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A' Cerca de Coimbra


Sexta-feira, 26.02.16

Coimbra, origens 4

Dos três monumentos referidos por Sá de Miranda – o arco triunfal, as «grutas», o aqueduto – o segundo ainda se mantém e constituiu uma das mais impressionantes obras de arquitetura romana de Coimbra. Trata-se do criptopórtico sob o Museu de Machado de Castro, antigo paço dos bispos de Coimbra.
A rua que contorna o monumento é ainda hoje conhecida pelo nome de Rua das Covas … No século XIII, a rua era chamada ‘vico de Covis’; no século XII, algumas casas situadas nas imediações eram ditas ‘sub illas covas’ ou ‘circa foveas’.

… O achado, nos entulhos retirados do criptopórtico, de uma pequena ara consagrada ao Génio da Basílica, ‘Genio Baselecae’, sugere que basílica da cidade de ‘Aeminium’ se encontrava implantada naquele local; sendo a basílica um dos edifícios que integravam o fórum, é legítimo supor que o criptopórtico constituía a infraestrutura do fórum eminiense.

O pendor do terreno era grande e havia necessidade de edificar um terraço onde planamente se estabelecesse o fórum. Ora, um embasamento maciço seria talvez menos sólido e seguramente menos útil que alveolado de galerias ou cárceres. Os romanos edificaram, pois, o corpo gigantesco de um pódio com dois andares.
No piso superior, uma galeria em forma de π envolve outra do mesmo traçado. Em cada braço, três passagens dão acesso de uma a outra galeria; nos topos, as galerias são também comunicantes. De través, entre os braços do π, sete cárceres comunicam entre si por estreitas passagens abobadadas disposta no mesmo enfiamento. No andar inferior acham-se outras sete salas mais altas e espaçosas, dispostas ao longo de uma galeria e comunicantes entre si por passagens estreitas. Este andar foi parcialmente destruído por casas que se ergueram encostadas ao edifício.

… Também se acharam quatro cabeças de mármore, duas representando talvez as Agripinas, outras duas, Vespasiano e Trajano. Estas cabeças ornaram provavelmente o fórum onde assentava o criptopórtico, se é que não foram antes veneradas no templo que dominava o fórum.

… O fórum, se efetivamente ficava implantado no criptopórtico, ocupava uma posição central no recinto amuralhado da cidade.

Alarcão, J. 1979. As Origens de Coimbra. Separata das Actas das I Jornadas do Grupo de Arqueologia e Arte do Centro. Coimbra, Edição do GAAC. Pg. 34 a 36

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por Rodrigues Costa às 10:05

Quinta-feira, 25.02.16

Coimbra, origens 3

O Mondego era na Antiguidade navegável até Coimbra, e mesmo até à foz do Dão; constituía uma importante via fluvial, de oeste a leste, largamente praticada ainda na Idade Média; no sentido norte-sul, a via, agora terrestre, não podia encontrar melhor cruzamento do rio que em Coimbra: para poente, os terrenos eram alagadiços, o rio muito caudaloso e largo; para o interior, as vias tornavam-se ásperos caminhos de montanha. Coimbra era, pois, ponto de passagem obrigatório entre o norte e o sul, centro onde naturalmente se podiam trocar os produtos da serra pelos da planície e do mar.

A existência de uma ponte de pedra romana em Coimbra é mais do que provável. Ficaria sensivelmente no sítio da atual, sítio que corresponde, com ligeira diferença, ao das pontes de D. Afonso Henriques e D. Manuel. Aliás, terão sido estas fábricas novas ou simples restauros da ponte romana?
Atravessado o rio, a estrada romana seguiria a linha das atuais rua de Ferreira Borges (antigamente chamada de Calçada), Visconde da Luz e Direita. Esta última, chamada na Idade Média rua da Figueira Velha, constituiu a saída da cidade até à abertura, no século XVI, da Rua da Sofia.
Na atual Praça 8 de Maio, a via cruzava a torrente, já referida, de ‘balneis Regis’. Foi Vergílio Correia quem sugeriu a existência de umas termas romanas no local onde, em 1131, se deu início à construção do mosteiro de Santa Cruz. E Nogueira Gonçalves … admitiu que a porta mourisca mencionada em documento de 1137 fosse último resto desta construção. De tais termas, porém, nada ficou.

