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Em 29 de Março de 1773, inicia-se a demolição do Castelo e, em Outubro seguinte, estavam a dar-se os últimos retoques num dos projetos do Observatório, cujas obras arrancavam a 7 de Janeiro
… Em 1777, D. Francisco de Lemos escreve “ … Achase feita ate o primeiro Plano … Para o uso interino da Lições e Observações Astronómicas fiz construir um pequeno Observatório no Terreiro dos Paços das Escolas o qual tem servido até aqui para o dito fim”
… Arrasar o velho castelo tornou-se tarefa difícil e, apesar de se terem gasto na obra avultadas somas, a Torre de Menagem “formidável e compacta, cortada porventura a um terço da sua altura” permanecia, em 1932, dentro das ruínas do inacabado Observatório.
Anacleto, R., 2009. Universidade de Coimbra: Primeiras Propostas Arquitetónicas da Reforma Pombalina. Separata do IV Congresso Histórico de Guimarães. Do Absolutismo ao Liberalismo, pg. 32
Os edifícios destinados às faculdades onde se procedesse a “Observações, Experiências e Demonstrações de Sciencias Naturaes”, constituíam prioridades …
O edifício construído apresenta uma longa fachada de cento e onze metros de comprido, dividida em três corpos, bem marcados por pilastras. A zona central exibe, no piso térreo, outras tantas aberturas em arcaria …Demarcam eta zona, intervalando as aberturas, quatro pilastras dóricas adossadas à parede e remata o conjunto um largo frontão triangular, ornamentado no seu tímpano, com um relevo atribuído a Machado de Castro, representando a Natureza.
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No antigo Colégio de Jesus, para o efeito incorporado no “perpétuo domínio da Universidade” abrigavam-se os institutos ligados à Faculdade de Medicina: o Hospital, o Teatro Anatómico e Dispensário Farmacêutico.
O Teatro Anatómico já funcionava nos inícios de 1774 … Ao lado, mesmo junto à Couraça dos Apóstolos situava-se o “jazigo” ou cemitério. Interessa salientar aqui o facto de, em Coimbra, se projetar, já em 1772 ou 1773, uma necrópole.
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Para construir o Laboratório Químico “aplicou o Marquez Vizitador a parte septentrional do Collegio, que compreendia o Refeitório, e a mais officinas adjacentes”, mas como não se tornou viável proceder a uma racional utilização, “foi precizo demolir tudo, e Edificar de novo o Edificio” … o imóvel que atualmente se ergue na Praça Marquês de Pombal, continua a ter a assinatura do inglês (Guilherme Elsden) e resultou do modelo “… de Vienna de Austria” … O responsável pelo seu bom apetrechamento foi em 1800, o lente de Metalurgia, José Bonifácio de Andrade e Silva.
Anacleto, R., 2009. Universidade de Coimbra: Primeiras Propostas Arquitetónicas da Reforma Pombalina. Separata do IV Congresso Histórico de Guimarães. Do Absolutismo ao Liberalismo, pg. 29 e 30, 34 e 35
Transferência da Sé Episcopal para a Sé Nova
… o rei, através de uma carta assinada em Mafra a 11 de Outubro (de 1772) … fizesse “applicação da sumptuoza Igreja (atual Sé Nova) e de tudo o mais necessário que necessário fosse em benefício da Sé Catedral, que para ella deve ser transferida”.
Transferência da Misericórdia para a Sé Velha e instalação da Imprensa da Universidade e do Instituto
… o Marquês de Pombal, por Provisão de 15 de Outubro de 1772, concedeu ao provedor e irmãos da confraria da Misericórdia de Coimbra, até aí instalados na igreja de S. Tiago, o edifício da Sé Velha e destinou o claustro para nele ser montada, depois das necessárias adaptações, a Imprensa da Universidade.
…
A Universidade comprou, para o efeito, várias casas nas ruas da Ilha e do Norte, tendo construído, com desenho de Elsden, o edifício onde funcionou O Instituto.
Anacleto, R., 2009. Universidade de Coimbra: Primeiras Propostas Arquitetónicas da Reforma Pombalina. Separata das Actas do do IV Congresso Histórico de Guimarães. Do Absolutismo ao Liberalismo, pg. 15 e 31
Transferência da Sé Episcopal para a Sé Nova
… o rei, através de uma carta assinada em Mafra a 11 de Outubro (de 1772) … fizesse “applicação da sumptuoza Igreja (atual Sé Nova) e de tudo o mais necessário que necessário fosse em benefício da Sé Catedral, que para ella deve ser transferida”.
