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Não é hoje fácil, sem esforço de imaginação, reconstituir com verosimilhança o que foi o processo de implantação do «alcácer de Qulumryya». Como escreveu Borges Coelho … «é necessário, antes do mais, varrer da paisagem toda a imensa massa construída, apagar as casas e o asfalto, completar e aguçar os cabeços das colinas …»
… De facto, de origem antiquíssima, … tudo leva a crer, no qualificativo «oppidum» com que Plínio designara «Aeminium», naquela que constitui a sua mais antiga referência escrita e que a arqueologia, pouco a pouco, parece desvendar, Coimbra, erguida sobre um «monte redondo», como no século XII, a desenhava Idrisi; numa eterna confluência estratégica (de valor militar, económico e cultural) entre o sul e o norte, o litoral e o interior; «cidade-ponte», como alguém lhe chamou; ostentaria por certo, no declinar da Antiguidade, os vestígios grandíloquos do seu passado patrício, emergindo da ingrata topografia fornecida por uma colina, disposta, na verdade, em ferradura, vincada a meio da «cutilada» que a castiça expressão de Fernandes Martins consagraria: o fórum monumental, com o seu criptopórtico, o aqueduto, o cemitério, tudo leva a crer, junto a S. Bento; a ponte, também, unindo a estrada (de traçado polémico), que ligava «Ulissipo» e «Bracara Augusta»; um provável porto fluvial, umas termas, talvez, junto a Santa Cruz; talvez ainda um arco triunfal, ao cimo da couraça, um teatro, um circo, eventualmente; implantado tudo, num esquema de aproximada ortogonalidade; marcado tudo, já, sem dúvida, de um selo de declínio que os sucessos terminais do Império justificariam e a própria «domus» do Paço das Escolas fielmente testemunhará; como minado estaria (a ter existido) o «plano hipodâmico», pela utilização orgânica característica da Antiguidade Tardia, decorrente da contração demográfica e económica e da perda de relevo institucional. E muralhas ainda, parece, implicadas aparentemente na designação de «oppidum» exarada nas palavras de Plínio, a cuja sombra (como quer que tivesse sido) teria corrido a vida nos obscuros séculos da primeira Idade Média.
Pimentel, A.F. 2005. A Morada da Sabedoria. I. O Paço real de Coimbra. Das Origens ao Estabelecimento da Universidade. Coimbra, Almedina, pg. 190
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