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Podemos então concluir que a fronteira da antiga Lusitânia se mantem quase inalterável durante o Islão … Sem nunca ter tido qualquer expressão administrativa sob o Islão, o Garb-al-Andaluz surge, no entanto, desde muito cedo como um território nitidamente individualizado, apesar da sua diversidade regional. Em todos os momentos de cariz descentralizador, o Garbe desempenha sempre no al Andaluz um papel ativo de constante cumplicidade entre os cinco territórios geo-históricos que o constituem: o termo de Coimbra com Montemor-o-Velho e todo o Baixo Mondego; o estuário do Tejo, constituído pelos centros agregadores de Lisboa-Sintra e Santarém; O Alto Alentejo que unifica Badajoz, Évora e Alcácer do Sal no mesmo eixo leste-oeste; O Baixo Alentejo com Beja, Aroche e Mértola; e finalmente o Algarve, antigo termo tardo-romano de Ossónoba, que mais tarde se vai repartir entre Santa Maria de Faro e Silves …
Torres, C. O Garb-Al-Andaluz. In Mattoso, J. (Coordenador) 1997. História de Portugal. 1 Antes de Portugal, pg. 335
Uma consideração geográfica do território hoje português, na época árabe, leva-nos à compreensão de um ”Garb al-Aqsâ” do Andaluz, com Silves e Lisboa, e de um “Garb al-Adnâ” com Algeciras, Sevilha e Mérida …. A história fala-nos da província de Ossonóba-Silves, muito ligada a Sevilha, de cidades como Évora, Lisboa e Santarém, intimamente unidas a Mérida-Badajoz, como intimamente unidas a estas se encontraram, durante algum tempo, Coimbra, Lamego e Viseu. E isto, não somente nas épocas de Amirato e do Califado, mas também das Taifas.
A partir do fim das Taifas, a história do Ocidente Extremo do Andaluz sofre uma modificação importante: a fronteira islamo-cristã, antes oscilante entre o Douro e o Mondego, fixa-se no Tejo.
Coimbra, Lamego e Viseu passa aos Cristãos. De resto, esta região nunca tinha sido profundamente islamizada. A influência moçárabe dominara, sempre, aqui.
Domingues, J.D.G. 1971. Aspectos da Cultura Luso-Árabe. Separata das Actas do IV Congresso de Estudos Árabes e Islâmicos pg. 4.
…foram relativamente passageiras as modificações introduzidas durante a época visigótica, em virtude de fatores políticos muito concretos, como a independência e as conquistas dos Suevos, que entre o século VI e meados do século VII fizeram anexar à Galécia as civitates do Norte da Lusitânia (Coimbra, Viseu, Lamego e Idanha).
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Dioceses da época visigótica segundo J. Orlandis, na zona entre Douro e Mondego: Lamecum (572); Viseum (561); Eminium (Conimbrica) (561); Egiditania (561-72) (dados retirados da gravura)
Mattoso, J. A Época Sueva e Visigótica. In Mattoso, J. Coordenador. 1997. História de Portugal. 1 Antes de Portugal, pg. 300.
…autores admitem que … se seguiu um período de estabilização dos territórios ocupados pelos Suevos na Galécia e na Lusitânia setentrional e pelos Visigodos na Bética e Lusitânia meridional. Os primeiros teriam as suas praças de fronteira em Astorga, Idanha e Coimbra, enquanto os segundos se apoiariam em Palência, Cória, Salamanca, Santarém, Lisboa e Mérida.
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Paróquias suevas (segundo Almeida Fernandes, 1968), na zona entre Douro e Mondego: Olivia, Lamego, Caliabra, Tarouca, Aravoca, Osonia, Ovelione, Autanane, Viseo, Coleia, Lurbane, e Eminio.
Mattoso, J. A época sueva e visigótica. In Mattoso, J. (Coordenador) 1997. História de Portugal. 1 Antes de Portugal, pg. 282, pg. 285 (dados retirados da gravura)
Não é inteiramente descabida a opinião de considerar D. Manuel como o «o segundo fundador» do seminário, atendendo não só às reformas que encetou nos campos da renovação espiritual e do aperfeiçoamento académico … mas igualmente a obra realizada no melhoramento e ampliação das estruturas, possibilitando condições de melhor comodidade a educadores e educandos.