Transferência da Misericórdia para a Sé Velha e instalação da Imprensa da Universidade e do Instituto
… o Marquês de Pombal, por Provisão de 15 de Outubro de 1772, concedeu ao provedor e irmãos da confraria da Misericórdia de Coimbra, até aí instalados na igreja de S. Tiago, o edifício da Sé Velha e destinou o claustro para nele ser montada, depois das necessárias adaptações, a Imprensa da Universidade.
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A Universidade comprou, para o efeito, várias casas nas ruas da Ilha e do Norte, tendo construído, com desenho de Elsden, o edifício onde funcionou O Instituto.
Anacleto, R., 2009. Universidade de Coimbra: Primeiras Propostas Arquitetónicas da Reforma Pombalina. Separata das Actas do do IV Congresso Histórico de Guimarães. Do Absolutismo ao Liberalismo, pg. 15 e 31
Informação: Por estar de férias até ao início de Agosto, irei só publicar novos posts aos sábados. Boas férias para quem me lê
Cronologia dos troleicarros
1928: A Câmara Municipal de Coimbra solicita à … Junta Autónoma de Estradas a colocação de carris na ponte de S. Clara, tendo em vista a construção de uma linha de carros elétricos que sirva a zona de Santa Clara. Solução que foi inviabilizada.
1943: O “Relatório e Contas” dos Serviços Municipalizados de Coimbra, sugere a instalação de um novo meio de transporte os “Troley-ómnibus”, como forma de ultrapassar a dificuldade atrás referida.
1945: Aquisição de um novo “retificador de corrente de mercúrio” que possibilitava a produção de energia, em corrente contínua, quer para a rede de carros elétricos, quer para a futura rede de troleicarros.
1946: Início da construção da rede de troleicarros nos percursos: Santa Clara - Estação Nova; e Portagem – Alegria.
1947: Entrega dos dois primeiros troleicarros, de construção suíça e da marca “Sécheron-Saurer”; Inauguração da primeira linha de troleicarros de Coimbra, a linha n.º 6, Estação Nova – Santa Clara (Almas de Freire).
1950: Entrega dos primeiros troleicarros de uma encomenda de seis, de construção inglesa e da marca “Sumbeam-BTH”.
1951: Substituição dos carros elétricos por troleicarros na linha n.º 5, S. José (antiga Calhabé).
1958: Entrada ao serviço dos primeiros troleicarros carroçados em Portugal da marca “Leyland-BUT”
1959: Abertura da linha n.º 5, Portagem – Estádio Municipal; e da linha n.º 5, Praça de República – Liceu (que mais tarde veio a ser a linha 9).
1960: Abertura da linha n.º 5, Praça 8 de Maio – Apeadeiro de S. José (que mais tarde veio a ser a linha 10).
1962: Abertura da linha n.º 1, Portagem – Universidade (via Abílio Roque); e da linha n.º 6T, Universidade – Almas de Freire.
1964: Ano em que, pela primeira vez, os troleicarros são o meio de transporte coletivo que transportam mais pessoas na cidade de Coimbra.
1970: Abertura da linha n.º 8, Portagem – S. António dos Olivais (pela Rua Lourenço Almeida Azevedo e Largo de Celas).
1972: Passagem da “remise” dos troleicarros da “parada” da Alegria para as novas instalações da Guarda Inglesa.
1976: Autocarros … passam a ser o meio de transporte coletivo mais utlizado em Coimbra.
1982: Abertura da linha n.º 3, Portagem – Santo António dos Olivais (via Penedo da Saudade)
1984: Entrada ao serviço de novos troleicarros da marca “Caetano-Efacec”; Abertura da linha n.º 4, Portagem – Celas.
1988: Abertura da linha n.º 46, Santa Clara – Portagem – Celas, com circulação pela Av. Fernão de Magalhães)
1990: Número máximo de troleicarros ao serviço da rede de transportes urbanos de Coimbra, num total de 43 unidades.
1991: Abertura das linhas n.º 7 e n.º 7T, Estação – Tovim.
1993: Extensão máxima da rede de troleicarros de Coimbra com 42 quilómetros de linhas aéreas, em exploração; Início do declínio da rede troleicarros em Coimbra, com a substituição destes por autocarros nas linhas: n.º 7; e n.º 46.