... De outros monumentos romanos de Coimbra, infelizmente desaparecidos, conserva-se mais segura memória. São eles o arco da Estrela e o aqueduto.
… Hefnagel, na gravura de Coimbra, incluída na obra ‘Civitates orbis terrarum’, atribuída tradicionalmente a Braunio, desenhou, no ângulo entre a Couraça de Lisboa e a Couraça da Estrela, três colunas que na legenda aparecem designadas: ‘colunnae antiquae Romanorum’. As colunas assentam sobre um estilóbato baixo e são coroadas por arcos.
Que as colunas romanas não podiam estar situadas exatamente no local onde Braunio as representou, é indiscutível. Daí até negar a existência do monumento é passo grande … não nos deixam dúvidas sobre a existência do monumento, que a Câmara da cidade deixou demolir em 1778 … Era um monumento tão notável, que deu nome à porta da muralha situada ao fundo da Couraça de Lisboa. Com efeito, o nome que esta teve – de Belcouce – significa «no arco» ou «junto ao arco»

… O aqueduto de S. Sebastião foi construído sobre as ruínas de um idêntico cano, muito mais antigo e provavelmente romano …Provam-no as lápides que, em 1570, se colocaram no aqueduto restaurado por D. Sebastião … «… mandou reedificar de novo todo este aqueduto, mais nobremente do que fora feito havia muitos anos…»

Alarcão, J. 1979. As Origens de Coimbra. Separata das Actas das I Jornadas do Grupo de Arqueologia e Arte do Centro. Coimbra, Edição do GAAC. Pg. 28 a 34

 

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por Rodrigues Costa às 10:36

Quarta-feira, 24.02.16

Coimbra, origens 2

A ocupação pré-romana da cidade é provável, ainda que não provada.

… Na área da cidade, mesmo da cidade alargada do nosso tempo, não se encontraram nunca vestígios pré-romanos. Os mais próximos são os da Caverna dos Alqueves.
Fica situada entre as aldeias da Póvoa e Bordalo, a poente de Coimbra, nas traseiras do mosteiro novo de Santa Clara. Descoberta pelo Dr. Santos Rocha, que aí fez explorações em 1898, foi escavada também por A. Mesquita de Figueiredo, em 1900 e 1901. O espólio encontrado é neolítico.

É provável que o festo da colina onde, no nosso tempo, se instalou a cidade universitária, tenha sido ocupado desde épocas recuadas. O sítio é excelente. Dois vales profundos cavam um fosso natural em redor da colina. O primeiro corresponde à atual Avenida de Sá da Bandeira. Por ele corria um ribeiro chamado ‘torrente de balneis Regis’ no documento de 1137 demarcatório da freguesia de Santa Cruz. O ribeiro, que tomava a direção da Rua da Moeda, tinha caudal suficiente para moer, na Idade Média, as azenhas instaladas nesta rua … O segundo vale corresponde ao Jardim Botânico e à sua mata. Uma rampa natural, que o aqueduto de S. Sebastião, ou dos Arcos do Jardim acompanha, separa os dois vales … Este morro é ainda fendido a meio por aquilo que Fernandes Martins chamou expressivamente uma «cutilada»: um valeiro que, saindo do antigo Largo da Feira, «e seguindo pelo Rego de Água em direção à Rua das Covas, ganha declive cada vez mais rápido, para se despenhar por Quebra-Costas, a caminho da Porta de Almedina». Em 14 de Junho de 1411, segundo revela Nogueira Gonçalves, uma enxurrada de tal sorte se precipitou por este córrego, que arrancou as portas chapeadas de ferro da cidade…
Um sítio naturalmente defendido e cómodo para assento de povoado fica assim definido entre a Couraça de Lisboa e o córrego da Rua das Covas ou de Borges Carneiro. Se nenhuns vestígios de épocas pré-históricas foram aí encontrados, isso se deve, certamente, ao facto de os trabalhos para a instalação da cidade universitária não terem sido acompanhados por arqueólogos.

