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… a perda do valor militar da estrutura castrense da Alcáçova refletira-se na ereção de casas junto ou adjacentes aos muros ou porta da própria cidadela, parte dos quais propriedade régia, albergando repartições ou servidores e que agora ruíam, também elas, dia a dia, ante a escassez de alugadores. E talvez tenha sido essa mesma condição e a disponibilidade que a cidade intramuros oferecia ao alojamento de uma Corte em franco e contínuo crescimento e, por essa via, progressivamente dependente do aposentamento extra-palatino (senão mesmo a utilidade que revestia, no sentido de dar uso e, desso modo, providenciar a manutenção de um área urbana onde os monarcas detinham fortes interesses imobiliários), a razão de fundo da conservação de Coimbra, por toda a Idade Média, no centro de uma circuito áulico inexoravelmente deslocado para sul; se não esse, até, o verdadeiro motivo da(s) transferência(s) da Universidade. Que a abundância não seria, apesar de tudo, excessiva, mostra-o, pelo menos, a expressa menção de D. Afonso IV, ao entender «fazer morada gram parte do ano na Cidade de Coimbra», à necessidade que tinha, para os seus oficiais, das casas ocupadas pelos estudantes. E, esse facto, justificativo, por certo da referência a “moradores na Alcáçova”, detetada ao menos até ao século XIV, explicará também, num tempo em que Fernão Lopes se não esquecia de realçar o valor iconológico revestido, no contexto urbano, pelo paço régio e em que este se assume, cada vez mais, em termos de “afirmação heráldica e linhagística", a atenção que o Paço coimbrão mereceria por parte da Coroa e que não cessaria, efetivamente, com o advento da nova Dinastia.
Pimentel, A.F. 2005. A Morada da Sabedoria. I. O Paço real de Coimbra. Das Origens ao Estabelecimento da Universidade. Coimbra, Almedina, pg. 284 e 285
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