1995: Substituição dos troleicarros por autocarros na linha n.º 5.
1998: Os Serviços Municipalizados de Transportes Urbanos de Coimbra ponderam o fim dos serviços de troleicarros.
1999: Substituição, definitiva, dos troleicarros por autocarros na linha n.º 7.
2001: O Executivo Municipal opta pela manutenção da rede de troleicarros, com um número reduzido de unidades e carreiras, a saber: linha n.º 1, Estação Nova – Universidade; e linha n.º 3, Estação Nova – S. António dos Olivais (via Penedo da Saudade).
2002: Substituição dos troleicarros na linha n.º 8; Reintrodução dos troleicarros na linha n.º 4.
2007: Os SMTUC dispõem de 16 troleicarros, que servem 3 carreiras, a que correspondem 27,4 quilómetros de rede, sendo Coimbra a única cidade da Península Ibérica que dispõe de uma rede de transporte urbano, deste tipo.
Costa, P.M.M.R. 2007. Achegas para a Cronologia dos Troleicarros em Coimbra. In Troleicarros de Coimbra. 60 Anos de História. Coordenação de João d’Orey. Coimbra, Ordem dos Engenheiros – Região Centro, pg. 68 a 73
O tempo dos carros troleicarros
À partida há que assinalar que a opção pelos troleicarros feita pelo Município de Coimbra resultou de uma luta inglória com a Companhia dos Caminhos de Ferro Portugueses que, numa discussão de décadas, nunca autorizou a travessia da linha da Lousã, na Portagem, pelos carros elétricos.
Daí que face à necessidade de dotar Santa Clara de transportes públicos, quando no relatório referente ao ano de 1938 se escreveu: "sendo de desejar o aumento da rede de transportes, também é cada vez menos de aconselhar que ele se faça pelo sistema de carros elétricos sobre carris” estava a iniciar-se o caminho que conduziu àquela opção.
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A primeira referência encontrada sobre a opção dos troleicarros data de 1943 quando se decide que “Nas novas extensões da rede de transportes urbanos a estabelecer quando houver oportunidade – Santa Clara, Calhabé e Bairro do Loreto – se deve adotar-se o sistema de «trolley-omnibus» em vez da via férrea”.
Tal projeto começou a ser concretizado em 1946, com o início da montagem da linha aérea para Santa Clara, que viria a ser inaugurada em 16 de Agosto de 1947 e que foi assim noticiada:
“… Portugal está a ser dotada duma primeira linha de «trolleybus». Para experimentar este novo modo de transporte os Serviços Municipalizados escolheram uma pequena linha de 2,5 km de comprimento.
... a encomenda de dois carros, foi dada à casa S.S. dos Ateliers de Sécheron de Genebre, Suíça, como empreiteira geral e fornecedora da parte elétrica, e à casa S.A. Adolphe Sauren, de Arbon, Suíça, como fornecedora do chassis e da carroçaria.”
A partir daqui a rede de troleicarros foi crescendo tendo atingido o seu auge no princípio dos anos noventa em que a frota era constituída por 43 troleicarros.
Iniciou-se, então, o período em que a opção pelos autocarros quase levou à extinção da rede de troleicarros a qual, ao iniciar o novo milénio, estava reduzida a duas linhas.
Como se depreende do que se afirma a opção por este meio de transporte não poluente não tem sido pacífica para os Responsáveis de Coimbra, sendo evidente a predominância – ao longo dos últimos anos – da opção pelos autocarros.
…
Aqui chegados – enquanto mero Cidadão e sem conhecimentos técnicos a profundados sobre o assunto – que conclusões tiramos desta pequena resenha histórica?
A primeira é a de que numa cidade com as características de Coimbra o recurso a sistemas de transportes públicos não poluentes, é de vital importância para a qualidade de vida dos seus Cidadãos.
A segunda é a de que um sistema de transportes urbanos assente na tração elétrica, deu provas em Coimbra, realidade a que acresce a constatação da eficácia e predominância, nomeadamente, nos cascos urbanos de muitas Cidades da Europa em que estamos integrados, de sistemas de transporte urbano deste tipo.