Na área da atual cidade, outro ponto que os povos pré-históricos poderiam ter ocupado, é o morro da Conchada; não se conhecem aqui, porém, vestígios arqueológicos. Uma «necrópole com sepulturas antropomórficas abertas em rocha», provavelmente medieval, foi descoberta no vale de Coselhas.


Alarcão, J. 1979. As Origens de Coimbra. Separata das Actas das I Jornadas do Grupo de Arqueologia e Arte do Centro. Coimbra, Edição do GAAC. Pg. 25 a 27

 

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por Rodrigues Costa às 10:10

Terça-feira, 23.02.16

Coimbra, origens 1

Plínio, na sua ‘História Natural’, descrevendo a fachada atlântica da Península Ibérica, fala de ‘Aeminium’ e do rio que banhava o ‘oppidum’, rio a que chama Aeminiun num passo e ‘Munda’ em outro. Esta é a mais antiga referência à cidade; e se o nome dela não põe problemas, porque se encontra confirmado por Ptolomeu, pelo ‘Itinerário Antonino’ e por diversas inscrições (para citar apenas fontes da época romana, excluindo as visigóticas e medievais), o nome do rio suscita uma dúvida: seria o Mondego conhecido indistintamente por ‘Aeminium’ e ‘Munda’? Este último nome aparece igualmente em Mela e Ptolomeu, sob as formas, respetivamente, de ‘Monda’ e ‘Munda’ … Estrabão não menciona a cidade; refere-se apenas ao rio …

… Borges de Figueiredo viu em ‘Aeminium’ um elemento céltico, ‘meneiu’, que significaria elevação, altura, e que se encontraria também em ‘Herminiu (mons)’ … O nome de ‘Munda’ é também pré-romano, segundo Leite de Vasconcelos. Dele, ou da sua forma equivalente ‘Monda’, derivou, pela adjunção de um sufixo também pré-romano, - aec – e de uma desinência latina, - us -, o nome de ‘Mondaecus’.

… o ‘Itinerário de Antonino’ situa ‘Aeminium’ a dez milhas de ‘Conimbriga’, na estrada de ‘Olisipo’ a ‘Bracara Augusta’. A situação exata … foi muito discutida … o problema, porém, ficou definitivamente resolvido com o achado, em Abril de 1888, de uma lápide que servia de cantareira numa casa então demolida em Coimbra, ao fundo da Couraça dos Apóstolos. A lápide, fazendo menção da ‘civitas aeminiensis’, demonstrou ser este o nome antigo de Coimbra. Calaram-se então as vozes que identificavam a antiga ‘Aeminium’ com Águeda, Macinhata do Vouga ou Montemor-o-Velho.

Alarcão, J. 1979. As Origens de Coimbra. Separata das Actas das I Jornadas do Grupo de Arqueologia e Arte do Centro. Coimbra, Edição do GAAC. Pg. 23 a 25

 

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por Rodrigues Costa às 10:27

Sexta-feira, 29.01.16

Coimbra, entradas e saídas da cidade

A estrada romana que ligava Olisipo e Bracara Augusta, ao evitar «tanto os terrenos acidentados do interior, como as baixas alagadiças da beira-mar» encontrou como lugar de eleição para transpor o rio o estrangulamento entre o sopé do cabeço de Santa Clara e o oppidum fronteiro. Aqui surgiu a ponte. E nunca mais, até hoje, se deslocou o local de semelhante travessia.

