adaptação, que consistiram fundamentalmente em unir as celas de um dos lados corredor para formar uma sala grande.
… Emídio Júlio Navarro, então, Ministro das Obras Públicas, por Decreto de 10 de Janeiro de 1889, transforma a Escola de Desenho Industrial de Coimbra em Escola Industrial «destinada a ministrar o ensino teórico e prático apropriado às indústrias predominantes na mesma cidade» … Em 4 de Janeiro de 1890 começou a funcionar como Escola Industrial … em 15 de Maio de 1889, o italiano Leopoldo Battistini foi nomeado professor de «Desenho ornamental» e o austríaco Emil Jack, professor de «Desenho de máquinas» … o austríaco Hans Dickel … professor de «Desenho arquitetónico» … o francês Charles Lepierre … professor de «Química industrial» … Albino Augusto Manique de Melo … professor de «Aritmética e geometria elementar» e Eugénio de Castro e Almeida … professor de «Língua francesa».
… A Câmara Municipal cedeu à Escola, nesse ano letivo (de 1890-1891) «a parte baixa do antigo cerco do noviciado do convento de Santa Cruz”.
Durante o ano letivo de 1890-1891, foram feitas obras «na parte inferior dos edifícios que bordam o jardim da Manga, a fim de adaptar esta parte do edifício ao estabelecimento de oficinas de serralharia, carpintaria e marcenaria, de modelação e cerâmica, com que vai ser dotada aquela escola, bem como para melhorar as instalações da oficina de gravura e ornamentação de metais que este ano já funcionou».

Gomes, J. F. Apontamento para o estudo das origens da Escola Brotero de Coimbra. In 1.º Centenário da Exposição Distrital de 1884. Coimbra. Simpósio. 30 de Junho e 1 de Julho de 1984. Coimbra, Edição do Secretariado das Comemorações, p. 30 a 41

 

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por Rodrigues Costa às 22:38

Quinta-feira, 22.10.15

Coimbra, a Exposição Distrital de 1884

… Coimbra encontrava-se em 1884 – como aliás tem sucedido geralmente ao, longo da sua história – impregnada pelo setor terciário, o qual lhe emprestava uma fácies muito peculiar. Contudo, também o setor secundário não estava ausente, pois eram ali exercidas múltiplas atividades artesanais e mesmo algumas industriais. Entre as primeiras contavam-se as seguintes: cordoaria, correaria, caldeiraria, funilaria, chapelaria, marcenaria, alfaiataria, sapataria e artes gráficas (tipografia e encadernação). Das segundas destacavam-se: algumas indústrias alimentares (moagem, massas alimentícias e bolachas), metalurgia e metalomecânica, carpintaria mecânica e cerâmica.
… As primeiras atividades artesanais referidas (cordoaria, correaria, caldeiraria, funilaria e ourivesaria) como que haviam chegado ao fim do seu ciclo, aparecendo escassamente representadas … começava já em 1884 a esboçar-se uma tendência que o futuro se limitaria a acentuar: «que a ourivesaria d’esta cidade é mais um commercio do que uma arte nobre!» … Tendência similar – isto é, a crescente preferência dada à distribuição relativamente à produção – vamos encontrá-la também na marcenaria, na sapataria e na alfaiataria.
… Além das cerca de 10 tipografias … e de um número considerável de minúsculas oficinas de diversos ramos, localizam-se na «Lusa Atenas», em 1884, 40 estabelecimentos industriais … O maior número de estabelecimentos pertencia à metalurgia/metalomecânica e à cerâmica, com 14 unidades cada, seguindo-se a indústria alimentar, com 6, os transportes (fabrico) com 3 e os ramos do sabão, das madeiras e misto (moagem de cereais e de vidrado, para a cerâmica), com 1 cada. Trata-se ainda, na maioria dos casos, de manufaturas e até, provavelmente, de algumas oficinas.
… Considerada, globalmente, pode dizer-se que a indústria coimbrã, a par de alguns ramos tradicionais que definhavam, apresentava outros em desenvolvimento, como os das indústrias alimentares, metalurgia/metalomecânica e madeiras.