Costa, A. F. R. 2007. Troleicarros: Um Património de Coimbra. In Troleicarros de Coimbra. 60 Anos de História. Coordenação de João d’Orey. Coimbra, Ordem dos Engenheiros – Região Centro, pg. 63 a 65
O tempo dos carros elétricos
A primeira notícia conhecida sobre a criação de um sistema de tração elétrica em Coimbra data de 1 de Dezembro de 1904 quando a Câmara decide “em princípio na concessão de um subsídio à Companhia dos Carris para a substituição da tração animal pela elétrica”.
Mas a decisão que deu origem à efetiva concretização deste melhoramento foi tomada em 15 de Maio de 1908, quando a Edilidade tendo concluído que “desapareceram todas as ilusões relativamente à possibilidade da instalação elétrica na Cidade por meio da Companhia de Carris de Ferros de Coimbra”, decidiu: “1.º - Que se municipalize o serviço de tração elétrica; 2.º - Que se contraia um empréstimo de 150.000$00 reis”.
… em 23 de Setembro de 1909, veio a ser adjudicado à Firma Thomson Houston Ibérica a instalação de um sistema de tração elétrica, o qual veio a ser inaugurado em 1 de janeiro de 1911, tendo sido assim noticiado:
“A instalação da tração elétrica de Coimbra … compreende 3 linhas: uma da Estação Velha à Alegria, outra da Estação Nova à cidade alta (Universidade) e a terceira da Estação Nova a Santo António dos Olivais. As tarifas … mais baratas … custam 20 reis.
… Os carros (cinco) cujos equipamentos elétricos … saíram das conhecidíssimas oficinas de J.C. Brill de Filadélfia, são elegantíssimos e confortáveis. O seu aspeto, sobretudo quando à noite circulam iluminados pelas ruas de Coimbra, é esplêndido”.
…
Mas o grande salto para o período de oiro dos elétricos em Coimbra – os anos 30 do século passado – foi dado quando foi aprovado o “programa para os anos de 1926 a 29” para cuja realização foi contraído um empréstimo de 6.000 contos que permitiu, nomeadamente, a encomenda do “material para a instalação de oito quilómetros de novas vias de tração elétrica, incluindo a duplicação da via desde a Rua Visconde da Luz aos Arcos do Jardim, um grupo convertidor, de mercúrio, para o serviço da Central Elétrica, 5 carros motores abertos (alcunhados de pneumónicos) e dois fechados …
Assim … em 1 de Janeiro de 1930, existiam as seguintes linhas: Linha 1, Estação Nova – Universidade; Linha 2, Praça 8 de Maio – Estação Velha; Linha 3, Calhabé – Olivais; Linha 4, Praça 8 de Maio – Olivais; Linha 5, Praça 8 de Maio – Montes Claros – Cruz de Celas; Linha 6, Portagem – Calhabé (circulação); Linha 7, Olivais – Cumeada.
Isto é: no início da década de oiro dos carros elétricos a rede de tração elétrica de Coimbra apresentava, nas suas linhas gerais e no que respeita ao casco urbano, a configuração da rede dos transportes urbanos dos nossos dias.
A partir do final desta década iniciou-se um processo que se arrastou por quase quarenta anos, através do qual, gradualmente, foram sendo substituídas as linhas de carros elétricos por troleicarros e autocarros, vindo os elétricos de Coimbra a deixar de percorrer as ruas da Cidade em 9 de Janeiro de 1980, data em que – como afirmou o estudioso deste sistema Pedro Rodrigues da Costa – “ficaram para trás 69 anos de bons serviços tendo o sistema manifestado uma eficácia e uma resistências invulgares”.
Costa, A. F. R. 2007. Troleicarros: Um Património de Coimbra. In Troleicarros de Coimbra. 60 Anos de História. Coordenação de João d’Orey. Coimbra, Ordem dos Engenheiros – Região Centro, pg. 61 a 62
Elaboramos o texto abaixo apresentado … tendo por base um trabalho de investigação realizado aquando da nossa participação na criação do Museu dos Transportes Urbanos de Coimbra – de que tivemos a honra de ser o primeiro Diretor -, iniciativa que se pretendia como o primeiro núcleo de um projeto, ainda tão necessário: o da criação de um Museu de Coimbra, polinucleado, que abranja as múltiplas facetas de que o passado da nossa Cidade se reveste.
Duas imagens marcam a minha meninice. A primeira – uma das minhas mais antigas memórias – é a de, pela mão de meu Pai, ir à Portagem ver passar o «pantufas» alcunha com que os troleicarros, à boa maneira de Coimbra, foram alcunhados aquando do seu surgimento. A segunda é de menino moço ver uns “ Senhores Engenheiros Suíços” a montar a linha aérea que iria realizar a circulação da Cidade, indo da Baixa, passando pelo Calhabé e pelos Arcos do Jardim.