Nos séculos XVI e XVII, e certamente em tempos anteriores, a ponte real de Coimbra, «estrada que vinha da corte e iha para ella», era das mais frequentadas do País.

… De Cernache (ou Antanhol) podia partir-se para Coimbra, «pollo caminho do campo», indo sair-se a S. Martinho do Bispo. Foi esta a direção seguida pela embaixada do Preste João em 1527.

… Mas outra estrada, mais direta, seguia pela Cruz dos Mouroços, Vale do Inferno – por Santa Eufémia – e, depois de uma «descida perigosa» penetrava na ponte pela Calçada de Nossa Senhora da Esperança.

À saída da cidade, por S. Lázaro, a estrada transpunha a Ribeira de Coselhas, pela ponte de Águas de Maias. Progredindo atravessava Assamassa, passava junto da capela de Nossa Senhora Loreto e subia à Pedrulha, depois de ultrapassada venda da Fontoura. Descendo, penetrava na ponte do Rachado e seguia para os Fornos.

Oliveira, A. 1971. A Vida Económica e Social de Coimbra de 1537 a 1640. Primeira Parte. Volume II. Coimbra, Universidade de Coimbra, pg. 5 e 6, 13 a 17

 

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por Rodrigues Costa às 10:44

Sexta-feira, 28.08.15

Coimbra, arquiteto romano natural da cidad

Transcrição da pedra votiva colocada na Torre de Hércules, em La Coruña:

MARTI AUG.SACR C.SEVIVS LUPUS ARCHTECTUS AEMINIENSIS LVSITANVS.EX.VO.

Informação acedida em 28.08.2015, em
https://www.youtube.com/watch?x-yt-ts=1422579428&x-yt-cl=85114404&v=SyK79YGTlQM

A transcrição identifica Gaius Sevius Lupus, como o arquiteto da obra e que o mesmo era natural da atual Coimbra

 

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por Rodrigues Costa às 16:46

Sábado, 15.08.15

Coimbra, os primórdios da alcáçova 1

É pois, decerto, sobre essa urbe, próspera e «moçárabe», onde entre os vestígios da antiga ordem imperial, que após cinco séculos de abandono lentamente se esboroavam, despontam os novos signos da sua dignidade eclesiástica, debilmente protegida pela «muralha romana» e pelos esforços (seguramente frustres) realizados pelos condes, que se abate, em Julho de 987, a fúria destrutiva de Almançor – fúria, na verdade – que as pedras do alcácer não deixariam, certamente, de «ilustrar».
Com o «repovoamento», porém, «sete anos» mais tarde, chegava também, por fim, uma «comunidade árabe». E, com ela, decerto, finalmente, a mesquita, islamizando a antiga catedral. Mas vinha sobretudo o eloquente sinal de submissão: o reduto «real». Assim pois, buscando, na sua dupla intencionalidade, a um tempo endógena e exógena, local estratégico e eminente onde cumprir o seu objetivo semiótico, erguer-se-ia no extremo do braço meridional da ferradura, o mais proeminente, aí onde, na expressão feliz de Fernandes Martins, se formava como uma esplanada, suspenso, um amplo «ninho de águias» - «ninho» cercado de falésias, defendido naturalmente a sul e a poente, acessível apenas por nascente e alcandorado sobre a «cutilada» que, vincando a colina, abrigava a antiga catedral e, com ela, o «núcleo duro» do agregado cristão. Implantação forçosamente ingrata, que obrigaria, por óbvios imperativos de ordem estática, à deformação da planta regular – tal como a «linha de fastígio» do dorso da colina que a antecede (hoje por completo rebaixada), levaria também a descentrar a porta-forte. Mas cumpria plenamente os critérios «representativos» que haviam presidido à sua edificação. A antiga zona residencial patrícia que, dez séculos mais tarde, as intervenções no «Pátio das Escolas» iriam desvendar, degradada havia muito por novas utilizações – senão mesmo (quase) abandonada – serviria pois, agora, de assento ao monumento que, pelo tempo fora, iria moldar a imagem da cidade … um «alcácer muçulmano», guarda avançada do Islão, de rosto à Cristandade e às pretensões hegemónicas dos monarcas asturo-leoneses.