Mendes, J.M.A. A Indústria no distrito de Coimbra na Época da Exposição de 1884. In 1.º Centenário da Exposição Distrital de 1884. Coimbra. Simpósio. 30 de Junho e 1 de Julho de 1984. Coimbra, Edição do Secretariado das Comemorações, p. 12 a 16

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por Rodrigues Costa às 15:09

Quarta-feira, 21.10.15

Coimbra e as suas personalidades: António Augusto Gonçalves

… nasceu em Coimbra, a 19 de Dezembro de 1848. Herdou de seu pai, pintor e decorador com alguns merecimentos, uma fina sensibilidade estética e um critério de apreciação que irá aplicar na pedagogia e na vulgarização artísticas. Concluídos os seus estudos secundários, frequentou na Universidade de Coimbra, o curso de Farmácia, que logo abandonou. A partir de então passa a dedicar-se ao ensino livre do Desenho e da Matemática, ao mesmo tempo que irá alargando o campo dos seus conhecimentos artísticos. Belisário Pimenta, que com ele de perto privou, traça-nos … o perfil da sua mentalidade: «tinha contra si a mácula das suas ideias ao tempo muito avançadas em política e a outra mácula não menor da falta de crenças religiosas; de modo que o seu atrevimento em não seguir os cânones pedagógicos oficiais em Arte, o seu tolerante republicanismo apenas de princípios embora firmes e o não menos tolerante livre-pensamento, teriam, na época ressonância verdadeiramente revolucionária». Neste testemunho falta apenas a alusão ao enternecimento que lhe mereciam as camadas populares mais humildes e o operariado carecido de instrução.
… que o vemos desempenhar as funções de vereador da Câmara Municipal de Coimbra, eleito pela minoria republicana, no triénio de 1887 a 1889 … A sua opção de livre-pensador é demonstrada … na organização do cortejo cívico realizado em Coimbra, em 1890, e dedicado à memória de Joaquim António de Aguiar … os dirigentes republicanos manifestaram-lhe a sua confiança … atribuindo-lhe, em 1912, a presidência da Comissão Administrativa do município conimbricense … colocou o melhor da sua vocação pedagógica quer como professor de Desenho na Associação dos Artistas e no Colégio dos Órfãos … Mas a sua principal realização neste domínio foi indubitavelmente a criação da «Escola Livre das Artes do Desenho» … O primeiro problema que se colocava à viabilização da «Escola» era o da obtenção de um espaço físico … Daí que no dia 31 de Julho de 1878, sete operários tenham dirigido ao executivo municipal … ser cedida a antiga casa do Senado, no andar superior da torre do Arco de Almedina … A Câmara anuiu à pretensão e forneceu mesmo alguns materiais para que o prédio fosse ligeiramente restaurado.
… António Augusto Gonçalves não terminaria a sua longa existência sem realizar duas obras que, pela sua importância artística e relevo cultural, bastariam para conferir ao seu autor o direito de passar a ser reverentemente lembrado pelas gerações coimbrãs: referimo-nos ao restauro da Sé Velha e à fundação do Museu Machado de Castro
… É evidente que nesta breve resenha biográfica se acham omitidas muitas particularidades da vida de Mestre Gonçalves … os primores do jornalista e do crítico de arte, as arremetidas do polemista ou os méritos do professor universitário, que também foi. Mas consignam-se aspetos suficientes para qualificar de generosa e útil uma vida que se extinguirá em 4 de Novembro de 1932

Homem, A.J.C. A Exposição Distrital de Coimbra em 1884. In 1.º Centenário da Exposição Distrital de 1884. Coimbra. Simpósio. 30 de Junho e 1 de Julho de 1984. Coimbra, Edição do Secretariado das Comemorações, p. 53 a 57

 

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por Rodrigues Costa às 09:53

Terça-feira, 20.10.15

Coimbra e a reforma administrativa de D. João III

Coimbra, no plano das reformas administrativo-judiciais de D. João III, surge como cabeça de comarca em 1533. A cidade e vinte vilas, pertencentes algumas delas ainda à província da Estremadura mas desmembradas da antiga correição do mesmo nome, passam a constituir a área do novo distrito. São limites extremos, se considerarmos Montemor-o-Velho como ponto de interceção de coordenadas, Buarcos e Arganil, em longitude; Vila Nova de Anços e Mira, no sentido da latitude.