… Os primórdios dos transportes urbanos em Coimbra
A história dos transportes urbanos em Coimbra, inicia-se em Fevereiro de 1873 quando “Evaristo Nunes Pinto e Camilo Mongeon, concessionários do caminho-de-ferro americano, da estação do caminho-de-ferro do Norte a Coimbra, requerem que os carros passem através das ruas da Cidade apresentando planta do projeto”… a 17 de Setembro de 1874 a empresa entretanto criada – a Rail Road Conimbricense – comunica ao Município “a abertura da linha desde a Calçada (Rua Ferreira Borges) à estação de caminho-de-ferro do Norte”. A inauguração teve lugar em 15 de Setembro de 1874 e foi assim noticiada.
“Partiram da Calçada 3 carros americanos. No primeiro seguiam os diretores, as autoridades de Coimbra e demais convidados. No segundo carro seguia na Imperial (pelo que pelo menos um carro americano tinha segundo piso, a chamada Imperial) a Filarmónica Conimbricense que tocava o hino da Carta. Muita gente a assistir. Muitos foguetes. Pelas 3 horas da tarde foi servido um opíparo jantar na sala da Sociedade Terpshicore”.
… Com a abertura do ramal de ligação da linha do Norte ao centro da Cidade, a empresa de carros americanos, depressa entrou em declínio tendo deixado de circular em 1887.
Uma segunda fase foi iniciada em 30 de Outubro de 1902 quando “Augusto Eduardo Freire de Andrade pede a concessão de uma linha férrea, sistema americano, nas ruas da Cidade, para tração animal” … iniciativa concretizada – pela Companhia de Carris de Ferro de Coimbra, entretanto criada – em 1 de Janeiro de 1904 – com o “estabelecimento da ligação da atual estação de Coimbra-B com o Largo da Portagem, a que se seguiu, em 4 de Fevereiro a abertura de um novo traço entre a Praça 8 de Maio e a Rua Infante D. Augusto (atual Rua Larga, junto à Universidade).
As últimas notícias referenciadas sobre os carros americanos em Coimbra datam … de 3 de Fevereiro de 1916.
… A título de curiosidade refere-se a efémera existência – com início em Janeiro de 1907 – da primeira carreira de autocarros em Portugal, a qual ligava a Baixa à Alta, numa iniciativa da Empresa de Automóveis Tavares de Mello Coimbra que para o efeito utilizava carros de “4 cylindros com a força de 4 cavalos e transportavam 20 pessoas”.
Costa, A. F. R. 2007. Troleicarros: Um Património de Coimbra. In Troleicarros de Coimbra. 60 Anos de História. Coordenação de João d’Orey. Coimbra, Ordem dos Engenheiros – Região Centro, pg. 59 a 61
Convento de S. Domingos
Do lado fronteiro (ao Colégio da Graça) erguia-se o «Convento de S. Domingos», agora desaparecido e rasgado pela abertura da Rua João de Ruão. Da igreja pouco resta, além da fachada voltada à rua, que era a cabeceira da capela-mor, armoriada com o brasão dos duques de Aveiro, e da Capela de jesus, de magnífica arquitetura renascentista. Fazia parte deste templo a Capela do Tesoureiro, uma das mais notáveis realizações da Renascença Coimbrã, mas já com decoração maneirista, feita por João de Ruão entre 1558 e 1565. Encontra-se agora montada no Museu Machado de Castro.
A Igreja de S. Domingos, que ficou por concluir, devido à falta de meios … O antigo convento desta ordem situava-se mais próximo do rio (escavações arqueológicas entretanto realizadas identificaram a sua localização debaixo do edifício do Hotel Almedina) e havia sido fundado no primeiro quartel do século XIII, sob a proteção de D. Branca e D. Teresa, filhas de D. Sancho I.
Colégio do Carmo
Confinando com a Igreja da Graça encontra-se o «Colégio e Igreja de Nossa Senhora do Carmo»
O Colégio do Carmo Calçado foi uma das mais prestigiosas instituições da cidade universitária de Coimbra. Fundado em 1542 pelo bispo do Porto, D. Frei Baltazar Limpo, para acolher os clérigos da sua diocese que viessem seguir os estudos em Coimbra, em breve resolveria destiná-lo aos frades da ordem em que professara … Foi ele o iniciador das grandes construções colegiais de que ainda resta parte do noviciado, datado de 1548.