Pimentel, A.F. 2005. A Morada da Sabedoria. I. O Paço real de Coimbra. Das Origens ao Estabelecimento da Universidade. Coimbra, Almedina, pg. 192 e 193

 

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por Rodrigues Costa às 22:22

Quarta-feira, 24.06.15

Coimbra e as suas muralhas 2

Na verdade e mau grado a diversidade das suas interpretações, as descrições de Virgílio Correia e Nogueira Gonçalves coincidiam em absoluto e mesmo com a que, três séculos antes, elaborara D. Jerónimo Mascarenhas e que constitui a mais antiga referência conhecida sobre a estrutura da muralha coimbrã, “grandes pedras quadradas de mármore mui branco (…), umas inteiras e outras quebradas, lavradas e esculpidas ao modo romano”, em algumas se ostentando “buracos pelos quais se uniam umas com as outras com gatos de ferro (…), postas nos muros desta cidade, sem ordem alguma, e outras por fundamentos dos muros”, em muitas partes se divisando “entre outras pedras algumas colunas, que tudo mostra a grande pressa com que eles foram levantados, e que foram feitos de matéria, que já ali havia”. Posteriormente, contudo, ganharia novo fôlego a defesa da origem romana das muralhas, face ao conhecimento da implementação, em finais do século III e inícios do seguinte, sob Diocleciano e Maximiniano, de um plano geral de fortificação urbana.

Novos contributos viriam, de resto, reforçar essa interpretação, ainda que propondo, em termos de efetiva razoabilidade … um traçado de menor amplitude em relação ao que viria a ser a sai dimensão medieval. Dever-se-ia, porém, a Carneiro da Silva, em 1987 e partindo de levantamento fotográfico infelizmente nunca publicado, a mais recente (e concisa) caracterização técnica dos trechos arcaicos da muralha, em função da qual afirmaria ser “a sua estrutura … constituída por um intradorso de forte cimento, ligado com numerosos restos romanos, como telha, ladrilho, restos de colunas, degraus, vergas e outras cantarias, e uma forra de grossas alvenarias”. A verificação, porém, de que afinal “também pedras visigóticas foram aproveitadas para o enchimento de muros, levá-lo-ia “a considerar que são os árabes que levantam as muralhas de Coimbra, ao servirem-se daqueles materiais de épocas anteriores ao seu domínio”

Pimentel, A.F. 2005. A Morada da Sabedoria. I. O Paço real de Coimbra. Das Origens ao Estabelecimento da Universidade. Coimbra, Almedina, pg. 196

 

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por Rodrigues Costa às 17:20

Terça-feira, 23.06.15

Coimbra e as suas muralhas 1

… data de 1930, por mão de António de Vasconcelos, a primeira reconstituição do circuito medieval das muralhas coimbrãs. Se o velho mestre não curara de deslindar a sua origem, mas tão só de definir o seu percurso, outro tanto não faria Virgílio Correia, que, no mesmo ano e sob o impacte da descoberta, nas infraestruturas do Museu que dirigia, do criptopórtico romano, afirmava, invocando Plínio, que “admitindo que «oppidum et flumen Minium» se referem a Coimbra, aí temos, além da designação do nome da terra, a sua qualidade de «oppidum», povoação de altura, fortificada, que de facto Coimbra é, e provavelmente sempre foi”. Apesar disso, não deixava de constatar que “acerca das muralhas romanas de Coimbra, nada conhecemos, até agora, de positivo. Em Junho de 1943, contudo, evocava Nogueira Gonçalves: “Alvorecia o século quinto. Iam caindo, feridas quase sem glória, as águias dos emblemas imperiais. Desabava a torrente dos povos bárbaros, alastrando em ruínas e morticínios. Em 409 … a primeira onda, a dos suevos, alanos e vândalos …”