A Estremadura, antes da reforma joanina, constituía uma só correição e nela estava incluída a cidade de Coimbra e o seu termo … em carta de 8 de Fevereiro de 1516, a Câmara coimbrã representou ao monarca que nesta data o corregedor estava na cidade havia um mês e não se sabia se pretendia ultrapassar o tempo do regimento. Acrescentou, também, não precisar do corregedor. A cidade estava bem provida de justiça com um juiz de fora, um alcaide e um meirinho “e o nos parece que he sobejo”.

Oliveira, A. 1971. A Vida Económica e Social de Coimbra de 1537 a 1640. Primeira Parte. Volume I. Coimbra, Universidade de Coimbra, pg. 7 a 9

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por Rodrigues Costa às 09:46

Segunda-feira, 19.10.15

Coimbra, passagem pela cidade de D. Manuel I em 1502

A passagem do Rei D. Manuel pela cidade, em 1502, a caminho de Santiago de Compostela, iria fazer-se sentir na vida do velho burgo. De facto, o Venturoso viria a impulsionar várias obras e melhoramentos em toda a cidade. Assim aconteceu na quase abandonada alcáçova dos reis portugueses … Também a velha ponte de pedra sobre o Rio Mondego é reconstruída e alindada nessa época, bem como o terreiro da portagem. Igualmente é criado o Hospital Real, na Praça de S. Bartolomeu … sendo também reedificado e ampliado o antigo Hospital dos Lázaros, fora de portas, à saída norte da cidade … Particularmente importante foi a renovação do Mosteiro de Santa Cruz, tendo ao rei merecido especial atenção os túmulos de D. Afonso Henriques e D. Sancho I … e o próprio edifício da antiga câmara onde reunia a vereação, a velha Torre de Almedina, iria sentir o efeito de vários benefícios.

Andrade, C.S. Nota Introdutória, In Foral de Coimbra de 1516. Edição fac-similada. Coimbra, 1998, 88 e 89

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por Rodrigues Costa às 09:42

Sexta-feira, 16.10.15

Coimbra, morte de Inês de Castro e factos relevantes ocorridos no Mosteiro de Santa Clara-a-Velha

… D. Pedro e D. Inês viveram em vários locais do Reino e permaneceram algum tempo no Paço da Rainha junto ao Mosteiro de Santa Clara de Coimbra. Inês veio a ser executada no Paço, por ordem do rei, a 7 de Janeiro de 1355, sendo sepultada na igreja das Clarissas. Já depois de assumir a coroa portuguesa, D. Pedro afirmou que se tinha casado em segredo com D. Inês e determinou que o seu corpo fosse tresladado para o Mosteiro de Alcobaça.

O casamento do príncipe real D. Duarte veio a ser celebrado na igreja de Santa Clara de Coimbra, em 22 de Setembro de 1428 tendo o templo sido decorado com ricos tapetes e panos. Após os esponsais, o casal pernoitou no Paço da Rainha.

Foi em Santa Clara que professou D. Joana de Castela, a Excelente Senhora, ou Beltraneja, sua segunda mulher (de D. Afonso V que foi obrigado pelo Papa a repudiá-la).

D. Pedro, duque de Coimbra, escolheu a igreja de Santa Clara para fazer as suas preces antes do confronto fatal de Alfarrobeira (1449) e aqui foi sepultada sua filha D. Catarina, em arca tumular colocada na sala do Capítulo.

D. Manuel demonstrou igualmente interesse por Santa Clara de Coimbra, tendo sido o motor do processo da beatificação de D. Isabel (15 de Abril de 1516) e tendo dado obras de arte para adornar o mosteiro, designadamente o «Tríptico da Paixão de Cristo», obra flamenga de Quentim Metsys.

Em 1669, Cosme de Médicis, grão-duque da Toscana, deslocou-se a Portugal e, na sua passagem por Coimbra, visitou as “Freiras de S., Francisco, onde está o corpo de S. Isabel, Rainha de Portugal. Ali permaneceu junto às grades e ouviu cantar pelas Monjas alguns motetes”

Trindade, S. D. e Gambini, L. I., Mosteiro de Santa Clara-a-Velha. Coimbra, Direção Regional de Cultura do Centro, pg. 27 e 28

 

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por Rodrigues Costa às 09:57

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