O amplo e majestoso edifício setecentista, mandado construir por D. Miguel da Anunciação, foi objeto de grandes trabalhos de restauro, com a abertura de janelas, a implantação de uma rede de saneamento e a construção de instalações de higiene de acordo com as melhores técnicas da época. Os terrenos circundantes sofreram igualmente melhorias, a começar pelo pátio fronteiro que, depois de removidas as terras que abafavam o edifício, tirando-lhe muita da sua beleza arquitetónica, foi ajardinado e enriquecido com a construção de um artístico lago em pedra lavrada. O claustro … foi igualmente embelezado … levou o bispo conde a pôr ombros à construção de uma nova casa destinada
à habitação dos estudantes eclesiásticos … Iniciado em 1873, o novo edifício, com traça semelhante à da casa central, albergou os primeiros alunos em Outubro de 1876.
Ramos, A. J., 1995. O Bispo de Coimbra D. Manuel Correia de Bastos Pina. Coimbra, Gráfica de Coimbra, pg. 229 e 230
Bastos Pina … era um admirador em extremo do Papa Leão XIII, procurando pôr em prática na sua diocese as diretrizes vindas do grande Pontífice … Foi assim que em Maio de 1897, pensou que a melhor forma de comemorar o vigésimo quinto aniversário da sua sagração episcopal seria a fundação de um bairro «em que os operários encontrassem, conforto para eles e para as suas famílias».
O cabido e o clero pretendiam oferecer, nessa data, uma cruz peitoral ao prelado. Este, sabendo dessas intenções, manifestou o desejo de que, em vez daquela oferta, lhe fosse entregue a soma angariada para, junta como uma outra que tinha sobrado de uma coleta para as vítimas das inundações de 1881, construir um bairro de 15 moradias para operários pobres. Contando, além disso, com a oferta do terreno por parte da câmara …
Com as colaborações recebidas e o entusiasmo que D. Manuel colocou neste empreendimento, o bairro estava pronto a habitar em Novembro de 1898 … a rainha D. Amélia, sabendo do facto, apressou-se a escrever ao bispo-conde … «muito gosto me dava, pois, o Bispo Conde aceitando o oferecimento que lhe faço de ficar a meu cargo a construção da capela» … A capela, sob a invocação de Nossa Senhora de Lurdes, foi solenemente inaugurada a 10 de Novembro de 1901.
Ramos, A. J., 1995. O Bispo de Coimbra D. Manuel Correia de Bastos Pina. Coimbra, Gráfica de Coimbra, pg. 183 e 184
A Ínsua dos Bentos, que a Câmara Municipal desta cidade comprou em 5 de Abril de 1888 por onze contos, veio a ser transformada em Parque da Cidade. Foi encarregado da execução e concretização do projeto, a meio da década de 20, o paisagista de floricultor Jacinto de Matos.
Em 1925, quando a conceção de Passeio Público já se encontrava totalmente ultrapassada, em Coimbra ainda se falava nesses termos e a «urbanização» da Ínsua obedeceu a um esquema que aí se enquadrava … na sessão de 29 de Agosto de 1934 deliberou (a Câmara), a pedido da Comissão de Iniciativa e Turismo, concordar com a transferência do coreto da Avenida Navarro para a antiga Ínsua dos Bentos, onde atualmente se encontra.
Ainda não há muito tempo este bonito Parque era iluminado por vistosos candeeiros que condiziam com o coreto … Passados que são oitenta anos sobre a sua construção, o coreto lá continua … a lembrar aos vindouros que outrora, nesta «cidade de grades», floresceu a arte do ferro forjado.
Anacleto, R., 1983. O Coreto do Parque Dr. Manuel Braga em Coimbra. Coimbra, Separata de Mundo da Arte, 14, pg. 17 a 30, pg. 25 e 26
Coreto que em 1904 se estava a erguer no Cais (atual Avenida Emídio Navarro) e que esperava o resultado da comissão nomeada para apreciar os projetos que haviam concorrido à empreitada.