Ganhava, pois, raízes, até por confronto com Conimbriga, onde os avanços da arqueologia comprovariam a origem tardo-antiga das muralhas, a tese da ereção da cerca coimbrã ao despontar do século V, perfilhada por Fernandes Martins, em 1951 e por Pierre David, desde 47, embora recuando a edificação dos muros, em ambas as cidades, à invasão dos Francos de 258. Antes que terminasse o ano de 43, contudo, meses depois de Nogueira Gonçalves, recordando a invasão bárbara de 409, com ela relacionar a edificação das muralhas coimbrãs, as obras em curso do palácio universitário, proporcionando a descoberta do pano de muro e do cubelo (depois demolido) incluídos no átrio de S. Pedro, abriam novas perspetivas, em função das quais Virgílio Correia, estribado no confronto do “aparelho de construção, onde, como noutros pontos dos muros e das portas de Coimbra, foram empregados blocos romanos, de algum grande edifício desmontado para o efeito”, deduzia ser o mesmo «coevo das grandes obras de fortificação citadina, cuja origem e cronologia precisa são ainda um problema em aberto”

E concluía: “O problema da idade das primeiras muralhas de Coimbra apresenta-se como de difícil solução … Por outro lado, não se encontraram, até agora, nas muralhas pedras de ornato paleocristão ou bárbaro. Donde tornar-se admissível o levantamento da fortificação precisamente na época do domínio dos visigodos, que tornaram Imínio numa capital onde quatro monarcas cunharam moeda; e capital significou sempre, na Idade Média, cidade poderosamente fortificada. As muralhas apresentam, desde o Castelo, ao longo da Couraça de Lisboa, até ao Arco de Almedina, a mesma composição, com aproveitamento nas fiadas inferiores de silhares do grande aparelho romano. Mal conhecidos os muros do lado poente e norte … sendo porém absolutamente seguro que a parte visível sobre a Ladeira dos Jesuítas é de época tardia, de material uniforme”. Por seu turno … exarava Nogueira Gonçalves … “As fortificações militares da cidade pertencem a diversas épocas…”


Pimentel, A.F. 2005. A Morada da Sabedoria. I. O Paço real de Coimbra. Das Origens ao Estabelecimento da Universidade. Coimbra, Almedina, pg.195 e 196

 

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por Rodrigues Costa às 10:42

Segunda-feira, 22.06.15

Coimbra, a romanização

Na verdade, não custa admitir que a romanização de «Aeminium» tivesse por objetivo a incorporação de um povoado primitivo, aí encastelado (o «oppidum»), impedindo a sua reconstituição em local estratégico, como era o ponto de travessia do Mondego pela estrada (então organizada) «Ulissipo – Bracara Augusta», assim se originando uma pequena cidade que ao longo dos séculos I e II iria crescendo e estruturando órgãos políticos (refletidos no «fórum»), colhendo os benefícios das vias comerciais que aí se cruzavam, sem, por tanto, rivalizar com a opulenta Conimbriga.

… a opinião de C.A. Ferreira de Almeida, segundo a qual seria admissível que a Porta de Almedina assentasse numa base romana, como o próprio conceito (na verdade sensato) de que a hipotética muralha imperial representasse apenas um reforço pontual das qualidades defensivas da própria topografia … sendo que a comprovação da origem romana da Porta de Almedina não constitui necessariamente prova da sua inclusão num circuito murado, o mesmo sucedendo com a Porta de Belcouce.

Pimentel, A.F. 2005. A Morada da Sabedoria. I. O Paço real de Coimbra. Das Origens ao Estabelecimento da Universidade. Coimbra, Almedina, pg. 214

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por Rodrigues Costa às 09:50


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