Mas o grande construtor, aquele que mandou erigir a mais monumental igreja da Rua da Sofia e um dos mais belos claustro de Coimbra foi, porém, o famoso bispo de Portalegre, D. Frei Amador Arrais
… A Igreja do Carmo é como um coroamento de todas as pesquisas arquitetónicas citadinas, com uma fachada porticada … de nave única com capelas nos flancos.
… Os edifícios foram entregues à Ordem Terceira de S. Francisco, que fez algumas alterações nas alas colegiais.
… A igreja data de 1597 e teve como mestre-de-obras e provável tracista Francisco Fernandes … são notáveis as capelas laterais … No retábulo principal salientam-se as pinturas maneiristas, do melhor que no género se fez em Portugal, de autoria de Simão Rodrigues e Domingos Vieira Serrão. De estacar são também os azulejos e as esculturas em madeira estofada.
… O claustro foi concluído em 1600 … Como diz Eugénio de Castro, este claustro é “o encanto de todos os artistas e a inveja de quantos ambicionam um asilo discreto e carinhoso para os estudos e para as suas meditações”.
Na sacristia, entre outras peças de valor, guarda-se uma Deposição no Túmulo, do século XVI, vinda do Convento de Sant’Ana, e um belíssimo arcaz feito em 1754 pelo marceneiro António Temudo.
Borges, N. C., 1987. Coimbra e Região. Lisboa, Editorial Presença. Pg. 81 e 82
Colégio de S. Bernardo
Separado do Carmo pela ladeira do mesmo nome, erguia-se outro grande edifício, o «Colégio de S. Bernardo» ou do «Espirito Santo», pertencente aos cistercienses. Está hoje muito adulterado, mantendo apenas uma parte da fachada. O lado do edifício junto à Ladeira do Carmo foi transformado num palacete oitocentista. Era uma grande construção, mas simples, adaptada ao declive, com dois claustros interiores. A sua fundação deve-se ao cardeal D. Henrique, que financiou as obras “à custa da sua própria fazenda”.
Colégio de S. Boaventura
Sofrendo de igual descaracterização está o «Colégio de S. Boaventura», do outro lado da rua, logo a seguir ao Beco de S. Boaventura. Igreja e parte residencial estão transformadas em lojas comerciais e habitações … Ocuparam-no os franciscanos da Província dos Algarves, que tinham por apelido os «frades pimentas».
Colégios de S. Miguel e Colégio de Todos-os-Santos
Na mesma linha do Colégio de S. Bernardo se encontra o «Palácio da Inquisição», de que restam partes, sobretudo no lado que dá para o pátio do seu nome. Para se entender a sua localização há que referir as construções que o antecederam. No cotovelo formado entre a Rua da Sofia e a subida de Montarroio levantaram-se dois colégios do Mosteiro de Santa Cruz: o de S. Miguel, ao longo da Rua da Sofia, destinado a canonistas e teólogos, e o de Todos-os-Santos, na rampa de Montarroio, para alojamento de alunos de Teologia e Artes. Projetaram-se cerca de 1535 e ainda decorriam obras em 1547, quando o rei D. João III pediu os edifícios ao Prior de Santa Cruz para aí instalar o Colégio das Artes
…O tribunal da Inquisição estabeleceu-se em Coimbra, em 1541, andando por sedes provisórias, até vir ocupar este edifício desafeto, em 1566. Das velhas construções pouco resta, para além de um lanço de claustro, no pátio interno. As instalações foram sendo adaptadas.
Para a Rua da Sofia ficava a «Porta da Bica», por onde entravam os presos. Havia outra entrada pelo Pátio de S. Miguel, que já não existe, mas o núcleo principal voltava-se para o Pátio da Inquisição … À entrada do pátio, à direita, situavam-se os «aposentos dos secretários» - prédio renovado, no estilo dos séculos XVII-XVIII, de boas linhas. No topo ficavam os «aposentos dos inquisidores», com um terraço avarandado, tendo do baixo a «casa do tormento». Os cárceres e galerias do lado sul e poente desapareceram já.
Borges, N. C., 1987. Coimbra e Região. Lisboa, Editorial Presença. Pg. 82 e 83
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