Aquela deu o seu aval ao apresentado em primeiro lugar pela Fundição do Ouro e ao do industrial Costa Soares … mas manifestou-se, contudo, a favor do último, embora sugerindo pequenas alterações … Adjudicado a 18 de Fevereiro, sabemos, só através dos jornais que foi debuxado pelo Arq. Silva Pinto e que a Câmara Municipal tinha todo o interesse em o entregar a um artista conimbricense … O coreto começou logo a ser forjado e Silva Pinto encarregou-se não só de dirigir os trabalhos, mas também de, quando necessário, apor o seu aval a qualquer alteração … Também foi ele que, depois da obra concluída, a inspecionou e deu o seu parecer a 20 de Julho de 1904.
A estrutura metálica do coreto começou a ser assente na última quinzena de Maio … No entanto a câmara verificou que a pintura não satisfazia … e resolveu substituí-la. Encarregou-se dessa tarefa… o pintor António Eliseu.
Apesar desta segunda empreitada ainda se não encontrar terminada o coreto foi inaugurado com a atuação da Banda de Infantaria 14, de Viseu, a 7 de Julho de 1904
… António Maria da Conceição, mais tarde, em 1907, foi encarregado de executar uma grade de ferro batido … para resguardar o maciço de verdura e flores que iam ser plantadas em volta do coreto da música …
Durante largos anos, tanto as bandas citadinas, como as que aqui se deslocam, quando se exibiam utilizavam o coreto.
Anacleto, R., 1983. O Coreto do Parque Dr. Manuel Braga em Coimbra. Coimbra, Separata de Mundo da Arte, 14, pg. 17 a 30
O problema (o assoreamento do Mondego) vinha de longe … acentuando-se sobretudo a partir do século XII, quando o aumento populacional levou a que as encostas e os vales fossem despidos de vegetação para aproveitamento agrícola …
D. Afonso V foi o primeiro rei a tomar medidas efetivas para tentar debelar o problema. Em 1464 proibia que se fizessem queimadas desde Coimbra a Seia e colocava sob a alçada da justiça quem não acatasse esta determinação. D. João II e D. Manuel I seguiram-lhe o intento e reforçaram-no, mas os resultados parecem ter sido nulos ou diminutos, pois em 1513 a ponte de Coimbra teve de ser reconstruída e ampliada porque as areias taparam os vãos, obrigando as águas a passar por cima das guardas …
No tempo de D. João V planeou-se a construção de um leito artificial, a sul do antigo, mas as obras não chegaram a efetivar-se …
Só em 1793 se combateu de frente o problema encarregando-se o famoso engenheiro hidráulico Padre Estêvão Cabral de fazer o respetivo projeto. Ele próprio dirigiu as obras na sua fase inicial, que principiaram logo em 1791 e se arrastaram por todo o século XIX …
Neste projeto previa-se também a plantação de árvores e arbustos nas novas margens. Foi assim que nasceu o Choupal.
Borges, N.C. 1987.Coimbra e Região. Lisboa, Editorial Presença, pg. 22 a 24
A Barragem da Aguieira e o açude-ponte de Coimbra disciplinaram este rio, acentuando o seu carácter calmo e pachorrento que agora se mantém durante todo o ano. O epíteto de Basófias, que justamente merecia pelas cheias avassaladoras e repentinas de que era capaz, está em risco de cair no esquecimento …
O assoreamento do Mondego é de facto um aspeto que muito tem pesado na história de Coimbra e região … Bastará lembrar os conventos medievais que se acolheram à contemplação das suas margens e que tiveram de ser abandonados, mais cedo ou mais tarde: Sant’ Ana, S. Francisco e S. Domingos, já desaparecidos; Santa Clara, relíquia semi-soterrada. A mesma sorte tiveram as igrejas de Santa Justa, S. Cucufate e a primitiva de S. Bartolomeu. Como exemplo da subida forçada do nível da parte baixa de Coimbra, costuma apontar-se o caso da Igreja de Santa Cruz, para cuja entrada se subiam quatro degraus, no século XVI, e para onde hoje se têm de descer.
Borges, N.C. 1987.Coimbra e Região. Lisboa, Editorial Presença, pg. 22
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